Sinto os primeiros raios de sol surgirem pela única fresta da janela. Meus olhos ardem, mal consigo abri-los. Eu sempre fui assim. Quando acordo tenho dificuldade para me localizar, no espaço, no tempo, na vida.
Meu corpo está tão pesado, quero me mover, mas preciso de uma força que a esta hora não tenho. Passado aqueles breves segundos de confusão mental, me lembro de tudo. Um sorriso toma conta de mim. Ele ainda está aqui comigo. O peso que sinto sobre mim não é cansaço. É 1,85m de braços, pernas e músculos. Fecho os olhos para memorizar aquela sensação para sempre.
Meu primeiro namorado. Meu primeiro amor. Minha primeira vez.
-Onde você pensa que vai?-
Peter diz com a voz rouca, me apertando ainda mais contra seu corpo. Eu ainda estava completamente nua, e ele... vestia apenas uma cueca boxer.
-Eu vou escovar meus dentes, lavar meu rosto. Não quero que você me veja assim. - Não tinha me olhado no espelho ainda, mas devo estar descabelada, com a maquiagem toda borrada, de cara inchada e...com mau-hálito.
-Se estiver preocupada que seja possível eu me desapaixonar por você ao te ver acordar, fique tranquila.
- Peter diz calmamente, e eu posso sentir seu sorriso em meu pescoço. E completa:
-Eu estou acordado há um tempo, quando abri meus olhos você estava virada para mim, então não há nada que eu não tenha observado enquanto você dormia, antes de virar de costas. E me deixar doido, diga-se de passagem.-
Ele não pode ver meus olhos arregalados e minhas bochechas vermelhas de vergonha. Respiro bem fundo, pensando no próximo passo: encarar Peter.
Me viro para ele bem lentamente. Nos olhamos nos olhos. Seu olhar penetra o meu tão profundamente que sinto meu peito queimar. Não sei o que dizer. Ele coloca a mão em meu rosto, e eu fecho os olhos.
Queria fugir da intensidade daquele momento. Queria me entregar intensamente aquele momento.
-Foi como você pensava?-
Ele me pergunta baixinho, inseguro, com medo da minha resposta.
-Eu não sei bem o que eu pensava.-
Sei sim. Eu imaginava que eu estaria casada, ou com mais de 21 anos, ou completamente apaixonada por alguém, e com mais de 21 anos. De todas as alternativas, eu estou apenas apaixonada. Me lembro do pacto que eu e Margot fizemos. Ela o quebrou primeiro. Eu posso não ter 21 anos, mas estou apaixonada.
Completamente apaixonada.
Peter me olha confuso. E agora eu sei exatamente o que dizer.
-Pode não ter sido bom fisicamente falando. Dói, é desconfortável.-
Ele se encolhe, e esboça um pedido de desculpas. Mas firmemente, eu continuo:
-Eu penso, não, eu tenho certeza, que as próximas vezes vão ser incríveis. Você sabe porquê Peter Kavinsky?
-Porque Covey?
-Porque é você. Porque apesar da dor, meu coração estava transbordando de amor e certeza. Porque foi perfeito ter você me olhando nos olhos a todo instante. Porque você esperou o meu momento até que eu estivesse pronta. Porque é você. E sempre vai ser você.
Enfim o vejo relaxar, parecia que tinha saído 1 tonelada de suas costas. Eu não disse uma palavra que não tenha brotado do meu coração. Era o que eu sentia. Era como ele me fazia sentir.
-Eu te amo Covey.
Acho que ele nunca tinha me dito isso assim, de modo tão genuíno. Ele sempre diz que me ama, mas dessa vez foi diferente. Como se selasse uma promessa, ou confirmasse tudo que vivemos essa noite.
-E você?-
-Eu?
Ele se assusta com minha pergunta, dá pra ver claramente por sua testa franzida.
-Sim. Você. Foi como você pensava?
Por Deus Lara Jean, isso é coisa que se pergunte pro namorado que tinha uma vida sexual ativa antes de você? Me arrependo no mesmo instante, e se eu não quiser ouvir a resposta?
Tarde demais.
-Ah Covey. Não sei. Eu pensava nisso demais. A todo instante pra ser sincero.
-A todo instante?
O indago nervosamente.
-Não que eu só pensasse nisso. Mas eu te desejava muito e…
-E?...
Faço ansiosa pra que ele continue.
Ele faz um som com os lábios, como se não quisesse continuar.
-Tá bem. Vou dizer como me senti. Mas não me interrompa, ok? Você é tão ansiosa que não me deixa concluir.
Passo a mão pela boca como se fechasse um zíper.
-Então. Eu estava nervoso,muito nervoso. Sabia que você era tão especial, que você esperava que tudo fosse especial. Mas eu não esperava que acontecesse agora. Queria, mas não esperava. Eu escrevi nosso novo contrato com certeza de que você ia me aceitar de volta e a gente ia fazer isso dar certo. Mas em um momento eu pensei: e se…
Ele não conclui o pensamento. Mas eu posso imaginar o que seria. Peter continua concentrado em suas palavras:
-Eu estava com medo de te machucar. Eu estava com medo de te decepcionar de alguma forma. Eu tentei ser o mais gentil possível.
-Você foi!
Eu o interrompo. Ele olha pra mim sério. Mas no final, sorri.
-Eu senti cada batida do seu coração junto ao meu Covey. Sim. Foi como você falou. Ainda, ainda não foi incrível. Mas...eu jamais vou esquecer o que senti aqui com você essa noite. Eu nunca estive tão profundamente envolvido em uma relação como estive, como estou na verdade, com você. Eu já tinha essa percepção quando vi que te amava como nunca amei outra pessoa antes, e agora sei que sexualmente falando também me sinto assim.
Me sinto nas nuvens. O fato de eu não ser a primeira dele em quase nada me atormentou por muito tempo. Hoje eu vejo que não importa o que ele já viveu. Importa as memórias que ele constrói ao meu lado dia após dia. Noite após essa noite, talvez.
Quando descemos para tomar café, já passava das 10h. Margot e Kitty estavam na cozinha conversando. Noto que Peter ficou um pouco envergonhado. Minhas irmãs imaginavam o que havia acontecido. Eu, estranhamente, me sinto à vontade com isso. Me aproximo saltitante, não dava pra disfarçar minha alegria.
-Bom dia irmãzinhas!
-Bom dia Margot. Como vai?- Peter a cumprimenta.
-Eu estou bem.
Ela responde prendendo um sorriso e levando sua xícara de café à boca.
Ele se aproxima de Kitty, cochicha algo em seu ouvido e dá um beijo em seus cabelos.
Ela grita:
-Jura?
Com os olhos brilhando. Peter pisca para ela, e ambos trocam um sorriso de cumplicidade. Eu me contenho, mas estou curiosa, pensando no que ele pode ter dito que a deixou tão feliz.
-O que você falou pra Kitty?
Pergunto como quem não quer nada.
-Segredo!
Ele fala firme, terminando de tomar seu cereal. Eu o encaro por alguns segundos, mas ele sequer olha pra mim. Posso esquecer. Daqui eu não arranco nada.
Sigo com Peter até a porta. Um aperto no coração. Não queria me afastar dele.
- Você não pode ficar mais um pouco?
-De calça jeans e camisa social?
Sorrio envergonhada, mas falo:
-Você pode tirar se quiser.
Ele abre os olhos espantado.
- Eu estou tentado, porém surpreso.
-É melhor você ir mesmo. Eu não teria coragem de fazer nada com minhas irmãs acordadas.
Digo com sinceridade.Peter me puxa pela cintura para um beijo. Mas antes completa: -Você não me provoque se não tiver
coragem de aguentar.
-Isso é uma ameaça?-
Lhe devolvo prontamente, me erguendo do alto dos meus 1,60m.
-Eu diria que é um aviso.
E me toma em um beijo quente e molhado. Com suas mãos em minha cintura como se fosse me levar com ele.
-Nos vemos mais tarde?
- Nos vemos mais tarde. - Respondo.
-Podemos ir ao cinema, depois Biscuit Soul Food. O que acha?
-Cinema Covey?
Ele diz, parecendo derrotado.
- Não?
- Fico surpresa. O que haveria de melhor pra um casal de namorados que não fosse um cineminha?
- Nós acabamos de voltar, passei dias sem você. Não quero ir ao cinema para ficar cheia de frescuras, e não me deixar nem te beijar. Quero tá perto, perto mesmo.
Ele me abraça e põe a cabeça no meu pescoço. Posso sentir sua respiração.
-Então o que você sugere?
Ele ri e me diz com a maior cara de pau: -Não faço a menor ideia.
Penso um pouco.
-Vem pra cá após o almoço. A gente joga alguma coisa com as minhas irmãs e depois podemos assistir um filme. Com sorte, elas podem nos deixar sozinhos.
Acho que ele gosta da idéia, porque me lança um olhar cheio de malícia.
-Eu disse assistir um filme.
Friso bem.
-Eu posso passar a noite aqui com você de novo?- seu olhar é tão esperançoso.
- Acho melhor não. Meu pai não está em casa, eu gostaria de conversar com ele antes.
-Ontem ele também não estava.
-É Peter. Ontem ele também não estava, e eu começo a pensar que não devia ter deixado você ficar.
-Devia sim!- no mesmo instante sou arrebatada por uma mordida no pescoço que aquece meu corpo inteiro. Um último beijo e ele segue para sua casa.
-Kiiiiitty! O que o Peter falou pra você que te deixou tão contente? - tento não parecer muito ansiosa.
-Lara Jean, eu e Peter temos coisas. Negócios. Assuntos que você jamais entenderia.- ela volta pra ver sua série como se eu não estivesse ali.
Fico plantada na sala de braços cruzados, pensando que meu namorado não conquistou só a mim. Levou de brinde uma cunhada apaixonada por ele.
Eu mereço.