88° ANDAR (Jikook)

By LuneInfinie

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***NÃO REVISADA*** Em busca de ser reconhecido pelo pai, dono da maior empresa de segurança tecnológica de Se... More

💡⚙AVISOS⚙💡
PLAYLIST 88° ANDAR
PRÓLOGO
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16💡⚙ #VHOPE #NAMJIN #YOONSUK
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EPÍLOGO
AVISOS

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By LuneInfinie

Voltando do futuro pra pedir que vocês comentem nos capítulos, nenéns, pfv. Porque estou corrigindo tudo, e os comentários de cada parágrafo corrigido, são engolidos pelo wattpad 😭. A vontade é de nem corrigir pra não perder os comentários, mas é preciso pq minha escrita era inferior do que é hj, e tenho que corrigir os erros. Conto com vcs, tá nenéns, pra comentarem bastante!😍

Eu roxo vcs!👉💜👈

Andei por cada centímetro daquele pequeno espaço, impaciente, cheio de pensamentos corrosivos em minha cabeça. O medo de morrer era real e impossível de ser ignorado. Como se não bastasse tamanha agonia, o funcionário que falou conosco não disse mais nada. Talvez a comunicação dele estivesse falhando também.

Deveríamos estar suspensos por dois ou três cabos, já que o elevador não pendia para um lado específico, mas quanto tempo faltava para que este desabasse por completo? Já faziam mais de três horas que estávamos ali.

Eu olhava para aquelas paredes cinzas, e o pensamento de que aquela poderia ser minha última visão antes de partir, me deixava louco. Eu era muito jovem para morrer em um lugar como aquele, Jimin também. Não era justo.

Meu peito apertava com aquela sensação, e Park não parecia muito diferente, apesar de estar novamente sentado, pensando em algo. Suas pernas dobradas contra o próprio corpo mexiam freneticamente.

— Não podemos ficar esperando o socorro chegar — joguei meus cabelos pretos, agora totalmente molhados de suor, para trás. — Vou mudar alguns valores da equação, pra ver no que dá.

Sentei no chão novamente, à sua frente, pegando o material, e o loiro apenas assentiu desanimado.

— Nós vamos conseguir, Jimin — toquei de leve em seu pé que estava na minha frente, e consegui sua atenção.

Eu não estava certo, tampouco confiante disso, mas precisava acreditar e agir. Sempre achei que não conseguiria fazer nada sob pressão, mas aquela situação estava me testando e, a única opção que eu tinha, era passar naquele teste.

Morrer estava fora de cogitação.

— É que quando a gente está assim, de cara para a morte, pensa em tanta coisa. — Fez uma meia confissão enquanto olhava para a minha mão.

Ele não parecia mais tão desconfortável com minha proximidade, afinal, a situação se tornou maior do que a timidez ou nossas questões pessoais.

— Quer desabafar? — perguntei, rindo fraco, enquanto afastava minha mão de si, e começava a rabiscar minha folha para não perder tempo.

— Não. — Como imaginei, ele disse e riu sem graça.

Park Jimin me parecia misterioso, não sei se já passou por dificuldades em sua vida, mas jamais passava a imagem de uma pessoa frágil emocionalmente.

Não o conhecia com propriedade para afirmar isso, mas sempre fui muito intuitivo e quase nunca errava minhas impressões com relação às pessoas.

Nesse tempo em que eu pensava enquanto trabalhava em minha equação, o elevador cedeu mais alguns andares, arrancando mais gritos nossos.

Porém, dessa vez o balanço foi um pouco mais violento, nos aterrorizando enquanto não tinhamos nada para nos segurar.

Park tentou levantar, provavelmente para se equilibrar, mas o elevador parou de forma tão brusca que o impacto o jogou no chão com força.

Mesmo tentando segurá-lo, eu também não tinha onde me apoiar. Assim sendo, foi inevitável que ele caísse, para o meu desespero.

— Meu Deus! Você está bem? — Arregalei os olhos enquanto o ajudava a sentar.

— Sim, não me ralei — respondeu fechando apenas um olho em uma careta de dor.

— Não se ralou mas seu corpo bateu com tudo no chão, deve estar dolorido. — Comecei a procurar por algum machucado em seu corpo com os olhos, mas ele estava visivelmente retraído com meus toques, então não quis forçar.

— Vai passar, vou ficar um pouco quieto e já melhoro — respondeu alisando os próprios braços.
— Minha glicose já deve estar baixando de novo, estou morrendo de sede e calor. Acho que vou tirar essa camisa também — passou a mão em sua testa suada, sua camisa social já grudava em seu peito e braços.

Eu queria que ele realmente estivesse sendo sincero, não apenas falando para não me preocupar. A queda foi forte para bancar o durão, mas decidi não insistir no assunto, devido seu visível desconforto.

— Não sei como você aguentou ficar vestido com ela até agora. Não sou nada resistente ao calor — murmurei desviando meu olhar de si para que não se sentisse constrangido, apenas peguei o protótipo e comecei a ajustá-lo da forma que eu achava que daria certo. Depois de um tempo voltei a falar.
— Acho que finalmente consegui deixar ele perfeito para abrir esse raio de porta.

Quando levantei meus olhos, vi uma cena que nem sei dizer se queria esquecer, ou aguardar no fundo da memória. Só sei que me fez engolir um bloco de concreto garganta abaixo.

O loiro retirava sua camisa, deslizando-a pelos ombros, assim como eu fiz anteriormente. Ao se livrar totalmente da peça, a primeira coisa que notei foi sua pele alva e uniforme, no peito e abdômen. A segunda, foi que ele tinha um piercing em formato de argola em seu mamilo esquerdo.

Um pouco contrastante, se tratando de um executivo. Meu pai sempre disse que nada em mim poderia mostrar o contrário do que eu queria passar para as pessoas.

Claro que ninguém vê um piercing no mamilo, mas era questão de auto policiamento, como dizia Jongsu. Enfim, nunca tive um piercing ou uma tatuagem, o que me parecia bem triste, pois eu gostaria de fazer. E o piercing do Jimin ficava tão bem nele.

Caralho, eu não quis, mas aquilo mexeu com a minha imaginação. Me praguejei umas cem vezes por observá-lo tempo demais. Qual era o meu problema? Com toda certeza Jae não gostaria nada de me ver secando o seu noivo.

Mas o que eu podia fazer? Meus olhos não me obedeciam, eu estava detido e cativo demais naquela imagem. Por sorte ele não percebeu, concentrava-se em dobrar sua camisa, e deixá-la ao seu lado.

Percebi ainda outro detalhe que quase me passou despercebido. Enquanto o rapaz se inclinava para o lado, vi uma pequena cicatriz em sua cintura que sumia no início de seu cinto de couro, em direção ao seu quadril, na lateral esquerda de seu corpo.

Era uma cicatriz na vertical e quase imperceptível, por ser praticamente da cor de sua pele. Parecia o tipo de marca que se ganha cirurgicamente, mas evidentemente que eu não iria perguntar. Seria muito invasivo da minha parte.

Jimin tinha músculos suaves, diferente dos meus, e um corpo magro, muito atraente no meu ponto de vista, apesar de apenas um corpo binito não me atraía. No caso de Jimin, no entanto, eu me encantei pela sua inteligência, gentileza, e assertividade.

Detestava o pensamento que passava em minha mente, mas comecei a imaginar como era a vida sexual dele e Kang Jae, seu noivo e amigo da minha família inteira. Ele devia amar esse piercing do loiro.

Jae era apenas um pouco mais alto que Jimin, diferente de mim que era mais alto que os dois. Qual deles seria o ativo? Ou seriam flexíveis? Park tinha esse jeito todo imponente e assertivo, eu não imaginava quais seriam seus gostos.

Difícil saber. Se bem que isso não era da minha conta, nem sei porque raios comecei a pensar naquela questão. Certeza que eu iria para o inferno quando morresse.

Olhar para o homem à minha frente, descalço, e sem camisa, me deixou um pouco atordoado, e nem estávamos mantendo contato visual. Para não correr o risco de infartar ao ser pego no pulo, levantei rapidamente com a chave e a acoplei novamente na porta do elevador.

— Essa é a última forma possível que a gente pode tentar para abrir ela não é? — perguntou-me, levantando do chão, e se posicionando um pouco atrás de mim.

Assim você dificulta pra mim né meu consagrado. Por que ele sabendo que estamos sem camisa ficou atrás de mim, falando tão perto assim? Era para acabar com o meu raciocínio?

Sinceramente Jeon, nem tinha espaço no elevador, eu criava cada coisa na minha cabeça que ainda bem que ele não podia ler mentes, apesar de me olhar como se me desvendasse inteiro.

Me detive à sua pergunta, para não desfocar ainda mais meus pensamentos.

Assim que o aparelho grudou na superfície, a luz azul que sempre acendia inicialmente, foi rápida em dar sinal dessa vez. Isso era bom, um sinal de que a porta estava sendo decodificada com mais rapidez e precisão.

— É, mas dessa vez a luz acendeu imediatamente, isso mostra que está decodificando mais rápido — respondi animado, e um pouco mais esperançoso. — É essa a configuração, não tem como não ser.

Após alguns minutos de espera, a luz ficou verde, mostrando que era aquela a configuração certa. Aporta seria aberta, contra todas as possibilidades que um dia imaginei que aconteceriam.

Mas como estava bom demais para ser verdade, após alguns segundos ela ficou vermelha, fazendo-me resmungar um "não" frustrado.

— Você viu isso? Ela reconheceu Jimin, ela ia abrir e falhou — apontei com as duas mãos para o objeto na porta. — Não entendo o porquê.

O loiro não me respondeu, apenas se aproximou da porta, ficando assim, na minha frente, dando-me a visão das suas costas. Levantou um braço e, com a mão fechada, deu três batidas na parte mais alta da porta que ele poderia alcançar.

Era até um pouco engraçado ele se esticando todo para alcançar uma altura que eu alcançaria com facilidade.

Após isso, repetiu a mesma ação na parte inferior da porta. Somente então percebi a diferença. Na parte alta da porta, o som fluía mais livre, já embaixo, era um som mais abafado e compactado.

Entendi o que ele quis checar, estávamos presos entre dois andares. Eu nunca teria pensado nisso tão rápido, nem preciso dizer que fiquei admirado por tal esperteza né.

— Não tem nada de errado com o seu protótipo. O cálculo está correto e a decodificação também, mas até ele possui um limite. Não vai abrir uma porta que teve seu sistema mais comprometido ainda, quando ficamos entre dois andares. — falou, em um tom de conformação, que me desanimou também.

É, além de inseguro sempre fui muito suscetível a opinião dos outros, também me afetava pelo humor das pessoas. Se alguém ficasse com cara de morto perto de mim, deviam providenciar dois caixões porque eu morria também.

Apesar de que nem precisava de ninguém para nublar meus pensamentos. Ver que o tanto que corri atrás para fazer algo importante tinha sido em vão, pois a chave não iria servir na hora em que mais estávamos precisando, foi devastador.

Será mesmo que os bombeiros chegariam antes que despencássemos mais? Duvidei bastante. Era tão injusto, cada um de nós tinha uma vida inteira pela frente, e estávamos cada vez mais perto da morte.

Sim, porque o elevador estava ficando mais instável debaixo de nossos pés, conforme o tempo passava.

— Honestamente não sei mais o que fazer. — Nem me dei o trabalho de desgrudar o objeto da porta novamente.

— Vamos sentar e esperar o socorro, torcendo para que a gente não beije o chão antes. — Jimin resmungou sentando novamente, em pose de índio.

Enquanto eu me aproximava para fazer o mesmo, uma voz — ruidosa pela interferência — ecoou pelo interfone do elevador.

— Olá? Quem estiver aí por favor me ouça com atenção. Não sabemos em qual andar esse elevador se encontra nesse momento. As câmeras não funcionam, não obtivemos resposta de quem está aí dentro, e o sensor do elevador falhou, por isso não conseguimos detectar em qual andar ele está.

A voz era mais grave e diferente da primeira que falou conosco anteriormente. Após a breve explicação, a pessoa pareceu falar com alguém próxima de si, já que sua voz ficou distante e quase inaudível, depois continuou.

— Aqui quem fala é Kim Taehyung, da sala de monitoramento e o corpo de bombeiros já está a caminho, mantenham a calma e aguardem, enquanto isso vamos tentar localizá-los novamente.

Encerrou seu discurso. Não tinha como manter uma comunicação, então não haviam motivos para a pessoa ficar falando conosco continuamente.

— Conheço o Taehyung, ele é meu amigo. Se soubesse que era eu aqui preso, ficaria desesperado — disse passando as mãos pelo rosto e cabelo.
— Aliás, se soubesse que nós estamos aqui, ele teria se esforçado mais, sempre foi muito prestativo. Tae provavelmente pensa que está apenas seguindo o protocolo mas que provavelmente não tem ninguém no elevador.

— Nem o culpo, quase ninguém pega esse elevador mesmo, sem falar que falhas não acontecem nessa empresa — falei olhando para meus pés, desanimado.

No momento em que tudo ficou em silêncio novamente, conseguimos ouvir um barulho agudo de, provavelmente algum fio, se rompendo. Voltei meus olhos para Jimin que estava com os seus, arregalados, em surpresa e horror.

— Que ótimo, estamos prestes a desabar de vez e o corpo de bombeiros ainda está "a caminho" — fiz aspas com os dedos. — Nem sabem mais onde estamos, como vão nos resgatar?

— Eu aceito desabafar agora, já que vamos morrer, deveríamos pelo menos uma vez na vida contar nossos segredos a alguém — respondeu, depois de um tempo em silêncio.

Que inesperado, Park Jimin, mas eu que não deixaria a oportunidade passar.

— Sou todo ouvidos — olhei para ele atento, incentivando-o.

— Ok, eu conto um segredo, se você também me contar um — fitava-me de forma inexpressiva provavelmente sondando minha reação.

— Ei, quem quer se confessar aqui é você. — O encarei desconfiado, desde quando um evento trágico levava a uma noite do pijama?

— Ah Jungkook, não custa nada, só estamos nós dois aqui mesmo, e talvez nem tenhamos a oportunidade de falar nossos segredos a alguém — insistiu naquela ideia, e na verdade, ela já não me parecia mais tão sem fundamento, se parasse para pensar.
— Te deixo até começar se você quiser.

— E por que eu iria querer começar? Vamos fazer isso de forma justa. O mais velho começa, tenho vinte e quatro, e você? — perguntei, no fundo usando o lance da idade apenas como uma desculpa para ter mais informações sobre ele. O porquê? Não sei.

— Ok, você venceu. Tenho vinte e seis, eu começo.

Após ter dito isso, ficou em silêncio. Acredito que estava pensando em como começar, porque contar algum segredo não era fácil, eu sabia bem disso.

— Jae sempre quis ser pai, você o conhece, ele adora crianças — girava sua aliança de noivado em seu anelar direito, com a outra mão. — É seu sonho mais antigo, e ele sempre me disse que quando casássemos queria adotar uma criança.

Não pude deixar de notar que aquela era a primeira vez que ele me falava de Kang Jae, no contexto do relacionamento dos dois, dado isso, fiquei o mais atento possível às suas palavras.

— Você não se sente pronto para isso? — questionei baixo, na tentativa de confirmar o que para mim ficou subentendido.

— Não é isso — respirou fundo e falou de uma vez. — Eu não quero ser pai.

Seus olhos, que estavam em sua aliança, pousaram em mim como se buscassem a minha reação àquela revelação, porém, mantive minha postura usual, não denunciando a pontinha de surpresa que tive.

Park estava certo, eu conhecia bem Jae, sabia que ele sempre se deu muito bem com crianças, e que seria um pai muito amoroso, por isso a minha surpresa. Acreditava que eles eram aquele tipo de casal que tinha os mesmos objetivos.

Mas era totalmente normal uma pessoa não querer ter filhos, eu não conhecia o Jimin, não sabia nada sobre a vida dele, então julguei aquilo como algo comum. Pude apenas deduzir que o que deveria ser difícil para ele, não era lidar com sua vontade, e sim com a de Jae.

Como iria dizer a um parceiro que sonhava ser pai, que ele não compartilhava da mesma vontade? Deveria ser bem difícil mesmo.

— Sei que uma hora vou ter que falar para ele, mas tenho medo de o decepcionar — disse com uma risada seca sem humor.

— Você não vai decepcioná-lo Jimin, se o amor de vocês for forte o suficiente, vão passar por isso. — O encorajei, mesmo sentindo uma pitada de incômodo dentro de mim, mas vi sua expressão fechar mais ainda.

Eu disse algo errado? Apenas falei que o amor deles poderia superar suas diferenças. Não é isso que dizem para confortar as pessoas? Por que Park ficaria tenso por isso?

Minha cabeça deu um nó completamente, mas aquele não era o momento para ficar analisando a situação, porque ele estava me olhando daquela forma novamente.

Daquele jeito, como se pudesse me ler inteiro, ao mesmo tempo em que não me dava uma migalha de expressão que pudesse denunciar seus pensamentos.

Aqueles olhos que mais pareciam dois quasares, puxando-me para dentro de si, sem que eu tivesse reação para me desviar deles. Ele sabia que fazia isso com as pessoas? Não acredito que ser afetado assim era uma exclusividade minha.

— Bom, de qualquer forma, se sobrevivermos vou ter que contar a ele — desviou seu olhar, acabando com a minha tortura pessoal. Sinceramente esse cara devia ser um feiticeiro.

— Sua vez, Jeon — gesticulou com a mão em minha direção, passando a vez.

Eu não tinha muitos segredos em minha vida, mas bastou pensar por um momento, e logo um bem grande veio em minha mente.

— Acho que a minha confissão é que, minha família não sabe sobre a minha sexualidade. — Fiz uma pausa dramática. — Eu sou gay e, sabendo que meu pai nunca aceitaria, permaneci em segredo até hoje.

Fiz o mesmo que ele em momentos atrás, o olhei em busca de algum sinal de surpresa que não veio, apenas suspirou e acenou com a cabeça.

— Deve ser difícil. Quando me descobri pansexual foi bem difícil de explicar aos meus pais. Por sorte eles foram bem compreensivos. — Deu um sorriso nostálgico, devia estar lembrando do momento em que conversou com seus pais.

Sim, era bem difícil. Nunca gostei de sexo casual, como já citei anteriormente, me considerava demissexual, tive uma namoradinha no ensino médio apenas para mostrar ao meu pai que eu namorava garotas. Os dois relacionamentos que vieram a seguir foram escondidos.

Aaron era um americano, e Donghae de Seul, foram relacionamentos à base de carinho, mas não era amor. Na verdade foram namoricos de menos de seis meses cada, que acabaram pelo mesmo motivo, medo que meu pai descobrisse.

Mesmo que houvesse respeito, carinho e sexo satisfatório, não era o suficiente para fazer eu assumir a mim e a outra pessoa à minha família. Talvez sempre fosse assim, já que meu pai me adestrou para me anular em prol de sua aceitação.

— Eu não teria a mesma compreensão que você teve de seus pais, talvez só da minha mãe, mas meu pai, nem gosto de pensar na reação que ele teria. Ficaria totalmente desapontado.

— Que droga hein — inclinou-se para frente, e apoiou seus cotovelos em suas pernas. — Reparou que ambos guardamos segredos por medo de decepcionar pessoas próximas a nós?

— É verdade. Acho que sempre vivi minha vida esperando pela aprovação dele, um mínimo de reconhecimento em qualquer coisa que eu fazia de certo. Quantas vezes deixei de aproveitar a vida como qualquer jovem, para trabalhar duro na empresa.

Eu sabia que estava entrando em uma parte dolorosa de minhas lembranças, mas já que estávamos naquele clima de desabafos, continuei.

— Nunca fui um filho que deu trabalho aos pais. Nem mesmo na adolescência. Não bebia, não fumava, não virava a noite em farras. Até a profissão do meu pai eu sempre sonhei em seguir, sendo que o comum é o filho de um CEO se rebelar e querer estudar... sei lá, música — chutei qualquer profissão distante da área administrativa. Quanto mais falava sobre o assunto, mais sentia as lembranças me desconfortando.

— Seu pai parece ser bem linha dura mesmo. — Jimin parecia meio sem jeito em mencionar Jongsu.

— Lembro que quando eu era criança e trazia meus desenhos da escola, minha mãe sempre dizia que estavam lindos, enquanto o poderoso Jeon falava "o meu filho pode fazer melhor do que isso". — Meu tom saiu um misto de deboche e amargura.

— Que horror, quem fala isso para uma criança? — bradou horrorizado, não era pra menos.

— O seu chefe — acusei. — Às vezes eu queria apenas que ele parasse um pouco de se gabar que veio do nada, enquanto eu nasci em berço de ouro. Parece que mesmo que eu conquiste até mais do que ele conquistou, nunca vou ser digno, porque já nasci privilegiado com tudo. Ainda por cima, todo mundo nessa empresa espera que eu seja igual a ele — respirei fundo, sentindo-me um fracassado, e joguei minha cabeça para trás, apoiando-a na parede metálica atrás de mim.

— Eu não — murmurou tomando minha atenção imediatamente, não existia hesitação em sua fala e sua expressão não vacilava.

Jimin me encarava novamente com olhos tão enigmáticos como sempre, desde que o conheci há poucas horas. Definitivamente ele tinha o olhar mais instigante que já conheci. Suas pálpebras sempre se moviam preguiçosamente em contradição com a veemência que aquelas orbes traziam em si.

Era impetuoso, exuberante e sempre me deixavam da mesma forma, estático. Como alguém possui tamanha força e potência com apenas um gesto? Como ele conseguia passar essa onda de energia que me violentava assim?

Suas palavras me atingiram em cheio, ele mal me conhecia mas tinha acabado de dizer que não esperava que eu fosse igual ao meu pai. O que Jimin viu em mim para achar que eu ser diferente do homem que fundou uma gigante como a High Security, era algo bom?

Sim, porque se ele não esperava, como todos, que eu fosse igual a Jongsu, só poderia significar que eu ser diferente era bom, na cabeça dele.

— Não? — perguntei estagnado, precisando de uma confirmação.

— Não. E mais, acho que está na hora de sairmos daqui e provar para todos que o seu protótipo é mais do que um trabalho de feira de ciências. — Ficou de pé rapidamente, e estendeu a mão para mim.

— Sinceramente, não sei se brigo por você insistir em uma coisa que obviamente não vai dar certo, ou rio por comparar minha chave a um "trabalho de feira de ciências" — sorri incrédulo, olhando para a sua mão, sem tocá-la.

— Oh senhor pessimista, o que você disse no começo? Que ela nunca funcionaria em uma porta de elevador. E a luz verde já até acendeu. Talvez seja o caso de a gente insistir mais um pouco — balançou a mão, apressando-me para levantar logo.

Pensei por um momento, analisando aquela opção. Não tínhamos mais nada a perder, né? Já estávamos ferrados mesmo, se o elevador cedesse mais, era arriscado os cabos que ainda nos seguravam romperem.

Olhei para o homem sem camisa de pé na minha frente, com aquela postura confiante, olhei para sua palma pequena, e a toquei, apoiando-me nela para levantar.

— Ok — respondi, decidido a dar uma chance à sua determinação.

Viramos em direção à porta e logo apertei a tecla de ligar do objeto, que ainda se encontrava acoplado nesta. Já estava tudo configurado, então só me restava esperar o protótipo fazer o reconhecimento, enquanto meus olhos incrédulos esperavam por mais uma falha.

E esta veio, como previ, ele fez o mesmo que da última vez. Ficou com a luz verde mas não sustentou, e logo depois apagou.

— Eu disse, você que n-

Senti a mão de Jimin na minha, e foi super estranho, um calafrio me tomou a pele devido a surpresa. Ele estava realmente segurando a minha mão?

— Tenta mais uma vez, por favor. — Me pediu, apertando de leve a minha mão. Eu não conseguia dizer nada, estava embasbacado com sua atitude, mas não o repreendi.

O problema não era tentar novamente, afinal o processo durava cerca de dois minutos. O problema era a esperança que ele estava criando com aquilo.

— Por favor, Jungkook — pediu mais uma vez, vendo a minha hesitação, e eu bufei vencido.

Liguei novamente a chave, para deixá-la fazer novamente o reconhecimento e, quando pensei que obteria o mesmo resultado, a vi ficar mais tempo com a luz verde acesa.

Olhei para Jimin, com os olhos arregalados em surpresa, e este já começava a sorrir contando vitória. Pior que não contou errado, porque daquela vez o aquela luz não apagou.

O que tanto esperávamos há horas se tornou realidade, e mal podíamos acreditar. Depois de tanto sufoco, de ficar em pânico, se machucar, e até perder as esperanças, finalmente aconteceu.

As portas abriram...

Infelizmente nem tivemos tempo de comemorar, logo vimos o que já sabíamos, o elevador estava entre dois andares, em uma área deserta do andar. Ou seja, ninguém para nos ver aqui. Os rapazes da sala de monitoramento também não sabiam onde estávamos.

Honestamente, quando os bombeiros chegassem, minha vontade era mandá-los embora. A não ser que o elevador despencasse mais ainda antes de saírmos, e eu não tivesse mais voz para falar.

Jimin e eu nos olhamos, sem sabermos o que exatamente faríamos para sair dali, mas era meio óbvio que teríamos que considerar sair pelo corredor de cima, já que o espaço era maior e, se fossemos sair pelo andar debaixo, o risco de sofrermos uma queda feia era maior.

— Então... quem de nós dois vai sair primeiro? — Deu-me uma olhadela, com a testa franzida.

— Fique à vontade — gesticulei em direção à porta, com um sorriso disfarçado.

— Medroso — retrucou, esticando o braço para tocar no piso que dividia os andares.

Seria um pouco difícil para ele subir sem ajuda, devido a sua altura, mas preferi ficar calado e esperar para ver se ele pediria a minha ajuda. Olhou para meu torso nu, e o que disse não foi nada do que eu esperava.

— Melhor nos vestirmos antes, a gente pode esbarrar com qualquer pessoa no corredor — engoliu seco, direcionando sua atenção ao meu rosto, e pediu o que queria.
— Você poderia me ajudar a subir?

— Claro, vou só colocar a camisa — peguei a peça de roupa do chão, e comecei a vesti-la, enquanto Jimin fazia o mesmo.

Trocamos olhares em alguns momentos enquanto abotoavamos nossas camisas, eu completamente tímido e ele parecendo sem jeito.

— Antes de eu sair também, vou te entregar nossas bolsas, e a maleta com o protótipo — apressei-me em pegar a chave, que tinha caído no chão quando as portas abriram. Guardei esta na pequena maleta que logo coloquei na bolsa, juntamente com meu caderno, e algumas folhas soltas, onde havíamos rabiscado.

Sentíamos a instabilidade do elevador, como se ele constantemente derrapasse entre as paredes. De vez em quando o metal rangia levemente, como se nos avisasse para sermos ágeis.

— Está pronto? — perguntei, e o loiro assentiu quando já estávamos de pé, próximos da saída estreita.

Virou-se de costas para mim, e colocou suas mãos no concreto do corredor lá fora. Quando pus as minhas em sua cintura para o impulsionar para cima, percebi que ele tremia. Jimin estava receoso, com medo.

Mesmo ele, um homem confiante, entendia os riscos que ainda estávamos correndo. O conhecia há pouco tempo, mas eu podia imaginar que ele tinha medo de não ver mais sua família, seu noivo, seus amigos, porque eu não estava diferente.

— Calma — firmei um aperto em sua cintura enquanto sussurrava próximo ao seu ouvido e ele ofegou baixinho, não o suficiente para que eu não ouvisse.

Virou subitamente seu rosto para trás, em minha direção. Sua respiração havia acelerado, e seus lumes fitavam todo o meu rosto, pelo visto, minha tentativa de fazê-lo relaxar não tinha funcionado.

— Está tudo bem, só...vamos logo com isso. — Voltou a dar atenção à saída e pegou impulso com a minha ajuda, conseguindo facilmente sentar no chão do andar acima, do lado de fora.

Sorri aliviado, quando Jimin puxou seus pés totalmente para fora do elevador, e pôs-se sentado, livre daquela prisão.

— Deu certo! Agora é você, vem, Jungkook! — bradou animado, estendendo os braços para mim.

Enquanto sorríamos pela recente conquista, o elevador cedeu mais, diminuindo aquela passagem que já não era tão espaçosa. Arregalamos os olhos de imediato, espantados.

— Vou te dar as coisas primeiro. — Me agachei juntando nossas bolsas em uma mão.

— Que droga, Jeon, não temos tempo, vem logo! — gritou desesperado, e eu me virei, podendo ver que o elevador continuava descendo centímetro a centímetro, vagarosamente. — Vem, agora!

Do jeito que eu estava, atirei as bolsas apenas para que elas passassem para o lado de fora, não esperando que o rapaz as pegasse. Debrucei o corpo sobre o concreto, que agora estava mais alto, por eu estar caindo aos poucos junto com o elevador, e peguei impulso para cima com dificuldade, mesmo sendo puxado por Jimin.

Quando metade do meu corpo já estava do lado de fora, percebi que estava quase encurralado. Apressei-me, puxando minhas pernas contra meu corpo, enquanto aquela cabine metálica parecia desabar mais rapidamente a cada segundo.

— Jungkook! Jungkook! — Park gritava, e me puxava desesperadamente.

Só percebi que não estava completamente do lado de fora quando senti uma dor absurda em meu pé direito, que estava começando a ser esmagado pela passagem, que naquela altura já estava minúscula.

— Tira o sapato! — exclamou, já puxando meu pé do calçado.

Uma saída rápida e inteligente, afinal a parte presa era a sola grossa do sapato, o que daria espaço o suficiente — se eu fosse rápido — para retirar o pé quase ileso dali.

Não perdi tempo, no mesmo instante em que ouvi a sugestão, puxei o pé com força, com a ajuda de Jimin, ouvindo aquele ranger de metal angustiante.

Nos esforçamos tanto que, quando o pé desprendeu do pequeno espaço, praticamente caímos no chão, por causa do impulso. Enquanto isso, o calçado caiu para a parte de dentro do elevador, e desceu com ele rumo ao andar debaixo.

— Meu Deus, meu Deus! — gritei num sussurro, aliviado por estarmos os dois seguros.

— Sim...meu Deus. — Se permitiu suavizar a expressão, com a mão sobre seu peito. — Nem acredito que conseguimos. Não vamos mais morrer...

Não pensei duas vezes, sorri e o abracei, sendo imediatamente retribuído, sem dificuldade pela proximidade. O alívio por estarmos respirando livremente, depois de horas presos, foi tamanho, que não ligamos por estamos suados ou não sermos tão próximos.

Aliás, eu me sentia mais próximo de Jimin depois de tudo. Vivemos uma situação de quase morte juntos, compartilhamos o medo do futuro, e tivemos que cooperar para nossa sobrevivência juntos.

Em um curto espaço de tempo contamos segredos, fizemos confissões nunca feitas antes, e cuidamos um do outro de uma forma quase íntima, quando foi preciso.

Esse é o tipo de situação que une as pessoas. Pouca gente passa por isso e, criar uma espécie de elo, foi meio inevitável. Ele também sentia isso, seu abraço foi o comprovante que eu precisava.

Depois de alguns minutos, fomos nos afastando aos poucos, e aquele momento tinha tudo para ser desconcertante, por causa da proximidade de nossos rostos, mas não foi.

Seus olhos iluminaram-se, e sua boca se curvou em um sorriso largo, cheio de dentes. Não parecia o Park Jimin que eu via pelos corredores andando naquela postura reta, cabelo impecável, que esbanjava seriedade e até uma certa impessoalidade.

Ele se assemelhava mais a um menino feliz, que tinha acabado de ganhar um brinquedo que tanto queria. Era candura que eu via em sua face.

Ouvi algumas vozes distantes de nós, e passos apressados, mas eu estava preso demais no que via em minha frente para prestar atenção nos arredores.

Porque foi ali, naquele corredor, nós dois suados e sentados no chão de um andar que eu ainda nem sabia qual era, que eu vi pela primeira vez aquele sorriso que iria mexer com meus pensamentos em uma proporção inimaginável.

Parece que nossos confinados ganharam a liberdade!


É natural essa sensação de timidez, os dois não se conheciam e tiveram que ficar muito próximos do nada, mas vai ser legal ver como aos poucos eles vão se aproximando.

Próximo cap já vai se passar todo fora desse elevador, amém? kkk

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