—– Ei.
Olhei pra trás e vi um garoto franzino de óculos e aparelhos nos dentes.
—– Oi, posso ajudar?
—– Você é a Ana, não é?
—– Sim, sou eu.
Estranhei a aproximação repentina daquele garoto estranho de olhos pequenos.
—– Eu sou o Arnold, eu fiquei sabendo que você é excelente em matemática e eu queria saber se você poderia me ajudar, eu estou com uns probleminhas, literalmente — Ele sorriu simpático, e eu sorri de volta para não deixá-lo sem graça.
No começo eu pensei em dizer não porque ele era pra lá de estranho, mas decidi considerar.
Não devemos julgar as pessoas pela aparência, e também ensina-lo seria uma boa distração, assim não fico pensando muito no otário do Fred.
—– Claro, ficarei feliz em poder ajudar.
Confesso que até fiquei feliz em poder ajudar aquele garoto. Pude notar pelo tamanho do sorriso dele que aquilo significava muito.
Liza se aproximou depois que ele foi embora.
—– Qual é a do esquisitão?
—– Vou ensinar matemática pra ele — Fechei o armário e andei pelo corredor com ela.
—– Por quê?
—– Porque ele pediu.
—– Ah.
—– Depois que o professor John parou de dar aulas, alguns alunos começaram a ter dificuldade para acompanhar o ritmo da professora nova, porque vamos combinar o John explicava muito bem — Falei sem perceber que aquele assunto ainda mexia com a Liza de alguma forma — Liza me desculpa eu...
—– Tudo bem, amiga, já passou — Ela sorriu fraco.
Depois da aula, eu me despedi dela e entrei no ônibus, sentei do lado do Simon e a gente ficou debatendo sobre vários assuntos, depois de acompanhar ele até sua casa, dei um beijo no seu rosto e voltei alegre pelo caminho até encontrar o Fred no carro dele no maior amasso com a namorada.
Aquilo me deixou bastante irritada, e a vontade era de ir lá e quebrar a cara dos dois, mas eu me controlei.
Se é guerra que ele quer, é guerra que ele terá.
Entrei em casa enfurecida, subi para o meu quarto e me joguei na cama.
Depois cobri o rosto com o travesseiro e soltei um grito abafado, seguido de um choro contido.
Como ele pode ser tão babaca, estúpido e idiota.
Quem ele pensa que é, pra me enganar assim?
Mas também não é nenhuma surpresa, não é nada que eu não tenha pensado.
Mas porque agora que eu confirmei minhas suspeitas, não consigo ficar em paz.
Depois de pensar um pouco, lembrei do dia que o Fred me viu abraçando o David no refeitório, ele ficou bastante enciumado e olha que era o amigo dele.
Ciúmes é um ponto fraco dele.
Então se ele acha que pode me provocar, eu também posso.
Mas eu não podia sair com o esquisitão do Arnold, seria até uma piada e ele logo perceberia, então vou apelar para um dos jogadores mais fortes do time de futebol, porque sei que isso vai ferir diretamente o ego dele.
Homens também se sentem ameaçados por outros homens.
Sorri maliciosamente com a ideia.
...
No outro dia na escola, eu procurei uma forma de me aproximar do Caio sem parecer evasiva ou oferecida demais, mas todas as minhas abordagens era uma coisa ou outra. Então decidi arriscar mesmo assim.
—– Caio, como vai?
Eu estava com tanta vergonha que poderia enfiar a cara dentro do armário dele.
—– Bem — Disse, confuso
Depois ele fechou o armário e saiu andando, me ignorando totalmente, mas eu insisti e fui atrás dele, me sentindo a garota mais idiota do mundo. O que um babaca não faz com a gente.
—– Pra onde está indo? — Perguntei tentando acompanhar seus passos.
—– Pro treino.
O Caio era um dos garotos mais cobiçado da escola. Ele era bonito, alto e forte. E só o olhar dele matava qualquer uma. Porém ele já deixou claro que o lance dele é ficar e fazer o que ele quiser com a garota, desde que ele esteja no controle.
O tipo de cara que o Fred irá detestar. Isso se ele gostar mesmo de mim. O que eu duvido muito.
—– Tem alguma matéria que não saiba? E-eu posso te ensinar.
—– Não, obrigado — Ele continuou andando despreocupado. porque quando ele não está interessado não faz nenhum esforço.
Desacelerei os passos com medo de todos pensarem que eu estou perseguindo ele, apesar de estar.
Então o inesperado aconteceu.
—– Garota, fala logo o que tu quer — Ele virou e me olhou diretamente nos olhos.
Meu coração disparou.
Pensei em inúmeras frases na minha cabeça, nenhuma que fosse me comprometer.
—– Você — Suspirei.
—– Que?
—– Eu te acho muito bonito — Confessei um tanto sem jeito.
Ele deu risada, mas depois ficou sério.
—– Tá falando sério?
—– Sim, estou, eu gosto muito de você, Caio — Sorri falsa.
Eu não acredito que eu disse isso.
Ele pensou por alguns minutos, depois deixou cair a mochila do treino no chão e logo em seguida me pressionou com força contra a parede.
—– Ótimo, porque eu também acho que gosto de você — Disse com malícia, colando o seu corpo quente no meu, me impedindo de respirar.
Confesso que senti medo ao invés de desejo, eu não sabia até onde essa brincadeira iria chegar.
Ele aproximou seus lábios dos meus, mas eu virei o rosto rapidamente e passei por baixo do braço dele.
—– Estou louca pra te beijar, mas não aqui com todo mundo olhando.
Meu Deus, o que eu estou falando.
—– Onde, então? — Ele se aproximou de novo dessa vez beijando o meu pescoço.
—– Depois da aula, pode ser? marcamos um lugar — Combinei com a voz tremida por conta do arrepio do seu beijo.
—– Ok então, gostosa.
Ele deu um beijo no meu rosto e se afastou, pegou a mochila e me lançou um olhar sedutor, mas que não me afetou muito.
Assim que ele sumiu de vista, fechei os olhos e soltei um suspiro, pensando na confusão que me meti.
De repente alguém tocou o meu ombro e eu me assustei completamente.
—– David, é você — Suspirei com a mão no peito
—– Por que você e o Caio pareciam tão íntimos agora pouco? — Ele perguntou intrigado com uma expressão séria.
Como eu disse, o David é o porta voz do Fred, então eu não podia contar a verdade pra ele.
—– A gente só estava conversando — Sai andando até a sala, afim de me livrar das suas perguntas.
—– Sei, conversando...Ana, esse cara não vale nada, acredite, eu já vi ele fazer coisas horríveis com as garotas, eu não vou deixar você se envolver com ele — Ele disse atrás de mim.
Me virei e o encarei.
—– Você não vai deixar?
—– Não — Cruzou os braços
—– E quem é você, meu guarda costas?
Ele soltou os braços e suspirou pesadamente.
—– Sou seu amigo, só quero seu bem.
—– Se quer proteger alguém, proteja sua namorada, eu sei me cuidar — Soltei e segui andando deixando ele pra trás.
Me arrependi de ter sido grosseira com o David, eu sei que ele só estava preocupado comigo, e eu no lugar dele faria a mesma coisa.
Mas eu precisava fazer parecer real. Se se eu contasse a verdade pra ele, com certeza ele contaria para o Fred e estragaria meu plano.
Enquanto eu não ver o Fred se arrastando atrás de mim igual um
cachorrinho, eu não vou descansar.
Ele vai se arrepender por ter me feito de trouxa.