Um CEO de Natal

By raiosouza

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Dean Rodwell odeia o natal. O CEO da Rodwell Inc nunca gostou de comemorar o caos natalino e faz de tudo para... More

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personagens
dedicatória
Introdução
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 9
Capítulo 10
Capitulo 11
Capitulo 12
Capitulo 13
Capitulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16

capítulo 8

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By raiosouza

Ayla Auburn

Na manhã seguinte a vergonha me tomou. Demorei a sair do quarto, movida unicamente pela fome. E também, se demorasse muito para aparecer, ia fazer tudo ser mais embaraçoso ainda.

Melhor enfrentar as coisas e fingir que não há nada de errado.

Na cozinha, Dean e Lizzy já faziam o café da manhã. Os dois conversavam alguma besteira, Lizzy com muito entusiasmo e Dean com um sorriso simples em resposta.

- Então não faz sentido você ter tanto dinheiro se não consegue ir pra casa - Lizzy disse enquanto comia uma panqueca pequena com as mãos.

- É, pelo visto alguém quer muito me manter aqui - Dean respondeu.

- Com certeza não sou eu - Eu comentei, chegando devagar, por causa da perna dolorida, e sentei ao lado da minha filha.

- Pode ficar tranquila - Dean respondeu. - Eu sei muito bem que você não me quer por perto.

Evitei olha-ló. Mas sabia. Aaah como eu sentia. O sorriso vitorioso de presunção pairando sobre mim.

Por sorte eu dominava a sutil arte de fingir que nada havia acontecido. Ele não conseguiria me afetar com nenhuma piadinha. Afinal de contas, eu quem ganhei isso tudo. Gozei ontem e não ligo a mínima pros comentários dele de hoje.

Vida que segue.

Ele serviu duas panquecas grandes para Lizze e colocou um prato na minha frente.

O interrompi antes que me servisse.

- Não, obrigada, não estou com fome.

- Mãe as panquecas estão ótimas. Até que é gostoso comer saudável - Minha filha disse de boca cheia, segurando um prato com outras três panquecas fofinhas e cobertas de mel.

- Eu estive explicando a ela - Dean comenta - que nosso corpo é um templo. Ele nos sustenta, nos possibilita trabalhar, andar, viver. Deveríamos retribuir com amor. Comer todas essas besteiras é ser ingrato com a vida, e dar um passo em direção à morte.

- Esta doutrina não funcionará nesta casa, Dean, desista. Eu só como depois das 12.

Dean franziu as sobrancelhas e olhou no relógio.

- São dez da manhã, Ayla. Você deveria estar faminta.

- Não costumo comer ao acordar.

- Pois irá criar o hábito. - Ele serviu uma panqueca para mim. - Bom apetite.

Urgh. Que mandão.

- Eu disse... - comecei, em um rosnando zangado.

A raiva me consumia de forma súbita e malcriada. Meu humor já não era dos melhores pela manhã. Com esse cara me forçando a comer, bom, a bomba foi acionada.

- Oh. Oh. - Lizzy sussurrou é pegou seu prato, levantando da cadeira. - Acho que vou ver o que está passando na TV.

Sobrou apenas eu, Dean e meu ódio naquela bancada fria.

- Depois de tanto esforço ontem a noite, é de se esperar que esteja com fome. - Dean apoiou as suas mãos grandes na mesa e curvou seu corpo para frente. Assim conseguia um contato visual melhor comigo.

Fechei os olhos com a lembrança. Foi automático a vergonha.

- Cala a boca, Dean.

- Não tem pena de magoar meus sentimentos, Ursinha? Fiz essa panqueca especialmente pra você. - Ele falou com uma voz melodiosa. Grave e rouca, porém substituiria qualquer orquestra, qualquer sinfonia, com uma dúzia de palavras pecaminosas.

Dean raspou o dedo no melado sobre a panqueca e o levou à boca, chupando muito, muito devagar.

A minha boca secou. A garganta fechou. Algo se contraiu, molhado. O coração acelerado... Oh, não. Alerta vermelho!

- Dean... - Eu juro, deveria soar como uma repreenda. Mas eu perdi a força até na voz. Seu nome escorreu na minha língua como aquele mel, doce e melado.

Ele sorriu de canto, sem desviar o olhar hipnotizante do meu.

- Foi assim mesmo que você gemeu ontem.

Tentei me recompor imediatamente. Não sou uma adolescente sem controle. Sou uma mulher calejada, experiente e com mestrado em homens que só fazem provocar minha paciência.

- Pare com isso agora!

- Com isso o que? Ficou maluca? Será que nem mesmo comer eu posso nessa casa? Um homem tem que sustentar sua energia, Ayla. - O engraçadinho jogou o pano de prato sobre o ombro e recolheu a louça suja de cima da bancada.

Ele começou a lavar os pratos. Antes, aquela pia estava empilhada de louça. A água fria congelava meus dedos, mas Dean não parecia se importar com isso.

Eu não tinha amigas, nunca recebi visitas, porque sentia vergonha da minha casa. Eu sei que todos devem ser humildes de aceitar o que tem e serem felizes com isso, mas eu não acredito que ninguém deseje o conforto. A água era sempre fria, o aquecedor não funcionava, as paredes e o teto... parei de contar os defeitos. Isso me deixava triste. Apertava meu coração. O plano era permanecer nessa vida só alguns meses enquanto Lizzie era pequena, eu não queria que ela formasse lembranças em uma casa velha e decrépita no subúrbio de Nova York.

Parti um pedaço da panqueca com os dedos e levei à boca. Aquilo tinha gosto. Era estranho, não era tão saboroso quanto deveria ser. Talvez fosse o costume de que tudo na minha vida fosse sem graça, ou até mesmo amargo demais.

- Aí, para, já deu - disse pra mim mesma. Essa pose de vítima não combina comigo. Melhor frear os pensamentos. Pensar demais só me faz chorar, e eu odeio chorar.

Olhei para fora, para a janela sem cortinas que mostrava um dia horrível. Um dia branco, cheio de neve.

- Você não me parece bem. - A voz de Dean estava mais próxima. Agora ele vinha até mim e se inclinou sobre o balcão que nos separava.

- Eu estou ótima.

- Não precisa mentir, agora eu te conheço com o palma da minha mão.

Ele começou a rir, mas parou assim que eu o olhei de cara fechada.

- Encerre esse assunto agora mesmo.

- Bem que você disse que iria me infernizar três vezes mais hoje.

Dean desistiu do seu posto e abandonou a cozinha. Eu o vi remexer o porta agasalhos e vestir seu sobretudo fino, que agora estava seco.

Antes que ele tocasse a maçaneta, Lizzy reclamou.

- Ei! Onde você vai?

Ela pareceu assustada. Se levantou rápido e esqueceu que existia panquecas e netflix.

- Só vou dar uma olhada nessa neve e ver se encontro o meu carro.

- Posso ir com você? - Ela até pediu, mas já estava decidida. Correu até os casacos e vestiu o mais quentinho.

Dean concordou silenciosamente ao vestir o gorro em Lizzie e a ajudar com as luvas. Os dois formaram uma duplinha ridícula e saíram sem nem mesmo me convidar.

Me vi só, naquela casa gelada, e isso me assustou. Mas não pensei. Não, como poderia? Pensar é para quem pode ficar parado, e eu não podia. Eu tinha uma filha para cuidar e um CEO arrogante para mandar embora.

Devagar, com a perna ainda latejante, me arrastei pela casa e vesti o meu casaco também. Tive esperança de os acompanhar, mas quando abri a porta so encontrei uma imensidão branca e um vento muito gelado.

Sai rápido e fechei a porta atrás de mim para preservar o pouco calor que tinha. Do lado de fora, nem sinal de Dean e Lizzy.

Foram atrás do carro dele, não era? Que bom. Assim ele poderia ir embora. Vai que Deus resolvia me ajudar e magicamente o carro voltava a funcionar? O gelo na estrada derretia é eu daria um tchauzinho ao Rei da Arrogância.

Suspirei. Era um bom pensamento, se não fizesse meu peito doer. Ele iria embora, e minha razão adorava essa ideia, mas meu coração... bom, ele é um idiota e nunca soube fazer escolhas certas.

O Natal esse ano estava sendo estranho. Geralmente eu tentava formar uma boa lembrança pra Lizzy, fazer ela feliz e esconder minha tristeza. Não que eu gostasse tanto assim do Natal, já que nunca ganhei nenhum presente do Papai Noel, ou qualquer benefício da magia natalina. Mas esse ano, bom, algo estava me distraindo. A chegada de Dean... não, não estou dizendo que trouxe alegria, mas até que foi divertido em alguns momentos.

Poucos.

Ele também vai partir, Ayla. Esse pensamento me invadiu, me fazendo tremer com algo que não era frio. Era medo.

Nenhum momento, não foi divertido em nada e ponto final. Me trouxe muita raiva e estou contente que ele vai embora logo!

Chateada, sentei no chão frio de madeira da minha varanda, no único pouco espaço em que a neve não estava acumulada. Qualquer um que passasse e me visse ali (o que seria difícil de acontecer) pensaria que estou louca. Mas o frio aqui fora tem uma vantagem. Ele congela as lágrimas e as impedem de cair.

Tinha esperanças que congelasse meu coração também.

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