Capítulo 50

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...

Quando cheguei na porta da casa de Peter, me questionei se deveria bater na mesma, depois de ter deixado ele plantado me esperando, seria mais fácil fugir e inventar uma desculpa.

Mas eu sinto que isso é errado, sinto que sou outra pessoa agora, mais  sensata, e  que prefere ter uma conversa ao invés de fugir da situação e esperar que ela se resolva sozinha.

Então respirei fundo e dei três batidinhas de leve,  e torci para que o Peter não brigasse comigo.

Até porque as mensagens eram:

14:00

[ Ana onde você está? ]

[Se ver essa mensagem, por favor, me ligue.]

Eu liguei, mas ele não atendeu, o que me fez pensar que talvez ele estivesse muito bravo comigo e com toda razão.

Eu deveria ter mandado uma mensagem ou ligado, mas eu estava tão travada com a presença do Fred, que nem pensei em nada.

Ele abriu a porta e sorriu tentando disfarçar sua indignação, e antes que eu dissesse qualquer coisa,  ele me interrompeu.

—– O bolo de maçã estava uma delícia, eu guardei um pedaço pra você na geladeira, já que você não apareceu —  Ele disse com um tom de ironia e decepção ao mesmo tempo.

—– Peter, eu...

—— Você perdeu...o dia estava lindo... ensolarado...pena que tive que dividir com os pombos o resto da comida que sobrou...e aproveitei para contar para eles que fui admitido no meu emprego, e o quanto eu estava feliz..mas seria bom ouvir um "Sério? Meus parabéns ou "Que bom, estou muito feliz por você, Peter".


Meus olhos automaticamente se encheram de lágrimas.

—– Por que está fazendo isso?

—– Por que não tem outra forma de demonstrar o quanto fiquei decepcionado com a sua atitude desprezível, sem ficar irritado e começar quebrar tudo.

___Desculpa,houve um imprevisto..

Ele se afastou da porta para que eu pudesse entrar, e assim que eu entrei ele bateu a mesma com força e me assustou

—– Peter?

—– Desculpa, Ana, mas eu estou irritado, ninguém nunca me fez esperar horas, e pior voltar pra casa sozinho — Ele disse vindo na minha direção,  fazendo o meu coração disparar e minha respiração ficar  ofegante.

—– Eu já te pedi desculpas — Dei alguns passos pra trás.

—– É, só que não muda nada, é como você quebrar algo e tentar colar os cacos novamente...

Dava pra ver o quanto ele estava com raiva pela forma como o seu corpo reagia.

Estava ofegante e tremendo.

E o seu estado poderia piorar se eu contasse sobre o Fred,  então eu decidi menti.

—– O meu amigo cego ficou doente e eu precisei sair às pressas para ajudá-lo, e foi tudo tão rápido que me esqueci completamente de você,  eu sinto muito e vou entender se não quiser mais nada comigo 

Não queria meter o Simon nisso, mas foi a única coisa que me passou pela cabeça no momento.


Mantive uma expressão séria.para tentar convencê-lo. O que funcionou, porque aos poucos ele foi ficando mais tranquilo.

Ele fechou os olhos, e suspirou pesadamente.

—– Ana, eu te peço desculpas, eu não costumo agir assim, e só que eu... — Suspirou novamente — Perdi a cabeça

—– Tudo bem, eu no seu lugar, também ficaria chateada, afinal de contas ninguém gosta de ficar esperando não é mesmo? — Sorri nervosa, afim de amenizar a tensão que havia entre nós.

—– Realmente.

Ele sorriu um pouco sem jeito, ajeitando os óculos, cabisbaixo e envergonhado.

Nem parece que minutos atrás tava surtando, parece até o incrível Huck depois de voltar ao normal.

—– Ei — Levantei seu rosto e encarei os seus olhos — Tá tudo bem, ok?  é normal sentir raiva, quando alguém quebra as suas expectativas, e eu sinto muito não ter estado lá com você, de verdade.

Ele sorriu fraco.

—– Sobre o bolo, é verdade, eu guardei um pedaço pra você —  Ele disse carinhosamente.

—– Que delícia  — Falei com uma voz sedutora, ajeitando o colarinho de sua camisa, em seguida encarei os seus olhos com ternura e fiquei presa neles por um momento

Ele sorriu estupidamente, e suas bochechas logo ficaram avermelhadas.

—– Está bem então, eu vou pegar — Fiz menção de ir até a cozinha

Ele era tão doce, tão gentil que só a ideia de magoa-lo, me deixa mal.

Eu sei que ele está se esforçando horrores para controlar seus impulsos raivosos, tentando ser uma pessoa melhor a cada dia, para se desprender totalmente de quem ele era no passado, e sei que ele está fazendo isso por mim, porque acredita que teremos algo, mas eu não sei se sinto o mesmo,  eu gosto dele, sinto um carinho enorme por ele, e gratidão, mas, não sei se conseguiria ama-lo.

E agora com a volta do Fred eu não sei de mais nada.

E eu pensando que o vício seria o meu único obstáculo.

DesilusãoWhere stories live. Discover now