Capítulo 39

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Abri os olhos devagar e uma luz branca   adentrou a minha visão me deixando cega por alguns instantes, e quando os meus olhos se acostumaram com a luz, percebi que eu estava em um quarto de hospital.

Do meu lado estava a minha mãe dormindo com o seu semblante sofrido e amargurado como se tivesse passado a noite inteira chorando.

Minha cabeça estava doendo muito e eu não sabia se era por conta da ressaca ou do acidente.

Ah, o acidente.

Liza, David, como será que eles estão?

Não consegui ter uma clareza de tudo o que aconteceu, só lembro de uma luz forte e de sentir o meu corpo girando várias vezes no ar pra depois se chocar com o carro.

Mas eu me recordo de ouvir a liza chorando desesperada pelo David.

Levantei da cama por impulso e fui até a porta sorrateiramente para não acordar a minha mãe. Afinal de contas,  ela precisava tanto desse descanso quanto eu.

Eu lamento tê-la decepcionado outra vez.

No corredor, eu segui arrastando meu corpo dolorido e meu coração angustiado em busca de respostas.


De repente eu escutei um grito agudo vindo de um quarto e me assustei totalmente.

Automaticamente, comecei  a chorar porque eu conhecia bem aqueles gritos.

Eram gritos de dor.

Embora eu não tivesse notícias do David, nem da liza eu sentia que algo de ruim havia acontecido.

Caminhei com passos lentos até o quarto, e os gritos se intensificaram, até uma enfermeira passar como um vulto por mim e outra parar na minha frente afim de me fazer parar, mas eu a ignorei.

Olhei pelo espaço entre uma enfermeira e outra, e vi a possível paciente entre elas, e de repente tudo ficou em câmera lenta.

E eu ouvi as batidas frenéticas do meu coração. Uma lágrima escorreu amargamente pelo meu rosto ao ver a Liza se debatendo enquanto recebia tranquilizante na veia.

Nesse meio tempo meu coração parou de bater, e eu não conseguia respirar.

Nem precisei perguntar o que tinha acontecido pois a dor entregou tudo.

David.

Não, não pode ser.

Levei as mãos na cabeça, sentindo a dor se espalhar pelo meu corpo.

Minhas pernas ficaram bambas, e eu mal conseguia ficar em pé.

Entrei em estado de  choque.

As enfermeiras praticamente me arrastaram de volta para o quarto. Meu corpo simplesmente parou de responder, e minha visão ficou turva.

E nesse meio tempo, eu vi a imagem um pouco embasada do meu pai, ficando nítida.

E de repente fui tomada por uma paz desigual, então em completo estado de euforia, eu o abracei.

—– Pai —  Suspirei quase sem voz.

Eu fiquei tão emocionada por sentir seu corpo novamente, que eu não queria mais me desgrudar dele.

—– Ana, precisa reagir, você está morrendo — Ouvi  sua voz dizer

—– Não, pai, eu não quero mais voltar pra lá, me leve com você — Abracei ele forte e comecei chorar.

—– Você tem muito pra viver  e pra aprender ainda.

—– Não, mas essa dor,  eu não vou suportar...a Liza nunca vai me perdoar por isso — Falei entre soluços, e ele se comoveu

—– Você consegue, você é forte, lembra...

Ele agarrou os meus ombros e olhou no fundo dos meus olhos.

—– Eu aceito, eu aceito a morte e melhor do que conviver com isso...

—– Não se preocupe, não vou permitir que sofra tanto, vou estar com você durante esse processo...agora vai.

—– Pai?

A imagem do meu pai foi desaparecendo enquanto eu gritava por ele incessantemente até ficar sem voz

Quando acordei desse sonho lúcido, percebi que já estava em casa, deitada na minha cama.

—– Filha, como se sente? — Minha mãe perguntou com medo da resposta.

—– Onde está a Liza? eu preciso ver ela, onde ela está? —  Perguntei agitada

—– Então querida, sua amiga não pode falar agora, ela passou por um trauma muito grande e....

—– Não, não é verdade, eu me recuso acreditar.

Entrei em desespero sentindo uma dor aguda no peito.

Minha mãe até me abraçou forte afim de conter o meu nervosismo, de me consolar, mas não adiantou, a dor   aumentava conforme as lembranças iam surgindo.

DesilusãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora