88° ANDAR (Jikook)

By LuneInfinie

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***NÃO REVISADA*** Em busca de ser reconhecido pelo pai, dono da maior empresa de segurança tecnológica de Se... More

💡⚙AVISOS⚙💡
PLAYLIST 88° ANDAR
PRÓLOGO
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EPÍLOGO
AVISOS

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By LuneInfinie

Vote e comente, sua interação é o meu incentivo para continuar. Boa leitura ♥️

Minha mente nunca esteve tão agitada como nos últimos dias, depois de ter chegado tarde da volta que dei na cidade com Namjoon, demorei tanto para conseguir descansar, com a cabeça cheia de pensamentos indesejados, que na quinta-feira acordei nove horas. O que era considerado muito tarde para um executivo.

Talvez eu até tivesse dormido mais se o motivo pelo qual fui acordado não fosse uma ligação do poderoso Jeon. Quando ouvi o toque "Saw", música-tema de Jogos Mortais, levantei num pulo para aceitar a chamada.

— Oi pai, bom dia — lutava para abrir os olhos, a luz do sol invadia o quarto através da cortina blackout mal fechada, e batia em meu rosto.

— Pra você deve estar sendo um bom dia mesmo, não sabe como é a rotina de um homem responsável. — Não perdeu tempo em me reduzir a um moleque.
— Sabe quantas reuniões eu conduzi só agora pela manhã? Duas, Jungkook.

Honestamente, eu não lembrava da última vez que Jongsu me ligou sem me atacar de alguma forma, sempre tentei não ligar e me convencer de que era o jeito dele mas a verdade era que chateava muito. Me cortava por dentro por ser meu próprio pai, aquele que eu sempre quis orgulhar e quanto mais o tempo passava o efeito parecia ser reverso.

— Pai, meu turno na empresa é na parte da tarde. — Minha voz saiu mais acuada do que gostaria.

— Você começou ontem e nem me mandou um relatório do seu primeiro teste. Preciso ligar para cobrar mesmo estando cheio de obrigações, Jungkook? — Ele estava irritado.

— Não — respondi em um murmúrio. — Já vou providenciar pai.

Pelo menos dentro de toda a sua rotina meu pai lembrou do meu projeto, ainda que tenha ligado cobrando, como se precisasse me lembrar de minhas obrigações, era um gesto de preocupação.

— De qualquer forma não liguei para isso, nem vou mais ficar lhe lembrando, se é importante pra você, tenha mais responsabilidade — bradou fazendo eu me sentir um idiota por ter pensado que ele teria qualquer demonstração de interesse em algo que eu fazia.

— Por que o senhor ligou então? — Não queria parecer magoado, mas era inevitável.

— Hoje estarei viajando para o Brasil, serei o palestrante de uma conferência importante para a visibilidade da empresa lá — explicou e fiquei confuso, ele sempre viajava e não me dava satisfação. Por que isso agora?
— Jae vai tomar conta da empresa enquanto eu estiver fora, ele vai tomar a direção das reuniões.

Tinha que ter algo por trás da notícia, ele iria colocar Jae na direção, era isso. Sempre que viajava minha mãe tomava a frente de tudo, mas dessa vez seria diferente.

O engraçado era que mesmo eu tendo duas graduações e experiência no setor financeiro e administrativo da High Security, conhecendo todos os nossos parceiros, ele nunca me deixou comandar uma reunião. Sempre dizia que eu não estava preparado.

— Não é com satisfação que lhe dou essa notícia, deveria ser o meu filho a assumir meu lugar na minha ausência, mas de tanto perder tempo com coisas pequenas como esse seu projeto, acaba não ganhando experiência onde deveria.

— É sério isso?

Ainda não estava acreditando que ele iria fazer tal coisa. Era como reafirmar a todos da empresa que o filho não servia nem mesmo como substituto temporário.

— Jae é mais preparado, desde a sua idade já era, para falar a verdade. Ele já está avisado que a Nara vai viajar comigo dessa vez, por isso ela não poderá dar o suporte de sempre.

— Ele concordou? — Precisava saber, porque conhecendo meu tio de criação era difícil imaginar que não tenha havido nenhuma relutância de sua parte. Jae, ao contrário do meu pai, sempre considerou meus sentimentos em todas as situações.

— Você sabe que não. Pediu para deixar você à frente e ele apenas como seu apoio no caso de você fazer algo equivocado, mas sabemos que o maior equívoco é colocar você nessa posição, não é filho? Portanto ele não está em posição de me contrariar — suspirou e ouvi a voz da minha mãe no fundo pedindo para falar comigo.

— Oi filho, a mamãe vai ficar morrendo de saudade, você vai ficar bem? — Ouvir a voz da minha mãe foi tão reconfortante que tive vontade de chorar.

Minha mãe sabia que seu marido era rigoroso comigo, mas parecia que na frente dela, ele moderava o tom e fazia parecer que eu era uma criança que se magoava por tudo. Então a fala dela era muito parecida com a de Jae quando dizia: "Ele só está muito estressado, mas seu pai ama você".

— Vou ficar bem sim mãe, não se preocupe. — Minha voz saiu um pouco embargada e quis me praguejar por isso.

— Filho, você está bem? Nós voltamos logo tá? E aí a mamãe vai fazer um almoço lá em casa pra você. — Jeon Nara, carinhosa como sempre. Eu sorri e tentei tranquilizá-la o máximo que pude.

— Estou bem sim mãe, obrigado. Vou cobrar esse almoço hein — forcei uma risada e ela pareceu satisfeita.

— Tudo bem meu amor, estamos indo agora. Te amo — soltou uma beijo que estralou em meu ouvido.

— Também amo a senhora. Boa viagem! — Mais uma vez forcei uma empolgação que não existia em mim e encerrei a chamada.

Fiquei olhando para o teto processando tudo que ouvi de Jeon Jongsu. Ele não confiava no próprio filho para entregar sua adorada empresa por alguns dias, mas fez de bom grado ao seu amigo.

A entregou de bandeja ao amiguinho, sem ao menos pestanejar, confiou em alguém que não era eu, seu próprio sangue. Naquele momento fui tomado por uma raiva irracional de Kang Jae, apesar de amá-lo. Ele foi escolhido pelo homem que eu tanto queria impressionar.

O que ele tinha que eu não?

Tirando vários anos de diferença de idade, e uma vasta experiência em seu currículo. Sabia que era infundada minha revolta com a pessoa errada, mas não conseguia deixar de pensar que Jae estava tomando o meu lugar. Eu era humano poxa, sujeito a sentir tudo que não queria, assim como desejava seu noivo sem querer.

Falando no noivo do escolhido, precisava tirá-lo da cabeça o quanto antes. Ontem provavelmente foram para um jantar romântico onde devem ter trocado risadas e carícias no fim da noite enquanto eu me deliciava com uma boa dose de insônia.

— Droga! — sentei rápido como um gato na cama e depois de me martirizar um pouco mais, decidi que iria tirar Jongsu, Jae e Jimin da minha cabeça, seria a solução para ter um pouco de paz.

Tomei banho, comi super mal para poder me arrumar rapidamente e ir ao único local onde eu poderia ser ouvido sem julgamentos: A Imagine. Yoongi tinha me chamado mesmo para participar da entrevista que faria com o rapaz que apareceu lá na terça-feira, então eu iria unir o útil ao agradável.

Coloquei uma camisa social azul, calça, cinto e sapatos pretos e minha bolsa estilo mensageiro, de couro. Chamei um táxi e não demorei a conectar meus fones no celular para escutar pelo menos uma faixa de música, já que a Imagine ficava pertinho do meu prédio.

Fui ouvindo Numb do Linkin Park, e aquela música tinha tanto a ver com o que eu sentia na maior parte do tempo pelo meu pai.

"Não sei o que você está esperando de mim.
Colocado sob pressão de andar com seus sapatos."

"Cada passo que eu dou é mais um erro para você."

"Tudo o que eu quero fazer, é ser mais como eu sou e menos como você é"

"Estou cansado de ser o que você quer que eu seja"

Absorto em meus pensamentos mal percebi quando cheguei no prédio da livraria, paguei o motorista e desci vendo que a placa inusitada, que mais parecia um semáforo de duas cores, de Yoongi estava com a luz verde acesa.

Despreocupado de entrar lá e ver clientes transitando pelo ambiente, entrei e fui em busca do meu amigo. Cumprimentei algumas pessoas que reconheci serem da empresa - o que não era difícil dado o fato de que os dois prédios eram do mesmo bairro - e avistei o proprietário da Imagine próximo à uma prateleira toda laranja, enquanto organizava uns livros por suas cores.

— Oi felis catus, que saudade — resmunguei abraçando Yoongi que de imediato retribuiu, mesmo não sendo muito de abraçar as pessoas.

— Tá manhoso assim por quê? — riu do meu jeito espontâneo.

— Desculpa, mas hoje você vai só vai ouvir lamúrias e lamentos — tomei o livro que estava em sua mão, devolvi à prateleira e o puxei para sentarmos em uma mesa que tinha próximo ao caixa, para não atrapalhar seu trabalho caso tivesse que passar algum produto para um cliente.

— E qual a novidade playboy? — zombou, sentando de frente pra mim.

— Como está o movimento aqui hoje? Não quero te atrapalhar, ainda mais agora que está sem funcionário — analisei ao nosso redor e mesmo vendo poucas pessoas, a maioria sentada, lendo, quis me certificar.

— Quarta e quinta são dias com pouco movimento, por isso chamei aquele garoto pra entrevistar hoje — relaxou na cadeira, cruzando as pernas e apoiando os coturnos na cadeira ao lado.

— Quer beber alguma coisa? Nada de Soju, bebida de livraria é café ou chá, playboy — riu apontando com o queixo para a mesinha atrás de mim com duas garrafas térmicas, uma vermelha e outra amarela.

Ainda me espantava o fato de Yoongi gostar de tudo colorido, desde paredes à prateleiras, e viver mudando as cores do ambiente com a justificativa de que enjoava olhar para as mesmas cores sempre. Figura.

— Não quero nada não Catus — bocejei ainda com sono mas feliz por estar ali. — Que hora seu candidato vem pra entrevista?

— Às dez e meia, você vai me ajudar a decidir se ele é bom ou não. Mas agora começa logo a lamúria que você disse que tinha preparado pra mim — cruzou os braços e murmurei um "ok".

Contei tudo sobre a ligação do meu pai e de como me senti injustiçado por não receber um voto de confiança de sua parte. Meu amigo conhecia Jae apenas de vista, mas sempre fiz questão de dizer o quanto o homem era uma boa pessoa, por isso foi cuidadoso em dar sua opinião.

— Acho que você deveria focar em aperfeiçoar o seu projeto que é o mais importante e deixar todo o resto de lado por enquanto.

— Você tá certo, tô tão sem cabeça hoje que ainda bem que não vou trabalhar sozinho — passei as duas mãos pelo rosto bufando.

— Espera, essa parte você não tinha me falado. Quem está trabalhando com você? — Uma linha se formou no meio de suas sobrancelhas ao me perguntar.

— Park Jimin, o noivo do Jae — sorri instantaneamente, sem ao menos perceber.
— Ele é tão inteligente, felis catus, tem me ajudado desde o acidente do elevador.

— Espera, acidente do elevador? Caralho a gente ficou quanto tempo sem se falar, um mês? Que tanta novidade é essa que eu não sei? — Seu espanto se tornou maior ainda.

Só então percebi que Yoongi ainda não sabia do acidente. Quando estive na Imagine na terça-feira acabei não contando. Não me admira ele não ter sabido, meu pai fez questão de abafar a notícia da imprensa ávida por fofoca.

— Foi na segunda Yoon, esqueci de te falar. Lembra daquele elevador que você me disse para usar, o da segunda recepção? — Só de lembrar já me dava calafrios. — Ficamos presos lá, Park e eu, por quase quatro horas se não me engano.

— O quê? — Sua face de pele pálida ficou quase com aspecto cadavérico, tamanho horror se via nela.

— Calma, não aconteceu nada demais — apenas quase morremos, mas eu estava preocupado de ele realmente passar mal, então não dei detalhes.
— Mas me diz uma coisa, você tem certeza que indicou o elevador certo?

— Sim, o elevador dois. — Ele parecia fazer uma análise, muito perdido nos próprios pensamentos.

— Você lembra quem te informou que o outro estava em manutenção? — Perguntei porque claramente naquele dia o elevador principal não estava em manutenção, se eu tivesse um nome, também teria uma pista.

A expressão de Yoongi metamorfoseou de confusa para receosa e temerosa, tirou seus pés da cadeira, ajeitou a postura visivelmente desconfortável e pressionou um lábio no outro.

— Foi um funcionário, acho que era da manutenção.

— Felis catus, tá tudo bem?

Quando meu amigo estava prestes a responder ouvimos batidas fracas na porta de vidro da livraria. Era o carinha de cabelos acobreados e óculos escuros que ficou de comparecer para a entrevista.

Que estranho, quando veio na terça-feira, mesmo com a luz vermelha gritante daquele semáforo improvisado, indicando que o estabelecimento estava fechado, ele entrou. E ali estava o garoto, batendo na porta com a luz verde mostrando que a Imagine estava aberta.

— Estou quase me arrependendo de ter chamado esse estranho — alinhado com meus pensamentos meu amigo levantou para receber o futuro - ou talvez não - funcionário.

Abriu a porta e falou alguma coisa que devido a distância não pude ouvir, mas acredito que perguntava ao outro o motivo pelo qual ele bateu na porta sem necessidade. Guiou o rapaz até a mesa onde eu permanecia sentado e sentou em seguida também.

— Olá, me chamo Lee Minsuk. — O rapaz alto se curvou para me cumprimentar e fiz o mesmo sorrindo.

— Jeon Jungkook, é um prazer.

— Jeon? Espera, Jeon, filho do senhor Jeon? — Perguntou surpreso.

— Nunca vi tanto "Jeon" em uma frase — ri da sua fala enquanto Yoongi colocava um tablet na mesa. — Sim, sou o Jeon, filho do Jeon.

— Podemos começar Minsuk? — O proprietário da Imagine nos cortou já tomando postura de entrevistador.

— Claro, por favor — cruzou as mãos em cima da mesa e vi que o relógio que ele usava era bastante caro. Não era comum uma pessoa usar Hugo Boss e procurar emprego em uma livraria.

— Você poderia tirar os óculos? — Yoongi pediu o óbvio, afinal não se fica em uma entrevista de emprego com óculos.

— Sim — retirou os óculos e apertou as pálpebras com força por um momento, até ir abrindo lentamente os olhos castanhos.

— Tudo bem? — Yoon perguntou estranhando a reação do outro assim como eu.

— Tudo bem, é só a claridade — sorriu e ajeitou na cadeira parecendo meio desconfortável.

— Ok então. Estou vendo aqui que você tem apenas uma experiência de emprego, a que se deve isso? — O entrevistador catus começou as perguntas.

— Bem, até pouco tempo eu estava só estudando gastronomia, mas precisei procurar trabalho por motivos pessoais, então esse aí no currículo foi o meu primeiro emprego — explicou olhando para os próprios dedos que brincavam entre si, em cima da mesa.

Ele disse motivos pessoais, não financeiros, o que deve ter lhe acontecido para precisar trabalhar quando poderia estar apenas estudando?

— Seu currículo diz que você tem vinte e dois anos e mora com seus pais, correto? — Yoongi encarava seu tablet.

— Sim.

Imaginei que fosse mais novo que meu amigo e eu, mas a diferença não era tanta, apenas dois anos de diferença para mim, e três para Yoongi que tinha vinte e cinco.

— Possui alguma deficiência física ou doença crônica relevante?

Eu já me encontrava olhando para as minhas unhas, analisando se elas já precisavam ser cortadas quando notei o silêncio que se instalou ali e levantei o olhar para o garoto, percebendo que meu amigo também deixou a atenção de seu tablet pela demora da resposta.

— Não.

A falta de resposta durou menos de um minuto, mas a forma como Lee engoliu seco e enrijeceu sobre seu assento, me deixou confuso. De qualquer forma ele não aparentava ter alguma deficiência ou doença. Apesar da pele tão pálida quanto a do catus, sua boca era rosada, olhos brilhantes e expressivos e visualmente saudável, por isso deixei qualquer questionamento de lado.

— Não me leve a mal Minsuk, mas se me permite ser um pouco mais pessoal, por quê aqui? Você parece ter boas condições financeiras — gesticulou apontando para o rapaz, olhando suas vestimentas.

— Estou saindo da casa dos meus pais para morar com uma amiga e não quero mais depender do dinheiro deles — permanecia sério em toda a sua explicação. — O salário que você propôs por e-mail é o suficiente para dividir o aluguel com ela, pagar a faculdade e ajudar com os custos de moradia.

— Entendo, suponho então que esteja disposto a agarrar essa oportunidade. Podemos fazer um breve treinamento hoje, o espaço do café fica aberto apenas de manhã então pela tarde você vai ajudar apenas com a organização das estantes e coisas básicas. — Yoongi explicava sob a atenção do acobreado.

— Ele é meio sistemático, gosta de separar tudo por cores, vou logo avisando — ri fazendo meu amigo me mostrar uma careta todo sonso, como se não fosse verdade.

— Por cores? — Minsuk parecia surpreso de um jeito negativo.

— Sim, algum problema? — Perguntei intrigado.

— Não. — Aquele cara estava mesmo desconfortável, mas por quê?
— Se vocês me permitirem, posso fazer algum doce para mostrar meu talento na confeitaria? — Desviou o foco tentando vender seu peixe.

— Claro, a parte do café está trancada, mas tem ingredientes lá dentro - mexeu no bolso da jaqueta e entregou uma chave ao novo funcionário em período de experiência.
— Tem duas portas ali no final do corredor, uma vermelha e outra marrom, essa chave é a da porta marrom. Tenho que emitir algumas notas, então vamos esperar essa sobremesa aqui, mas se precisar de ajuda é só chamar.

Minsuk se curvou pedindo licença e o acompanhamos com o olhar até ele chegar no final do corredor que ficava de frente para onde estávamos.

Yoongi comentou alguma coisa aleatória, enquanto mexia no tablet, que não consegui acompanhar, minha atenção estava no rapaz. Ele havia parado em frente às duas portas como se não soubesse qual abrir, sendo que a porta marrom, indicada por Yoongi, estava bem na sua frente.

Enfiou a chave no trinco da porta vermelha e quando percebeu que não iria conseguir abrir, tentou abrir a outra porta. Aquilo estava esquisito demais, será que ele tinha defict de atenção? O felis catus não conseguia ver pois estava de frente para mim e de costas para o fim do corredor, mas percebeu minha confusão.

— O que...? Que foi playboy? — Franziu o cenho e estalou os dedos na minha frente.

— Nada não — pisquei várias vezes deixando a cena estranha de lado.
— Felis catus...vamos conversar, quero te falar sobre o meu projeto.

— Ah sim, você ainda vai apresentar né?

— Vou mas no dia seguinte ao acidente, meu pai marcou uma reunião pedindo que eu ampliasse a utilidade do meu protótipo a mais dois produtos da empresa, então estou trabalhando nisso agora - expliquei lembrando da reunião de dois dias atrás.
— Com a ajuda do Jimin já escolhi os produtos, ele topou fazer o projeto comigo.

— Pelo visto vocês estão se dando bem né? — Apoiou os cotovelos na mesa e inclinou mais o corpo na minha direção.

— Sim, enquanto a gente estava no elevador eu fui o mais pessimista e ele mesmo com um jeito meio marrento, dizendo que eu era medroso, me encorajou. Até depois daquele dia, sinto que ele me sacode, sabe? — Minha expressão era maravilhada e é claro que não passou despercebida pelo meu amigo.

— Caramba, você tá gostando dele não tá? — Arregalei os olhos imediatamente com sua insinuação.

— Eu não disse isso. — Me justifiquei sem jeito, quebrando nosso contato visual.

— E precisava? Olha sua cara de bobo! — Balançou a cabeça em negativa e eu suspirei, vencido.

— Não dá pra esconder nada de você né. Tá, eu confesso que ando pensando nele mais do que deveria, sei lá, ele parece ter despertado alguma coisa dentro de mim.

Não sabia explicar mas era como se não tivesse nenhum problema eu ser o Jungkook medroso ou o Jungkook descontraído perto dele porque Jimin não julgava minhas inseguranças e não me cobrava seriedade para ser respeitado.

— Amigo, toma cuidado com o canto da sereia. Ele é comprometido, você está ciente disso, não está? — Me lembrou trazendo de volta a amargura que senti mais cedo.

Sim, amargava-me o âmago ter consciência de que eu me sentia cada vez mais envolvido por uma pessoa que já era de alguém e esse alguém era o homem que para o meu pai tinha mais valor do que o próprio filho, o homem pelo qual eu estava sentindo desde mais cedo uma raiva irracional. Não era culpa de Jae, eu o amava e sabia que ele não iria aceitar a ordem do meu pai se não fosse coagido.

No entanto, fazia bem alimentar essa mágoa e esquecer momentaneamente tudo o que Jae significava para mim.

Porque no fundo eu só estava procurando motivos para não gostar do homem que se relacionava com a pessoa que eu queria pra mim. Sim, se Jae não fosse um cara tão legal e perfeito, eu não me sentiria tão mal por desejar seu noivo.

O quão baixo era isso? O quão injusto e egoísta eu estava sendo? Me envergonhava esse pensamento, mas eu não conseguia me livrar dele, ainda que Jae fosse extremamente importante na minha vida, e formação como pessoa. Nesse momento eu estava dando lugar a sentimentos corrosivos.

— Sim, eu sei catus. Acredite, eu penso nisso o tempo todo — suspirei desiludido.

Não demorou muito e Lee Minsuk se aproximou com cupcakes lindamente bem elaborados e quando experimentamos, o dono da Imagine se convenceu rapidamente que seria uma boa ideia ter o garoto no espacinho de café de sua livraria e deixá-lo inovar o ambiente vendendo doces também.

Sem falar que eu podia jurar ter visto uma troca de olhares um tanto profundos para dois desconhecidos. Mas quem era eu pra julgar? Fazia menos de uma semana que eu conhecia o dono dos olhos de quasares e já estava todo rendido.

Enquanto comíamos comecei a pensar no que Yoongi falou, sobre alguém ter lhe dito na segunda-feira que o elevador principal, da recepção um, estava em manutenção. Foi ali que tive a ideia de procurar por Namjoon na sala de manutenção para questioná-lo sobre isso; se eu me apressasse conseguiria falar com ele antes de ter que assumir meu turno na sala de testes após o almoço.

Olhei para meu relógio de pulso e vendo que ainda eram onze horas me despedi de minhas duas companhias e fui para o prédio da High Security. A sala principal de manutenção de elevadores ficava no vigésimo andar e quando andava pelo corredor vi Kim Namjoon andando na direção oposta à minha. Quando me percebeu, apressou os passos até nos encontrarmos na porta do seu setor.

— Oi Jeon, que bom te ver — sorriu largo mostrando suas covinhas.

— Me chama de Jungkook — resmunguei lhe dando um abraço.

— Tudo bem Jungkook. — Quando nos afastamos ouvimos um barulho de pastas caindo no chão e imediatamente olhamos para trás de Namjoon.

— Opa, deixa eu te ajudar. — Ele disse caminhando até lá, era Seokjin quem havia derrubado as inúmeras pastas que carregava.

— Que desastrado eu sou. — Jin parecia meio perdido, estava agachado no chão com Namjoon o ajudando a recolher o material que carregava, quando me aproximei deles.

— Imagina, essas coisas aconte-

No meio de sua fala, as mãos de Namjoon e Jin se encontraram ao tocarem na mesma pasta e a expressão sorridente do dono das covinhas se quebrou ao ser tomada por espanto, assustando também o diretor do setor de testes.

— O que está acontecendo com você? — Namjoon perguntou sem mais nem menos, com a boca aberta, fazendo Seokjin arregalar os olhos.

— O quê? — Jin perguntou confuso, eu também não entendi nada.

— Que energia negativa... — O "namastê" pareceu falar mais para si mesmo.

Seokjin olhou para cima, me percebendo parado ali perto deles e se apressou em tomar todas as pastas para si, contra e peito. Levantou parecendo perdido e com um pigarro disse:

— Eu preciso ir, obrigado pela ajuda — disse para o outro, me olhou mais uma vez e caminhou em passos curtos e apressados para longe de nós, muito diferente de sua postura elegante usual.

— Namjoon. — O chamei e este se ergueu me dando atenção ainda com uma cara de quem não estava totalmente ali. — O que foi isso?

— Nem sempre sei dizer o que é Jungkook, apenas sinto a energia das pessoas, ou os sentimentos delas, como foi o seu caso naquele dia.

— E o que você quis dizer com "energia negativa", quando olhou para o Kim? — Perguntei quando voltamos a caminhar.

— Ele tem algum problema. Tão bonito, mas tão errado...

Ok, aquilo estava estranho, eu não sabia se insistia no assunto ou se deixava pra lá. Eu era uma pessoa super intuitiva - apesar de sempre me foder na vida - mas eu não entendia esse lance de ser sensitivo, Namjoon estava um degrau acima na escada da espiritualidade, com certeza. Por fim resolvi deixar a conversa de lado

— Vim falar com você sobre a manutenção dos elevadores, podemos entrar? — Gesticulei em direção a porta.

Entramos no setor e vi que juntamente com Kim havia outro funcionário que eu não conhecia. Tinha uma aparência de bad boy, com um piercing na boca, jaqueta de couro e cabelos em tom de mel. Estava ajeitando uma maleta de ferramentas e quando nos viu pareceu se espantar.

— Jungkook, esse é o Jung Daehyun, cuida da manutenção dos elevadores comigo. Daehyun, este é Jeon Jungkook. — Nos apresentou e vi a sombra de um sorriso debochado querendo nascer no carinha.

— Eu sem quem ele é, o filho do chefe — estreitou seus olhos e não gostei daquele tom cínico. — É um prazer Jeon Jungkook. — Não se curvou como cumprimento tradicional nem estendeu a mão.

— É um prazer também — falei devolvendo seu desinteresse e logo me voltei para o Namjoon.
— Nam, você pode procurar nos registros quando foi a última manutenção feita nos elevadores da recepção um e dois?

Daehyun fechou a cara como se estivesse fazendo uma pergunta inapropriada, até que perguntou:

— Por que você está procurando por esse registro?

— Bem, toda a empresa já sabe do acidente de segunda-feira, mesmo com a polícia investigando, eu como vítima quero entender o que pode ter acontecido, se houve alguma falha. — Não vi problema em explicar o óbvio.
— Quero saber se na segunda-feira o elevador da recepção um estava em manutenção. — Assim como Yoongi me disse, mas não iria citá-lo antes de saber qual era a situação.

— Nosso chefe conversou com o senhor Jeon sobre isso, realmente o elevador dois apresentou uma falha nos cabos de segurança, mas foi uma falha muito boba para passar despercebida pela manutenção. Quanto ao elevador da recepção um, não estava em manutenção na segunda, fazemos manutenção apenas nos fins de semana, onde o movimento na empresa é menor, salvo em casos de emergência. — O dono das covinhas explicou ligando o computador de sua mesa.

Então era isso, só existiam duas opções para o meu melhor amigo ter dito que o elevador principal estava em manutenção sem estar. Ou alguém mentiu para o Yoongi ou ele mentiu para mim. Como este não tinha motivos para mentir para mim, deduzi que era a primeira opção. Mas quem teria lhe passado essa informação se não alguém da manutenção?

— Algum de vocês dois avisou a alguém por engano que na segunda o elevador um estaria em manutenção? — Estava arriscando um pouco mais, mas eu queria saber.

— Por que diríamos? Namjoon acabou de te dizer que as manutenções acontecem nos fins de semana, e que nenhum deles esteve em manutenção na segunda. — Daehyun parecia irritado, contrariado.
— Passamos a manhã toda na nossa sala, nem saímos de lá até o acidente desse elevador, se duvidar de nós pode procurar as imagens do nosso setor nas câmeras.

— Ele está certo Jungkook, não saímos da sala de manhã, só para comer mesmo. Não teríamos como avisar nada a ninguém. — Namjoon também parecia um pouco contrariado, mas se mantinha calmo.

— Me desculpem, não quis insinuar nada, era só uma dúvida — abanei as mãos me retratando.

Quem teria passado aquela informação à Yoongi?

— Tudo bem. Você quer saber de alguma informação em específico? — Namjoon suavizou sua expressão com meu pedido de desculpas, Daehyun não.

— Sim, quando a última manutenção foi feita no elevador dois, por favor? — Questionei porque se a última manutenção tivesse sido há muito tempo o defeito poderia ter aparecido recentemente e ninguém ter notado.

Namjoon olhava uma planilha no computador em silêncio e Daehyun me encarava friamente. Mesmo que tivessem cadeiras vazias disponíveis eu me sentia incomodado demais para ficar sentado, mas também não me deixei intimidar, apesar de me sentir um pouco mal por eles terem se sentido acusados.

— Foi feita no fim de semana, por mim mesmo e estava tudo ok, fiz o check list e tudo mais, se quiser ver posso mandar por e-mail. — Kim enrugou a testa.

— Namjoon você não já mandou esse check list para o chefe? Justamente para ninguém pensar que cometemos alguma irregularidade. Não precisamos provar nada pra qualquer um que vier aqui desconfiando de nós. — Daehyun praticamente rosnou, mas ignorei, estava pensativo demais para lhe ouvir.

Coloquei o polegar e indicador no queixo com o cotovelo apoiado no outro braço que estava cruzado sobre o peito, pensando. Como a manutenção foi feita no fim de semana e magicamente na segunda um cabo de segurança apresentou defeito? Aquilo estava muito, muito estranho.

— Bem, acho que devemos deixar essa questão para a polícia resolver, não somos nenhum perito, afinal. Podemos até mesmo atrapalhar a investigação. — Daehyun disse dando uma palma para mostrar sua opinião.

— Qual o problema de eu querer investigar também Jung? — Aquela repreensão me incomodou.

— Primeiramente não temos permissão para ficar compartilhando informações referentes ao nosso setor com outras pessoas Jungkook, você não é Jeon Jongsu, é apenas o filho do chefe e devemos satisfação apenas aos nossos superiores, desculpe. — Cuspiu as diretrizes do setor como se eu não soubesse.

— Daehyun. — Namjoon o chamou em tom de repreensão, mas também compreensivo pela chateação do colega.

Eu o teria respondido, mas além de também compreender um pouco sua raiva, estava tão abalado com a fala de meu próprio pai mais cedo que naquele momento me senti realmente apenas o filho do chefe, sem nenhuma relevância no corpo da empresa. Aquelas eram as consequências de ser inferiorizado por Jongsu, eu me sentir realmente inferior e acabar deixando outras pessoas me tratarem como tal.

Não tive peito para enfrentar Daehyun porque a insegurança já estava tão enraizada em mim que eu já começava a acreditar que nunca seria capaz de tomar as rédeas da empresa, logo me senti realmente atrapalhando o quer que tivessem fazendo para resolver o caso.

— Eu já vou, Namjoon. Obrigado pelas informações. — Com o olhar meio perdido por tantos sentimentos negativos rondando minha cabeça, apenas me virei em direção à porta sendo seguido ouvindo Kim falar.

— Ok...qualquer coisa você pode me ligar tá bom? — Assenti e ele murmurou um "namastê" que eu já tinha me familiarizado, afinal sempre que se despedia ele dizia isso.

Não respondi, segui porta a fora e andei pelo corredor de cabeça baixa, pensando na informação que descobri e em como fui idiota por não ter respondido aquele funcionário. Eu era patético mesmo, por isso meu pai vivia dizendo que eu não tinha pulso para ser um grande líder.

— Jungkook! — Ainda olhando para baixo ouvi meu nome ser chamado por aquela voz familiar.
— Que bom te ver...eu estava mesmo querendo falar com você.

— Oi Jae, e aí? — Voltei minha atenção ao home que era o braço direito de meu pai, parado na minha frente.

— Jungkook, eu não sei como te dizer isso...não sei se seu pai já disse que vai viajar... — Kang parecia receoso, pisando em ovos para falar comigo, provavelmente imaginando que seria uma conversa delicada.

— Eu já sei de tudo, não precisa explicar — respondi sem ânimo, apenas querendo logo encerrar aquele assunto.

— Sabia que você iria ficar chateado — negou com a cabeça, frustrado, percebendo de cara o meu humor.
— Eu não queria aceitar Jungkook, pedi que Jong falasse com você primeiro para saber se ficaria confortável com isso. Aquele lugar é seu e me sinto tomando seu espaço.

Meu olhar estava um tanto duro e frustrado por mais que eu quisesse esconder. Não costumava agir distante e indiferente com Jae, sempre nos demos muito bem, ele sempre foi muito carinhoso comigo, mais do que meu próprio pai. Então não queria descontar nele todo o meu desapontamento, não era sua culpa, eu precisava entender isso para não nutrir a raiva irracional que já habitava em mim.

— A culpa não é sua, e de qualquer forma meu pai está certo, você está mais preparado para assumir a direção na ausência dele. — Como me doía ter que admitir, eu queria sumir.

— Jungkook, o que você acha de conduzir as reuniões comigo? — Seus olhos brilhavam em expectativa, realmente considerando a ideia.

Ele faria mesmo isso?

De repente me senti um bosta por alimentar tanto uma rivalidade que na verdade não existia. Enquanto eu choramingava internamente como uma criança mimada, Jae estava bolando formas de me deixar confortável com uma situação que ele ao menos causou. Isso só mostrava o quão mesquinho eu estava sendo.

Culpa, era o que eu sentia.

— Jae, eu agradeço o seu cuidado comigo. Não só agora mas sempre. Você sempre está considerando meus sentimentos em cada atitude que toma e isso é muito legal mesmo. — Ele sorriu e eu tive que inventar uma desculpa para que este não se sentisse culpado por minha causa.
— Mas eu estou muito focado no meu projeto e gostaria de continuar assim. Não quero esquentar a cabeça com outras coisas agora, então não esquenta tá? Está tudo bem.

— Sério? Oh, você não sabe como isso me deixa mais aliviado — suspirou e colocou a mão no peito.

Querendo deixar um pouco aquele assunto de lado, aproveitei o encontro inesperado com meu tio de consideração para lhe perguntar algo que rondava minha mente desde o dia anterior em que estive na sala de monitoramento com Taehyung e Hoseok.

— Jae, você sabe me dizer se as câmeras da empresa em alguma circunstância podem se desativar sozinhas? — Forcei um tom casual.

— Sozinhas? Não, o comando de tudo fica na sala de monitoramento, então elas somente desligariam se alguém de lá o fizesse — deu de ombros.

Mas se as câmeras foram desativadas no turno deles e eles não sabiam de nada, será que alguém entrou lá sem os dois perceberem?

— Será que a sala fica sozinha em algum momento do dia, tipo de manhã? — Um pouco mais de insistência e Jae ficaria desconfiado de minhas perguntas.

— Jamais, é protocolo da empresa, a sala nunca pode ficar sozinha — estreitou os olhos enquanto me encarava confuso.
— Mas por que o interesse, Jungkook?

— Nada, só uma curiosidade que surgiu bem do nada. — Eu era péssimo em mentir, mas Jae não pareceu fazer muita questão de uma explicação enquanto pegava seu celular e checava algo.

— Desculpa, tenho bastante trabalho a fazer agora — fez uma careta, lamentando.

— Tudo bem, imagino que você vai ficar bastante ocupado esses dias em que meu pai estará fora.

— Sim, a propósito, eu queria te pedir algo, se eu puder — parecia bem receoso mas quando acenei com a cabeça ele prosseguiu.
— Como você bem lembrou, vou ficar bastante ocupado esses dias e...Jimin não tem muitos amigos Jungkook. Taehyung é seu melhor amigo, mas trabalham em andares diferentes, já vocês, estão no mesmo setor.

Meu corpo travou no momento em que ouvi o nome do Jimin. O que ele estava querendo dizer com aquilo?

— Você poderia fazer um pouco de companhia para ele não se sentir tão sozinho? Sabe, agora que estão trabalhando juntos eu ficaria muito feliz se fossem bons amigos.

Oh, não me peça isso, Jae! Eu estava determinado a tirar aquele homem da minha cabeça e você pedindo isso? Se bem que eu nem poderia culpá-lo, para todos que me conheciam eu era hétero.

— Você sabe o motivo de eu nunca ter incluído o Jimin no seu convívio ou do seu pai, queria o poupar e me poupar de ouvir coisas desagradáveis, mas sinto que as coisas mudaram um pouco depois que vocês ficaram presos naquele elevador. Até mesmo uma oportunidade de trabalharem juntos surgiu. — Ele gesticulava com as mãos e sorria maravilhado, toda a tensão do primeiro momento havia ido embora.

E como as coisas mudaram...

— Agora vocês estão trabalhando juntos e me deixa muito feliz ter duas pessoas que eu amo no mesmo ciclo de convivência.

Perdoa pai, ele não sabe o que faz.

— O meu pequeno tem toda aquela pose confiante mas é muito frágil e eu amo protegê-lo. Por isso não quero que ele se sinta sozinho com minha ausência nesse período.

Muito frágil? Estávamos falando do mesmo Park Jimin?

Caralho, acho que eu entendia um pouco mais como Jimin poderia se sentir subjugado com aquele chamamento, porque ele estava inserido em um combo de proteção excessiva.

Era mais ou menos como a forma que meu pai sempre fazia eu me sentir. Um despreparado para a vida. Claro que a forma como Jae tratava Jimin envolvia carinho, por isso o loiro tolerava tal comportamento, mas ainda assim era uma forma de subestimar sua capacidade.

— Claro, conte comigo. — No entanto, não cabia a mim, ficar dando pitaco sobre o relacionamento dos dois. — Agora vá, você parece atarefado.

— Obrigado Jungkook, sim estou quase atrasado. Se eu não tomar cuidado, Jong vai voltar do Brasil para puxar o meu pé — brincou e me abraçou para se despedir.

— Foi mal mas essa exclusividade é minha. — Me afastei sorrindo.
— Até mais, boa sorte com tudo.

— Obrigado sobrinho, tchau tchau — acenou com a mão e seguiu seu rumo pelo corredor.

Respirei fundo, absorvendo o que tinha acontecido durante minha manhã e gastei alguns minutos ainda parado no corredor, pensando onde eu iria comer. Tinha receio de encontrar Jimin e acabar me juntando novamente a ele para almoçar. Sabia que deveria evitar a qualquer custo ficar mais tempo do que o necessário perto dele, para o bem geral da nação. A questão era que isso já me doía tanto, eu já sentia falta da sua risada, do seu jeito descontraído e até como ficava sem graça em alguns momentos quando estávamos juntos.

Decidido a tentar me manter firme no que precisava ser feito, decidi comer na cantina, onde era menos improvável o encontrar. Almocei rápido por estar sozinho, relaxando em seguida na cadeira para digerir um pouco o bolo alimentar.

Nesse meio tempo recebi uma mensagem de Taehyung me lembrando, cobrando, intimando ou sei lá o quê, a comparecer na aula de teatro para visitantes do seu curso, que seria naquela quinta, depois do nosso expediente.

O respondi, confirmando que iria por livre e espontânea pressão e quando percebi já eram treze horas, o horário exato do meu turno. Me apressei em escovar os dentes no banheiro do terceiro andar, em seguida peguei o elevador principal até o octogésimo oitavo andar.

Entrando no setor de testes, após passar pelo reconhecimento facial das portas, a primeira pessoa que eu vi foi Jimin no grande salão, com uma camisa branca, molhada.

Uma camisa branca.

Molhada.

O tecido estava grudado em sua pele, deixando uma leve transparência que evidenciava seus músculos de academia, bem desenhados, seus mamilos e o bendito piercing que já tive a oportunidade de ver uma vez. Seu cabelo também estava molhado e ele os jogava para trás me dando a visão de seu rosto iluminado pelas gotículas de água que por ali passavam.

Comecei a perguntar por que Deus me odiava. Era totalmente covarde me proporcionar a visão de um corpo que eu nunca teria em mãos, a visão de um homem que eu nunca beijaria. Ali, daquela forma, ainda por cima dando aquela sua risada gostosa junto a uma funcionária que o ajudava a colocar uma placa de metal sobre uma bancada alí perto.

— Jungkook! — Parecia surpreso em me ver parado, lhe olhando. — Eu vou só trocar de roupa e já volto. Você pode esperar na minha sala? Deixei uma coisinha lá pra você. — Deu uma risadinha e saiu em direção ao banheiro.

Sem entender nada, ainda por cima atônito, fui até sua sala que ficava quase no fim de um corredor ao lado de todo aquele espaço aberto e entrei quando percebi que a porta estava destrancada.

A sala de Jimin era super organizada, havia uma estante com alguns livros, um sofá de dois lugares, uma poltrona de couro de balanço, nunca tinha visto uma daquela na empresa. Em cima de sua mesa tinha uma pequena caixinha verde de confeitaria e quando a abri vi nela o meu doce favorito, Kinako mochi.

Ele lembrou do meu doce favorito?

— Oi, demorei? — Sua voz surgiu atrás de mim enquanto eu ainda encarava a caixinha.
— Eu almocei fora do prédio hoje, vi na vitrine da confeitaria aqui perto, a que te falei que vendia mochi e lembrei que você gostava. É esse não é? O seu doce preferido?

Quando me virei, Jimin secava seu cabelo com uma toalha, me olhando sorridente e não consegui evitar o encantamento estampado em minha face ao dedicar toda minha atenção àquele homem que sem perceber me puxava cada vez mais para si.

— Foi muito atencioso Jimin, obrigado — falei ainda embasbacado. Ele tinha lembrado do meu doce favorito e o trazido para mim, eu nunca esperaria por isso.

Abri a tampa da caixinha e peguei o doce com um pequeno guardanapo que o envolvia. Dei uma mordida, percebendo que o gosto era maravilhoso.

— Caramba, é um dos melhores que já comi, vem, experimenta — chamei, mostrando o doce para ele.

— Não sou tão fã de kinako mochi, eu passo — abanou as mãos negando.

— Esse é bom mesmo, prova por favor — insisti já levando o doce até ele, que estava próximo à porta.

O loiro riu, e mordeu um pedaço, analisando o sabor por quase um minuto, eu diria. Minha expectativa era grande, afinal era meu doce favorito sendo colocado à prova.

— É legalzinho mesmo — arqueou as sobrancelhas como se esperasse que o doce fosse super ruim e tivesse se surpreendido por ele ser tolerável.

— Ah não diminua o meu mochi, coordenador, ele é o melhor do mundo — dei outra mordida e fiz um bico enquanto Jimin ria.
— A propósito, por que você se molhou?

— Ah, estávamos fazendo testes com água em alguns materiais e uma colega me molhou por acidente — mantinha seu sorriso e passava a mão pela camisa - agora vermelha - que usava.

— Entendi. Podemos começar os testes nas caixas metálicas hoje? — Bati uma palma terminando de mastigar meu último pedaço de doce.

-—Você que manda chefe — sorriu ladino e eu revirei os olhos.

Fomos para o mesmo arsenal do dia anterior, onde começamos a trabalhar lado a lado nas cadeiras de frente para o grande balcão de testes. Trabalhar com Jimin era muito divertido, mesmo o projeto sendo meu, ele dava sugestões de como deveríamos fazer as coisas, com seu jeito mandão e marrento que eu adorava.

Nunca me esquecerei que no primeiro dia em que nos conhecemos de verdade, no elevador. Quando o loiro atrevido mal me conhecia e foi logo dizendo que me achava medroso, sem cerimônias.

Aquele homem era menor que eu, tinha um cargo inferior, mas emanava autoridade e liderança de seus poros. Sabia como me coagir a fazer tudo do seu jeito e eu nem me importava, no final dava tudo certo, sua inteligência era invejável.

Mas nem tudo eram flores, percebemos ao longo da tarde que fazer o protótipo funcionar nas caixas era mais difícil do que nos cofres e foi inevitável sentir uma sensação de tempo perdido ao lembrar que não importava o que eu fizesse, nunca teria o devido reconhecimento do poderoso Jeon.

— Nem sei porque estou insistindo nesse projeto se pra ele não vai valer nada — comentei sem necessidade de citar a quem me referia, porque era óbvio. Tentei soar como se não me importasse muito com aquilo, mas Jimin percebeu que havia amargura em meu tom, afinal no dia que ficamos presos, falei abertamente sobre como me sentia com relação ao meu pai.

— Ei, não deixe o gosto ruim que seu pai coloca nas coisas afetar o seu trabalho, que é o que você ama fazer — colocou a ponta de seus dedos no meu queixo e estremeci ao senti-los. Senti que desmontaria ali mesmo se olhasse para ele, por isso permaneci encarando o chão.
— Você está insistindo porque pra você vale a pena, — suspirou baixinho — pra mim também.

Foi inevitável, subi meus olhos até os seus, talvez os arregalando mais do que eu gostaria e dediquei minha atenção toda à sua face. Admirei secretamente seus lábios ali tão perto de mim, e pensei em como eles deviam ser macios sob o toque.

Eu queria senti-los, era uma vontade real, mas nunca havia sentido como uma necessidade, até aquele momento. Talvez não me deixar ser envolvido por aquele homem fosse uma batalha perdida, tendo em vista que a cada interação nossa eu sentia mais sede do seu contato.

No entanto jamais teria a oportunidade de tocar aqueles lábios, pensar nisso estava começando a me angustiar, mas ao mesmo tempo me deu impulso para afastar delicadamente seus dedos de meu queixo. Lhe ofereci um meio sorriso sem graça e me afastei sutilmente.

— Escuta, se você acha que te falta alguma coisa, corra atrás, mas para se sentir suficiente para si mesmo, não pelos outros. Porque quando você se sentir realizado, ninguém vai poder te dizer que você é insuficiente.

— Obrigado por isso Jimin, pelo seu apoio.

Quem dera eu pudesse esquecer que quem estava na minha frente era o noivo de um amigo e lhe dar um beijo, por tantas sensações que ele me causava, mas não podia.

Pensando em "noivo" encontrei a solução perfeita para sair da situação embaraçosa de meus pensamentos e ainda ver qual seria sua reação.

— Encontrei o Jae antes de ir almoçar. — Sua expressão não entregava nada.
— Ele vai cuidar dos assuntos da empresa enquanto meu pai viaja.

— Sim, ele me contou. — Seu sorriso diminuía gradualmente, mas eu não iria me iludir por isso.
— Achei que você tomaria conta.

— Não, vou continuar com meu turno aqui, ele tem mais competência e experiência, está mais capacitado para isso. Jae sempre foi muito dedicado, sempre deu o sangue pela empresa, é um homem perfeito, não é?

Eu precisava dizer o que todo mundo – inclusive meu pai – pensava. Não usei um tom de deboche, afinal eu amava de Jae, e realmente pensava aquilo dele.

Jimin deixou de canto a caixa de metal que tinha em mãos, e ficou me encarando. Quis tanto interpretar seus pensamentos, mas ele conseguia escondê-los tão bem por trás de sua face limpa de reações, quase inexpressiva. Minha esperança era que ele me dissesse qualquer coisa que me ajudasse a entendê-lo.

— O que você quer que eu diga, Jungkook? — Soltou o ar de seus pulmões. — Quer que eu concorde ou discorde?

Park Jimin, era muito esperto mesmo, havia percebido meu tom amargurado lá no fundo, mesmo eu tentando fingir que estava fazendo apenas um comentário casual.

— Quero que você seja sincero, que diga o que está pensando agora — tentei usar a mesma firmeza que sempre vi nele.

— Certo então. A primeira coisa que pensei é que não existem pessoas perfeitas, Jae pode ter mais experiência, mas isso não o torna mais competente que você — passou a mão por seu cabelo ainda úmido. — A segunda coisa, é também o que quero te dizer agora.

— E o que é? — perguntei ansioso.

— Não aja como se o que você passa e sente não o afetasse. Não finja que não está magoado Jungkook, pelo menos não comigo — ficou alguns segundos quieto, abriu a boca e a fechou algumas vezes. Pude perceber sua cautela ao usar cuidadosamente suas palavras.
— Por favor, conte comigo pra conversar, ou só te ouvir se você quiser.

Como eu queria dizer "quero" e realmente mantê-lo por perto para conversarmos sempre que desse na telha, como fazia com meu melhor amigo. Mas Jimin não era Yoongi, eu não o queria como um amigo apenas, tinha consciência disso e do que meu desejo representava nessa relação perigosa.

— Obrigado. — Por isso me ative a dizer somente isso, respirando fundo discretamente para controlar minha vontade de avançar naquele homem e beijar aquela boca linda.

Resolvi mais uma vez mudar o assunto para algo que era de interesse de ambos, que era a descoberta que fiz de manhã na sala de manutenção. Além de que, eu precisava da opinião do Jimin para saber se eu estava fazendo muito caso da situação ou não.

— Jimin, hoje pela manhã fui na sala de manutenção, porque no dia do acidente uma pessoa me disse que o elevador principal estava em manutenção, e aí peguei o segundo. — O coordenador franziu o cenho atento às minhas palavras.
— Mas fiquei sabendo por Namjoon que nenhum elevador esteve em manutenção na segunda-feira. E a manutenção do elevador dois, aquele que entramos, foi feita no fim de semana.

— Então como ele apresentou defeito já na segunda-feira? Não faz sentido. — A mesma confusão que me tomou mais cedo pareceu atingir Jimin.

Que dia cheio, que semana cheia, aliás. Primeiro sofri um acidente com Jimin, na segunda-feira, no dia seguinte depois da reunião, comecei mais uma saga de testes com o protótipo, na quarta-feira fiquei sabendo que vinte minutos antes de eu pegar o elevador as câmeras, que segundo Jae são desativadas apenas manualmente, pararam de funcionar.

Depois Namjoon me diz que mesmo após uma manutenção feita no fim de semana, o elevador que entramos apresentou uma falha simples, nos cabos de segurança.

O que me levou à seguinte pergunta: E se essa falha surgiu "magicamente" no momento em que as câmeras foram também "magicamente" desativadas?

— Você acha que alguém pode ter forjado um acidente para te prejudicar? — Alinhado com meus pensamentos, Park perguntou.

— Não sei Jimin, mas se tiver sido, preciso descobrir o quanto antes — desviei o olhar para qualquer ponto à minha frente, pensativo.

— Jungkook, tome cuidado, se for realmente isso, você sabe que com certeza foi alguém aqui de dentro né? Não tem como uma pessoa fora da empresa mexer no sistema de câmeras e elevadores tão facilmente.

— Sim, eu sei. Vou tentar ser o mais discreto possível, mas preciso investigar.

— O Jae me disse que provavelmente um investigador vai nos interrogar para tentar achar algum fato estranho, temos que dizer tudo que sabemos. — Me explicou, deixando de lado tudo que fazíamos na sala, assim como eu. Já tínhamos acabado os testes na maioria das caixas disponíveis, de qualquer forma.

— Sim, mas não posso dizer quem me sugeriu pegar o elevador do acidente naquele dia, ou ele vai ser o suspeito número um e coloco a minha mão no fogo por ele — disse com firmeza, afinal confiava piamente em Yoongi.

— Se você tem tanta certeza, eu poderia saber quem é? Afinal estou envolvido no acidente também - colocou as mãos em seus bolsos me encarando.
— Não vou dizer a ninguém, você confia em mim?

Eu confiava em Jimin?

Minha intuição dizia que sim, as experiências que já tive ao seu lado também, com os dois sentimentos em concordância, cheguei a conclusão de que sim. Eu confiava em Jimin e ele deveria saber.

— Eu confio — vi seu sorriso brilhante de bochechas fartas e dentes expostos e sorri um pouco tímido em resposta.
— Foi meu melhor amigo, Yoongi, mas não posso dizer a ninguém antes de tentar descobrir quem passou essa informação a ele.

— Entendo. Que engraçado, o nome dele não me é estranho, mas também não lembro onde ouvi — balançou a cabeça, deixando a informação de lado, como se não importasse muito.
— De qualquer forma, não se preocupe. Se você confia nele, também confio. Vamos deixar o nome dele fora disso e tomar cuidado com tudo de agora em diante. Se alguém tentou contra a sua vida, devemos ficar mais atentos.

— Gosto de como fala no plural — soltei sem nem perceber e ele ficou sério novamente.

— Você pode ter sido o alvo Jungkook, mas vou investigar isso com você, afinal acabei me envolvendo na história. Estamos juntos tá? — Estendeu a mão para mim, e sem hesitar, apertei.

Enquanto sorríamos cúmplices, seu olhar desviou para o relógio analógico que estava na parede ao nosso lado e ao ver sua boca aberta em surpresa olhei também.

— Caralho, já acabou nosso expediente e eu nem percebi — foi soltando minha mão aos poucos.
— Preciso ir, Tae me chamou para mais uma das aulas para visitantes do curso de teatro dele.

Catapimbas!

— Sério? Ele também me chamou, ontem. Hoje confirmei que iria, não sabia que você também... — deixei a frase morrer — ...mas é claro que você iria, é o melhor amigo dele — constatei comentando mais para mim mesmo do que para o outro.

— Algum problema por eu ir? — Arqueou uma sobrancelha.

— Não, de jeito nenhum. É só que eu não esperava quando já deveria prever — sorri meio sem graça.

— Bom, Taehyung me disse que esperaria lá embaixo com Hoseok, ele também vai — começou a organizar o arsenal para deixarmos a sala.
— Parece que hoje você não tem desculpas para não aceitar minha carona — deu uma piscadela para causar minha morte.

Pelo visto Park Jimin iria me torturar por mais um tempinho...

Continua >>

O próximo capítulo vai ser só nessa aula de teatro com o tema "linguagem não verbal". E está de tirar o fôlego, vou nem mentir kkkk

Não sei muito o que dizer hoje nenens. O próximo capítulo já está pronto, mas os votos e comentários tem caído tanto que fico em dúvida se estou conseguindo agradar vcs.

Então por favor, votem, comentem, interajam, para eu saber se vocês estão gostando e do quê estão gostando.

Se cuidem e um cheiro!♥️

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