88° ANDAR (Jikook)

By LuneInfinie

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***NÃO REVISADA*** Em busca de ser reconhecido pelo pai, dono da maior empresa de segurança tecnológica de Se... More

💡⚙AVISOS⚙💡
PLAYLIST 88° ANDAR
PRÓLOGO
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EPÍLOGO
AVISOS

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By LuneInfinie

Musiquinha que ouvi escrevendo boa parte do cap, principalmente a última cena. Boa leitura nenéns!💜

Meu sábado começou melhor do que meus dias anteriores, pelo simples fato de que eu iria almoçar na casa dos meus pais. Fazia um tempo desde a última vez que fui lá e eu sentia falta. Nem tanto pelo meu pai, afinal o poderoso Jeon só sabia falar de negócios, mas pela minha mãe, que sempre me dava colo como se eu ainda fosse um bebê.

Ok, talvez eu fosse um pouco filhinho da mamãe, como filho único sempre fui bastante mimado por ela. Pelo menos isso, já que meu pai sempre fora tão rigoroso. Jeon Nara era meu copo de água no deserto, não me tornei um homem amargo, como seu marido, por causa dela.

Pela manhã fui para a Espartano fazer meus exercícios diários, por uma hora, tomei banho na volta e passei um tempo preparando uma comida gostosa, que era uma das coisas que me relaxava. Apesar de Tereza - a senhora que cuidava do meu apartamento em minha ausência - cozinhar divinamente bem, geralmente eu cozinhava quando podia, ou quando não estava comendo pizza gelada do dia anterior.

Ao dar meio dia, fui até a casa dos meus pais, que já me esperavam. Eles também moravam em Daechi-dong, então não demorei a chegar. Enquanto o almoço estava sendo preparado, fiquei deitado no colo da minha mãe, no sofá grande da sala, recebendo um cafuné materno.

Meu pai, que estava no mesmo ambiente, falava sobre os lucros que a empresa estava ganhando naquele verão e juro que quase dormi com sua ladainha de sempre. Não que eu não me interessasse pelo assunto, o problema era falar de negócios até em casa, que para completar, sempre acabava com duras críticas relacionadas ao meu trabalho como administrador.

Para Jongsu, as minhas ações de planejamento, organização e execução nas áreas que eu trabalhava - que eram gestão de recursos tecnológicos, produtividade e ainda administração dos recursos humanos, às vezes - eram todas mal estruturadas ou impulsivas. Sendo que eu era super cauteloso em minha tomada de decisões. Ele não cansava de me criticar.

A questão era que lá estava eu, ouvindo um podcast de críticas do poderoso Jeon, quando a campainha tocou, me fazendo acordar do meu quase cochilo. Que eu soubesse, não estávamos esperando ninguém, mas de qualquer forma levantei do colo da minha mãe, para ficar em uma posição melhor, já que teríamos visita.

Quando a governanta abriu a porta da cobertura, ouvi uma risada conhecida. Era Kang Jae, e ele não estava sozinho. Park Jimin, seu noivo, também conhecido como minha paixão, estava consigo.

Olhei para minha mãe, ao meu lado, em busca de uma explicação, e só então ela pareceu perceber que não havia comentado nada comigo anteriormente. Provavelmente Jeon Nara achava que eu faria pouco caso de Jae em sua casa, tendo em vista que o homem quase sempre estava lá. Realmente eu deveria tratar uma visita dele com naturalidade, afinal meus pais não contavam com um filho gay interessado no noivo do tio de criação.

Mas uma visita de Jae - muito menos do casal - não era mais natural para mim. Quando adentraram na sala, e Jimin me percebeu sentado no sofá, não teve reações extremas, mas como eu já conhecia melhor suas feições, percebi seu incômodo.

O loiro travou o maxilar, engoliu seco e cruzou as mãos atrás de si, como já percebi que fazia quando não queria deixá-las livres, e algum gesto denunciasse seu nervosismo. Assim como também se apoiava sobre os dois pés, igualmente, para evitar balançar ou ficar batendo somente um no chão, como a maioria das pessoas faziam quando estavam ansiosas.

Ele era todo calculista com as próprias ações, eu achava aquilo extremamente sexy, porém imaginá-lo sem aquele controle todo, vulnerável e afetado por mim, passou a ser um dos meus fetiches, e ri com esse pensamento. Jimin estreitou os olhos, confuso, como se tentasse adivinhar o que eu pensava, porém, apenas levantei para cumprimentar ele e meu tio postiço.

— Olá casal — sorri com o canto da boca, olhando para o marrentinho, para que apenas este entendesse meu "deboche". Entre aspas, porque eu respeitava muito Jae e tinha como intenção apenas provocar um pouco Jimin. Eu estava ficando muito ousado mesmo, por Deus. 

— Kook, você está cada dia maior, está morando na academia? — Jae se jogou em mim com seu abraço de urso, e quase me desequilibrei.

— Oi, Jungkook — Jimin me cumprimentou um pouco fora do seu habitual, contido, eu diria até distante. Mas não me importei, sabia que era por causa da presença de Jae, e se ele precisava se preocupar em agir assim, era porque eu não era uma pessoa qualquer. Eu ameaçava seu relacionamento.

Estendeu sua mão para eu apertar, e fiz uma leve carícia com o polegar nela, fazendo Jimin olhar para nossas mãos juntas imediatamente. Não puxou ou fez qualquer movimento brusco, apenas me esperou soltá-la. Sentir sua pele era tão bom, eu sabia que Jae tinha acesso a muito mais, mas eu me contentava com qualquer parte sua que eu pudesse tocar.

Por enquanto...

— Venham crianças, vamos almoçar, está tudo pronto. — Minha mãe nos chamou, e a seguimos para sentar à mesa.

Não demorou até que todos estivessem sentados e servidos. Jae estava quase grudado com Jimin, com a mão repousando em sua coxa. Que vontade que eu tive de tirá-la dali.

Quem ele pensava que era? O noivo dele, por acaso?

Conversamos sobre diversos assuntos, na verdade meus pais e Jae, já que Jimin e eu mais trocávamos alguns olhares, ora acidentais, ora propositais. De toda forma, não demorou muito para eu ser chamado na conversa, e o assunto foi a sabotagem do elevador.

— Filho, você não lembra de ter acontecido algo estranho naquela segunda-feira? — Minha mãe perguntou, fazendo-me lembrar automaticamente de Yoongi.

Não esqueci da conversa que tivemos. Meu melhor amigo tinha mentido sobre ter ido na empresa, mentiu sobre conhecer Daehyun, Seokjin, e mentiu sobre o elevador que eu iria pegar estar em manutenção, me fazendo entrar assim, no outro que havia sido sabotado.

— Então mãe, sobre aquela segunda-feira...

Fale Jungkook, entregue aquele traidor, diga o que você sabe e colabore com a investigação. Era o certo a se fazer, era a atitude inteligente e auto preservativa que eu deveria tomar. Todos me olhavam esperando eu contar o que sabia. Mas por quê eu não conseguia?

Tudo que envolvia Min Yoongi era suspeito, e eu estava muito bravo por sua rede de mentiras, mas sabia que se falasse o que eu sabia, todas as suspeitas iriam para cima dele. Uma parte de mim queria dizer logo tudo, afinal, já que aquele "Judas" não queria me falar a verdade, que se resolvesse com a polícia. Porém outra parte, temia pelo que seria dele se fosse confirmado seu envolvimento no crime.

A senhora Min era depressiva e tinha apenas o filho para cuidar de si, que por sinal sempre foi um ótimo filho. Claro que se o felis catus realmente tivesse tentado me matar, devido uma revolta pela morte de seu pai, deveria ser preso. Mas antes de ter provas concretas, eu deveria mesmo entregá-lo?

Sem perceber, demorei tempo demais para responder, recebendo olhares confusos por isso, menos de Jimin. Afinal o loiro sabia que Yoongi tinha me indicado o elevador onde tudo aconteceu, apesar de não saber que eu já havia o confrontado.

Meu melhor amigo poderia ter planejado a minha morte por meio de um "acidente".

Era um conflito e tanto para mim, amizade era um dos meus valores mais importantes. Por quanto tempo eu iria fechar os olhos para o erro de alguém, ainda que fosse um amigo? Um erro onde o maior prejudicado poderia ser eu?

Se eu estivesse em um desenho animado, estaria saindo fumaça da minha cabeça.

— Jungkook? Alguma coisa errada? — Jae perguntou com as sobrancelhas franzidas.

— Não. Não lembro de nada estranho ter acontecido naquele dia — respondi simplista, e o único que sabia que eu estava mentindo era Jimin, que me olhou parecendo analisar em minhas palavras, mas continuou com seu semblante impassível, e não me desmentiu.

— De qualquer forma vamos marcar a apresentação do seu projeto para depois que as investigações terminarem. — Meu pai disse olhando para o seu prato enquanto comia. — Não quero ver você preso em um elevador, novamente, num dia importante.

Aquela sua forma de falar era o mais próximo de um "eu te amo", que eu ouvia.

— Por mim tudo bem — concordei, afinal seria bom um tempo para me preparar melhor. Apesar de essa apresentação ser tão esperada por mim, quanto mais se aproximava, mais nervoso eu ficava.

— Ah, fui almoçar naquele restaurante que fomos outro dia e a Mina, dona de lá, perguntou por você. — Jongsu comentou, e eu por instinto olhei na direção do Jimin para captar alguma reação de si.

O loiro estava de cabeça baixa, provavelmente sabia que eu iria buscar sua atenção e resolveu mexer em sua comida, como se estivesse alheio à conversa, mas eu sabia que estava atento a tudo.

— Parece que ela gostou mesmo de você, naquele dia não parava de te olhar — Jae comentou. — Bem que você poderia chamá-la pra sair, Jungkook. Não acha, pequeno?

Eu não sabia o que era pior, Jae tentando ser cupido ou ainda pedir a opinião do Jimin. Sem falar que desde que descobri que o loiro marrentinho não gostava de ser chamado de "pequeno", passei a me segurar para não rir, cada vez que ouvia Jae chamá-lo daquela forma. Dava até vontade de avisá-lo, para prestar mais atenção nas reações do seu noivo.

— Acho que quem tem que dizer o que acha é o Jungkook. — Jimin jogou a batata quente para mim, evidentemente esperando meu posicionamento.

— Não estou interessado. — Diferente da vez passada, me posicionei. Tentei usar meu tom mais natural possível, para encerrar o assunto, mas Jae parecia querer insistir a todo custo.

— E lá na empresa, tem alguém que te interesse?

Seu noivo.

— Não — respondi, no entanto.

— Tem certeza? A sua secretária também parece ser interessada em você — piscou para mim, tentando ser cúmplice, mas recebeu uma careta de reprovação minha de volta. Já minha mãe e meu pai se mantinham neutros na conversa.

Lisa não era interessada em mim, era interessada na secretaria do Jae, isso sim. Já a vi saindo do expediente com Jennie diversas vezes, com sorrisos que dava para ver até se estivesse de costas.

— Acho que o Jungkook não quer falar disso agora — O marrentinho comentou, dando um sorriso que julguei como forçado, para o noivo.

Quando estava contente de verdade, seu rosto se mantinha suave. Seus olhos bem desenhados brilhavam, deixando-o ainda mais lindo, se é que era possível.

— Ok, vamos falar de nós então — olhou para Jimin e eu imediatamente voltei minha atenção aos dois. — Quero contar a novidade, marcamos a data do nosso casamento já para daqui a três meses. Não queremos mais esperar tanto, apenas o suficiente para organizar o evento e todos os preparativos.

Eu gelei na hora, senti meu coração parar de bater por uns segundos infinitos, e meu peito doer. Não acreditava no que estava ouvindo. Apesar de ser o curso natural para quem estava noivo, eu não imaginava que passando um ano noivos, os dois resolveriam casar assim "do nada".

Achei que estivesse ganhando espaço na vida de Jimin, que ele mesmo tivesse me dando essa abertura, mas eu estava enganado. Iria casar de qualquer forma. Sentindo ou não atração por mim, gostando ou não de mim, iria casar. Meus sentimentos por si, e os seus por mim, eram apenas obstáculos que ele teria que passar para atingir seu objetivo final, casar com Kang Jae.

Eu fui tão burro, tão idiota e iludido por ter pensado em algum momento que Jimin consideraria o que estava surgindo entre nós. Mas ele nunca me prometeu isso, eu criei a fantasia na minha cabeça, e me alimentei dela para sobreviver ao caos que era estar apaixonado.

Nunca disse que nos daria uma chance, nunca disse que o que sentia por mim era o suficiente para fazê-lo questionar se queria realmente casar com outra pessoa. Fui eu o tempo todo. Eu que forcei a barra quando o loiro me pediu para ter cuidado com nossa aproximação, eu que o instiguei até confessar sua atração por mim, como se algo fosse mudar com suas palavras. Eu que o insisti novamente depois de ter dito a mim mesmo que ficaria longe.

Em resumo, eu construí algo que não existia para depois me sentir abalado por um evento que iria acontecer ora ou outra. Jimin era noivo e evidentemente iria casar. Nada tinha mudado, então por que foi tão difícil ouvir aquela notícia?

Meu peito não apenas doía, ele queimava, me destroçava de dentro para fora. Olhei para o loiro, que não conseguia manter contato visual comigo, e quis tanto esconder minha frustração, mas tanto. Só que eu não conseguia, então para não denunciar minha cara de derrota, preferi inventar qualquer desculpa e me retirar dali.

— Parabéns — levantei da cadeira, sentindo que meu foco em manter um semblante neutro poderia falhar a qualquer momento. — Eu preciso fazer uma ligação importante, se me dão licença…

Saí tão desnorteado, que mal sentia o chão, de tão dormentes que estavam minhas pernas. Caminhei até uma grande janela da cobertura, fora da sala, afastada de todos, e fiquei olhando o céu que a vista do último andar daquele prédio me dava.

Passei o restante da tarde, exatamente ali, quando fiquei cansado, sentei e continuei pensando nos meus problemas. Tinha minha preocupação e chateação com meu melhor amigo traidor, alguém que jamais imaginei que faria qualquer coisa para o meu mal.

E tinha a minha aflição por causa do loiro coordenador. Nunca me apaixonei por alguém tão violentamente quanto por aquele homem. Por que tinha que ser logo por ele? E o pior, o anúncio do casamento deveria ativar um botão que me fizesse desistir de criar ilusões na cabeça. Mas por que eu ainda só conseguia pensar nele?

Se arrancando a minha pele eu conseguisse esquecer como foi surreal sentir seu toque e tocá-lo - ainda que menos do que eu queria - eu faria. Se, tomando um sedativo poderoso, eu dormisse, e quando acordasse estivesse livre dos pensamentos impuros que tinha consigo, eu tomaria. Se arrancar meus olhos me impedisse de sonhar com ele toda vez que o visse, eu os arrancaria.

Isso tudo certamente doeria menos do que ter se apaixonado por alguém inacessível, doeria menos do que sofrer por alguém que eu nunca poderia beijar, tocar, assistir filme até tarde, e depois dormir agarradinho. Acordar no dia seguinte com um sorriso e a certeza de que ele ainda estaria em casa, comigo, após um dia de trabalho estressante para ambos.

Que raiva eu estava da minha vida fodida. Quem tinha tudo isso era Jae, e me peguei sentindo inveja dele. Por mais que fosse um sentimento ruim e eu não me orgulhasse nada dele, eu estava com inveja. Era pequena, mas estava lá, em toda a sua feiura.

Sempre ouvi dizer que apenas pessoas ruins sentem inveja, mas sempre achei que não passava de um sentimento humano, do qual todos estamos suscetíveis. Afinal, pessoas boas também têm sentimentos ruins. Isso as tornam más? O que torna o ser humano mau ou bom, não é a forma como ele lida e externa seus próprios sentimentos? Eu não queria sentir inveja de alguém importante para mim, mas o sentimento me rasgou por dentro, contra a minha vontade. Eu era mau por isso?

Kang Jae parecia ter tudo que eu queria. A confiança incondicional, o respeito e reconhecimento profissional do meu pai, e tinha Jimin. Era ele que tinha aquele sorriso em casa, que via Jimin com roupas simples, cozinhando, ou cozinhava para o loiro comer. Era ele quem passeava com o loiro, nos fins de semana, de mãos dadas.

E ainda que não houvesse amor, Jimin tinha o noivo para tudo que julgava essencial. Era Jae que lhe oferecia uma rotina tranquila, que lhe dava prazer todas as noites, que tocava em seu corpo como eu queria, que lhe fazia gemer, e podia tomar banho junto consigo sempre que quisesse.

Era tão doloroso pensar nisso tudo, mas minha mente não me dava folga, fazia questão de me lembrar de cada detalhe que eu nunca iria ter daquele homem. O pior de tudo era que eu já tinha ido longe demais, para esquecê-lo assim do nada. E se me perguntassem se eu queria voltar no passado, para um momento em que não o conhecia, eu diria que não. Conhecer Jimin fora algo tão bom, ele me deixava tão leve, que eu não conseguia desejar um passado e presente sem ele.

Escureceu e fui para meu antigo quarto, não desci para jantar quando a governanta me chamou, e minha mãe obviamente desconfiou de algo, quando foi atrás de mim e me encontrou deitado no sofá, perto da janela do quarto.

— Não vai me dizer o que você tem? — Ela me acariciava os cabelos, quando me puxou para o seu colo, como mais cedo.

— Estou com dor de cabeça, mãe, e fiquei sem fome. — Torci para que isso a convencesse, apesar de já esperar que não.

— E qual o nome dessa dor de cabeça? — Mais certeira do que isso, só se ela citasse o nome do marrento.

— Não é só uma coisa mãe, me decepcionei muito com alguém que confiava, e me decepcionei comigo mesmo por as vezes ser tão irracional — coloquei as mãos no rosto e bufei. — Me sinto meio perdido.

— Ah meu filhote, eu sei como é isso. Mas eu sei que meu menino é muito intuitivo, porque você herdou isso de mim, então não deixe de ouvir sua intuição pra tudo nessa vida — afagava meus cabelos, me ajudando a relaxar um pouco.

Intuição...hahá. Algo me impulsionava a não desistir do coordenador, mas eu nem sabia se podia chamar de intuição, ou apenas a paixão que eu sentia, me fazendo ter pensamentos irracionais. Porque era loucura, total loucura investir numa batalha que já estava perdida.

— É que às vezes tenho medo de seguir minha intuição e me dar mal, sabe?

— É...já essa sua insegurança não puxou nem ao seu pai e nem a mim, é defeito de fabricação mesmo — riu e me deu um tapinha na testa. — Por acaso um desses seus problemas é algum romance?

Olhei para ela, mas não parecia haver desconfiança por algo que tenha notado na hora do almoço, somente preocupação materna mesmo. Por isso confessei.

— Sim.

— Se apaixonar é uma merda — parecia uma adolescente falando. — Por isso que quando Jae citou a dona do restaurante que vocês foram, o Park disse que você não queria falar sobre o assunto? Ele sabe quem é a mulher por quem você está interessado?

Sim ele sabe, o único detalhe é que não é uma mulher, era ele. Mas eu me via sem coragem de falar sobre isso até com minha própria mãe, que sempre foi tão compreensiva comigo. Talvez não exatamente pelo que Jeon Nara iria pensar, mas por achar que ela contaria para o meu pai, e esse iria me reprimir até a morte. Ao mesmo tempo, se eu não tivesse coragem de falar para ela, como eu enfrentaria a próxima etapa: Jeon Jongsu?

— Mãe, e se… — respirei fundo e tentei me expressar do jeito que conseguia. — E se eu não quiser namorar uma mulher?

Jeon Nara franziu o cenho, parecendo confusa e colocou o indicador no queixo, pensando.

— Se não quiser, não namore — deu de ombros.

Minha mãe tinha entendido, ou não? Se não tinha entendido, eu não iria explicar em detalhes naquele momento. Por via das dúvidas continuei com meu dilema.

— Na verdade o real problema é que a pessoa é comprometida, e eu me sinto péssimo por isso.

— Ah, acho que estou entendendo agora. Filho, nem sempre as coisas acabam mal. Quando conheci seu pai, ele era comprometido, sabia? Acabou deixando a mulher e ficou comigo, mas a situação nem foi trágica. Inclusive, hoje ela trabalha na empresa, tudo numa boa, somos até próximas.

Minha intuição negativa começou a apitar…

— Sério? E qual o nome dela? — Eu estava curioso, mas ao mesmo tempo uma suspeita já vinha em minha mente.

— Você a conhece, eu acho. É a Cha Eunwa, secretária do seu pai.

Sabia! Aquela mulher estava muito suspeita, chamando o chefe de "Jongsu". Eu definitivamente teria que ficar de olho nela.

— E vocês não se desentenderam, ficou numa boa mesmo? — Fingi naturalidade, para ocultar minhas desconfianças.

— Foi complicado no começo, mas hoje nos damos bem, é uma ótima pessoa. Foi na adolescência filho, quando a gente fica adulto esquece essas bobeiras.

Poderia ser, mas ainda assim eu não iria esquecer tal história, apenas resolvi deixar pra lá, por ora.

— Sim, mãezinha. Acho que vou descer e me despedir do Jae e do Jimin, não quero parecer mal educado. — Já estava de noite, e eu não queria dar nenhum motivo para Jae desconfiar do meu sumiço justo quando anunciou seu casamento.

— Eles vão dormir aqui, seu pai os chamou para passar o fim de semana conosco.

Não, não, não, não!

— Puta merda — murmurei e minha mãe ouviu.

— O que você disse, filhote?

— Eu disse, maravilha — dei um sorriso amarelo.

— Sua cara nem esconde sua reprovação. — Ela se divertiu com meu desespero. — Você também não vai muito com a cara do Park, como seu pai?

Era justamente o contrário mamãe. O que eu odiava era estar tão apaixonado a ponto de não pensar direito.

— Não é isso. Eu só não esperava que eles fossem passar o fim de semana aqui. E sinceramente, eu não entendo o que seu marido tem contra o Jimin. — Aquilo realmente me intrigava.

Quem souber morre — brincou me puxando para sairmos do quarto.

Quando chegamos embaixo, estavam conversando no sofá da sala de estar, Jae e Jongsu, e Jimin, parecendo entediado ao lado do noivo. Ou eu deveria dizer "futuro marido", para ir me habituando com a ideia?

— Kook, você está bem? A governanta disse que você estava com dor de cabeça. — Jae me perguntou franzindo o cenho.

— Estou ótimo, obrigado. — Evitei a todo custo olhar para Jimin, talvez não conseguisse esconder dele, que na verdade eu não estava nada bem.

— Eu vou subir com sua mãe, já está tarde e amanhã vamos levantar cedo para comprar carnes para o churrasco, não é querida? — Meu pai chamou a esposa que prontamente concordou bocejando.

Já estava um pouco tarde e eles sempre iam deitar no mesmo horário, era bonitinho de se ver. Jongsu tinha coração para aquela mulher, mas para mim, escondia na bunda. Se despediram e logo subiram, deixando na sala apenas o casal e eu.

— Eu já vou também, estou cansado. Boa noite pra vocês. — Jimin disse e passou por nós sem dar nem um beijinho de boa noite no noivo.

Que pena...

Se eu fiquei feliz com aquilo? Sim, porque eu era um filho da puta iludido do caralho, que não tinha chance alguma com o marrento, mas ficava satisfeito com qualquer indício de que seu relacionamento com Jae não era perfeito. Um fodido de merda mesmo.

Até meus xingamentos por pensamento aumentaram a frequência, de tão frustrado que eu me sentia. Quando estava prestes a me despedir também, meu tio de criação foi mais rápido e me chamou.

— Jungkook, que tal assistirmos um filme?

— Desculpa, mas podemos fazer isso amanhã? — Tentei sair daquela situação, era chato agir assim com ele, sempre fomos tão próximos, mas só de olhá-lo eu lembrava do bendito casamento.

— Na verdade, eu precisava conversar com um amigo e não pode ser o seu pai...porque é sobre o Jimin.

Catapimbas!

Eu não sabia o que tinha feito para merecer tanta treta na minha vida, era incrível como eu era um imã de problema. De toda forma eu não era capaz de ver Jae precisando conversar e simplesmente lhe dar as costas. Ele sempre esteve presente quando precisei, seria muita filha da putagem tratá-lo mal por eu estar apaixonado por seu noivo. Aliás, o errado era eu, meu tio de criação não merecia pagar por isso.

— Tudo bem, vamos colocar um filme e conversamos — sorri verdadeiramente disposto a ouvi-lo. Só esperava que o assunto não fosse íntimo, ou eu não saberia lidar.

— Obrigado, Kook.

Jae escolheu "O massacre da serra elétrica" para pôr na smart tv, e demorou até a metade do filme para começar com o assunto da conversa.

— Kook, obrigado por ficar um tempo comigo, eu realmente precisava conversar com alguém, e não podia ser com seu pai, por motivos óbvios — franziu os lábios. — A questão é que eu sinto o Jimin um pouco distante e disperso. Ele está estranho — virou-se no sofá, para ficar de frente para mim.

— E qual é o normal dele? — Ok, eu estava tentando saber um pouco mais sobre a relação dos dois, mas também estava ouvindo um amigo. Estava tudo uma confusão na minha cabeça mesmo, não seria ali o momento de desembaraçar.

— Na verdade, minha relação com o Jimin tem seus pontos negativos, como qualquer uma, mas no geral ele é mais sorridente, mais falante, mais aberto. — Era evidente sua preocupação, quando uma ruga se formava entre suas sobrancelhas. — Há mais ou menos duas semanas ele vem agindo um pouco estranho e eu só consigo me perguntar qual seria o motivo.

E lá estava eu me questionando se o motivo seria eu, afinal sua descrição batia com o período de tempo em que nos conhecemos.

— Jungkook, eu sei que nada do que eu disser vai sair daqui, então gostaria de ser totalmente sincero com você.

— Que bom que você sabe disso, claro que eu não vou contar nada pra ninguém. — Era óbvio que eu não falaria, não só por Jae, mas por Jimin também. Mas confesso que estava ficando um pouco apreensivo com aquela conversa.

— Ok, então… — Ele parecia mais receoso, mas ainda assim prosseguiu. — Na realidade, nunca tivemos uma vida sexual muito ativa, mas se antes acontecia uma vez no mês, agora está mais difícil ainda. E por favor não me julgue mal Jungkook, eu não estou reclamando, meu amor pelo Jimin vai muito além de sexo, por isso respeito totalmente a decisão dele. É só que...

Jae parecia frustrado, Jimin provavelmente se sentia daquela forma também, e eu não sabia dizer se estava gostando ou não, daquela conversa.

— Decisão dele? Olha, Jae, é comum um casal passar por fases assim, vocês dois trabalham muito, é normal estarem cansados no fim do dia e não terem disposição para transar. Principalmente em um relacionamento de longa duração. — Eu coçava a nuca meio sem jeito, e na verdade, nem eu acreditava nas minhas palavras. Se eu estivesse com o Jimin, faria de tudo para o fogo não apagar.

— Não sei se é mais uma questão de fase, ele só cede quando eu digo que sinto muito a falta dele. Parece que é só pra que eu não me sinta rejeitado de alguma forma. Mas nunca forcei ele, é claro, sempre respeito os seus limites e as inseguranças que ele tem com o próprio corpo.

Insegurança com o próprio corpo? Eu não conseguia imaginar que tipo de insegurança aquele homem pudesse ter, que o impedisse de fazer sexo com frequência.

— Eu vou direto ao ponto. Ontem tivemos uma discussão boba e saímos de casa sem dizer um ao outro onde iríamos. Como você sabe, eu estava aqui com seus pais, mas não sei onde o Jimin foi, e eu não gostaria de pensar que ele estava me traindo. Mas esse afastamento emocional dele, nessas últimas semanas, acabou me levando a pensar que ele pode sim ter me traído, e isso está me matando — esfregou os olhos e bufou.

Que relacionamento show, um não sabia onde o outro tinha ido. Mas eu sabia que Jimin não tinha o traído e por mais que fosse benéfico para mim os dois não estarem bem, eu precisava dizer a verdade. Nunca fiz questão de ganhar nada jogando sujo.

— Eu sei onde ele estava, mas antes, — puxei minhas pernas para sentar em pose de índio — você precisa saber que da mesma forma que ele saiu sem dizer para onde ia, você também o fez. Ele também poderia ter pensado que você estava o traindo.

— Mas eu nunca trairia ele — Jae riu como se o que eu tivesse falado fosse ridículo.

— E você acha mesmo que o Jimin te trairia? Não me leve a mal amigo, sei que conheci ele há pouquíssimo tempo, mas não acredito que seu noivo faria algo do tipo, e você deveria ser o primeiro a ter essa certeza. — Ele pareceu analisar minhas palavras. — Jimin é extremamente centrado, um homem de valores e com um autocontrole invejável, não sairia da linha tão facilmente.

Sem perceber, lá estava eu, olhando para o nada e elogiando o marrentinho, com cara de bobo. Quando percebi, dei um pigarro e voltei minha atenção ao meu tio de criação.

— Você não tem nada pra me dizer? — Me encarou com uma sobrancelha levantada, e eu gelei na hora. Minha forma de falar me denunciou?

— F-falar o q-quê? — gaguejei tentando entender seu olhar.

— Vamos Jungkook, você pode me dizer a verdade — colocou uma mão em meu ombro, como era de seu costume, fazendo uma pinça no espaço entre meu pescoço e ombro, fazendo um aperto leve, porém eu senti minha alma sair do corpo.

— Do q-que você 'tá f-falando?

— Você disse que sabia onde ele estava ontem, eu só queria saber — riu de como eu estava nervoso.

Oh minha nossa, era isso. Alma, pode voltar para o corpo.

— Sim, é verdade. Ele estava em um lugar tranquilo, com nossos amigos do setor de testes, manutenção e monitoramento — sorri amarelo, tentando disfarçar meu alívio. Acabei nem percebendo se tinha falado demais, e se Jimin iria achar ruim eu ter falado, pensei apenas em defendê-lo da desconfiança. — Mas para maiores informações, favor consultar o seu noivo.

Brinquei, fazendo Jae sorrir, aparentando estar mais aliviado por não ter levado um par de chifres. — Sério? Nossa, fico bem mais tranquilo de saber que ele estava com você.

As vezes era difícil acreditar que Jae não via nenhum pingo de maldade na minha amizade com seu noivo.

— Ele não estava exatamente comigo, eu o encontrei lá, estávamos rodeados por conhecidos — expliquei.

— Obrigado Jungkook, sabia que conversar com você me ajudaria. — Se aproximou de mim e me abraçou forte, eu evidentemente retribuí.

— Parece que nosso filme acabou e nem assistimos direito — olhei para a tv, onde já passavam os créditos finais.

— Não vou mais ficar tomando seu tempo, acho que nossa conversa foi bem proveitosa. Pode ir dormir, eu vou também.

— Certo, boa noite Jae — levantei do sofá e esfreguei meus olhos, mas logo uma questão me veio à mente e aquela era a oportunidade perfeita para fazer uma pergunta. — Ah, espera, preciso te perguntar uma coisa.

— O que você quiser — atento, permaneceu sentado, me ouvindo.

— Você sabia que meu pai já tinha namorado a secretária dele? — Analisei sua expressão, ela permanecia imutável, tranquila.

— Sim, foi no período em que todos estudávamos juntos. Seu pai era louco pela Eunwa, cheguei a pensar que era com ela que ele se casaria — olhou para o seu lado esquerdo, como se estivesse tendo uma lembrança. — Mas veio a Nara e arrebatou o coração dele. É assim, não é? O que podemos fazer quando um verdadeiro amor aparece?

Pisquei algumas vezes, meio confuso, mas assenti. Quando os vi no escritório, meu pai não parecia que falava com um antigo amor, até a repreendeu quando ela respondeu por ele e a chamou pelo sobrenome "Cha". O poderoso Jeon estaria escondendo de mim a intimidade que tinha com a mulher? E se ela fosse sua amante? Eu duvidava, meu pai sempre fora tão louco pela minha mãe. De todo modo, não era o momento certo para ficar pensando nisso, eu tinha uma conversa para encerrar.

— Obrigado, Jae, era só uma curiosidade mesmo — acenei com a mão. — Já vou, boa noite.

— Boa noite Kook, mais uma vez, obrigado, pela conversa — Também levantou, me deu um breve abraço, e ambos fomos para nossos quartos.

O meu ficava ao lado do quarto dos meus pais. O de hóspedes, onde Jae e Jimin estavam, ficava um pouco mais distante dos demais. Ao chegar em meus aposentos, tomei um banho relaxante, coloquei um conjunto de pijama de mangas longas, azul escuro, e deitei em minha cama, sem o menor indício de sono.

Ouvi um pouco de música, mas minha cabeça estava muito cheia dos acontecimentos da semana. Tinha aquela desconfiança com a secretária do meu pai, mas a maior parte dos meus pensamentos era tomada por Yoongi, sobre o que eu faria com relação ao rumo da investigação, e tomada por Jimin.

Minha mente não parava de recapitular o momento em que recebi a péssima notícia na hora do almoço. Ele iria realmente casar, e a data estava marcada. Então depois de muito rolar na cama, decidi ir até a cozinha beber um pouco de água. Andar um pouco me faria bem.

Quando cheguei no cômodo e me servi com água da porta da geladeira, me encostei no balcão da cozinha e bebi o líquido, com o olhar fixo em um ponto qualquer no chão. Pensava em como apesar de tudo que Jae havia me falado sobre seu relacionamento, era ele quem estava dormindo com Jimin naquele momento.

Pensava também no quanto foi estranho para mim ouvir que o loiro não era muito ativo sexualmente, se em minha ótica aquele homem transpirava sexo. Jimin era o ser humano mais sexy que eu já tinha visto na vida. Pelo visto as aparências enganam mesmo.

Após beber água me direcionei ao jardim da casa, onde mais à frente ficava a piscina. Meus pais moravam na cobertura, mas parecia até que estávamos no chão do térreo, de tanto verde. Jeon Nara adorava plantas.

Era verão e o clima estava agradável para ficar ao ar livre, então, ciente de que eu não iria voltar a dormir, fiquei sentado em um banco largo e baixo, com vista para a piscina. A noite estava silenciosa e o vento gostoso, então me permiti esvaziar um pouco a cabeça.

Por pouco tempo, porque logo o motivo dos meus surtos apareceu no mesmo ambiente que eu. Não foi difícil perceber que era ele, seu andar elegante e tranquilo se fez notar de longe. Não olhei em sua direção quando este andava pela área verde, o notei de soslaio. Ainda não o olhei quando caminhou em minha direção, nem quando falou comigo.

— Posso sentar aqui? — Já de pé, ao meu lado direito, pediu.

Não, não e não! Diga "não" seu molenga!

— Sim. — Com os cotovelos apoiados nos joelhos, mãos cruzadas em minha frente e olhar baixo, confirmei. — Jae já está dormindo?

— Como uma pedra, roncando e tudo — sentou, colocou uma perna sobre a outra, fazendo um "quatro", e começou a dobrar a barra da calça do seu pijama vermelho, parecendo que queria apenas se ocupar com algo.

— Pedras não roncam — respondi e ouvi uma risadinha nasalada vinda de si. — E você, por quê levantou?

— Fui comer uma maçã.

— Sua glicose estava baixa? — Minha atenção ainda estava em meus próprios dedos.

— Sim. Fui à cozinha e quando te vi, resolvi vir até aqui...apesar de que o mais prudente seria voltar para o meu quarto — comentou em contradição com a sua ação.

— Com certeza seria o mais prudente — murmurei sentindo um gosto amargo em meu interior.

Ficamos em silêncio por um momento, ambos sem manter contato visual, apenas lado a lado. Jimin parecia pensar no que falar e eu não fazia questão de dar prosseguimento à conversa. Até que ele resolveu perguntar.

— Você está triste comigo? — encarava algum ponto à sua frente, e eu fechei os olhos por um momento, lutando para não olhá-lo mais do que perifericamente, e me sentir refém de novo.

— Eu nem tenho motivos para isso — respondi baixo e comecei a estalar meus dedos, tentando não dar lugar àquela sensação esmagadora de desgosto. Porque eu estava sim, triste, mas não exatamente com o coordenador.

— Então você não ficou desapontado quando soube que marcamos a data do casamento? — Me olhou dessa vez, mas eu ainda mantinha minha atenção voltada para baixo. — Jae não conversou comigo antes de anunciar na frente de todos.

— Mas com certeza conversou antes de te levar para marcar a data. Uma hora vocês iriam ter que falar, não? — Dessa vez o encarei, de forma questionadora —  O que mudaria se fosse hoje, ou amanhã? Nada.

Jimin provavelmente notou a agrura que atravessava em minha voz, e não deixou aquilo passar despercebido.

— Jungkook, eu sei que as coisas estão meio estranhas entre nós, mas eu não quero ficar assim.

— Eu não estou particularmente soltando fogos, mas também não estou desapontado, decepcionado ou qualquer coisa do tipo, com você. Essa situação não é justa com nenhum de nós três — inclinei meu corpo para trás e apoiei minhas mãos no banco, tentando relaxar de toda a tensão ruim. — Acontece que eu não consigo ficar forçando sorrisos, por isso preferi ir para o meu quarto mais cedo.

— Eu entendo… — parecia arrependido ou constrangido por estar ali, e já se preparava para levantar. — Bom, talvez seja melhor eu ir agora.

Eu não queria vê-lo se sentir mal por fazer algo que achava melhor para si. Não queria que sentisse qualquer tipo de culpa por eu ter me sentido desconfortável, afinal o loiro não era o responsável pela situação. Por isso segurei sua mão quando ele levantava.

— Não vai… — Eu queria surrar a minha cara por simplesmente nunca conseguir ignorá-lo. — Já que você está aqui, vamos conversar. Você não está com sono, está?

— Não — sorriu daquele jeito lindo que fazia suas bochechas se expandirem, e sentou ao meu lado novamente.

Me esforçando para não derreter todo, soltei sua mão, olhei para frente novamente e pigarreei. — Comentei com o Jae que te vi ontem, fiz mal?

— Não, não me importo.

Foi direto e objetivo. Jimin era diferente de Jae, em nenhum momento do dia anterior contou que tiveram uma discussão, muito menos o motivo. Ele era o tipo de pessoa que não saía falando dos problemas do seu relacionamento e isso era admirável. Eu gostaria de estar com alguém que não falasse de mim a cada briga que tivéssemos.

Claro que Jae conversou comigo porque via em mim um amigo, mas o casal já tinha se resolvido, não precisava expor a intimidade deles a não ser que houvesse algum motivo por trás.

— Não está curioso para saber onde ele estava ontem, também? — instiguei indicando que eu já sabia da discussão, mas o marrentinho não parecia surpreso.

— Não.

— Que estranho, Park — cutuquei a onça com a vara curta e ela se preparou para me morder.

— E você, não está interessado em sair com a dona do restaurante que perguntou por você?

— Claro que não — respondi sua provocação revirando os olhos.

— Que estranho, Jeon. — Me olhou afiado, usando minhas palavras contra mim.

— Você sabe que não sinto atração por mulheres, não sei porque me perguntou isso — respondi o óbvio. — Já eu, perguntei se não queria saber onde Jae estava, porque ele é seu noivo.

— Sim, mas não sinto ciúmes dele, nem quero saber de cada passo que ele dá — deu de ombros.

— Porque você não o ama. — O lembrei. Não que ciúme fosse sinal de amor, mas o mais provável é sentirmos ciúmes de alguém que amamos, do que por quem não sentimos nada.

— Não precisa ficar repetindo isso só porque descobriu — virou o rosto para o outro lado, incomodado.

— Tudo bem, parei, coordenador — murmurei, e este voltou a me olhar.

— Posso te perguntar uma coisa? — pediu.

— Claro — Eu já olhava para qualquer outro ponto ao meu lado novamente, com as mão inquietas, para não encará-lo diretamente. Mas ganhou novamente minha atenção com sua pergunta.

— Quando você pretende contar aos seus pais sobre sua sexualidade? — perguntou baixo, como se houvesse alguém conosco que não pudesse ouvir.

— Não sei, talvez quando eu apresentar meu protótipo e conseguir provar ao meu pai que ele pode se orgulhar de mim. Já sou muito criticado, não quero ser mais ainda, até que as coisas fiquem mais favoráveis, pelo menos. — Fui sincero, mas quando vi Jimin murchar sua expressão, percebi que não era a resposta que ele esperava.

Procure um gay mais burro do que eu e falhe miseravelmente.

Apesar de não comentar nada, tenho certeza que o loiro queria me ouvir dizer que logo contaria aos meus pais. Era confuso, mas assim como eu não queria que ele se casasse, Park também tinha uma pontinha de esperança de ver um cara mais decidido em mim. Alguém que representasse a estabilidade que tanto valorizava.

Mas com minha resposta, apenas denunciei ter medo do papai, incapaz de dar a ele a segurança que Jae o proporcionava. Não que uma resposta positiva da minha parte fosse fazê-lo desmarcar o casamento para ficar comigo. Mas talvez inconscientemente ele se iludisse como eu, tentando acreditar que em alguma realidade alternativa a gente desse certo. Ou o mais provável: queria mais uma prova para si, de que eu nunca seria o cara certo, provar para si mesmo que marcar a data do casamento foi o melhor a se fazer.

Mas Jimin também guardava um segredo de Jae, me confessou no elevador que não queria ser pai, e esse era o sonho número um do meu tio de criação, sendo assim o loiro não tinha moral para me criticar. Não que tivesse feito isso, mas o fato de ter reprovado minha resposta, já fez eu me sentir um bosta. Por isso resolvi lhe questionar também.

— E você, quando vai contar ao Jae que não pretende ter filhos?

— Contei ontem, esse foi o motivo da discussão — Jimin parecia já esperar por minha pergunta.

O tombo foi grande. Eu deveria lembrar que o loiro não era um medroso como eu. Que provavelmente o desentendimento deles tinha sido por algum motivo relevante.

— Achei que ele tinha te falado sobre isso também.

— Não falou. E também não perguntei, não achei correto — fui sincero, não queria ficar invadindo a privacidade do casal, mas ouvi uma risada sarcástica em resposta.

— Seu senso de moralidade oscila bastante. Ontem você disse que eu deveria te beijar, colou meu corpo no seu, e até lambeu a minha orelha, mas hoje está me dizendo que não achou certo perguntar ao seu amigo,  algo sobre mim — arqueou as sobrancelhas. — Você é bem confuso.

Você não imagina o quanto...

— Eu fiz isso tudo, é? Deve ter sido o álcool — ri atrevido e Jimin revirou os olhos, tentando esconder o próprio sorriso.

— Você nem ingeriu bebida alcoólica ontem — finalmente riu, colocando a mão na boca, e depois pigarreou, repreendendo a si mesmo. 

— Está reparando demais em mim, marrentinho — tentou esconder outro sorriso pela forma que o chamei.

— Jungkook...apesar de tudo que aconteceu na noite de ontem, você parecia um pouco...triste — franziu as sobrancelhas, pensativo. — Notei ontem mas acabei não comentando. Aconteceu alguma coisa?

— Aconteceu, mas não queria falar agora. — Se eu fosse ficar lembrando do Yoongi iria ficar muito mal novamente, apesar de num momento futuro querer saber da opinião do loiro, não queria falar nada naquele dia.

— Tudo bem.

Ficamos alguns minutos em um silêncio confortável, enquanto eu o olhava de canto e via seu cabelo se mover conforme o vento batia em seu rosto. Fechava seus olhos e sentia a brisa fresca da madrugada. Aquela imagem era tão atraente, quanto dolorosa de se admirar.

Coloquei minha mão sobre a sua, que estava um tanto gelada. Jimin olhou para elas, mordeu discretamente o lábio inferior, e ao perceber seu gesto, subi minha mão, passando as pontas dos dedos por seu antebraço e vi seus pelinhos eriçarem.

Sem dizer uma palavra, subi mais a palma e apertei levemente seu braço parcialmente coberto, pela manga dobrada do pijama vermelho.

— Sua pele é gostosa de sentir — murmurei agora fitando seu braço, abrindo a mão e passeando com esta, ora pelo tecido, ora pela tez. Experimentando o contraste das texturas no tato.

Subi meus olhos, e vi seus semelhantes arderem com uma intensidade que quase me intimidaram, se eu já não estivesse me acostumando aos poucos com aquelas orbes que queimando toda vez. Me devorando como quasares, como os maiores emissores de energia do universo.

Eu queria tanto ser fonte de energia para eles.

— Não faz isso. — Poderia ter sido eu a falar, mas foi o coordenador.

— Isso o que?

— Me olhar como se eu fosse a coisa mais bonita que você já viu...e me tocar assim — olhou para a minha mão, depois para mim novamente — ...como se fosse o maior presente que você já recebeu.

— Mas você é — senti minha respiração pesar uma tonelada, enquanto me esforçava para sustentar seu olhar.

O loiro suspirou audivelmente, e coloco a mão livre em seu pescoço, deslizando-a em seguida, pelo peito, como se quisesse se livrar de alguma sensação que o atordoava.

— Vamos mudar de assunto? — pediu e virou o rosto para o lado oposto ao meu, mas não se desvencilhou da minha mão, e sorri por isso.

— Qual foi a reação do Jae, quando soube que você não quer ser pai?

— Acho que essa resposta você já tem. Ele saiu de casa e quando voltou me pediu para marcar a data do casamento — deu de ombros como se não fosse grande coisa.

— Eu trabalho com detalhes, coordenador. — Estava apenas brincando, mas ele parecia não se importar em contar.

— Ok, chefe — riu baixinho, e se ajeitou no banco, para ficar mais perto de mim, ainda sentindo minha carícia em si. — Ele se irritou de início, e saiu de casa. Voltou bêbado e carente. Me importunou um pouco e depois desabou de sono.

— Te importunou? Espera, ele não te forçou a nada não, né? — Meu temor foi tão grande, que até soltei seu braço, para melhorar minha postura enquanto esperava sua resposta.

— Quando Jae bebe, vira um chorão, e não consegue nem tirar os próprios sapatos. Eu disse que ele me importunou, porque ficou pedindo pra conversar sobre o assunto tarde da noite, e eu não estava disposto — explicou me dando um alívio imediato.

— Ele estava na casa dos meus pais. Quando eu voltava pra casa recebi uma ligação dele, mas não sabia que vocês tinham discutido por esse motivo. — O coordenador não pareceu se importar muito ao saber onde o noivo estava.

— Jae não ficou bravo por eu não querer adotar uma criança, futuramente, com ele. Ficou porque eu não o disse logo isso — explicou. — Mesmo assim, pediu desculpas por nunca ter me perguntado antes se eu queria filhos, disse que não queria mais adotar se isso também não fosse um sonho meu, e me levou hoje de manhã para marcarmos a data do casamento para outubro.

Estávamos em julho, no verão, não demoraria para passar três meses e eles estarem casados, quanto mais eu pensava a respeito, mais angustiado me sentia. Por que Jimin tinha o pulso firme para tanta coisa mas não conseguia dizer que não amava o próprio noivo? Droga! Ele estava feliz? Estava satisfeito? Queria realmente casar?

— Ele ainda disse que quer que você seja nosso padrinho e diga algumas palavras sobre nós no dia da cerimônia, então não se espante quando receber o convite. — Não existia um pingo de animação em sua voz.

Só podia ser brincadeira que eu teria que passar por tamanha derrota. Eu me sentia tão culpado por não conseguir ficar feliz pelo homem que esteve ao meu lado desde a minha infância, me apoiando, fazendo o papel que meu pai não fez. Jae sempre me deu um apoio emocional, e eu queria ser eternamente grato a ele. Por isso deveria estar feliz por meu "tio" ter encontrado alguém especial, a ponto de querer casar.

Ao mesmo tempo, eu queria lutar por Jimin, por aquele sentimento que nasceu em mim com tanta força que me fazia perder a noção da realidade. Era tão confuso que eu estava começando a me desesperar. Levantei diante da agonia que me tomava, e fiquei de frente para o loiro.

— Eu não consigo acreditar que você vai casar com alguém que não ama porque tem como valor na sua vida "estabilidade e segurança" — falei pausadamente a última parte, como se estivesse citando um lema, e Jimin levantou também, me encarando muito perto.

Eu me perguntava, por que Jae tinha o poder de representar tais coisas para ele. E sua família? Eles não eram presentes? Onde estavam? Por que parecia que seu noivado era tudo o que ele tinha para se considerar estável?

— Ah, você quer falar de valores? Ok, então vamos falar de um importante para você. Qual é mesmo? — fez uma falsa expressão pensativa, colocando o polegar no queixo e o indicador na boca. — Ah, lembrei, amizade, não é? — estalou os dedos e estreitou os olhos para mim, com a voz cheia de ironia.

— O que você quer dizer? — cheguei mais perto de si, quase colando nossos corpos, para mostrar que ele não me intimidava, apesar de ser uma meia mentira.

— Estou dizendo que Jae é seu amigo há mais tempo do que é meu noivo. É como um tio, um irmão mais velho, ou mesmo um pai pra você, não é? — inclinou o queixo para cima, para me olhar melhor e me desafiar, por ser mais baixo que eu. — Me diga que não se importa em magoá-lo, e eu assumo que apenas os meus valores estão em questão aqui.

Não me restou outra alternativa que não fosse ficar calado. Jimin tinha razão, eu não tinha a menor coragem de dizer a Jae - que se preparava para casar com alguém que amava - que eu estava apaixonado pelo mesmo homem que ele. Não era só um namorico, era um noivado, ainda por cima de um ano. Eu que apareci do nada. Parecia muita traição de minha parte, ainda que não tenha sido a intenção.

— Percebe que se ficássemos juntos teríamos que passar por cima dos nossos valores? Isso é loucura Jungkook, não fomos feitos um para o outro — passou a mão no seu cabelo, jogando-o para trás, depois repousou a mão na própria nuca enquanto observava minha reação.

Suas palavras me doeram tanto. Eu estava arrasado, derrotado, e não conseguia esconder nem um pouco minha face abatida. Jimin, percebendo, estendeu sua mão - daquele seu jeito único - para que eu sentasse novamente. Eu a peguei, sentando no banco, e olhando-lhe fazer o mesmo, ao meu lado.

Não era culpa de Jimin, tampouco de Jae,  ou de qualquer pessoa, e talvez eu só precisasse de alguém para culpar, mas como não havia, eu estava culpando a mim mesmo. Por outro lado - totalmente irracional, ou intuitivo - eu queria deixar Jimin ciente de que, se enfrentássemos aquela situação, eu não iria ser um covarde.

— Eu sei que é difícil quando o que queremos gera conflito de valores, mas eu também tenho a família como um valor importante e sei que você ficou desapontado, quando me ouviu dizer que me assumiria somente quando me convir — permaneci segurando sua mão - desde que sentamos - que estava apoiada no banco largo. Sentir o calor dela era gostoso e me dava coragem para falar o que eu queria.

— Mais um empecilho, talvez você tenha mais motivos para se afastar de mim, do que eu de você — deu uma risada seca.

— Não. Você não me deixou terminar. Eu quis dizer que também tenho a família como um valor, e provavelmente quando meu pai souber que sou gay, vai ficar extremamente decepcionado, mas… — respirei fundo, tomando coragem para falar de uma vez. — Jimin, se fosse por você, eu o enfrentaria.

O loiro não pareceu se surpreender com minha declaração, nem teve reações exageradas, apenas sorriu gentil, e tirou lentamente sua mão debaixo da minha. 

— Não é por mim que você tem que enfrentá-lo, Jungkook, é por você. Quando fizer por você, aí sim, estará agindo pela motivação certa — levantou, fazendo-me olhar para cima por estar mais alto que eu. — Preciso ir agora.

— Queria não ter sempre que me despedir de você — comentei baixinho, triste… e Jimin riu, uma risada fraquinha que apesar de conter um pouco de humor, era mais um misto de frustração e cansaço, até que falou quase inaudível.

— Só pode ser castigo, eu gostar tanto de você — tocou em minha cabeça, afastando os fios pretos que caíam em meu rosto. Fechei os olhos para apreciar seu toque, e senti seus lábios volumosos pressionando-se contra a minha testa, em um selinho demorado, enquanto sua outra mão pousou em meu ombro direito, e fez um carinho sutil ali.

Se retirou antes que eu abrisse os olhos, e foi de forma proposital que permaneci de com estes fechados por mais alguns minutos. Estava cada vez mais difícil vê-lo partir para ficar ao lado de outro homem.

Mas Jimin mais uma vez estava certo, sobre eu ter que mostrar quem era por mim mesmo, não por ninguém, e me deixou pensativo sobre nossa conversa. Lembrando-me que eu ainda teria o domingo inteiro para olhar para aquele homem por quem eu estava terrivelmente apaixonado.

Eu aguentaria passar mais um dia na mesma casa que ele, com o tornado de sentimentos que havia dentro de mim?

Como será q vai ser esse domingo? Posso dizer que vai estar um misto de emoções.

Gente, o catapimbas teve tanta repercussão q vim comentar sobre ele. Qndo estava começando a planejar essa fic, no começo desse ano, conheci o "Catapimbas" através de uma figurinha. Está aqui a bendita 👇🤣

Só depois vim conhecer o cara do tiktok. Não associem a personalidade do Jk ao personagem do Tiktok vcs sabe que o Jk daqui não é hetero top, e eu nem quis fazer referência nenhuma. Quero q vcs lembrem do meu personagem ao comentar, não de outra referência. Ta pom?

Foi uma correria p revisar esse cap, então perdoem os errinhos pfv.

Entre as próximas postagens vou fazer att dupla, só ainda n sei qual a semana, mas vai ser dupla pq vou trazer outro cap dos casais secundários, e vcs vão descobrir algumas coisinhas.

Fiquem bem, cuidem de seus corpinhos. Um beijo e até próxima terça!👉💜👈

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