Uma noite, quando ia para o curso, o carro de Seokjin morreu no meio do caminho para a Universidade. Tentou ligá-lo uma, duas, três vezes, mas o carro não respondeu. O ômega apoiou a cabeça no volante e lamentou por ter ignorado os barulhos estranhos que o carro vinha fazendo nos últimos dias.
Uma forte chuva caía fora do carro, e Seokjin olhou relutante para a rua. Estava mais próximo da universidade do que de casa, então, com um suspiro, colocou o capuz do pesado casaco que usava e andou até a universidade.
Chegou no curso molhado até os ossos, o cabelo encharcado e o rosto branco de frio. Sentou-se na cadeira de sempre e olhou em volta, mas nem sinal de Hoseok. Mina ofereceu-lhe toalhas de papel para que pudesse enxugar o rosto e os braços. Seokjin aceitou e agradeceu a ela. Aproveitou e tirou os sapatos e as meias.
Mesmo utilizando as folhas de papel toalha para retirar o excesso de água, Seokjin começou a tremer de frio em sua carteira. Seu casaco não tinha sido o suficiente para proteger as suas roupas, e, agora, sua camisa estava encharcada e colada ao seu corpo. Talvez tivesse sido uma péssima ideia ir a pé para o curso, teria sido mais inteligente chamar um táxi e voltar para casa. Porém, agora que ele já estava ali, valia a pena ir embora? Sim, valia, ele não conseguiria assistir a aula daquela forma.
O ômega voltou a calçar os sapatos, levantou e apanhou suas coisas. Estava prestes a sair da sala quando Jongsuk chegou. O alfa o analisou da cabeça aos pés.
— Nossa, o que aconteceu com você? — perguntou.
— Meu carro deu problema, tive que vir a pé. Peço licença, professor, não tenho como assistir a aula assim. Vou para casa e depois pego o conteúdo com alguém.
O ômega estava prestes a seguir o seu caminho quando foi surpreendido por Jongsuk. O alfa retirou o suéter de lã preta que usava e estendeu em seu direção.
— Pegue, vista no lugar desta camiseta. A tempestade está forte lá fora, talvez seja melhor você ficar, assistir a aula e depois voltar para casa.
O ômega encarou a peça, indeciso se aceitava a oferta do alfa ou ia embora. Por fim, um pouco constrangido pela atenção que atraíam, recebeu a peça e pediu licença para ir se trocar.
Seokjin voltou alguns minutos depois vestindo o suéter e com a camisa molhada em mãos. Uma aluna sugeriu que Seokjin colocasse a blusa e as meias molhadas no aquecedor, assim como os demais que precisavam aquecer alguma peça de roupa tinham feito.
A aula já havia começado quando Seokjin finalmente se sentou. Sua calça e cueca ainda o incomodavam, e seu lobo estava incomodado pelo cheiro do alfa no suéter, mas ele estava bem melhor agora do que antes. O suéter de Jongsuk era realmente quente, e, por um momento, o ômega se questionou se o alfa poderia estar com frio sem ele, pois vestia uma camiseta preta de algodão. Mas, de qualquer forma, por ser um alfa, ele suportaria muito mais facilmente o frio que o ômega.
Quando a aula acabou, as roupas continuavam úmidas. Mesmo assim, Seokjin as vestiu e depois devolveu o suéter de Jongsuk, agradecendo ao alfa pela sua gentileza. Se o ômega chegasse em casa vestindo algo de outro alfa, principalmente de Jongsuk, Namjoon com certeza surtaria.
Mesmo com a chuva, os estudantes estavam se organizando para irem a um pub. Seokjin logo recusou, precisava urgentemente de um banho quente. Despediu-se dos colegas e caminhou até a entrada da universidade. Planejava pedir um uber para ir para casa. Amanhã, veria o que faria com o carro que havia abandonado há duas ruas dali. O ômega ligou o celular, o qual havia desligado para economizar bateria, pronto para solicitar o seu uber.
— Você disse que o seu carro quebrou... Precisa de uma carona? — Jongsuk perguntou, surgindo ao lado de Seokjin.
— Não vai ao pub com o pessoal? — perguntou, despreocupado, enquanto abria o aplicativo do uber em seu celular.
— Não... Acho que prefiro um bom chocolate quente na minha casa hoje.
Seokjin se assustou ao aparecer o preço da viagem. Estava dando quatro vezes mais do que normalmente daria. Sempre quando chovia muito, ou nos horário de pico, os preços subiam pela alta demanda. O ômega suspirou, frustrado. Tinha pouco dinheiro consigo, não poderia pagar aquele valor. Nesse momento, recriminou-se por não ter registrado o cartão de crédito como uma das formas de pagamento no aplicativo. Ele usava tão pouco o aplicativo que nunca viu necessidade.
— E então, gostaria de uma carona?
O ômega encarou o alfa, questionando-se se deveria ou não aceitar a oferta. Por fim, pensou em Namjoon e decidiu recusar.
— Não precisa, ligarei para o Namjoon e pedirei que ele venha me buscar.
— Por que incomodá-lo? Eu não me importo em deixá-lo em casa. Você uma vez me disse que mora perto daqui, então não será um grande desvio.
O ômega chegou a abrir o contato do marido, mas eles não estavam se falando muito desde que o alfa voltou da viagem de negócios, então Seokjin decidiu aceitar a ofertar do professor, apesar de ficar em alerta com a expressão que o alfa fez quando ele concordou.
Entraram no carro esportivo do alfa e, confortado pelo ar quente, o ômega finalmente relaxou um pouco.
— Está bom assim? — o alfa perguntou.
— Sim, muito obrigado pela carona.
— Não tem problema, gosto de ficar com você — ele disse com a voz rouca. Um calafrio percorreu o corpo do ômega.
— Na próxima pode virar à esquerda. — Seokjin mudou de assunto.
— O que Namjoon acha de você estar comigo toda quarta-feira à noite?
Seokjin engoliu em seco. Não queria falar sobre Namjoon, nem baixar sua guarda.
— Bem, não somos só nós dois, há uma turma inteira com a gente. E ele me dá o maior apoio. Ele sabe o quanto eu gosto de gastronomia. — disse, manipulando um pouco a verdade. Mesmo que Namjoon aceitasse melhor a sua ida ao curso, ele ainda odiava saber que Jongsuk era seu professor. Ele tentava não demonstrar, mas o ômega sabia que aquilo ainda o incomodava. — Chegamos. Minha casa é aquela branca com a BMW preta na frente.
Namjoon já estava em casa. O ômega sentiu um arrepio que não era de frio.
Jongsuk parou e desligou o carro. Podiam escutar o barulho da chuva nos vidros. Ele virou-se no banco para olhar Seokjin e ele encarou-o de volta.
— Bem, obrigado pela carona — disse, forçando um sorriso simpático, enquanto retirava o cinto de segurança. — E pelo suéter também. Você me salvou duas vezes hoje.
— Foi um prazer. — O alfa puxou a gola do suéter e a cheirou. — Ele ficou com o seu cheiro.
— Oh, eu posso lavá-lo e entregar a você semana que vem. — ofereceu, envergonhado.
— Não, está tudo bem. Eu gosto do seu cheiro.
Desconcertado, sem saber o que responder, o ômega ajeitou melhor o casaco que vestia, colocou o capuz e estava prestes a sair do carro quando o alfa se inclinou para beijá-lo. Seokjin ficou em choque por uns dois segundos, mas ao sentir os lábios estranhos sobre os seus, tratou de empurrar o alfa. O maior não questionou, afastou-se, encostando-se no banco do carro novamente.
— Não repita isso jamais. Isso foi totalmente inapropriado.
— Mil desculpas, Jin. Nossa, estou muito envergonhado agora. Eu... eu não consegui resistir. O meu lobo está louco por você desde que o viu naquele restaurante pela primeira vez. Ter você tão perto, sentir a sua presença mesmo que tímida, isso está me deixando louco. Sei o quanto é errado, mas não é algo que consigo controlar totalmente.
O ômega franziu o cenho, totalmente desacreditado.
— Pois dê um jeito de se controlar, Sr. Kang. Sou um ômega casado e marcado. Não desejo outro alfa além do meu marido. Por favor, espero que isso jamais se repita. Passar bem.
Seokjin abriu a porta do carro e saiu. Não queria que Jongsuk pensasse que haveria lugar para ele em sua vida. Namjoon era o único homem que amava. Que droga! Amava-o mesmo que não quisesse admitir para si mesmo.
Correu para a casa debaixo da chuva e só então pensou se Namjoon vira sua chegada. Olhou para as janelas e não viu movimento atrás das cortinas. Com certeza, Namjoon esperava que ele viesse de carro e não deveria estar preocupado com a sua chegada.
Quando entrou em casa, Namjoon não estava na sala. Olhou pela porta de escritório, que estava aberta, mas nem sinal dele. Seokjin encontrou-o na cozinha.
— Chegou mais cedo do que eu esperava — o ômega disse casualmente ao entrar.
Charmoso, vestindo jeans e uma camiseta verde, ele ignorou o comentário do menor e suas mãos tremeram um pouco ao colocar água na chaleira.
— Chamei um táxi para levar a minha omma para casa. Ficamos preocupados quando nos ligaram avisando que o seu carro estava abandonado em uma rua próxima a universidade.
— Quem ligou?
— A guarda municipal. Uma árvore caiu sobre ele durante a tempestade. Ligaram para mim porque o carro está no meu nome.
— Nossa, que merda. O carro não pegava, então decidi ir a pé para a faculdade. Ia ver como buscá-lo amanhã de manhã.
Silêncio. Namjoon parecia concentrado na preparação do chá e nem lhe dirigiu o olhar. Seokjin percebeu que ele estava bravo por algum motivo. Teria visto algo?
— Estou ensopado — disse num esforço para parecer normal e corando de culpa. — Vou subir e tomar um banho quente. Você já comeu? Posso fazer seu jantar...
— Não! — falou com tanta violência que o menor afastou-se, assustado. Observou-o recuperar o controle e respirar fundo. — Não — repetiu devagar. — Eu já jantei, obrigado.
Seokjin sentiu um frio na espinha, sem saber se era medo ou culpa.
— Por que estava com o celular desligado? — o alfa perguntou, com a voz um pouco mais controlada.
— Saí com pouca bateria, então decidi desligá-lo para economizar.
O alfa não comentou mais nada, mas o ômega podia sentir sua irritação pela ligação da marca. Subiu, fugindo um pouco do marido, tomou um longo banho quente e deitou-se, preparado para enfrentar Namjoon quando ele subisse para o quarto.
Contudo, ele não subiu. Ele não entrou no quarto. Namjoon não dormiu com Seokjin naquela noite.
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