O nome da sombra - Crônicas d...

Oleh FlaviaEduarda10

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Sombra já estava acostumada a ser apenas isso: uma sombra aos olhos da sociedade que a marginalizava há 9 ano... Lebih Banyak

Reinado das sombras
Prisioneira de luxo
Cuidada e cheirando a rosas e lavanda
Mania do oráculo
Na escuridão
Mentiras
Calia
Entre uma coisa e outra
O castelo pela manhã
Cobras e outros animais
O treinamento
O belo mundo de porcelana
É necessário conhecer o oponente
Assassino
Limites
O último Galene
Apenas reparação
Pessoas e deuses
Espere o esperado
Loucura da realeza
Ladra
Sombra
A entrada não é pela porta
Os dias 14
Curiosidade
Sobre um belo vestido vermelho
Os nuances sobre a verdade
Presente
Tudo que viera antes
O primeiro furto
O buraco
Contradição
O que faz uma resistência
Últimos preparativos
É apenas lógico
Propriedade (de ninguém) do reino
O que uma ladra faz? Ela rouba
Encontro inesperado
Decisões entre cartas e camarões
Hayes Bechen
Roubando um pouco de volta
O sacolejo do barco
A linha tênue entre bom e mau
Fogo e gelo
Bayard
Incapaz de ter um segundo de paz
O que há depois do rio?
A ladra nem precisou roubar
A realeza de Drítan
Drítan não gosta de estrangeiros
Deveria?
Diplomacia e chá
A biblioteca
Confusão e incerteza são certezas
A área particular
Uma flor do deus Ignis
A reação para a ação é justiça
A calmaria antes da tempestade
Todo o ar do salão
De respirar a se afogar em um segundo
Teria que ser tudo
Automático
Deusa da (justiça) vingança
Um é a ruína do outro
O fardo do saber
A compreensão de como uma fênix funciona
Reinando das Sombras

Confronto

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Oleh FlaviaEduarda10

Incrivelmente, não me encontrava cansada depois da noite anterior.

Chegara ao castelo mais tarde que planejava, talvez por esse motivo, acordara ainda mais cansada e com uma dor de cabeça incomum, despertando-me mais cedo do que normalmente, bem antes que qualquer pessoa chegasse ao meu quarto.

Estava com meus músculos ainda rígidos, porém mais impaciente que preguiçosa, na esperança de que alguém aparecesse logo à minha porta e a destrancasse, não podendo fazer isso agora por minha conta, por ser tão cedo, e me fizesse companhia, o que me fez andar com passos firmes de um lado para o outro no limitado, não pequeno, cômodo, procurando algo para me ocupar, seja escolhendo minhas vestimentas para o dia, penteando meu cabelo ou lavando meu rosto com a água gelada à minha disposição.

Acredito que outro motivo para estar desperta dessa maneira era para conversar com Cordélia assim que ela chegasse para me vestir, descobrir o eu fazia na reunião da resistência, se, de fato, era ela a informante deles que trabalhava no castelo. Tais pensamentos me deixavam inquieta e dividida, já que significava que ela estava em uma situação parecida com a minha, um certo alívio, e que ela enfrentava, talvez, riscos ainda maiores que os meus, consideravelmente em uma posição mais descartável que uma ladra requisitada pelos dois lados, me deixando preocupada por ela. Definitivamente, ela tinha mais coisa em jogo que eu, o que me deixava ainda mais em dúvida, afinal, para entrar em tal situação precária, ela deveria ter um motivo muito bom para levar tal vida dupla.

Virei-me ao momento que escutei a fechadura da minha porta girar, vendo minha dama particular entrar segurando minha bandeja de café-da-manhã com os ombros curvados, como se quisesse diminuir sua altura, sua presença, o que, logo presumi, simbolizava que eu não partilharia da primeira parte do dia do Kai ou Ophelia.

Fui andando em passos inquisidores em sua direção, tomando em controle meu poder, mesmo que não tivesse qualquer, verdadeiramente.

De começo, decidi não confrontá-la, sem querer deixá-la pressionada.

Trocamos olhares no antigo santuário, então, se eu a vira, ela também me viu. Considerei melhor agir normalmente até que ela escolhesse falar algo.

Tudo agora parecia ter um peso que até ontem era inexistente, cada respiração nossa, cada ação, suas mãos sobre mim enquanto me despia em um silêncio absurdamente alto.

–Sir Graybane pede sua presença com ele durante essa manhã. –A direcionei um olhar confuso, exprimindo que eu não fazia ideia de quem Graybane era. –O auxiliar da Rainha, Nikolai Graybane. –Assenti levemente com a cabeça enquanto entrava sob o tecido do vestido, sabendo que, muito possivelmente, ela não veria meu movimento sutil, entendendo que eu não iria para o treinamento, como acontecia de costume.

Durante todo esse tempo, ela não abrira a boca novamente, o que fazia com que as palavras não ditas me esmagassem, sentindo o incomodo reinar no quarto com uma das pessoas que eu mais sentia segurança no castelo até não aguentar mais.

–Cordélia...

–Não, senhorita Sombra. –Cordélia me interrompera de maneira ainda polida no começo da frase, me impedindo de continuar com o que quer que eu fosse dizer. –Aqui não. As paredes podem ouvir. –Seguira em um tom sussurrado, de forma que eu mal pude escutá-la, mesmo tendo ela às minhas costas, o som perto do meu ouvido. Suas palavras foram vagas e curtas, no entanto, as entendi com perfeição.

Ali não era o melhor lugar para falar sobre conspirações.

Em resposta, apenas respirei fundo enquanto ela amarrava minhas costas em um novo vestido, uma das várias belas opções que eu tinha no armário.

–Eu só queria falar que seu segredo está seguro comigo. –Tornei-me para encará-la no momento que seus dedos terminaram seu serviço, face a face, seus belos olhos me refletindo. –Espero que o meu também esteja com você. –Eu gostava de Cordélia e me importava genuinamente por ela, mesmo ainda tendo uma pequena experiência com ela, contudo, nada me garantia que ela não me delataria, meus olhos na expectativa de uma resposta.

–Nada nunca sairia de minha boca. –Lentamente, minhas mãos foram até as dela, apertando-as em confiança e alívio, um sorriso contido em minha face que fora sendo espelhado em seus lábios bem desenhados. Não esperava diferente dela.

Cordélia era uma amiga.

E tínhamos mais em comum do que pensávamos.

Poderíamos não discutir sobre nossas presenças na reunião da resistência no dia anterior, mas, até ser possível, sabíamos que contar com a discrição uma da outra era viável.

Para mim, isso era mais do que o bastante –minha curiosidade poderia ser sanada depois com mais segurança em um local mais apropriado.

–Tem alguma ideia do porquê Nikolai quer me ver tão cedo? –Minha mente correu até o motivo da minha última visita em seu escritório antes do meu treinamento, tratando-se do dia depois de ter invadido seu quarto (e também ter chorado lá, mas isso não vinha ao caso). Digo que, na vez anterior, ele tinha um motivo específico, pensando no que poderia ser dessa vez a razão disso ou apenas sua escolha pela viabilidade dele, afinal, Nikolai, sendo ainda sendo o Auxiliar da Rainha, com certeza deveria ser bem atarefado.

A leveza (mesmo que com ressalvas) havia sido restaurada entre nós duas, me permitindo relaxar assim como ela, sua linguagem corporal entregando como ela voltara a se sentir mais à vontade.

–Creio que não. –Falava enquanto me guiava até a penteadeira na expectativa de me dar um penteado, presumi. –Ele apenas me requisitou pela manhã e me contou que queria que o encontrasse em seu escritório assim que estivesse pronta.

Em poucas batidas do meu coração, meu cabelo já se encontrava com duas mexas, uma em cada lado da cabeça, presas juntas e descendo como uma única trança, deixando meus cachos soltos sobre os ombros, caindo pelo vestido preto bordado com rosas vermelhas, uma de suas obras mais simples e ainda mais chique do que a maioria que eu usara em toda a minha vida, ainda desenhando meu corpo de uma maneira que me fazia pensar que era parte de um sonho.

Ainda à frente do espelho admirando seu trabalho, ela aproximara à mim a comida que, até agora, não tinha sido tocada.

Dhara realmente precisava ter noções de proporção ao se tratar de refeições, não sendo possível meu corpo comportar tudo que ela sempre separava para mim, mas, ainda, admirava tudo com fome em meus olhos. Notei que Cordélia refletia a mesma vontade que eu em relação à comida.

–Acho que Nikolai está com pressa para me ver e eu definitivamente não ficarei pronta tão rápido com tudo isso à minha disposição. Será que você poderia me acompanhar? –Vi sua boca se abrir em uma negativa já pronta até cortá-la antes que ela tivesse chance de recusar. –De toda forma, é comida demais para mim e eu não quero fazer tal desfeita à Dhara. –Sorri de maneira travessa, convincente e carente. –Fique comigo.

Hesitante, Cordélia aceitou com uma expressão marota ameaçando surgir à face. Puxou à si um banco e comemos juntas, sem necessidade de palavras quaisquer.

Ás vezes, o melhor a se dizer era, simplesmente, não dizer nada.

____________

Cordélia foi quem me levara até o escritório dessa vez, encontrando Nikolai de pé em frente à sua papelada, tão focado com os olhos baixos que quase pensei que não tivesse notado minha presença até escutá-lo.

–Aproxime-se, quero que dê uma boa olhada na estrutura do castelo. –Seu tom encontrava-se neutro, então supus que não havia segundos motivos além de apenas planejamento acerca de Drítan.

Fiz o que ele pediu, caminhando até o seu lado, observando o desenho da planta do castelo.

Ao repousar meus olhos onde ele apontava, meu cérebro não conseguiu digerir tão bem toda a informação que recebia de uma vez, linhas sobre linhas, sobre nomes, sobre andares, cômodos... apenas um emaranhado de desenhos que não me passavam nada.

E ele parecia tão seguro do que dizia e mostrava –aquele tipo de coisa era algo fácil a ser entendido.

Me senti mal por não fazer ideia de como interpretar o que me era apresentado, envergonhada, incapacitada (será que ele me julgaria burra se eu não soubesse algo que era tão trivial para ele?).

Ah, como eu queria ter terminado a escola. Crianças deveriam se preocupar em estudar, não em como não morrer pelo dia, não em furtos.

Crianças deveriam ser crianças.

Fingi que meus olhos estavam focados no que ele apresentava, imitar sua certeza como se tudo aquilo fosse familiar à mim enquanto ele falava em qual quarto tentaria me colocar por localização estratégica, perto o suficiente ou com um acesso mais facilitado para alcançar os objetivos, eles sendo o escritório particular do rei e a biblioteca do castelo, ainda captando sua voz me explicando sobre a arquitetura e engenharia de Drítan e como eu poderia usar ao meu favor em pontos específicos.

Seu corpo estava paralelo ao meu, seus dedos traçando as linhas da planta, discutindo sobre melhores caminhos para outras áreas importantes do castelo quando, de repente, se interrompeu, cortando todas as linhas de pensamento presentes naquela sala.

–Onde você estava ontem à noite? –Ela havia sido proferida no meio de sua frase anterior, no meio de uma outra palavra, de maneira tão surpreendente que pensei que tivesse sido obra da minha imaginação, apenas percebendo que ele, de fato, perguntara aquilo quando ficou me encarando, sua posição imóvel, ainda inclinado sobre a mesa.

–Do que você está falando? Ontem eu me retirei mais cedo porque estava cansada, estava no meu quarto. –Como em um choque, seus músculos se moveram, saindo de sua posição e se aproximando de mim, se impondo à minha frente. Para compensar nossa diferença de altura considerável, eu inclinei meu queixo para cima e ele se curvou levemente em minha direção, seu rosto a centímetros de distância.

–Eu sei que você está mentindo. –Ele foi-se abaixando ainda mais, sentindo sua respiração acelerar a minha. Chegou perto do meu ouvido, sussurrando. –Onde você estava?

Me afastei de sua presença para que pudesse olhá-lo direito, não tendo seu corpo sobrepujado sobre o meu, me intimidando e ameaçando em tons de veludo.

–Ah, então seu quarto é fora dos limites e o meu não? Você pode invadir assim, quando quiser? –Por um momento, seus olhos sobre os meus, sua feição estava desacreditada pelo que eu dissera, indignado.

–Não sei se você se esqueceu, mas ainda é uma prisioneira, não pode sair sem que outras pessoas saibam, sem acompanhamento. Então, sim, seu quarto está bem dentro dos limites.

–Que bom saber que privacidade não é algo que eu possa ter por aqui, pelo menos não perto de você, aparentemente. –O retornei, meu tom de voz aumentando e minha paciência se esvaindo.

–Não tente desviar o assunto! Para onde você foi? –Seus passos vindo até mim novamente, no entanto, sem tentar se impor contra mim como da última vez (pelo menos não intencionalmente), com sua mão direita apoiada na mesa. –Você saiu e voltou. Não fugiu do castelo permanentemente, escapou apenas por uma noite. O que era tão importante para se colocar em risco ao sair tarde desse jeito? –Ri internamente, seu tom soando como um pai preocupado. Não que eu tivesse essa experiência em primeira mão, mas via como eles agiam com suas crianças quando caminhavam pela rua. Eu sabia a verdade: qual seria a conspiração que eu me envolvia para aceitar a possibilidade de ser descoberta ao deixar o castelo desse jeito? Ah, se ele soubesse...

–Não é importante, você mesmo disse que eu fui e voltei. Se eu voltei, o que aconteceu já não tem importância.

–Se não tem importância, então por que está resistindo ao invés de só falar? –Sua paciência, assim como a minha, estava claramente em seu limite, quase cuspindo as palavras com seu tom pesado, contudo, o que fez minha pulsação acelerar com o meu alerta interno de perigo foi quando sua mão livre segurou minha nuca, sua pele contra a minha, não uma lâmina fria, me puxando para mais perto de si, tirando de mim qualquer opção que poderia cogitar para escapar, minha respiração se dificultando, não pela pressão que ele fazia. Estava leve, apenas firme. –Não se faça de idiota comigo, isso é sério!

Eu não deixaria que ele me encurralasse, não novamente. Se ele achava que poderia me amedrontar, ele estava errado.

Me pergunto quando ele irá entender isso.

Não deixando que ele se agiganta-se perante mim –o que, sendo honesta, com sua altura e postura não era difícil que ele o fizesse, mesmo que de maneira imperceptível –me aproximei ainda mais e envolvi seu pescoço em sua mão, um dos meus anéis que simulava uma garra na ponta de um dos meus dedos traçando sua pele sem realmente machucá-lo, segurando-o do mesmo jeito que ele me segurava, não forte, para não sufocá-lo, mas firme, para que não escapasse. Ok, talvez fosse um pouco mais forte do que eu admitia, me deliciando com a surpresa em seu olhar.

–Eu não preciso te dizer, eu ainda tenho minha vida lá fora dessa paredes, ao contrário de você. Não passa de um boneco da realeza. Eu consigo ver seus fios daqui, sendo mexido para lá e para cá, só fazendo o que te mandam. Você sequer tem vontades? –Minhas palavras recheadas de ódio tentando penetrar sua armadura de belo soldado. Belo assassino.

E tive sucesso. A reação em seus olhos era genuína, ele não esperava escutar aquilo, uma angústia bem enterrada vindo à superfície, o choque, a raiva... e alguma outra coisa.

Mal percebi quando sua mão era transferida da minha nuca para minha cintura, quente mesmo sobre o tecido, contornando-a pelo outro lado também, usando todos seus dez dedos para me segurar, me levantar e sentar-me sobre a mesa, sobre os mapas, ele à minha frente.

Respirei profunda e ruidosamente, o susto em mim agindo, um único fôlego sendo expelido.

Mas não era só susto, também tinha outra coisa.

Outra coisa que eu não sabia que existia. Outra coisa que eu não queria que existisse.

Outra coisa que ficou decepcionada quando o calor do seu toque se afastou, como se ele tivesse acordado, como se eu fosse perigosa e ele precisava manter distância.

E sua respiração também estava afetada.

Seus olhos vidrados em mim, passando por toda a minha extensão e, em seguida, os abaixando.

–Sim, é claro que eu tenho vontades. –Sua voz rouca soando baixa enquanto focava em mim mais uma vez, compenetrado, suas mãos em seus bolsos. –Pode ser honesta pelo motivo que te fez sair. É alguém?

Hipnotizada, incapaz de me desviar, concordei com a cabeça na esperança de tirar suas suspeitas de que pudesse, de fato, ser algo sério.

–Sim, é alguém. Escapei para me encontrar com uma pessoa.

Ele assentiu para ainda com o foco em meus olhos, músculos tensos, sua voz inabalada e inalterada.

–Você não precisa mentir sobre isso, é só dizer. –Passos duros e resignados se seguiram quanto ele se dirigia à porta, me deixando em seu escritório ainda sobre a mesa, raciocinando o que havia acabado de acontecer.

E não muito bem conseguindo.

Minha própria mente parecendo a planta que ele me mostrara, linhas sobre linhas, pensamentos sobre pensamentos.

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