A esperada primeira vez de M...

By marb_nina

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Esperamos a novela toda para ver a tão sonhada primeira vez de Mia e Miguel, mas para a frustração de todos e... More

Capítulo 1 - Enseñame
Capítulo 2 - Bésame sin miedo
Capítulo 3 - Nuestro Amor
Capítulo 4 - Así soy yo
Capítulo 5 - Camino Al Sol
Capítulo 6 - Celos
Capítulo 7 - Que Hay Detrás
Capítulo 8 - A Tu Lado - Parte 1
Capítulo 9 - A Tu Lado - Parte 2
Capítulo 10 - A Tu Lado - Parte 3
Capítulo 11 - Ser o Parecer
Capítulo 12 - Es Por Amor
Capítulo 13 - Probadita de Mi - Parte 1
Capítulo 14 - Probadita de Mi - Parte 2
Capítulo 16 - Quiero
Capítulo 17 - Hace Un Instante
Capítulo 18 - Feliz Cumpleaños - Parte 1
Capítulo 19 - Feliz Cumpleaños - Parte 2
Capítulo 20 - Outro Día Que Va
Capítulo 21 - Mi Delírio - Parte 1
Capítulo 22 - Mi Delírio - Parte 2
Capítulo 23 - Hasta que llegues tu
Capítulo 24 - Cariño Mio
Capítulo 25 - Este Donde Esté
Capítulo 26 - Latidos - Parte 1
Capítulo 27 - Latidos - Parte 2
Capítulo - 28 - Latidos - Parte 3
Capítulo 29 - Laura - Parte 1

Capítulo 15 - Sálvame

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By marb_nina

Terceira Semana

POV Mia

Após o desespero que senti por achar que estava grávida, o alívio e a gratidão por ter sido apenas um alarme falso me dominaram nos próximos dias que foram passando com tranquilidade. Nada era capaz de abalar a minha paz de espírito e, inacreditavelmente, a paz parecia ter voltado a reinar nessa casa. Meu pai ainda não tinha voltado ao seu normal, mas ao menos não voltou a tocar no assunto e não comentava nada ao ver Miguel entrar e sair da nossa casa como se eu não estivesse mais de castigo, apenas nos dirigia um olhar pouco amistoso e saia do ambiente sem falar nada. Dessa forma, Miguel passava aqui todos os dias após sair da empresa e na maioria das vezes acabava jantando com a gente, mesmo tendo sua presença ignorada pelo meu pai, o que era extremamente engraçado.

-Franco me deu boa noite hoje quando cheguei, acho que o ódio dele tá diminuindo. - Comentou meu namorado em uma noite dessas em que estávamos na sala após o jantar, comigo tendo a cabeça deitada no seu colo e recebendo um carinho gostoso nos cabelos.

-Tá com medo do sogrão, Miguel? - Roberta implicou rindo e folheando uma revista sentada em uma poltrona.

-Não é medo Roberta, apenas não é muito legal a sensação de ser fuzilado pelo olhar o tempo todo. - Disse arremessando uma almofada em direção a minha irmã que ria.

-Você queria o que? Quase engravidou a princesinha dele mesmo com todas as restrições que ele impôs. - Falou Josy, que estava sentada ao lado de Alma no outro sofá, em tom de deboche arrancando riso de todos.

-Se eu quase fui tia com o Culotti pegando em cima de vocês, imagina se não fosse assim, vocês já teriam um time de futebol a julgar pelos sons que chegam no meu quarto de noite. - Acrescentou Roberta despretensiosamente sendo repreendida por Alma e se defendendo do controle da TV que foi o primeiro objeto que achei e atirei em sua direção. - Nossa, que agressividade irmãzinha! Quando é pra acobertar o casalzinho aí, você não reclama né?!

Nesse clima descontraído e de implicância, os dias foram passando cada vez mais tranquilos, o incidente da semana passada esquecido, a rotina voltando ao normal e a relação familiar cada vez mais reestabelecida, parecia que enfim a calmaria tinha voltado a reinar... parecia.

Miguel precisava resolver uns documentos para a empresa e por isso não passou aqui em casa hoje, Alma terminava de arrumar o jantar que ela tinha feito questão de preparar para comemorar o retorno da harmonia da família e minhas irmãs estavam no andar de cima tomando banho, pois haviam acabado de voltar da academia, me deixando sozinha na sala a espera do meu pai para poder jantarmos. Eu passava despretensiosamente os canais da televisão em busca de algo que prendesse a minha atenção momentaneamente, quando ouvi a porta bater e meu pai entrar na sala com o olhar possesso. Primeiramente pensei que fosse algo em relação a empresa, mas o seu olhar gélido caiu sobre mim me fazendo arrepiar. Deus do céu, o que eu tinha feito de errado agora?

-Eu juro que tô tentando manter a calma, mas pelo amor de Deus Mia, toda semana é uma coisa diferente! - Ele disse visivelmente nervoso tentando controlar o tom de voz e evitando me encarar – O que significa isso? - Questionou jogando o que parecia ser uma revista de fofoca em cima da mesa.

Com as mãos tremendo peguei a revista que havia caído virada para baixo e assim que vi a capa, ofeguei em desespero. Era a edição do mês da TV Notas, a revista mais sensacionalista do México e que adorava difamar celebridades para ganhar audiência, por vezes eu até lia algumas de suas notícias em sites de fofoca, mas jamais pensei que algum dia eu estamparia a capa de uma delas, que eu seria a vítima de mais uma manchete sensacionalista.

A foto que ocupava a capa inteira era completamente apelativa, visivelmente tirada por algum paparazzi, a qualidade não era das melhores, mas infelizmente não havia dúvidas que era eu e Miguel ali. Era uma foto da balada em que fomos na praia, sim, aquela mesma em que eu tomei um porre astronômico, e aquela imagem não deixava dúvidas disso: Miguel e eu em um beijo longe de ser inocente, onde ele esmagava a minha bunda com uma de suas mãos e eu tinha as minhas no interior da sua camisa. Além da imagem falar por si só, eles fizeram questão de colocar círculos amarelos e setas vermelhas entorno desses detalhes para chamar ainda mais atenção. A manchete, em letras de forma garrafais, anunciava: "Mia Colucci e Miguel Arango são flagrados em um clima quente: o casal, que é vocalista da banda teen RBD, em uma versão só para maiores – veja a matéria completa nas páginas 24-30".

Aquilo só podia ser um pesadelo, meus olhos se encheram de água e com as mãos tremendo eu folhei a revista até chegar nas páginas indicadas e isso foi o suficiente para que as lágrimas lavassem o meu rosto. Puta merda, eram SEIS páginas inteiras de completa exposição da minha intimidade e com depoimentos absurdos, mentirosos e sensacionalistas que todos tomariam como verdade absoluta, afinal, não faltavam imagens para "provar" o que foi falado. Tinham fotos desde a nossa apresentação no palco com zoom em mim e no Miguel com foco na parte de coreografia de Cariño Mio, passando pela nossa briga no meio da festa onde não deixaram de ressaltar nossas lágrimas escorrendo pelo rosto e chegando a nós dois saindo do banheiro feminino com as roupas amarrotadas e o meu batom vermelho borrado. As imagens não deixavam muito para a imaginação e, quando eu pensei que não poderia piorar, ao virar a página me deparei com flagras onde eu vomitava no meio da rua sendo amparada pelo meu namorado.

Já aos prantos, não consegui me conter e li meio por cima as partes que estavam em destaque do texto e ofeguei: a matéria trazia depoimentos do que eles intitulavam de fontes próximas e colegas de colégio afirmavando coisas absurdas. A primeira entrevista era com o ex-inspetor e professor do Elite Way School, Gastão Diestro, que entre outros absurdos, contava sempre ter tido problemas comigo e com Miguel na escola, que nós nunca respeitávamos as regras, que fomos encontrados diversas vezes um no dormitório do outro e que, inclusive, fugimos juntos para Cancún durante o período letivo. Afirmava que o empresário Franco Colucci não conseguia controlar a filha que fazia o que queria e que, pelo meu comportamento dentro da escola, que incluía um strip tease em uma apresentação para os pais e insinuações para professores, ele não duvidava que logo uma gravidez fosse anunciada.

Filho da puta, insinuações para professores?! O desgraçado foi tão abusador que eu só consegui entender a extensão de todos os problemas daquela relação após meses de terapia! Ele me dizia que não tinha problema a diferença de idade porque nós dois queríamos, que eu era madura demais, que merecia alguém a altura e então começou a agir como se fosse meu dono, a ser abusivo em pequenas coisas que eu ia relevando e quando eu finalmente consegui dar um ponto final naquilo ele partiu para agressão física que, se Miguel não tivesse chegado justo naquele momento, eu nem sei o que poderia ter acontecido. Poderia ter sido muito pior, até hoje eu lembro o olhar de ódio que ele dirigia para mim, completamente fora de si, como se quisesse literalmente me matar. Eu passei meses sem conseguir ficar sozinha na escola, com medo que ele voltasse a me atacar e, que dessa vez, ninguém apareceria para me salvar. Agora, quando eu pensei que tudo isso tivesse acabado, ele retorna das cinzas para me pintar como vagabunda para todo o país. Será que isso fazia bem pro ego dele? Imaginar que eu fui a vagabunda que se atirou pra cima do professor e não a vítima de um relacionamento abusivo que conseguiu se livrar antes dele poder comer? Talvez fizesse, eu sabia as motivações reais por trás daquela entrevista e entendia que era inveja pelo sucesso que eu estava fazendo apesar de tudo que ele me fez, mas de qualquer forma, naquele momento eu sentia que ele tinha vencido. Ele queria me afetar, e conseguiu.

A próxima entrevista era com a minha suposta amiga e colega de escola, Sol de La Riva, filha de um importante empresário mexicano que afirmava que todos no colégio tinham conhecimento dos meus problemas com álcool, que essa não foi a primeira vez que Miguel precisou me socorrer bêbada e que, inclusive, isso teria sido motivo de diversas brigas entre nós, pois aparentemente meu namorado sentia ciúme do meu companheiro de bebedeira: Diego Bustamante. Nessa parte ela aproveitou para pintar Miguel como o anjo injustiçado e enganado da história e insinuou que, além de alcoólatra, eu mantinha uma relação extraconjugal com Diego, traindo não apenas Miguel, como também Roberta, minha própria irmã.

Era cada bobagem escrita que mais parecia que eles tinham criado um roteiro de novela pela criatividade nas invenções, mas o que me preocupava é que as pessoas acreditariam naquelas informações, ainda mais com fotos tão comprometedoras como aquelas. Pouco bastava eu saber que era mentira, não adiantaria explicar que aquela foi a primeira vez que fiquei bêbada na vida e que a realidade que eles pintaram de eu sair transando com todo mundo estava longe de ser verdade. Aliás, o problema estava justamente ai: o corpo é meu, a vida é minha, se eu quisesse fazer tudo isso é meu direito! Contudo, a sociedade sexista em que vivemos estava me julgando como se eu tivesse matado cachorrinhos em água fervente e não apenas exercido o meu poder de decisão sobre o meu corpo. Ao meu ver, o principal problema da manchete era o fato de eu estar bêbada, pois ainda era menor de idade e isso indiscutivelmente era um crime. Contudo, eu seria julgada muito mais por ser uma mulher livre do que por ter bebido. A verdade, é que meu inferno pessoal estava apenas começando e ter noção disso me deixava desesperada. O olhar de repreensão e julgamento que meu pai me dirigia no momento, era apenas um dos milhares que eu precisaria enfrentar nos próximos dias, minhas redes sociais seriam preenchidas de ataques, eu seria chamada de aproveitadora, de vagabunda, enquanto meu namorado seria colocado como o pobre inocente traído e apaixonado. Minhas irmãs me diriam para eu não dar bola para os comentários, eu até tentaria demonstrar superioridade e ignorar os ataques, mas a verdade é que ninguém consegue ser completamente alheio aos julgamentos de um país inteiro, não é?

Eu estava desesperada, os soluços irrompiam pela minha garganta e eu joguei a revista longe não querendo ler mais nada que pudesse me deixar ainda pior, ela bateu em um vaso que acabou caindo e quebrando no chão, se desfazendo em milhares de pedacinhos, assim como eu me sentia no momento. Quebrada. Violada. Desamparada.

Com o barulho do vaso quebrando e do meu choro que se tornou audível, como se ver os pedaços de vidros espalhados pelo chão de granito fosse tudo que eu precisasse para perceber que aquilo não era um pesadelo, Alma e minhas irmãs chegaram na sala querendo saber o que estava acontecendo. Eu apenas permaneci sentada com o rosto enfiado entre as mãos tentando controlar a respiração e ouvindo o meu julgamento ter início dentro da minha própria casa, no lugar em que eu deveria me sentir segura, amada e respeitada, mas que agora mais parecia que eu estava sendo acusada em um tribunal.

Roberta recolheu a revista e ofegou ao dar uma passada rápida de olho pela reportagem, Josy fez o mesmo e as duas se sentaram, cada uma de um dos meus lados, onde tentaram me acalmar e dizer que tudo ficaria bem. Será? Nesse momento eu não conseguia ver luz no final do túnel.

Alma estava completamente perdida e questionou o que estava acontecendo enquanto folheava a revista. A pergunta dela pareceu ser tudo que meu pai precisava escutar para desembestar a falar um monte de absurdos, que sinceramente, eu preferia ser surda a precisar escutar. O que estava acontecendo? Quando foi que meu pai tinha se tornado tão insensível? Poxa, eu era a filha dele, estava completamente abalada com os julgamentos públicos que sabia que viriam, eu só queria ter apoio da minha família dentro da minha própria casa, seria pedir demais?

-O que aconteceu foi que eu não deveria ter me deixado levar por vocês e ter sido tão liberal com Mia! - Afirmou revoltado andando de um lado para outro dentro da sala, enquanto Alma tentava se inteirar do que estava acontecendo ao folhear a revista soltando exclamações de pavor a cada manchete que lia. - Ela fugiu pra Cancún sem maiores repercussões, mentiu e me desrespeitou e quando eu a castiguei fui taxado de culpado! Fechei os meus olhos para as novas mentiras que ela contava pra encontrar o namorado e fingi não ouvir os boatos da vizinhança sobre o que faziam dentro do carro! Você me convenceu a deixar o castigo de lado argumentando que era melhor que eles ficassem dentro de casa do que na rua, mas me diz, nessa viagem eles tinham um quarto de hotel só para os dois, então porque diabos eu estou sendo obrigado a ver a minha filha estampar a capa de uma revista de fofoca como se fosse uma vagabunda?! - Exclamou indignado e eu me encolhi nos braços de Roberta ao ouvir suas palavras.

-CALA A BOCA! - Gritou Alma e nós três saltamos no sofá pelo susto. - Chega! Eu não vou admitir que você chame a minha filha de vagabunda, você entendeu?! - Disse apontando o dedo em riste em direção ao meu pai e uma das pequenas partes em que meu coração tinha se desfeito se aqueceu por ouvi-la me chamar de filha. - Eu entendo o seu nervosismo, sei que você não está pensando no que diz, mas você está passando de todos os limites admissíveis aqui, chega! Na minha frente você nunca mais vai tratá-la dessa forma! - Completou com uma raiva que eu nunca havia presenciado e, após respirar fundo, caminhou em minha direção se agachando a minha frente com tranquilidade e limpando as lágrimas que escorriam pelo meu rosto com carinho – Shiu meu amor, tudo vai ficar bem, ok? Sobe para o seu quarto com as suas irmãs enquanto eu converso com o seu pai, eu já vou lá encontrar vocês. - Orientou carinhosa com um beijo na minha testa.

Roberta meio que me arrastou para levantar do sofá, pois eu estava tão inerte que minha mente não raciocinava mais. Quando estávamos perto da escada meu pai ordenou que eu deixasse meu celular com ele, justificando que ele não tinha mais o que me tirar, já que visivelmente reter os cartões de crédito e a minha liberdade em ir e vir não havia sido o suficiente. Aquilo era tão absurdo que eu não conseguia nem explicar, Alma voltou a argumentar, mas sinceramente? Eu me encontrava sem forças para contraria-lo no momento, se ele queria o celular, ele o teria, simples assim. Minha mente estava no modo economia de energia e, pensando bem, o que eu menos precisava no momento era ter acesso as minhas redes sociais e receber a torrente de ódio e julgamentos que viriam delas. Por isso, sem falar uma palavra ou lhe dirigir um olhar sequer, retirei meu iphone do bolso da calça jeans e deixei em cima da mesa de centro, subindo para o meu quarto logo em seguida, acompanhada das minhas irmãs.

Os gritos de Alma e meu pai eram audíveis no andar de cima da casa, mas era impossível entender o conteúdo da conversa, pois o meu choro tomava a trilha sonora do ambiente, abafando qualquer outro som que viesse de fora do meu quarto. Fui consolada por Roberta e Josy, mas quando eu parecia me acalmar, alguma lembrança me tomava e tudo começava de novo. Josy estava deitada na minha cama e eu repousava a cabeça no seu colo enquanto ela acariciava os meus cabelos. Roberta havia puxado a cadeira da minha mesa de estudos e estava sentada na minha frente me tranquilizando.

-Mia... - Chamou Roberta carinhosa algum tempo depois, me fazendo olhá-la – Miguel tá ligando no meu celular, eu posso atender? - Questionou erguendo o iphone que vibrava enlouquecidamente. Assenti em concordância, imaginando o quão desesperado ele deveria estar com tudo isso acontecendo e ele sem conseguir falar comigo.

-Oi cunhadinho – Atendeu minha irmã certamente ouvindo meu namorado surtar do outro lado da linha. - Eu sei, nós já estamos sabendo... Franco chegou em casa revoltado, ele tomou o celular dela... Mia tá abalada. - Informou e logo me disse que Miguel queria falar comigo.

-Eu não vou conseguir falar... Faz uma ligação de vídeo pra ele. - Pedi, sabendo que eu cairia em prantos mais uma vez assim que ouvisse a voz do meu namorado e seria impossível ele compreender qualquer coisa que eu falasse. Estávamos acostumados a conversar por vídeo, ele me entenderia assim que me visse e olhar naqueles olhos verdes sempre me acalmava, então nossa melhor opção de comunicação no momento era por vídeo. Roberta o informou que faria a ligação pelo whats app e logo me perguntou se eu queria ficar sozinha para falar com ele, mas eu neguei. Não queria ficar sozinha nesse momento e jamais conseguiria descrever a cena que aconteceu lá em baixo, precisaria da ajuda delas para contar para Miguel. Então assim foi feito, como o imaginado eu voltei a chorar enlouquecidamente, meu namorado tentou me acalmar sem sucesso e eu percebi o quanto essa história o estava afetando também ao ver seus olhos verdes mareados e a voz trêmula em uma tentativa de se manter calmo para me apoiar. Miguel era a minha âncora e eu jamais seria capaz de agradecer o suficiente por tê-lo em minha vida. Não conseguimos conversar muito, ele queria vir ficar comigo para me acalmar, mas isso só faria o clima ficar ainda mais pesado com o meu pai e tudo que eu não precisava no momento era de uma nova briga, então ele me fez prometer que amanhã daríamos um jeito de nos ver e ficou um pouco mais tranquilo com a promessa de Roberta que sempre estaria ao meu lado e que ele poderia falar comigo a hora que quisesse pelo celular dela ou de Josy. A ligação só se encerrou, quando Alma adentrou o quarto e o convenceu que eu ficaria bem, nos despedimos de forma carinhosa e a única certeza que eu tinha no momento era que eu o amava com toda a intensidade do universo e que esse sentimento era recíproco.

Minhas irmãs foram dormir e Alma deitou ao meu lado onde passou a noite inteira, dormiu comigo, acariciando os meus cabelos, beijando a minha testa e afirmando infinitas vezes que tudo iria ficar bem, que eu não estava sozinha e dizendo o quanto ela me amava e o quanto se orgulhava de mim. Esse carinho acalmou o meu coração o suficiente para que eu conseguisse cochilar por algumas horas durante a noite, entretanto, quando a manhã chegou, parecia que eu havia sido espancada. A dor emocional era quase física e me fazia querer passar o dia inteiro deitada de pijamas no meu quarto, contudo, hoje era o dia em que eu costumava almoçar com a minha mãe e sem o meu celular, eu não poderia nem cancelar. Ninguém além de mim e do meu pai tinha o número dela naquela casa e, obviamente, eu não iria falar com ele, então por mais que Alma tentasse me convencer a não ir, eu não achava justo deixá-la esperando e quando Alma precisou sair para uma reunião importante a convenci a me dar um carona até o apartamento de Marina, onde secretamente eu esperava encontrar algum alento após tudo que fui obrigada a ouvir do meu pai na noite passada.

Minha mãe também já foi julgada como vagabunda pelos inúmeros erros que ela cometeu no passado, sendo o principal deles abandonar a mim e ao meu pai para fugir com o amante. Eu a perdoei quase que instantaneamente quando ela retornou e eu esperava que ela pudesse me orientar em como superar todo esse julgamento que, no momento, parecia não ter fim.

Em uma tentativa de não demonstrar o quão quebrada eu estava por dentro, passei uma leve maquiagem para esconder as enormes olheiras e coloquei um vestidinho florido justo até a cintura e solto na saia acompanhado de uma sandália rosa com um pequeno salto. Era uma roupa alegre, completamente o oposto dos meus sentimentos naquele momento. Eu estava sem celular, sem dinheiro e sem cartão, então dispensei a minha bolsa que ficou no meu quarto. Alma bem tentou me convencer a ficar com o telefone dela, mas eu recusei, preferia que ela estivesse com ele e assim que eu quisesse que ela buscasse usaria o celular da minha mãe para chamá-la. Com um beijo e um abraço carinhoso ela se despediu de mim e disse que estaria atenta para qualquer chamada a hora que fosse.

-Obrigada Alma, eu amo você! - Agradeci me estreitando em seus braços e agradecendo a Deus por tê-la colocado no meu caminho. Não sabia o que seria de mim nesse momento sem o seu amor e apoio.

-Não agradeça querida, eu sempre vou estar aqui. Também amo você, sempre vou amar! - Completou e eu desci do carro me dirigindo ao prédio da minha mãe.

O porteiro avisou que eu estava ali e minha entrada foi liberada, comecei a ficar ansiosa no elevador, não via a hora de vê-la e poder abraça-la, estava desesperada por algum conforto. Contudo, assim que a porta do seu apartamento se abriu, a feição em seu rosto me fez estagnar no local e abortar o impulso que eu estava de me jogar nos seus braços.

-Oi mãe. - Comecei tímida testando o terreno em que estava prestes a pisar.

-Oi, achei que seu pai não a deixaria vir hoje. - Responde seca, dando espaço para que eu adentrasse em seu apartamento. Não me dirigiu um sorriso, não me deu um beijo. Nada.

-Bom, por mais coisas que ele possa me tirar, ele não tem o poder de impedir que eu veja a minha mãe. - Expliquei óbvia, mas não gostei da sua colocação. Quer dizer que se meu pai me proibisse de vê-la ela aceitaria tranquilamente como se fosse a coisa mais normal no mundo?

-É por isso que as coisas estão como estão, você faz o que quer, ele não tem o mínimo pulso firme contigo! - Exclamou soltando um riso de deboche no final.

-Como assim?! Não entendi o que você tá querendo dizer. - Questionei indignada, uma parte de mim guardando a esperança de que eu havia entendido sua colocação errada.

-Eu estou dizendo que se ele tivesse te imposto limites, você não seria essa garota mimada e não nos obrigaria a passar a vergonha de ver as capas das revistas estamparem a vagabunda que você se tornou! - Gritou áspera me fazendo recuar um passo e sentindo as lágrimas que já nublavam os meus olhos descerem pelo meu rosto, lavando a maquiagem colocada ali poucos minutos atrás na tentativa de esconder o caos em que eu me encontrava. Eu levei uma mão ao peito, pressionando o local onde meu coração batia descompassado, quebrado, apunhalado. Suas palavras foram como facas perfurando-o e, de repente, até respirar se tornou difícil.

Por mais que meu pai tenha falado algo parecido noite passada, suas palavras não tiveram o mesmo impacto que as que eu ouvia agora. Sim, meu pai estava furioso, mas em nenhum momento ele me olhou dessa forma, como se tivesse vergonha de mim, como se eu não passasse de uma prostituta. Ele sabia que muito do que estava escrito naquela revista era mentira, afinal, ele presenciou muito daqueles fatos, como a relação abusiva que eu sofri com Gastão, inclusive esteve ao meu lado e me incentivou a fazer terapia para superá-la. Então, sua reação revoltada pela revista me pintar como uma vagabunda, era muito mais decepção pelas imagens do meu porre na balada do que qualquer outra coisa, bem diferente da reação que Marina estava tendo agora.

Eu conseguia ver em seus olhos que ela realmente acreditava em cada palavra que estava escrita ali, e estava pronta para me jogar na fogueira, assim como o resto do país, por minhas atitudes nada recatadas. Ela não tinha dúvidas, estava afirmando com todas as letras que eu era uma vagabunda e que ela tinha vergonha de mim. Além disso, ontem eu tinha Alma e as minhas irmãs ao meu lado para me consolar e apoiar, hoje eu estava completamente sozinha sendo acusada de coisas absurdas por uma das pessoas que eu mais amava no mundo e que deveria me proteger acima de tudo.

Eu tentava desesperadamente controlar o pranto que eu sentia subir pela minha garganta, pois eu não lhe daria o gostinho de perceber o quanto me abalou. Se existe uma coisa mais forte do que a Mia que ama incondicionalmente, é a Mia vingativa que surge quando é machucada. Miguel que o diga, foi apresentado em primeira mão a essa versão no nosso primeiro ano de namoro. E, nesse momento, eu me encontrava tão machucada que a raiva surgia instantaneamente, como um mecanismo de defesa para tentar aplacar e ocultar a dor insuportável dentro do meu peito. A única coisa que eu conseguia pensar é que queria machucá-la tanto quanto ela me machucou.

Dessa forma, limpei as minhas lágrimas rapidamente, com força devido a raiva que sentia e soltando um riso de deboche respondi quase sentindo o veneno escorrer pelos meus lábios:

-Mamãe, é óbvio que meu pai não conseguiria fazer milagre, não é? - Comecei debochada. - Afinal, não tem muito o que se possa fazer com o DNA das pessoas, e o meu carrega especificamente esse gene que herdei de você, o de VAGABUNDA!

Nem bem terminei de falar e senti o lado esquerdo do meu rosto arder pelo tapa que ela desferiu na minha face. A dor foi forte, por isso levei alguns segundos para assimilar o que havia acontecido, meu pai nunca levantou a mão pra mim na vida, o mais perto de sofrer violência física que eu havia chegado foi com Gastón, mas Miguel apareceu antes que ele pudesse me bater. Dessa forma, sim, a primeira coisa que minha mente absorveu daquela cena foi a ardência insuportável que eu sentia no meu rosto e o gosto metálico característico de sangue que se apossou dos meus lábios. Inconscientemente, levei a mão para o local afetado, pressionando na tentativa de amenizar a dor, senti meus dedos tocarem algo molhado na minha boca e ao retirar a mão observei que eram algumas gotículas de sangue. Foi isso que me despertou do transe. Minha mãe não apenas me bateu quando eu mais precisei do seu apoio, ela me bateu ao ponto de eu sangrar. A encarei sem acreditar no que havia acontecido e agora eu simplesmente não conseguia mais me fingir de forte.

-O que você fez?! - Questionei, mas na verdade era uma pergunta retórica, era uma tentativa de mim mesma me situar no que havia acontecido.

-E-eu... Eu não sei, me desculpa filha... Eu perdi a cabeça... - Tentou argumentar, mas eu já não conseguia mais prestar atenção nas suas palavras. A dor física começou a dar lugar a dor psicológica do que aquele ato significou, o choro preso na minha garganta parecia dificultar a respiração e eu comecei a hiperventilar. Eu sabia o que estava acontecendo, já senti isso antes, eu estava tendo uma crise de ansiedade e o último lugar em que eu queria estar era presa dentro daquele apartamento com a pessoa que me agrediu. Sem pensar em mais nada, eu sai correndo sem cabeça nem para esperar o elevador, corri em direção as escadas e ignorei os chamados da minha mãe, do porteiro e de Antônio que esbarrou comigo na portaria. Assim que alcancei a rua, puxei o ar com força e consegui liberar o choro que estava engasgado no meu peito, solucei me envolvendo com os meus próprios braços como se me abraçasse em uma tentativa de me acalmar.

Caminhei por algumas quadras sem rumo até conseguir pensar minimamente, quando percebi que estava no meio da cidade sozinha, sem celular, cartão ou dinheiro. Eu poderia caminhar até em casa, não era muito longe do prédio da minha mãe, mas só de pensar em ficar presa naquele lugar com o meu pai que havia me julgado tanto na noite passada, eu sentia a ansiedade tomar conta do meu corpo novamente. Se fosse há algum tempo atrás eu poderia apostar que ele surtaria com o que minha mãe tinha feito, mas agora seus pensamentos estavam imprevisíveis e eu tinha medo que ele achasse que eu havia merecido o tapa, eu estava sem condições emocionais de lidar com isso no momento.

O único lugar em que eu queria estar nesse momento era dentro dos braços de Miguel, só ele me forneceria a segurança, o conforto e o carinho que eu estava precisando agora. O único empecilho era que sua casa se localizava do outro lado da cidade, eu até poderia ir até a empresa, que ficava na metade do caminho, e pedir para algum dos motoristas me levar lá, mas além de não querer que mais ninguém me visse nesse estado lamentável, os motoristas seguiam ordens do meu pai e ele poderia ordenar que me levassem para casa, então desisti da ideia. Por fim, decidi que seria bom uma caminhada para que eu alinhasse meus pensamentos e tentasse me acalmar um pouco.

Eu não tinha nem noção de que horas eram, só sabia que já havia caminhado por um bom tempo, meus pés doíam como um inferno e eu lamentei ter colocado sandálias tão desconfortáveis pela décima vez durante o trajeto. Eu podia sentir as bolhas se formando através da minha pele e o calor insuportável me fazia transpirar com o sol dificultando a minha visão. Em determinado momento, comecei a me sentir tonta, não sei se pelo calor absurdo ou por estar há horas sem comer nada, ou talvez os dois em combinação, então me sentei um pouco em uma praça que havia no caminho para tentar recuperar as minhas forças. Eu ainda estava na metade do trajeto.

Alguns minutos depois observei o tempo se fechar e alguns pingos de chuva começarem a cair do céu, no início pensei que seria melhor do que o calor absurdo que fazia antes, mas logo arfei em arrependimento ao perceber que não se tratava de uma leve garoa e sim de uma tempestade que não tardou em cair. Hoje visivelmente não era o meu dia de sorte, levantei e retornei a caminhar tentando ignorar o barulho dos trovões que me faziam arrepiar de medo. Como nada é tão ruim que não possa piorar, resvalei no chão molhado a acabei caindo adquirindo não apenas um tornozelo torcido, como também um joelho ralado. Se tornou impossível voltar a andar com aquela sandália com o meu pé machucado, por isso as retirei e tornei a caminhar com os pés no chão.

Quando finalmente avistei o prédio de Miguel no horizonte, horas depois, soltei um suspiro de alívio. Nesse momento o sentimento que eu tinha é que havia sido atropelada por um caminhão, meu corpo inteiro doía, mesmo horas depois meu rosto ainda ardia quando era golpeado pela chuva que não parou de cair um instante, não havia palavras para descrever o que era o meu tornozelo após ser obrigado a caminhar lesionado por horas e os meus pés estavam em um estado lamentável. A dor física me incomodava, mas não chegava há um por cento do que o meu coração quebrado sentia no momento e, como se ele soubesse que o alento estava perto, se permitiu contrair e extravasar todos os sentimentos que eu vinha tentando conter durante o trajeto.

Quando eu adentrei a portaria do prédio de Miguel, as gotas da chuva já se confundiam com as lágrimas que molhavam o meu rosto e o soluços se tornavam incontroláveis. Seu Ernesto, o senhor simpático que era porteiro do prédio do meu namorado e que sempre me chamava de menina bonita, se adiantou preocupado.

-Deus do céu, o que aconteceu menina bonita? Você foi assaltada? Quer que eu chame o seu Miguel pra te encontrar?

-N-não... está tudo bem seu Ernesto, ele tá em casa? - Questionei, meio que gaguejando pelo choro, a única informação que me importava e o vi assentir respirando aliviada. - Certo, eu vou subir então. - Eu sempre tive passagem livre no prédio dele sem precisar ser anunciada e Seu Ernesto apenas abriu a porta do elevador para que eu pudesse entrar. Com o balançar do elevador a tontura pareceu voltar com força total, piorando a cada passo que dava ao encontro de Miguel, como se meu corpo soubesse que eu estava segura e que ele não precisava mais ser forte.

Toquei a companhia do seu apartamento e aguardei tremendo, não sei se de frio, ansiedade ou cansaço e observei se formar uma poça d'água ao meu entorno resultado da minha roupa e cabelo encharcados pela chuva torrencial. Quando eu senti que meu corpo já não aguentava mais e estava prestes a sentar no chão para evitar uma queda, a porta se abriu revelando Helena que arregalou os olhos ao ver o meu estado.

-Deus do céu, o que fizeram com você, querida? - Questionou preocupada, mas eu não tinha mais forças para responder. Utilizei toda a energia que meu corpo possuía atravessando a cidade, eu não comia nada há quase 24 horas, ontem eu não havia jantado e hoje acordei tarde indo direto encontrar a minha mãe tendo o almoço frustrado, então mal conseguia me aguentar em pé. Apenas neguei com a cabeça querendo falar que me sentia mal e senti mais lágrimas brotarem dos meus olhos quando minhas pernas falharam.

-MIGUEL, CORRE AQUI! - Gritou minha sogra amparando o meu corpo para que não caísse.

Em questão de segundos senti os braços de Miguel me envolverem e eu me agarrei a ele como se ele fosse o meu bote salva vidas em meio a tempestade, finalmente liberando tudo que eu guardava dentro de mim e sentindo o choro sair alto, esganiçado, como se tivesse revoltado por ter sido reprimido por tanto tempo. Independente da dor que me corroía por dentro, meu coração sabia que eu estava segura, que estava no lugar aonde pertencia, os braços de Miguel eram o meu verdadeiro lar e, contando que ele não me soltasse, tudo iria ficar bem.

POV Miguel

Desde ontem quando cheguei em casa após a empresa e minha mãe me mostrou aquela porcaria de revista de fofoca, eu estava transtornado. Tudo piorou quando eu soube da reação de Franco e vi o estado em que Mia ficou pela chamada de vídeo, vê-la chorar acabava comigo. Pior ainda era a ver chorar daquela maneira e não poder fazer nada, nem um abraço eu poderia dar a distância. Foi por muito pouco que eu não ignorei o seu pedido e fui ao seu encontro, mas Alma e minha mãe me convenceram de que eu deveria respeitar a sua decisão nesse momento, ela já estava sendo muito desrespeitada afinal.

Hoje de manhã fui rapidamente a empresa e resolvi só o essencial evitando ver Franco na minha frente de todas as formas possíveis, eu não sei o que seria capaz de fazer caso o visse. O burburinho quando eu cheguei foi gigante, os olhares e os cochichos me acompanharam por onde eu passava e isso me incomodava por saber que com Mia seria pior, me deixava doente não poder protegê-la de tudo. Contudo, eu faria tudo que estivesse ao meu alcance e já havia contatado o advogado responsável pelo RBD para que pudéssemos processar aquela merda de revista por calúnia, além de divulgar uma nota nas redes sociais da banda delatando as mentiras escritas ali e informando que todas as providências legais estavam sendo tomadas.

Falei com Roberta logo pela manhã e ela me disse que Mia estava dormindo, pois havia passado a noite em claro, e que depois iria almoçar com a mãe. Preferi deixá-la descansar e pedi para que minha cunhada avisasse para ela me ligar assim que chegasse em casa, eu estava com um péssimo pressentimento desse almoço na casa da Marina. Mia estava frágil, precisava de amor e carinho, coisas que aquela jararaca da mãe dela desconhecia. Dessa forma, passei o dia ansioso sem nem conseguir almoçar, minha mãe tentava me tranquilizar, mas eu podia ver que ela também estava preocupada. Quando foi por volta das duas da tarde não me aguentei mais esperar e liguei para Roberta que me atendeu no primeiro toque.

-Oi Miguel.

-Oi... Alguma notícia da Mia?

-Não, minha mãe a deixou na casa da Marina pouco antes do meio-dia e ela ficou de chamar quando fosse pra buscá-la...

-Isso tá estranho Roberta, quando foi que esses almoços duraram mais do que uma hora? Eu tô preocupado, ainda mais que ela tá sem celular... Pede pro Franco o número da Marina que eu vou ligar pra ela, preciso ouvir a voz de Mia para me tranquilizar.

-Não precisa, estamos todos preocupados aqui também, Franco acabou de falar que vai ligar.

-Ok. - Suspirei com certo alívio. - Me avisa assim que souber de algo.

-Pode deixar. - Concordou desligando o celular e eu suspirei nervoso. Minha mãe estava sentada ao meu lado acariciando os meus cabelos na tentativa de me tranquilizar e até Lolly já havia percebido a tensão no ar me trazendo um copo d'água.

Cerca de cinco minutos depois meu celular tocou, eu estava com esperança de ser algum número desconhecido desejando que fosse Mia me ligando do celular da mãe, mas era Roberta. Respirei fundo, ao menos ela deveria ter conseguido contato com a minha namorada.

-Oi, conseguiu falar com ela? - Questionei preocupado antes que ela pudesse falar qualquer outra coisa.

-Não, mas Franco falou com a Marina... - Falou e eu não consegui entender o resto da frase porque ao fundo eu ouvia as vozes de Franco e Alma bem alteradas. Nada bom.

-O que é isso? Não tô conseguindo te escutar, Franco e Alma tão brigando?

-Não, eles tão um pouco alterados apenas... Você tá no viva-voz, os sons tão saindo mais altos. - Explicou e o ruído de fundo diminuiu.

-Ok, mas o que a Marina falou? Conseguiu falar com Mia? - Voltei a insistir no que realmente importava.

-Miguel... - Começou com o tom de voz contido e um arrepio percorreu o meu corpo. - Mia não tá com ela.

-COMO ASSIM?

-Ela disse que Mia chegou e elas brigaram, que Mia não ficou nem cinco minutos na casa dela...

-Você tá querendo me dizer que Mia tá desaparecida há mais de três horas, sozinha, abalada emocionalmente e sem celular ou dinheiro pra chamar alguém? - Perguntei bufando e com o desespero já tomando conta. Eu sabia o quanto ela ficava abalada quando brigava com a mãe e ela já estava destruída pelos últimos acontecimentos, eu só conseguia imaginar o estado em que ela deveria estar, sem um celular para me pedir para buscá-la.

-É mais ou menos isso...

-Nossa, eu tô com vontade de esganar o Franco nesse momento por deixá-la vulnerável desse jeito!

-Miguel, você tá no viva-voz... - Me alertou Roberta querendo dizer que meu sogro havia ouvido a minha quase ameaça de morte.

-Foda-se, não posso me importar menos se ele ouviu ou não, a única coisa que eu quero é a minha namorada segura dentro de casa! - Afirmei categórico e minha mãe tentou me acalmar ao meu lado. - Certo, vou desligar, vou ligar pra Lupita, Vick, Celina e qualquer outro conhecido que eu tenha na minha lista de contatos perguntando se tem notícias de Mia.

-Tá bem, vou fazer o mesmo... Qualquer novidade eu te aviso. - Respondeu Roberta desligando a chamada e eu não consegui conter as lágrimas que escorreram dos meus olhos. Eu só a queria segura. Era pedir muito?

-Calma meu filho... Você vai ver que logo logo ela aparece. - Falou minha mãe acariciando o meu braço.

-Não tô preocupado com isso, também acho que ela vai aparecer, o que me mata é saber que ela tá sofrendo... Mia sempre some quando a dor é muito forte pra ela lidar, foi assim que começamos a namorar... Ela sumiu por algo que aconteceu e eu fui atrás dela... - Falei com um leve sorriso de canto em meios as lágrimas por lembrar do começo do nosso namoro, mas logo o coração ficou apertado de novo ao lembrar do estado que ela estava quando a encontrei no trailer da Alma aquela vez. Só queria poder abraçá-la logo.

O tempo foi passando e nenhuma informação nova chegava, nenhum dos nossos colegas de colégio sabiam de algo sobre o seu paradeiro e o meu nervosismo só aumentou quando o tempo virou e desabou um temporal. Mia tinha medo de trovões e ela estava sozinha em algum lugar nesse momento. Começou a anoitecer e eu não aguentei mais ficar esperando sentado sem fazer nada, mesmo sob os protestos da minha mãe fui ao meu quarto pegar a chave do carro, eu ia andar por todas as ruas da Cidade do México até encontrá-la.

Ouvi o som da campanhia e, quando eu estava me dirigindo para a sala, minha mãe gritou me fazendo correr. Nada poderia me preparar para a cena que eu vi, Mia estava encharcada, os olhos abatidos, o azul apagado, completamente sem brilho e mareado pelas lágrimas que não paravam de cair, mas para o meu desespero, isso não era a pior parte da sua fisionomia. Eu quase convulsionei de ódio ao perceber o seu rosto com a marca perfeita de uma mão, o local estava em um vermelho vivo que com certeza ficaria com alguns pontos roxos no dia seguinte, seu lábio inferior estava cortado e sujo com certa quantidade de sangue seco que coagulou no local. Além disso, ela visivelmente possuía mais machucados pelo corpo, percebi o joelho ralado, também com um pouco de sangue seco, mas tive que parar a minha avaliação minuciosa do seu estado para abraçá-la. Deus do céu, ela estava tão frágil, parecia quebrada, uma criancinha desesperada por cuidado.

A envolvi nos meus braços, sustentado todo o peso do seu corpo que estava prestes a desabar e acariciei seus cabelos empapados pela água da chuva, enquanto ela desabava aos prantos. Um choro que doía na alma e que me fez chorar junto com ela pelo sentimento de impotência que me tomava. A carreguei rapidamente para o sofá, a sentando no meu colo, enquanto minha mãe correu buscando um cobertor e envolvendo em torno do seu corpo em uma tentativa de aquecê-la. Lolly também se assustou ao ver sua melhor amiga daquela forma e apareceu toda fofinha com um copo de água para acalmá-la.

-Pelo amor de Deus, meu anjo... O que fizeram com você? - Questionei com a voz embargada, ainda a embalando no meu colo, mas assim como minha mãe, só obtive silencio em resposta. Entendi que ela não queria falar sobre isso no momento e a respeitei, tentando o máximo que podia a consolar. Eu acariciava seus cabelos, beijava sua cabeça e minha mãe e Lolly também não poupavam carinhos ao redor. Era desesperador vê-la naquele estado. Aos poucos, senti os soluços diminuírem e ela foi retomando o controle do próprio corpo.

-M-m-minha mãe... - Começou a tentar falar, apesar de gaguejar pelo choro que ainda persistia, apesar de mais fraco. - Minha mãe me bateu. - Completou e eu gelei. Minha mãe ofegou em choque e Lolly arregalou os olhos assustada. Eu entendia o choque, a primeira coisa que pensei quando a vi foi em algum assalto, por mais que eu odiasse a Marina, nem nos meus piores pesadelos achei que ela faria algo assim. Eu estava preparado para receber minha namorada machucada mentalmente, jamais fisicamente.

-Como é que é?! - Questionei tentando com toda a minha força conter a raiva que eu sentia, porque o foco agora era dar amor à Mia.

-Ela me bateu, eu tive uma crise de ansiedade e só queria te ver... Então eu vim, só que choveu e eu acabei caindo... - Explicou entre soluços.

-Amor, você veio caminhando do apartamento da sua mãe até aqui? - Questionei incrédulo. Era uma distância enorme, extremos opostos da cidade.

-Sim... Eu tava sem celular, não tinha dinheiro ou cartão pra pegar um táxi ou ônibus... - Explicou caindo no choro novamente. Isso era loucura, ela poderia ter pedido o celular de qualquer um na rua emprestado e me ligado, mas visivelmente ela estava sem nenhuma cabeça para pensar em algo. A abracei mais forte, voltando a embalá-la enquanto seu choro se intensificava mais uma vez.

-Shiuu meu amor, tá tudo bem... Por favor, não chora princesa, me bate, me xinga, grita comigo, faz qualquer coisa, mas não chora... Isso eu não posso suportar! - Implorei desesperado por vê-la assim e ela escondeu seu rosto na curva do meu pescoço, tentando abafar seus suspiros ali. - Shiuu, você tá segura agora, ok? Eu tô do teu lado e não vou sair nunca mais, não vou deixar ninguém mais te machucar...

-Ela precisa de um banho, Miguel... - Falou minha mãe, também com os olhos mareados alguns minutos depois, quando Mia já se encontrava mais calma. - Tá toda molhada, caminhou por horas nessa chuva horrível... Precisamos aquecê-la, vou preparar uma sopa pro jantar.

Minha mãe tinha razão, Mia já ficava doente com facilidade e ainda se expôs a uma chuva dessas.

-Bebê, tudo bem se eu der um banho em você? - Questionei beijando sua testa, pois visivelmente ela seria incapaz de tomar um banho sozinha. Ela apenas assentiu com a cabeça e eu a carreguei para o banheiro do meu quarto.

Minha mãe apareceu minutos depois com um banquinho para pôr dentro do box para que Mia pudesse ficar sentada e algumas toalhas limpas. Minha namorada já deixava ali os seus produtos pro cabelo, então isso não seria problema.

-Filho, eu trouxe uma muda de roupa dela que tinha no seu armário, mas tá muito frio pra ela ficar com essa blusa fininha... Peguei um moletom seu também. Deixei o secador de cabelo da Lolly em cima da sua cama, seca o cabelo dela depois.

-Certo, obrigada mãe.

-Qualquer coisa me chama, vou estar na cozinha. - Assenti em agradecimento e me voltei pra Mia que estava sentada na tampa do vaso sanitário olhando pro nada, sem expressão nenhuma no rosto.

-Hey, meu amor, vamos tirar essa roupa molhada... - Falei a ajudando a retirar o vestido e o resto da roupa que usava. Ela gemeu ao encostar o pé no chão e eu a peguei no colo evitando que ela forçasse ainda mais o tornozelo. A sentei em baixo no chuveiro e lavei com cuidado os seus cabelos, passando a mão entre os fios para desembaraçar. Ela reclamou quando a água bateu no seu joelho machucado e eu não me demorei mais que o necessário para retirá-la do banho a enrolando em toalhas brancas.

Mia estava calada e eu respeitei o seu silêncio, preferia vê-la assim do que aos prantos como há alguns minutos atrás. A ajudei a colocar a calcinha e ela balançou a cabeça se negando a colocar o sutiã, então vesti direto o meu moletom que ficava gigante nela, batia quase nos joelhos como um vestido. Coloquei uma de minhas meias nos seus pés e consegui arrancar um pequeno sorriso seu quando ela viu a estampa ridícula de ovos fritos da peça. Sorri em resposta e logo passei a pentear e secar seus cabelos com cuidado, quando estava terminando, minha mãe entrou no quarto seguida de Lolly. Ela trazia uma bandeja com um prato de sopa e um copo de suco de laranja, enquanto minha irmã tinha uma caixinha com alguns remédios em mãos. Peguei algodão e soro fisiológico para limpar seus machucados e ela reclamou como eu sabia que faria, Mia era pior que criança quando se machucava, some isso ao fato de estar sensível como estava e o resultado não seria bom.

-Ai amor, tá doendo... - Choramingou tentando se afastar.

-Desculpa meu anjo, mas temos que limpar... Depois eu dou beijinho pra aliviar, ok? - Sorri do bico fofo que ela fez em reclamação. Quando terminei, minha mãe ofereceu um comprimido para dor que ela aceitou sem pestanejar e engoliu com o suco de laranja.

-Eu não tô com fome, tô meio enjoada... - Reclamou da comida que eu tentava a fazer comer.

-Você tá enjoada porque faz tempo que não come nada, tem que comer bebê... Você comeu algo hoje? - Questionei e a cara de culpada que ela fez foi o suficiente para eu saber que a resposta era negativa. - Princesa, por favor... - Implorei e ela se rendeu tomando metade do prato de sopa e dizendo que não conseguia mais comer, não insisti, ao menos ela havia se alimentado um pouco.

Minha mãe e Lolly saíram do quarto deixando apenas a luz do abajur acessa e eu a puxei para o meu peito nos tapando com as cobertas. Fiquei ali acariciando os seus cabelos e em questão de minutos ela apagou exausta, passei levemente os dedos na marca do seu rosto onde já ficava arroxeado e ela estremeceu me fazendo ter vontade de socar a cara da Marina. Quem tinha coragem de bater em alguém como Mia? Era muita covardia. O lábio cortado, provavelmente por algum anel que Marina usava na hora, me deixava ainda com mais raiva. Suspirei cansado e, após deixar um beijo em seus cabelos, me desvencilhei dela saindo devagar do quarto. Sua família ainda não sabia onde ela estava e eu precisava avisá-los.

-Ela dormiu? - Questionou minha mãe assim que eu cheguei na sala, me fazendo assentir em resposta. - Que absurdo isso tudo meu filho, que mãe tem coragem de fazer algo assim?

-Não sei mãe, a única coisa que eu sei é que eu não vou sair do lado dela nunca mais e ai de quem tentar me impedir. - Falei determinado, pegando o celular para realizar a ligação. Roberta atendeu no primeiro toque.

-Oi, alguma notícia? - Questionou.

-Sim, Mia apareceu aqui. - Avisei e ouvi os suspiros de alívio do outro lado da ligação. - Eu estou no viva-voz?

-Tá, quer que eu tire?

-Não, tudo bem, é bom que todos ouçam o que eu tenho pra dizer... Olha, eu não tô brincando, NUNCA mais Mia fica sozinha com essa mulher que se intitula mãe dela, sério, nunca mais! - Avisei indignado.

-O que aconteceu, Miguel? - Franco questionou dessa vez, com o tom de voz visivelmente preocupado.

-O que aconteceu é que aquela imbecil teve a capacidade de agredir Mia!

-O QUE? - Franco, Alma, Roberta e Josy falaram em uníssono.

-Isso mesmo que vocês ouviram! Mia chegou aqui a pouco em um estado lamentável, Marina a esbofeteou com tanta força que o rosto dela tá marcado, tá inchado e o lábio tá cortado! Chegou até a sair sangue! - Acusei e foi uma confusão do outro lado da linha, Alma chorava e Franco gritava que iria matá-la, um minuto depois Roberta conseguiu acalmá-los para ouvir o resto da história. - Bem, isso aconteceu nos cinco primeiros minutos na casa da Marina, não sei o que ela disse pra Mia, mas o que quer que tenha sido a machucou de verdade... Ela tá desolada, me disse que não queria voltar pra casa por causa das coisas que Franco lhe disse e por isso veio pra cá... Ela caminhou o trajeto inteiro e, sim, Franco pode se sentir culpado porque isso é culpa sua! - Acusei sem dó, porque a raiva que eu sentia de vê-la naquela situação era gigante.

-Calma meu filho... - Falou a minha mãe.

-Não, tudo bem Helena, ele tem razão... - Respondeu Franco – Nada do que ele disser vai me fazer sentir mais culpa do que eu já estou sentindo.

-Ela andou o caminho inteiro porque você a deixou sem celular, cartão ou dinheiro para que pudesse pegar um ônibus! Lembre-se disso a próxima vez que for castigá-la por bobagem! - Terminei o meu desabafo colocando pra fora tudo que estava engasgado na minha garganta há muito tempo. - Mas voltando ao assunto, ela pegou chuva, acabou caindo, torcendo o pé, ralando o joelho... Enfim, ela frágil, tá machucada física e psicologicamente... Não tinha comido nada o dia todo, chegou aqui quase desmaiando de hipoglicemia...

-Como ela tá agora, Miguel? - Questionou Alma com a voz embargada.

-Um pouco melhor, conseguiu parar de chorar ao menos, ajudei ela a tomar banho, cuidei dos machucados, ela tomou um remédio pra dor e comeu um pouco de sopa... Agora tá dormindo.

-Certo, nós vamos aí vê-la... Você sabe se ela quer que eu leve algo daqui?

-Olha, certamente ela vai querer algo, mas agora não consigo nem pensar nisso... Não precisa trazer nada, tem bastante coisa dela aqui, se ela precisar de algo eu busco depois. - Respondi.

Cerca de 15 minutos depois, eles chegaram no meu apartamento e nos dirigimos ao meu quarto para que eles pudessem vê-la, mesmo que dormindo. Entretanto, quando adentrei o cômodo percebi que ela já estava acordada, meio sentada na cama, encostada nos travesseiros olhando pro nada.

-Hey princesa... Já tá acordada? - Questionei carinhoso sentando ao lado dela, a puxando para o meu peito novamente e beijando os seus cabelos. Alma, Roberta e Josy também se sentaram na cama de casal, do outro lado de Mia e Franco puxou a cadeira da minha mesa de estudos se acomodando ali e observando os porta-retratos que estavam em cima: um trazia uma foto minha e de Mia em Cancún na Ilha do Amor Eterno, era uma selfie em que nós dois estávamos deitados naquela areia reluzente, ela com a cabeça apoiada no meu ombro e eu envolvendo-a com um dos braços, os dois com um sorriso gigantesco em direção a câmera; a outra imagem eu havia colocado recentemente, era do nosso jantar de noivado, eu mordia a sua bochecha e ela tentava se esquivar com um sorriso lindo e sua mão empurrando o meu peito, dando destaque ao anel que reluzia no seu dedo. Eu daria qualquer coisa para que ela voltasse a rir assim.

-Você me deixou sozinha... - Explicou o porquê de ter acordado me tirando dos meus devaneios. Selei seu biquinho fofo de reclamação e estreitei meus braços ao seu entorno.

-Desculpa bebê, fui abrir a porta pra sua família, prometo não te deixar sozinha mais, ok? - Ela assentiu enfiando o rosto no meu pescoço e deixando visível o lado da face lesado arrancando um ofego coletivo de todos no quarto ao verem o hematoma se formando. Mia não teceu nenhum comentário sobre sua família, ignorando a presença de todos.

-Hey meu anjo, você está bem? - Alma questionou suave se aproximando dela e acariciando seu braço. Mia pareceu sair do transe e a olhou, os olhos azuis marejados novamente.

-Não... - Confessou voltando a chorar e se jogando nos braços de Alma que a abraçou, consolando-a como podia. O choro se intensificou, ficando alto como quando ela chegou e eu desviei o olhar daquela cena que fazia o meu peito sangrar, tentando conter as lágrimas novamente. Percebi que todos no quarto tinham lágrimas nos olhos por vê-la tão magoada assim.

-Oh meu amor, vai ficar tudo bem, ok? Eu tô aqui com você, não vou deixar ninguém te machucar assim de novo... - Alma a acalentou como conseguiu e ela foi se acalmando aos poucos. Roberta e Josy começaram a fazer planos mirabolantes de vingança contra Marina e conseguiram arrancar até um sorriso de canto de Mia em um momento.

O clima se tornou mais leve, mas minha namorada ignorava com maestria a presença do pai que não recebeu um olhar sequer dela. Em determinado momento, ele arrastou a cadeira em que estava sentado para perto da cama, em uma tentativa de aproximação e ela instantaneamente pulou pro meu colo, se aconchegando entre as minhas pernas e se agarrando a mim como se Franco pudesse nos afastar. Estreitei os meus braços ao seu entorno, transmitindo confiança, como se dissesse que eu não iria a lugar algum e pude ver o olhar de dor que atravessou os olhos do meu sogro ao perceber o quanto ela estava magoada com ele e, porque não, sentindo até um certo receio de sua presença.

-Filha... - Começou ele devagar. - Eu sei que você tá magoada, sei que tem motivos pra isso e que eu não tenho sido um pai muito bom ultimamente... Eu só queria pedir desculpas, quando você tiver os seus filhos vai perceber que muitas vezes a gente erra tentando acertar, sinto muito por ter te magoado... Eu amo você mais que tudo nessa vida e quero que saiba que vou estar sempre aqui por ti. - Completou com o tom de voz suave a encarando o tempo todo e sendo ignorado por Mia que tinha o olhar baixo e brincava com os dedos de minha mão que estavam entrelaçados aos dela. Após alguns segundos de silêncio absoluto no ambiente, quando eu pensei que ela não falaria nada, Mia suspirou e respondeu baixo ainda encarando as nossas mãos.

-Ainda é tudo muito recente... Eu tô muito magoada e não quero falar disso agora. - Franco assentiu respeitando a decisão de Mia, ninguém em sã consciência a forçaria a qualquer coisa nesse momento.

-Certo... Querida, você quer que eu traga alguma coisa sua pra cá? Miguel comentou que você quer passar a noite aqui... - Comentou Alma como quem não quer nada, mas eu sei que na verdade ela estava tentando decifrar o que se passava na cabeça da minha namorada que parecia aérea. Mia ergueu os olhos da cama pela primeira vez em muito tempo e procurou a minha mãe que estava encostada na porta do quarto.

-Na verdade, se Helena não se importa, eu pretendo ficar por um tempo... Não quero voltar pra casa, não me sinto acolhida lá. - Jogou a bomba no ar e pude sentir Franco ofegar ao meu lado. Ele levou a mão ao peito como se as palavras de Mia fossem facadas no seu coração, mas não se atreveu a falar nada. Ele sabia que no fundo merecia o rancor da filha, toda ação tem sua reação, afinal.

-Não fale bobagens querida, é claro que você pode ficar aqui! Eu sempre lhe disse isso, você é da família, essa casa também é sua e você pode ficar o tempo que quiser. - Falou minha mãe com carinho e Mia sorriu pra ela. Beijei os seus cabelos apoiando sua decisão.

-Então, você pode trazer algumas coisas pra mim? - Questionou Mia olhando Alma com os olhinhos de gato de botas que ela sempre fazia quando pedia algo.

-Claro meu amor, trago o que você quiser, é só pedir. - Respondeu Alma sorrindo.

-Não preciso de nada demais, algumas roupas, meus documentos e um cartão da conta em conjunto que eu tenho com Miguel dos lucros do RBD que estão dentro da gaveta da minha mesa de estudos e minha cartela de anticoncepcional que tá em cima da mesa de cabeceira.

-Tá bem, amanhã mesmo eu trago pra você. Não vai querer suas maquiagens também? - Alma perguntou rindo, pois todos nós sabíamos que Mia Colucci não vivia sem sua bolsinha de maquiagens. Contudo, para nossa surpresa, ela apenas deu de ombros sem se importar. Nesse momento, uma luzinha de alerta foi acessa em nossas mentes e trocamos um olhar preocupado. Algo não estava certo.

Alguns minutos depois eles se despediram e quando estavam saindo do quarto, Franco virou e avisou:

-Filha, eu deixei seu celular e seus cartões com a Helena... - Mia ergueu os olhos e encarou o pai pela primeira vez naquele dia.

-O celular tudo bem, mas os cartões você pode levar, eu não quero. - Falou com o olhar sério, sem uma gota de brincadeira no tom de voz.

-Como assim? - Questionou Franco sem entender.

-Eu não quero ficar com os cartões, você jogou na minha cara que me sustentava e que por isso eu tinha que ficar presa naquela casa... Pois bem, eu não quero o seu dinheiro, não quero nada que me prenda aquela casa... Vou usar os lucros do RBD até pensar em outra maneira, você se importa, amor? - Me questionou pelo dinheiro estar em nossa conta conjunta destinada à nossa futura casa.

-Claro que não bebê, é o seu dinheiro. - Respondi tranquilizando-a e de certa forma feliz por ela se impor e adquirir essa independência que era tão importante para o seu bem-estar.

-Filha, não precisa disso tudo... - Franco, ainda chocado pelas palavras da minha namorada, começou a tentar argumentar e foi impedido pela voz cortante de Mia que se exaltou.

-Eu falei que eu não quero mais o seu dinheiro! - Disse quase gritando e eu assumi o controle da situação a puxando rapidamente para os meus braços novamente na tentativa de acalmá-la e falei:

-Franco, acho melhor deixarmos essa conversa pra depois, foi um dia exaustivo e eu realmente não quero que ela se estresse com mais nada por hoje. - Falei e Franco assentiu em concordância.

-Você está certo Miguel... Não precisa ir na empresa essa semana, vou ficar mais tranquilo se você ficar com ela. - Falou e eu respirei aliviado, pois não queria sair de perto de Mia até ela estar minimamente melhor. - Filha, apesar de tudo, saiba que eu amo você, qualquer coisa é só me ligar. - Disse sem receber resposta mais uma vez.

Minha mãe os acompanhou até a porta e eu não sai do lado de Mia até que ela dormisse nos meus braços novamente, quando isso aconteceu, me levantei rapidamente para fazer minha higiene e colocar o pijama, logo voltando para cama para abraçá-la. Seu sono foi extremamente agitado, ela resmungava, choramingava e se debatia, me fazendo ficar acordado quase toda a noite para acalmá-la, mas só de tê-la ali nos meus braços eu ficava mais tranquilo. Eu nunca mais deixaria ninguém a magoar dessa forma, ou não me chamava Miguel Arango.

................................

Olá traumadinhxas, como estão? ❤ Capítulo um pouquinho mais tenso dessa vez, porque já que não vamos separar o nosso casal, precisamos achar alguma forma de trazer problemas pra que a história possa ter emoção.
Ficaram com pena da Mia? Eu tô morrendo de dó do meu bebê, mas foi importante esse baque porque agora ela assumiu o controle da vida dela de vez e ninguém vai poder se meter nisso.
Eu sei que vocês tão odiando o Franco, mas ele finalmente percebeu as merdas que tava fazendo e a partir desse capítulo ele não será mais um empecilho... Já não posso falar o mesmo da Marina, essa vocês podem odiar à vontade!
O que vocês acharam do capítulo? O que querem ver nos próximos? Pro pessoal que pediu cena de ciúme do Miguel, fiquem tranquilos que ela virá nos próximos capítulos! Deixem estrelinhas, comentários e eu volto assim que conseguir. Feliz dia do amigoo!! Beijinhos  ❤❤❤

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