Últimos preparativos

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–Nikolai–

Não consegui parar de examinar seu rosto.

Minha visão apagava Lazarus, Bram, Jasira e até mesmo Miranda caía em desfoque, juntamente com os mapas sobre a mesa, o veneno exposto para que todos vissem e um belo e específico vestido vermelho coberto por lona preta estirado pela madeira.

O problema não era o fato de que minha mente não parava de repetir sua face e seus traços e, sim, o fato dela estar visivelmente tentando esconder machucados, um se encontrando pouco acima da sobrancelha enquanto o outro aparecia sobre a maçã do rosto, os dois com maquiagem por cima, usando ainda seu manto preto com um capuz cobrindo-lhe a cabeça, o que não vestia dentro das paredes do castelo, na esperança de que o roxo surgindo e a casca de sangue seco coberto em seu mesmo tom de pele não fossem perceptíveis –o que não funcionou comigo.

Ninguém na sala realmente parecia notar, talvez Bram e Jasira, pelo que os conhecia, mas Jasira parecia simplesmente não se importar o suficiente ao ponto de querer saber o que acontecera e Bram, com seu jeito de sempre, parecia analisar o ambiente em que se encontrava, pensando que ao redor da Rainha, dos Mestres e do auxiliar, não era o melhor lugar para perguntar-lhe a precedência dos hematomas.

–Precisa de mais alguma coisa ou acredita já ser suficiente para a execução? –A voz de Miranda foi trazendo-me de volta à sala gradualmente, como se, de início, ela estivesse distante, escutando-a sob a água, levantando meu olhar para ela finalmente.

Não estava realmente prestado atenção na conversa em geral, sabendo que eles apenas discutiam e iam em círculos em assuntos que eu já organizara.

–Sim, acredito que isso seja tudo. Vocês estão de acordo? –Voltando meu foco até Sombra, que encontrava-se mais dispersa do que o normal, a face constantemente afastada do campo de visão de quem se encontrava em meu escritório, no mesmo canto menos iluminado e mais afastado, vezes olhando para a janela, vezes olhando ao chão ou até mesmo para os pés da mesa.

–O vestido está feito, temos que parabenizar as costureiras, inclusive, já temos o veneno e o cronograma está montado. Acha que isso é tudo então? –Jasira pontuou.

–Talvez eu precise de cordas. Cordas resistentes, que aguentem o meu peso e que não tenham muito risco de romper. –Sombra falara pela primeira vez desde que a reunião começara, pensando se não era coisa da minha cabeça, vendo que ela ainda desviava os olhares, impedindo que vissem seu rosto.

–Isso eu posso conseguir hoje ainda para vocês. Peço para Kai lhe entregar. –Jasira respondera sem, de fato, olhá-la. –Se não pensar em mais nada, já irei. Tenho muito que fazer hoje. Mantenha-me atualizada a qualquer coisa, Nikolai. –A Mestre da Guerra nem esperara a liberação e já fora em direção à porta, tendo, como de costume, a agenda cheia e metodicamente organizada.

Como se fosse uma deixa, todos começaram a se despedir e falar coisas sobre como estavam ocupados, esvaziando a sala mais rápido do que pensaria que fosse acontecer.

Quando a porta fechara-se atrás de Bram, o último sair, Sombra já dirigia-se ao mesmo caminho, já de costas a mim, sozinhos mais uma vez.

–Sombra, fique. Quero conversar com você em particular. –Ainda virada à saída, escutei-a bufando e quase senti seus olhos revirando-se, o motivo não sabia.

–O que foi? –Disse já de frente a mim, claramente impaciente.

–O que aconteceu? –Questionei-lhe ao invés de respondê-la, claramente referindo-me aos machucados e ela não era estúpida para não notar.

O nome da sombra - Crônicas de sombra e luzWhere stories live. Discover now