Eu estou olhando aliviada para o meu pai, vejo meu irmão ao seu lado.
Os dois tem em seus rostos uma expressão raivosa. Não duvido nada que a qualquer momento eles possam atacar o Felipe.
- Garoto você é surdo? Solta ela agora!
Dessa vez quem fala é o Mark, e seu tom é bem sério e frio.
- Não sou surdo, ouvi bem o que o vovô aí disse.
Ele sinaliza com a cabeça em direção ao meu pai.
- Não vou solta-la. Querem me impedir, vão em frente.
O Felipe fala de forma tão fria e debochada que fico com certo medo, mas não por muito tempo. Pois é só olhar para o meu pai e irmão que tenho a certeza tudo vai dar certo.
- Se não soltar minha filha, garanto que irá se arrepender.
O olhar que meu pai lançou para o Felipe é o de um assassino, e ao mesmo tempo sua voz está estranhamente calma.
- Não irá gostar da forma que iremos usar para fazer você solta-la.
Mark deixa claro, e no mesmo instante o toque violento de Felipe suavisa.
E sem esperar mais um segundo sequer, puxo meu braço e corro em direção ao meu pai, que me acolhe.
A adrenalina do momento vai indo embora e sem conseguir me conter, derramo minhas lágrimas, meu pai me acolhe ainda mais. Meu irmão se junta a ele, os dois me abraçam de forma acolhedora.
- Calma Dul, você está bem. _meu irmão diz calmamente, enquanto faz carícias em meus cabelos.
Após me acalmar um pouco, me afasto e olho ao redor. O Felipe não está mais presente. E agradeço aos céus por isso.
- Vamos pra sua casa filha, você precisa descansar.
Sem dizer nada acompanho eles até o carro, e logo estamos todos indo pra minha casa em silêncio.
Não sei quanto tempo passa e logo chegamos. Dou um sorriso quando meus bebês pulam em mim.
Quem cuida deles é o Jacob, enquanto estou sentada no sofá com meu pai e irmão conversando, ainda tentando esquecer os acontecimentos deste dia.
Alguém toca a campainha do lado de fora e o Jacob vai atender.
Fico surpresa quando vejo minha mãe entrar pela porta juntamente com meu padrasto.
- Mãe.
Me levanto e vou abraça-la. Sem nem cumprimentar o Mário, já que não nos damos bem.
- Oi minha filha.
Ela me abraça bem apertado, e minha vontade era chorar novamente, mas me seguro.
Assim que se afasta de mim, ela me analisa por alguns instantes.
- O que houve boneca? Está com cara de choro.
- Nada mãe, só estava com saudades.
Ela sorri de forma carinhosa.
- O que faz aqui hoje e nesse horário?
Afinal já era tarde da noite, e ela não ligou me avisando da visita.
- Seu pai me disse pra vir. _diz e olha para o meu pai - Oi Dimitri.
- Oi Carla.
Os dois se cumprimentam, e minha mãe juntamente com meu padrasto se sentam no outro sofá que tem ali.
- Porque a chamou aqui pai?
Pergunto sem entender .
- Eu quero falar com você, mas queria sua mãe presente. Afinal ela não vai gostar do que vou falar.
Fico ainda mais confusa e olho para o Mark, esperando que ele adiante alguma coisa.
- Nem me olha maninha. Isso é coisa do nosso pai, ele que tem que falar.
- Pode falar então pai. _olho diretamente para o meu pai.
- Então princesa...
Sorrio com essa forma dele me chamar e ele percebendo meu sorriso também sorri.
- Eu vou precisar ir embora para a Inglaterra novamente.
Meu mundo para por um instante, já penso logo que vou perder meu pai, que ele talvez queira se afastar.
- Mas quero que você venha comigo.
Ele continua rapidamente e o olho surpresa.
Afinal não vou perder meu pai, ele me quer perto dele. E isso me enche de felicidade.
- Eu quero te registrar com meu nome, e você pode morar comigo. Por quanto tempo você quiser.
- E pode estudar lá, ter uma vida melhor.
Meu pai começa falando e meu irmão termina.
- Dimitri você não pode fazer isso comigo. _minha mãe diz raivosa e com um tom triste na voz.
- Carla, lá ela pode ter oportunidades melhores. E eu quero ficar perto da minha filha.
- Da nossa filha Dimitri....Nossa. _diz enfatizando a palavra final
- Só porque você está com a consciência pesada quer levar ela de mim. _minha mãe diz furiosa
- Não estou com a consciência pesada Carla, eu apenas quero minha filha perto de mim.
Meu pai diz sério, mas calmo.
Deixo os dois discutindo e começo a pensar em como seria mudar para outro lugar e recomeçar a minha vida, em como essa oportunidade caiu do céu na hora certa.
Eu posso recomeçar a minha vida em um lugar que ninguém me conhece, perto do meu pai e irmãos, e o melhor....longe do Felipe.
A Inglaterra é o meu lugar dos sonhos, o lugar que eu sempre quis conhecer.
E já estou me imaginando em todos os pontos turísticos de lá.
Felicidade é a palavra que me define neste momento.
- Você não vai levar a minha filha pra longe de mim. Pode esquecer.
Volto a realidade com o grito da minha mãe em direção ao meu pai.
- Isso quem decide é ela Carla.
Meu pai fala com uma calma que posso ver que isso irrita a minha mãe.
- Acho melhor você intervir. Se não ela voa no pescoço do nosso pai. _Mark diz sussurrando em meu ouvido , e da uma risadinha no final de sua fala
Decido então fazer o que meu irmão falou. Preciso amansar a fera antes que eu fique sem pai.
- Mãe, se acalma. _digo alto, mas de forma tranquila.
- Você está pedindo pra eu me acalmar? É sério Dulce?
Nem respondo, quando ela usa meu nome é porque está muito brava, a ponto de explodir.
- Você está cogitando ir com ele?
Nessa frase posso sentir a dor em seu tom.
- Não vou mentir mãe. Eu estou querendo ir, e muito.
- Você não pode me deixar aqui sozinha.
Pela cara que meu padrasto fez, ele não gostou nada de ouvir isso. E se não fosse por toda a situação eu estaria rindo.
- Você tem seu marido mãe. Não vai ficar sozinha.
- Mas...
- Sem "mas" mãe. Eu quero recomeçar a minha vida, conhecer pessoas e lugares novos. Ficar mais próxima do meu pai, do meu irmão.
Olho para os dois, que tem um sorriso amoroso em seus rostos.
- E quero conhecer meus outros irmãos também. Quero uma vida nova.
Ela me olha, já deixando lágrimas escorrerem por seu rosto.
- Eu nunca vou te abandonar. Vou manter contato sempre.
Me aproximo dela e a envolvo em meus braços, e isso só faz ela soluçar mais. E ver ela chorando dessa maneira dói muito. Mas tenho que pensar no que é melhor pra mim, e esse recomeço vai ser bom.
- Eu te amo mãe, e nada vai separar nós duas. Mas eu preciso disso, e acho melhor te explicar o porquê. Só assim você poderá entender os motivos.
Ela me olha confusa , então me levanto, estendo a mão pra ela, e mesmo sem entender ela a segura. E vou com ela até meu quarto.
Preciso contar pra ela sobre o pior dia e ano da minha vida, e assim ela vai entender o porquê eu preciso tanto mudar e recomeçar.