Capítulo 22

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Ao amanhecer, sinto os efeitos da noite triste e mal dormida. Os olhos estão fundos e inchados, o cabelo está péssimo e o corpo dolorido como se eu tivesse corrido uma maratona.  Vou até o banheiro. Volto de banho tomado, cabelos lavados e roupas limpas, na tentativa de melhorar o ânimo. 

Iniciei um livro novo: Teto Para Dois. A sinopse é interessante,  mas o livro começa um pouco arrastado. Continuo, porque não tenho outra opção e preciso distrair meus pensamentos, que teimam em não sair de Palo Alto.

Ouço batidas na porta. Kelly me olha e se levanta para abrir.

-Oi. Peter Furão Kavinsky. 

-Oi Kelly. Tudo bem? Estou muito encrencado?

Não estou exatamente surpresa por ele ter vindo. Meu coração está batendo tão forte que o sinto pulsando em meu peito. Me ajeito na cama, recostando-me na parede. Guardo o livro e olho para Peter. Seus olhos estão tristes, não diferentes dos meus. 

Porque quando você está chateado com alguém, ele parece ainda mais atraente? Peter está usando uma bermuda cargo verde militar, tênis e camisa pretos. Os cabelos estão crescidos, e despenteados. Se bem o conheço, ele veio com a janela aberta sentindo o vento no rosto, como gosta de fazer. Está lindo. Ainda mais lindo. Meu peito dói. 

-Eu vou dar uma volta. Fiquem a vontade.

-Kelly. Vamos almoçar juntos. Eu quero que você conheça o Peter.

Quando digo isso, ele parece ficar menos tenso e seu olhar se suaviza. Mas ainda não me dirigiu uma palavra.

Ela sai, nos deixando sozinhos. Eu e a mágoa. Peter e a culpa. 

-Eu sinto muito,  muito mesmo, por não ter vindo ontem. Eu não tenho nem desculpas para isso.

-O que aconteceu Peter?

Ele respira fundo. Está sentado na cadeira da mesinha de estudos. Não quer, ou tem medo de se aproximar de mim. Eu  tenho vontade de abraçá-lo de uma vez, para que essa dor passe logo. Mas não posso, eu quero entender o que houve.

-Quando a aula de Estudos de Cinema terminou, nós fomos assistir o filme que o professor indicou. Eu não ia ter tempo e a minha dupla ia para casa no fim de semana. 

-Você podia ter me mandado uma mensagem. 

Ele finalmente olha para mim, balança a cabeça negativamente e volta a olhar para baixo.

-As coisas foram se atropelando. Eu fui tentar ser rápido para não atrapalhar nossos planos. Mas fiquei um pouco perdido.

Eu me levanto e vou até a janela. Nosso quarto fica de fundos, então ele é indevassado e consigo ver a vegetação densa típica do campus. O sol brilha forte e não há nenhum sinal de vento.

-O filme era demorado, e toda hora a gente parava. Tinha um monte de coisas para observar e anotar. O professor é super exigente. 

-Eu só não entendo porque você não me avisou.

-Eu não vi o tempo passar. 
Peter fala firme, tentando se justificar.

-Acho que isso é o que mais me dói.  Não ter visto o tempo passar.

Ele levanta e começa a observar o quadro de fotos que há na parede da minha cama.
São fotos nossas. A minha preferida, sob o Ipê da escola, as fotos na cabine no dia do boliche, no baile de formatura, ele me beijando no seu último aniversário na hora do parabéns, entre outras. 

Eu continuo olhando pela janela, mas consigo vê-lo pelo canto dos olhos.

-Me desculpe, de verdade. Acho que eu pensei que estava em um mundo paralelo onde o tempo não passava como na Terra.

Me marca, sou todo seu Parte IWhere stories live. Discover now