𝐖𝐚𝐧𝐝𝐞𝐫𝐢𝐧𝐠 𝐇𝐚𝐧𝐝𝐬...

By LiaPZA

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Louis Tomlinson, responsável pelo setor de finanças da empresa aeronáutica do padrasto e obcecado por control... More

AVISOS IMPORTANTES
Primeiro capítulo
Segundo capítulo
Terceiro capítulo
Quarto capítulo
Quinto capítulo
Sexto capítulo
Sétimo capítulo
Oitavo capítulo
Nono capítulo
Décimo capítulo
Décimo primeiro Capítulo
Décimo segundo Capítulo
Décimo terceiro Capítulo
Décimo quarto Capítulo
Décimo quinto Capítulo
Décimo sexto Capítulo
Décimo oitavo Capítulo
Décimo nono Capítulo
Vigésimo Capítulo
Vigésimo primeiro Capítulo
Vigésimo segundo Capítulo
Vigésimo terceiro Capítulo
Vigésimo quarto Capítulo
Vigésimo quinto Capítulo
Vigésimo sexto Capítulo
Vigésimo sétimo Capítulo
Vigésimo oitavo Capítulo
A liberdade de um quarto fechado
Vigésimo nono Capítulo
Trigésimo Capítulo

Décimo sétimo Capítulo

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By LiaPZA


Notas da autora:

Olá, meu amores, como vocês estão? Eu estive meio pensativa essa semana sobre os assuntos que venho tratando nessa obra, e confesso que estou com receio de estar fazendo isso de forma errada. Gostaria de saber da opinião de vocês e da ajuda também, e caso eu esteja falando sobre algo de forma errada, peço para que me avisem e sejam sinceris. Eu não vou abandonar essa história por isso, podem ter certeza, mas eu preciso ter a consciência de que estou falando coisas corretas e que não machuque ninguém.

Agora sem esse papo sério, fiquei ansiosa pra carambaaaaaa pra postar essa capítulo, porque como vocês devem ter visto, estamos com uma capa maravilhosa e novinha em folha que a onee_dits fez aaaaa. Eu amei demais o trabalho dela e recomendo muitooo. Agradeço! ♥️♥️

Muito amor para todos vocês.

//

Louis sentiu como se tivesse tido um sonho maravilhoso e sensitivo demais, logo depois sendo banhando por um pesadelo que o deixara sem ar, pingando de suor e com o estômago completamente embrulhado. Sua mente rodopiava, mesmo que ele só enxergasse escuridão, como se ele estivesse em uma montanha russa alta e aventureira demais.

Ao abrir os olhos, ele teve de fechá-los novamente em questão de milissegundos. Aparentemente não era nada cedo, e sua mãe não havia se importado de fechar as cortinas dessa vez. Na sua mente, um martelo batia incessantemente como se o avisasse que algo estava errado e ele precisava se levantar.

      Havia um peso em seu corpo, quente e não tão leve. Ele mexeu as pernas num ato preguiçoso de quem está ocupado demais dormindo para se importar com algo, mas não era bem assim. Pele contra sua pele, coxa contra cintura, e então, o contrário do que ele desejou aconteceu.

     Essa era a única parte ora descente de bebidas alcoólicas, não se lembrar das merdas que fez ou deixou serem feitas na noite anterior. Pois bem, era assim que deveria ser. Mas o quadril magro em cima de sua virilha não parecia nenhum pouco uma sensibilidade aguçada demais, e sim um fato experiencial.

Ele tampou parcialmente os olhos para que pudesse abri-los sem que a luz o cegasse, e demorou um tempo até se acostumar com aquilo. Observou ao redor e tudo estava como na noite anterior, exceto a falta do colchão em que as irmãs dormiam. Harry estava sobre seu peito até agora, completamente adormecido, com o cabelo comprido esparramado e a mão direita sobre o ombro de Louis, que tirou um tempo para observar seus dedos, agora carregando um único anel naquela mão, o que ele o dera na tarde de sexta-feira.

Tudo piorou de repente. A ânsia aumentou subitamente junto com a angústia, e um bolo subiu pela sua garganta. Ele falhou completamente ao tentar ter delicadeza para empurrar Harry de cima de si, afastando seus ombros para o outro lado até que seu corpo caísse sobre os lençóis e as duas peças de roupa molhada que ambos usaram na jacuzzi.

Era tirar a coberta de Styles ou a sua própria, e entre desrespeita-lo ou caminhar nu até o banheiro, ele com certeza escolheu a decisão mais coerente, correndo e se agachando no chão em frente o vaso sanitário, despejando ali todo o uísque que tomou no dia anterior e todas as palavras proferidas em deleite quando estava na cama com Harry, dando lugar apenas ao arrependimento e um corpo cansado, dolorido e do avesso.

Conforme a água do banho caia em seu corpo numa tentativa de solucionar a dor, raiva e frustração, ele se lembrava de cada momento como um flash de um filme que assistiu há anos, ainda que ele soubesse que tinha sido tão real quando a vermelhidão em seu membro. Os lençóis se mexendo e a vontade de observar como tudo acontecia ali embaixo, descendo e subindo, o enlouquecia mais uma vez, desejando que não se pasasse de um sonho erótico ótimo, mas não.

As coisas tomariam um rumo ainda mais diferente agora e ele sabia disso. Por essa razão, enrolou tanto tempo ali, desejando sumir, desejando que Harry sumisse de repente como se tudo tivesse sido uma miragem, e pensando nas hipóteses do porquê as irmãs não haviam dormido lá e como o colchão havia sumido. Ele ficou nervoso com esse pensamento e respirou fundo milhares de vezes após sair do banho, enrolando uma toalha na cintura e desejando que roupas aparecessem ali num passe de mágica.

— Merda, merda, merda — bateu na testa diversas vezes. — Idiota! Como você é idiota!

     É isso que a bebida faz, pensou, uísque idiota.

     Abriu a porta devagar e olhou ao redor, Harry ainda dormia feito um anjo, mas ao contrário de como o Tomlinson o havia deixado, ele estava deitado com as costas para cima, com o rosto no travesseiro alheio e a boca vermelha suspirando em sua mão apoiada próximo de sua face. Havia uma curva tentadora no final de sua cintura, que Louis se sentiu culpado por observar por alguns segundos e imaginar como seria por debaixo daquele lençol fino. Ele se perguntou se Styles havia despertado e visto que tinha sido deixado, se questionou se ele se lembrava. É claro que sim, respondeu a si mesmo, estava completamente acostumado com aquilo tudo.

     Louis saiu dali, caminhando entre o corredor silencioso em direção do closet, colocando uma roupa qualquer de frio e procurando seu celular pelos bolsos das roupas que usou no dia anterior, a fim de encontrar algo que explicasse todas as suas questões.

— Dormiu bem?

Colocou a mão no peito pelo susto que levou com a voz grossa e olhou receoso para trás.

— Não, uma merda e a culpa é de vocês — respondeu.

— Ninguém enfiou nada na sua boca, Tomlinson.

Ele quis rir, era melhor isso que chorar.

— Tanto faz — voltou sua busca.

— Está procurando isso?

Liam, que antes tinha seus braços cruzados rente ao peito e o corpo encostado no batente da porta, mostrou em sua mão o aparelho telefônico de Louis, que ao ve-lo, correu e tirou de seus dedos.

— Onde encontrou? — questionou ele.

— No sofá junto com o seu livro. Achei quando fui arrumar um lugar na sala para as meninas dormirem e sabe, Louis... você não pareceu estar tendo uma noite tão ruim assim.

Ele congelou. Liam sabia.

— Ah-a, eu... eu... — gaguejou, não sabia o que dizer. — Não tem nada a ver, nada. Você está enganado.

— Do que você está falando? — Payne franziu as sobrancelhas.

— O que você viu, quero dizer, — se desesperou — o que você acha que viu, não nada é isso.

— Não é nada isso o que, Louis?

O mais velho bufou.

— Eu e Harry, você sabe! — se irritou.

— Eu não sei, tinha algo para ver? — perguntou simplesmente.

— Não! — o mais velho se agitou.

— Tudo bem — Liam deu de ombros.

Eles ficaram num silêncio incomodo e o Tomlinson pegou o celular nas mãos, desbloqueando e procurando ali por alguma mensagem, mas sua mente estava tão perturbada que seus dedos tremiam. Então se virou novamente para Payne, que ainda se mantinha parado ali, observando atento os movimentos do chefe.

— Alguém mais entrou lá? — Louis perguntou.

— Eu não deixei.

Ele franziu as sobrancelhas.

— Porque? — perguntou.

— Porque não sou idiota — deu de ombros.

— Merda, Payne, diga logo algo.

— Eu não tenho nada para dizer, mas se você quer dizer algo então diga logo.

— Bom, eu não tenho nada também — empinou o nariz.

— Então tudo bem.

     Eles ficaram parados, olhando um para a cara do outro como se aquilo fosse uma competição.

— O que foi? — Liam ergueu as sobrancelhas.

— Você sabe!

— Mas você disse que eu não tenho nada para saber! — abanou as mãos. — Pare de se contradizer.

     Louis tampou o rosto. Ele queria chorar de tanta frustração e raiva. Fez um murmurinho de grito para tentar expulsar todos aqueles sentimentos e as lágrimas vieram finas em seus olhos.

— Louis, preste atenção, ninguém pode pedir para que você saia do armário para os outros ou para si, você não precisa fazer isso se não quiser, ninguém está te pedindo isso.

     Ele enxugou as lágrimas antes que elas caíssem e olhou para Liam, prestando atenção em cada palavra.

— Mas saiba que, se um dia você sentir a necessidade de contar ou falar sobre isso, você tem uma família completamente perfeita, acolhedora e compreensiva que jamais te fará se sentir inferior. Então se não quiser dizer, tudo bem, mas saiba que esse privilégio que você tem não é para muitos, e é completamente invejável.

     Louis assentiu. Ele entendia isso e sentia raiva de suas ações porque não estendia seus sentimentos.

— Todas as vezes que Zayn me conta alguma das inúmeras coisas que ele passou, eu tenho vontade de correr para os braços da minha mãe e agradecer ela por tudo, não porque ela fez mais que sua obrigação, porque não fez, mas porque a maioria delas não faz. E você não precisa ter medo de nada disso, Louis. Você tem pessoas estruturadas e incríveis ao seu redor com quem pode contar sempre, inclusive Zayn e eu, e não quero que você fique triste por estar descobrindo algo bom.

     Ele se aproximou de Tomlinson e o acolheu em seus braços. As lágrimas vieram mais uma vez em seus olhos e dessa vez ele não as conteve. Havia algo dentro dele que fazia aquilo parecer errado mesmo que tudo ao seu redor mostrasse que ele estava enganado.

— Você precisa esclarecer algumas coisas dentro de você — Liam continuou.

     O Tomlinson fungou e se afastou o suficiente para olhar para ele.

— Eu não sei se gosto de homens, Liam.

— Não sabe? Mas você não gostou de estar com Harry? Vocês não...

— Não! Quero dizer... — abaixou seu tom de voz — aconteceram algumas coisas, mas e se for apenas um engano?

— Como quando você come banana e não gosta e então experimenta ela com pasta de amendoim e é bom? Isso não é um engano, você apenas gosta de... sei lá, temperar a banana. É igual macarrão sem sal, quem come macarrão assim?!

— Pare de fazer analogias com isso! — bateu nos braços fortes.

— Tudo bem. Talvez seja apenas a banana de Harry.

— Payne! — ele bateu diversas vezes no peito alheio e cobriu o rosto vermelho de vergonha.

     Liam gargalhou com isso, tentando parar os movimentos de suas mãos.

— Tudo bem, eu apenas queria te fazer parar de chorar, estava brincando. Isso é algo sério e não quero ser idiota. Agora converse comigo — ele se sentou numa poltrona que tinha ali. — Você nunca sentiu isso por mais ninguém?

— Não... — balançou a cabeça. — Nem sequer passou pela minha cabeça, nunca.

— Você deveria começar a obsevar as pessoas ao seu redor, Niall, Zayn, sei lá, eu e alguns caras da Aermacchi.

— O que??? Você enlouqueceu? Está pedindo para eu olhar para o meu melhor amigo e pior, seu namorado??

— Olha só, Louis, eu não posso dizer por você do que você gosta ou não, mas você deveria observar e ver se sente atração pelo corpo masculino e esse tipo de coisa, talvez pesquisar...

Puta merda, ele pensou que deveria estar vermelho como um pimentão. Aquilo era tão absurdamente desconcertante.

— Oh, cala a boca!

— Eu estou falando sério! Você pode descobrir o que sente e do que gosta assim... Não é como se nós fôssemos fazer uma orgia depois disso, se bem que não seria tão ruim, mas...

— Oh, Liam, vai à merda — jogou um travesseiro que encontrou na poltrona ao lado de si no outro.

— Aí! — reclamou, pegando a almofada em seguida e suspirando. — Se permita descobrir, Louis, você não terá grandes problemas com isso, eu tenho certeza.

O Tomlinson abaixou a cabeça, Liam não estava errado, ele não teria problemas externos com isso, estava tudo bem com todos ao seu redor. Então porque dentro dele não estava? Porque ele se sentia incomodado e do lado errado?

— Eu não queria gostar dele, Liam... — sentou-se ao seu lado — nem de ninguém.

— Você lutou contra isso por muito tempo, acho que já se tornou incontrolável.

— Como assim?

— Qual é, Louis... Harry me ligou duas vezes, você sabe, do jeito excêntrico que só ele é, me dizendo coisas sem sentido que no final eram tão verdadeiras que estavam estampadas, eu só precisei enxergar.

— Mas... como?? Como ele tinha seu número? O que raios ele disse? Quando isso foi? — se desesperou.

— Eu não sei ao certo... Numa noite após toda a discussão com Zayn e você, e depois quando vocês vieram para cá. Ele disse que você jamais seria corajoso o suficiente para aceitar seus sentimentos, e então eu fiquei com isso por um tempo na cabeça. Eu comecei a reparar na forma que vocês se olhavam e se tratavam e tudo ficou tão claro. As vezes com tanto carinho e de uma hora para outra como se se odiassem. Eu não sei como mais ninguém percebeu, Zayn é tão observador... — ele sorriu bobo. — Mas agora você sabe que é corajoso, Louis. Você pode aceitar sua atração por Harry e por quem quer que seja.

— Harry é... — mordeu os lábios — complicado, Liam. É demais pra minha cabeça.

— Eu não posso discordar. Ainda que eu saiba pouco sobre ele, é visível que não é alguém comum, mas ainda assim... vale a pena? Você está realmente gostando dele ou é apenas uma atração momentânea? Há quanto tempo estão nesse impasse?

— Eu não sei, foi acontecendo e quando eu vi estava pensando demais sobre ele. Mas é tão confuso, eu não sei fazer isso.

     Liam riu.

— Você sabe beijar, Louis? Sabe tratar as pessoas que gosta bem, dar carinho e esse tipo de coisa?

— É obvio — rolou os olhos.

— É só isso que Harry parece precisar, que você o compreenda e esteja ao lado dele. Você sabe como ficar com alguém e acho que já até aprendeu como fazer aquelas coisas de outra forma ontem — o olhou malicioso.

— Por Deus! Não fiz nada disso. Não sei fazer nada disso.

— Então vocês apenas gostam de dormir sem roupa e grudados como coalas?

— Não, nós...

    Por mais que ele quisesse falar, era vergonhoso demais.

— Meu Deus, — Liam arregalou os olhos — você não se lembra?

— Não é isso, eu lembro.

— E então?

— Ele fez... — sentiu o sangue subir em sua face — sexo oral — deixou as palavras saírem enroladas — em mim.

— E foi bom? — ergueu as sobrancelhas.

— Uhum — abaixou o rosto, tentando esconder a timidez.

— Muito bom, não é? — sorriu com entusiasmo.

Louis procurou a almofada para dar em sua cabeça novamente mas estava em seu colo, impossibilitando o movimento rápido de tomar o objeto e bater com ele em Payne.

— Achei você — Zayn entrou e se sentou no colo de Liam, olhando para o amigo em seguida. — Bom dia, Tommo. Você está bem de ontem? Sumiu...

     Louis observou a forma como Liam beijava a bochecha de Malik enquanto ouvia a voz pouco rouca de quem havia acabado de acordar sendo voltada para ele. Era lindo na verdade, e não havia nada de errado quando se tratava dos outros. Ele fez uma nota sobre amar a forma como os dois sorriam um para o outro, se beijavam delicadamente e estavam sempre agarrados como naquele momento.

— Passei um pouco mal — ele respondeu.

— Harry te ajudou, não é?? — perguntou, preocupado. — Eu deveria ter subido... Não sei porque não fiz.

— Não, ele ajudou, estou bem. Na verdade passei mal hoje, ontem apenas dormi.

     Payne ergueu uma sobrancelha em sua direção, debochado, e Louis ignorou completamente, olhando para o lado contrário.

— Bom — o moreno assentiu. — Vamos descer e acordar todos, não podemos começar o ano novo com essa ressaca e desânimo.

— Exatamente! — Liam bateu na perna do namorado para que ele se levantasse. — Ânimo para o próximo!

»»————- ★ ————-«

          Já era quase 11h e Louis entendeu porque Jay não havia sentido o cheiro fedorento da erva no andar de baixo. As janelas da jacuzzi foram todas abertas e a sala tinha aroma de sândalo, fazendo-o duvidar que a mãe tivesse pensado que eles tinham feito uma sessão de yoga antes de dormir, os deixando relaxados demais, mas então ele descobriu que na verdade a mãe, Mark e Bobby haviam bebido 3 garrafas de vinho, enquanto Maura decidiu que dirigiria e olharia Daisy e Phoebe para que eles se divertissem. Lottie devia estar querendo beijar a mulher por isso.

     Fizzy acordara bem, — ao contrário do que todos imaginavam — já que ela havia mais fumado do que bebido e não tinha resquícios nenhum de ressaca ali, ao invés de Lottie, que bebia litros de água em pleno a um café da manhã estranho às 10:47.

— Você não está com fome, filha? — Jay questionou.

     O irmão parou o croissant no meio do caminho até a boca, olhando para ela e aguardando uma resposta coerente, mas algo a mais fez com que ele derrubasse o alimento. Harry entrou na cozinha com um ar preguiçoso e leve, parecendo tão absurdamente relaxado e bem.

— Bom dia — a voz grossa escorregou de seus lábios enquanto ele coçava os olhos com a manga comprida da blusa de linho que usava.

     Todos responderam animados, exceto Lottie e Louis, que se mantiveram quietos. O Tomlinson recebeu uma cotovelada de Payne, que o fez pegar o croissant que caiu em seu prato e murmurar um desejo de bom dia baixo.

     Ele passou a manhã toda em silêncio, enquanto Styles perguntava à sua mãe como a noite dela e de seus tios tinham sido, mantendo uma conversa agradável e constante com a mulher e Bobby.

     Quando Louis reparou que todos saiam da cozinha e o deixava lá junto de Harry, que ainda comia, ele olhou desesperado para Liam, como se perguntasse o que fazia agora. O Payne por sua vez, olhou para ele com uma feição brava e apontou para Styles, mas parecia difícil demais.

     Sentado em sua frente, vendo-o bebericar uma xícara de chá açucarado enquanto mordia o último croissant da mesa, Tomlinson deixou o nervosismo tomar conta de si, e assim que Harry levantou seu queixo quase em câmera lenta, olhando para ele com aqueles verdes escaldantes e os lábios molhados de camomila e maracujá, ele se lembrou que aquela boca era a mesma que o havia engolido na noite anterior.

     Se levantou apressado e caminhou rapidamente até a porta antes de ouvir a voz o chamar:

— Louis...

     Ele fechou os olhos de costas para o outro. Não queria olhá-lo é nem estava pronto para aquilo, era demais, mas também não queria ser o mesmo homem fraco qual Harry havia dito para Liam. Então se virou e mirou os olhos pidões do homem sentado.

— Você vai comer? — Harry apontou para a massa recheada de chocolate que o Tomlinson havia largado no próprio prato.

     Ele balançou a cabeça negativamente e Styles assentiu, virando o rosto e tomando o doce para si. Foi a última coisa que o Tomlinson viu antes de sumir dali.

»»————- ★ ————-«

     O dia foi extremamente preguiçoso e pensativo para quase todos. Zayn recebeu uma ligação de sua mãe após o almoço, ela estava chateada com a mensagem única que o filho havia enviado à ela no natal, sem explicações ou detalhes demais de como haviam sido seus dias. Ele pensou que ela tinha razão, já que que Trisha não sabia das novidades da vez sobre Liam e ele.

A foto mais aclamada e curtida do Instagram de Payne, ele e Maya, — sua ex e mais traumático par romântico — foi finalmente trocada por uma que Lottie havia tirado dele e de Malik aos beijos no restaurante que foram na semana que se passou, e logo depois disso, inúmeros stories foram adicionados na conta de ambos, Zayn dormindo de uma forma engraçada ou apenas acendendo um cigarro, alheio demais a tudo, ou os dois juntos em algum lugar que visitaram, completamente adoráveis.

     Nada daquilo havia sido dito ou conversado com a mãe, e isso a fez pedir satisfações, já que o combinado entre eles era diferente assim que ele voltou para casa do amigo.

— Me ligue por vídeo e deixe eu conhecer ele — a mulher pediu.

— Marcaremos um encontro, não se preocupe — Malik tentou convencê-la.

— Não, Zayn! Me ligue — Trisha desligou, sem esperar uma resposta.

Conhecer a família de Liam foi o momento mais acolhedor que ele teve em sua vida, sem contar com a família Tomlinson, é claro. A mãe de Payne, Karen, era extremamente fofa e gentil, e seu pai e irmãos não ficavam para trás, embora ele tenha levado uma pequena bronca sobre ter roubado Liam no natal, e Geoff, seu pai, o fizeram prometer que no próximo final de ano eles estariam lá. Aquilo desesperou Mallik, a ideia de um futuro programado conturbava sua mente nada organizada ou planejadora, e aqueles pensamentos ficaram em sua cabeça por alguns dias.

Trisha o ligou por chamada de vídeo enquanto ele estava deitado preguiçosamente sobre o sofá, assistindo uma partida de FIFA entre Harry e Fizzy, e Charlotte estava inquieta sobre a poltrona. Ele gritou por Liam, que acompanhava Louis enquanto o mais velho fumava o seu décimo cigarro naquele dia. Embora Zayn tivesse achado estranho a aproximação repentina dos dois e a quantidade exagerada de nicotina que o amigo apenas ingeria quando estava muito nervoso, aquilo fugiu de sua mente em questão de segundos.

Assim que a porta se abriu e o Payne entrou com o Tomlinson em seu encalço, Harry se virou para trás e ignorou o jogo que disputava, observando Louis de cima abaixo, com seu olhar sério de praxe e os olhos azuis tão tão claro quanto o céu ensolarado. Ele pensou em como aquela roupa formal demais para ficar em uma cabana o deixava com uma postura que gritava seu nome, e como aquilo ficava bem nele.

— Você perdeu! — Félicité exasperou animada. — Ficou viajando aí e perdeu feio!

O Tomlinson, que até então forçava seu olhar para longe de Styles, concentrado em acariciar a renda da toalha da mesa da sala de jantar, não resistiu. Ainda que sua irmã fizesse uma dança da vitória completamente estranha, Harry não se voltou para ela e nem sequer mudou sua direção, irritando absurdamente Louis, que pensava que era por isso que aquilo pareceu tão óbvio para Liam.

— Essa é minha mãe, Trisha — Zayn apresentou à Liam.

O homem se sentou ao lado do namorado e se colocou sorridente em frente ao celular, acenando e mostrando simpatia.

— É um prazer conhecer a senhora!

— Nem pense em me chamar de senhora, eu só tenho 52! Você é muito bonito, minha nossa! Querido, você tem um ótimo gosto.

Payne se surpreendeu com a delicadeza e da mulher. É claro que após tudo que Malik havia o contado, sua expectativa sobre sua família não era alta, mas não há nada que o tempo e a evolução não cure, não é?

— Esse é apenas um bônus sobre ele, na verdade ele é muito mais — o moreno disse, não perdendo a oportunidade.

Sua mãe ainda era uma pessoa materialista demais, vaidosa e muitas das vezes ganaciosa, e mostrar à ela um novo ponto era com certeza um dos planos de Zayn com a volta de suas proximidade.

Louis não soube o que fazer quando a irmã mais nova parou seus movimentos e olhou para ele, confusa com o porquê de Harry estar tão vidrado naquele ângulo, então ele correu para junto de Liam e o celular do amigo, colocando a mão sobre o ombro musculoso de Payne e sorrindo para Trisha.

— Louis! — ela disse, exuberante. — Sempre a mesma carinha, saudades de vocês, Jay...

Após aquilo a ligação se tornou uma conversa em grupo, a mãe de Zayn reviu Jay e Maura e se animou ainda mais ao ver o crescimento das gêmeas e de Lottie e Fizzy. Ninguém naquela cabana ficou de fora, e Trisha invejou aquela família, verdadeiramente unidade e fiel, ainda que não fossem todos do mesmo sangue.

A mulher não deixou passar despercebida a figura no canto da sala, sentado enquanto olhava para as pernas cobertas com a skinny preta, e perguntou quem ele era. A atenção de todos se voltou para Harry e ele se sentiu um pouco fora de sua própria zona, se remexendo desconfortável, mas apenas os Horan e Louis percebeu. Ele foi apresentado para a mulher e mostrou uma simpatia falsa, esbanjando sorrisos forçados e palavras dissimuladas, e após aquilo as coisas foram um pouco diferentes e fora de ordem.

Styles sumiu durante o resto da tarde, Niall o viu saindo e batendo fraco a porta de entrada, sem se despedir ou olhar para trás. Maura olhou para Bobby e então para o filho, enquanto louis apenas observou aquele estranhamento coletivo sobre o que poderia estar acontecendo. Seria suspeito demais se ele saisse naquele mesmo instante, mas ele pôde ouvir um barulho de carro saindo apressado dali. E contanto que Harry tivesse roubado o automóvel de algum deles, alguém viera o buscar, e aquilo deixou o Tomlinson bitolado.

Ele se martirizou durante a tarde inteira, pensando no quanto Harry parecia bem pela manhã e concretizando que a culpa de de repente ele já não estar mais ser dele, e somente dele. Ninguém fora ele e os Horan pareceu ter notado o sumiço repentino, e na primeira oportunidade, Louis saiu dali, enfrentando a neve que caia mais uma vez e fumando um cigarro abaixo das telhas de cerâmica que o protegia pouco do gelo. Todos os carros estavam lá, mal estacionados e com uma camada grossa de neve por cima, que provavelmente os dariam trabalho para voltarem para Milão no dia seguinte.

— Companheiro, — Niall abriu a porta atrás de si e também observou os automóveis, provavelmente desconfiando da mesma coisa que o amigo — o que faz aqui? — disse numa tentativa de disfarçar.

Ele o respondeu soltando a fumaça pela boca e erguendo os dedos que carregava o cilindro de nicotina.

— Bom — assentiu e então parou. — Não, na verdade não é bom mas... — se enrolou um pouco nas palavras. — Bom, acho que vou entrar.

     Louis tinha esse grande problema de visibilidade. Assim como sempre que algo o incomodava ele deixava transparecer, quando tinha algo em mente que gostaria de falar, ele apenas deixava aquilo sair sem perceber na maioria das vezes, ainda que ele forçasse o seu auto controle sobre isso.

— Onde será que Harry foi?

     Niall, que já se virava em direção da porta, voltou seus passos e suspirou, olhando para a neve no chão enquanto pensava.

— Não faço ideia, mas isso me desespera — desabafou. — Se qualquer coisa errada acontecer eu preciso que você me diga, tudo bem? Sempre.

— Do tipo suas oscilações de humor? — perguntou um pouco debochado, como se aquilo fosse uma piada.

— Não são oscilações, Louis, Harry tem transtorno de bipolaridade e não há nada de engraçado nisso.

     Sua expressão caiu. Ele jamais viu o Horan daquela forma, em quase 10 anos ele nunca o viu tão sério e quase irritado. Ele sabia que Styles não era normal, mas agora parecia muito mais sério.

— Mas... — ele franziu as sobrancelhas e amassou o cigarro com os pés. — Que raios! E como você não me diz isso antes??

— Isso não diz respeito a mim, eu não posso invadir sua privacidade dessa forma, eu já fiz isso demais e não dá certo, acredite — ele suspirou, parecendo pouco derrotado pelos seus pensamentos. — Olha, companheiro, eu sei que agora vocês estão mais próximos e isso pode parecer confuso demais, mas Harry pode foder tudo ao seu redor, ele tem o poder de virar as coisas do avesso e sinceramente, eu não sei como ele não fez isso ainda, como ele anda se controlando...

— Meu Deus, meu Deus, meu Deus — Louis esfregou as mãos no rosto, nervoso. — Porque você não diz logo o que está acontecendo!?

— Porque eu não sei! — Niall também se irritou. — Droga, Louis, eu também não sei o que se passa na cabeça dele, eu não sei. Merda! Eu não sei onde ele está!

     Louis bufou. Seu coração palpitava de raiva do loiro. Era sempre assim, palavras inconcretas, coisas incertas, ele não sabia o que esperar nunca.

— Ele está tomando os remédios, eu venho verificando isso, — o Horan continuou — mas não faço ideia se isso funciona com as merdas que ele usa. — Niall se virou para o amigo e olhou profundamente em seus olhos — Companheiro, eu pedi para que você cuidasse dele porque confio em você, porque de alguma forma as coisas deram certo e ele foi para o seu prédio, e eu não tenho ideia do porquê, eu não esperava que fosse funcionar, mas saiba que isso não é sua obrigação e nada mudará entre nós se você quiser se afastar.

     Louis observava cada palavra saindo de sua boca como se fossem tão complicadas de serem
ditas. E era.

— Mas se você quiser ir mais a fundo, se você quiser realmente continuar com o que parece estar acontecendo, então saiba que as coisas não serão do seu jeito, controladas, sistemáticas e organizadas. Então ou você se afasta antes que alguém se machuque, ou entra nisso aturando todas as consequências.

     Ele franziu sua testa numa careta confusa, e em um piscar de olhos Niall havia sumido. A única coisa que ele tinha era mais uma porta batida contra sua face, trazendo mais incertezas e receio.

— O que...?

»»————- ★ ————-«

     Enquanto Louis se vestia para mais um ano novo na sala, ouviu burburinhos no andar de baixo. Todos se arrumavam para mais uma comemoração de ano novo em meio a lareira quente e o vinho seco. Lottie dava dicas de moda e vestimenta para todos — " a foto tem que sair perfeita", ela dizia — e ninguém se dava conta do que não saiu da mente do Tomlinson nem por um segundo naquela tarde, o sumiço de Harry.

     Mas um nervosismo tomou conta de si quando alguém subiu pelas escadas em passos estranhos e leves, ele tinha certeza que era ele, o cheiro cítrico de limão e nicotina tomou conta de todo o ambiente. Ele olhou no espelho uma última vez antes de sair do closet, mas a porta de seu quarto bateu segundos antecipadamente.

     Styles demorou quase uma hora para descer e ele se perguntava porque ninguém falava sobre aquilo. Já era sua quarta taça de vinho e ele não enfiou nenhum dos queijos caros na boca, com as pernas se mexendo inquietamente e os olhos observando a escada a cada minuto.

     Quando Styles finalmente fez, arrastando os pés nos degraus calmamente, Louis não deixou de observar cada passo, cada pequeno detalhe sobre a forma como ele se mexia e as particularidades de suas roupas, do blaser quadriculado por cima da camisa bege fina e a calça flare perfeitamente alinhada em suas pernas, deslumbrante como sempre. Mas algo nas suas pupilas completamente dilatadas e em como ele olhou para Louis quando chegou no final da escada denunciava que não estava certo.

— Estávamos esperando você, querido — Jay foi em sua direção e o levou para uma das poltronas.

     Estavam? Louis se perguntou.

O Styles se sentou em silêncio, bebericou o copo de uísque que o Tomlinson curiosamente só percebeu na mesa de centro naquele momento, e assim ficou durante todo o tempo, sem dizer uma palavra ou desviar o olhar para alguém que conversava sobre algo aparentemente interessante, igualmente Louis não desviava seu olhar dele.

— Está tudo bem, filho? — Mark, que estava sentado ao seu lado, questionou.

Ele assentiu, olhando o mais velho comer um dos aperitivos e reclamar sobre querer jantar naquele momento e Jay pedir-los para esperar até meia noite.

— Os fogos serão incríveis esse ano — Charlotte comentou.

— Você comprou os coloridos ou dourados? — Fizzy perguntou.

A garota estava abraçada com a "tia Maura" enquanto Lottie tentava manter as gêmeas menos inquietas conforme as horas se passavam, fazendo brincadeiras junto de Jay e Mark. Daisy tentou contato com Harry algumas vezes, e até mesmo Phoebe se empenhou para fazê-lo brincar junto delas, mas o homem apenas afagava seus cabelos e balançava  a cabeça, negando.

     Tudo parecia em silêncio para Louis, os sentimentos de Harry tomavam conta dele igualmente, e tudo que o afetava, afetava também ele. O Tomlinson não percebia seus movimentos ao levar a taça até boca e nem suas pernas inquietas, que batia os tênis no tapete inúmeras vezes por minuto. Ele falava apenas quando era chamado ou o assunto o dizia respeito, caso contrário, era tão silencioso quando o homem que tomou conta de seus olhos e mente durante toda a noite.

— Vamos para fora! Animação! — Fizzy exasperou.

     Harry não parecia nem sequer ter prestado atenção em suas palavras ou em todos saindo da sala até Charlotte dar alguns tapinhas em suas costas. Niall se certificou uma última vez de que o primo estava os seguindo e então saiu, colocando seus casacos quentes e botas.

     Lá fora estava realmente um gelo, mas não nevava mais. As luzes iluminavam pouco as pessoas nas cabanas distantes, algumas preparando os fogos de artifício, — assim como Louis, Bobby e Lottie faziam — e outras apenas esperando para assisti-los ansiosamente.

     Era apenas acender o isqueiro e eles voariam para o céu e parecia tão simples, mas não estava sendo para o de olhos azuis. Louis não estava feliz, e fogos de artifício era algo feliz. Ele não entendia, porque aquilo o afetava tanto? Porque Styles era tão influenciável para si?

     Ano novo, um ciclo novo que se inicia e outro que se encerra, e para ele era realmente isso. O Tomlinson fazia novos planos e se animava com suas organizações para os próximos meses, aquilo o encorajava a expandir seus limites e testar coisas novas, o motivava a trabalhar e traçar metas, mas nada daquilo importava naquele momento. Nada parecia tão considerável quanto ver Harry tão abalado e vulnerável, sem luvas e nem uma jaqueta pesada em meio aquela baixa temperatura e gelo sobre os pés.

— 3, — Jay gritou — 2, — e então um coro se formou junto de sua voz — 1...

Louis correu até onde o cacheado estava, sozinho enquanto olhava para cima assustado, e quando todos gritaram e o relógio bateu 00:00, Harry apertou suas orelhas assustado e fechou os olhos com força. Todos se abraçavam, brindavam champanhe ou assistiam os fogos brilharem silenciosos no céu, mas Louis só tinha olhos para o como o Styles parecia assustado ao seu lado.

     Ele se aproximou devagar e tocou os dedos de suas mãos, que apertavam fortemente as extremidades de sua cabeça. O gesto fez com que os olhos verdes se abrissem nervosos e encontrasse os azuis o olhando preocupado.

— Não tem som, está tudo bem — Louis disse.

     Harry franziu as sobrancelhas. Ele prestou atenção ao redor calmamente, ainda o olhando confuso. Era silencioso, de fato, sem contar claro, as conversas e gritos animados.

— É proibido fogos com barulho desde o ano passado, — acariciou sua mão, tão absurdamente gelada — não vai acontecer nada. Confia em mim, tire — apertou suas mãos levemente e as puxou para longe.

     Louis usava luvas, quentes e confortáveis, é claro, todos usavam, menos Harry. Suas mãos estavam tão congeladas e o homem não vestia nem ao menos um casaco. Os olhos  se desviaram dos verdes assustados apenas para retirar a própria luva e colocar na mão alheia. Ele sabia que todos estavam ali, e que mesmo que alguns estivessem alheios a eles, havia uma pequena chance de acharem aquilo estranho, mas mesmo assim ele o fez. Enluvou os dedos frios e juntou as mãos alheias no meio das suas, levando até seus lábios e as encostando ali, soltando um ar quente pela boca em todas as regiões, da palma até a última falange.

— Feliz ano novo! — Jay se aproximou.

     Louis pausou sua ação e a abraçou, desejando também um ano maravilhoso e ouvindo palavras bonitas sobre ele e como ela o amava e se orgulhava de quem o filho era. Ainda pouco paralisado, Styles sentiu o abraço da mulher e o retribuiu enquanto olhava para o nada, apenas existindo ali.

— Eu amei ter você aqui, Harry, de verdade. Eu espero que você também tenha gostado. Saiba que você agora é importante para todos nós —  Ela se afastou e segurou suas mãos enluvadas. — Nós todos precisamos de você agora, você é importante.

     Havia um sorriso querendo se formar e o Tomlinson via. Os Horan já o disseram isso, mas ele nunca havia escutado de mais ninguém. Era como se seu peito se preenchesse um pouquinho e a dor passasse por alguns segundos. Ninguém sabia como era, ninguém sabia como se se sentia, e ele pensava que não queriam saber, mas Jay o olhava como se esperasse algo sair de sua boca. Não saiu nada. Ela afagou seus ombros e olhou para o filho com um movimento quase imperceptível em sua cabeça, apontando para Harry.

     Ela afagou os ombros altos uma última vez e se afastou. Todos os abraçaram, desejando sempre um ano bom. Suas irmãs, assim como Mark, também disseram palavras  de conforto e amor para ambos ali, e Louis se sentiu como Harry, como se eles soubessem que ele se sentia como o homem ao lado, pouco quebrado por um motivo que ninguém sabia qual.

    Eles ficaram parados, olhando cada pequena partícula explodir no céu escuro. Era verdadeiramente lindo quando silencioso, Harry pensou, realmente encantador. Eram dourados e coloridos e formava uma chuva de luzes tão admiráveis que parecia levar alegria para todos os lugares. E quando chegou o fim, na verdade era apenas um aviso de que tudo havia recomeçado novamente.

     Todos entraram calmamente depois de alguns minutos, mas Harry não se mexeu, e Louis fez o mesmo. A porta atrás deles bateram e finalmente não havia mais ninguém ali sem ser eles. O Tomlinson não sabia o que dizer ou se dizer, o que fazer, o que pensar e nem como agir, mas ele sabia que precisava e queria entendê-lo. Então se virou, observando os olhar atento ainda mirando o céu como se aguardasse mais fogos. Se aproximou devagar, passos lentos em sua direção até tentar sentir seu blaser na ponta dos dedos.

— Não me toque — a voz saiu áspera e arranhada.

     Louis se assustou e manteve sua mão intacta no ar, suspirando e esperando alguns segundos antes de tentar novamente.

— Eu disse não, Tomlinson.

— Por favor, podemos conversar?

— O que? — ele se virou, ofuscando Louis com o seu olhar. — Você quer saber onde eu estive? O que estive fazendo? Quando você não se importa com nada!? Você ia me ignorar esse tempo todo, não ia!? Você ia mentir sobre não se lembrar de nada quando você sabe exatamente. Você se envergonha disso, Louis, você enoja isso.

     O Tomlinson apertou os olhos fechados, desejando não ter ouvido aquilo. Não era verdade.

— Não.

— Porque quer se aproximar agora, Louis?? Você nunca quis, não é?? Você esteve fazendo isso o tempo todo numa tentativa de Niall controlar tudo, de você controlar, de me viajar como um animal! Diga a verdade! Você nunca quis que eu fosse pro mesmo prédio que você, nunca quis que eu estivesse perto. Sempre foi pelos Horan!

     Não era verdade, não era, ele sabia que não era. Mas não conseguia dizer nada, não conseguia porque a princípio era exatamente isso.

— Diga algo! — ele aumentou ainda mais seu tom de voz. — Tenha caráter comigo uma vez na vida, Tomlinson.

— Eu quero saber o que você sente, porque você é assim... Porque uma hora está tudo bem e na outra não.

     Harry proferiu uma risada nasalada.

— Você me acha louco — balançou a cabeça parecendo pensativo. — Me acha um completo desequilibrado.

— Eu nunca disse isso.

— Você não precisa dizer nada, é completamente transparente.

— Diferente de você.

     Harry assentiu. Ele parecia ainda mais quebrado, ainda mais machucado. Seus lábios tremiam, assim como seu corpo.

— Vamos entrar e conversar sobre isso, por favor — Louis implorou. — Você está morrendo de frio — tentou se aproximar, tocando seu corpo e o mantendo em seus braços.

— Não me toque. Não me toque — ele aumentava seu tom de voz a cada pedido, mas não obtia resultados. — Não me toque! — empurrou Louis. — Não me toque!

     Dando passos forçados para trás, o Tomlinson o olhou assuntado. Harry estava transtornado, abraçando seu corpo e tampando o rosto com as mãos, sussurrando aquilo como um mantra por minutos. Louis não sabia o que fazer, como ele se aproximaria agora? Como seria agora? Ele estava tão assustado com a reação alheia, tão assustando por como a noite havia mudado de uma hora para outra.

     Harry caminhou apressando para dentro e sumiu. Louis não queria entrar, não queria estar vivendo aquilo. Era uma merda, ele amava aquela data mas era uma merda, era uma merda agora, porque ele havia quebrado junto com Harry, porque ele fez isso com o outro e consequentemente consigo mesmo sem nem se dar conta.

    A última coisa que se lembrou de ter feito naquela noite, foi terminar com as garrafas de vinho como jamais tinha feito antes, uma taça atrás da outra, vendo as pessoas conversarem e tentando não parecer tão abalado como estava em seu interior. E quando todos foram dormir e ele ficou ali, degustando de suas dúvidas junto da última taça do líquido tinto, ele observou a lareira acesa e quente, se lembrando da noite em que esteve com Harry ali, que o beijou de forma delicada e sem medo pela primeira vez, sem recuar ou se afastar como ele tinha feito dessa vez. Ele se lembrou do gosto doce do bolinho de chocolate e do fato de Harry não ter estado lá na janta de ano novo, nem nas fotos e na oração.

— Merda.

"Sintomas de episódio maníaco:

Agitação, euforia e irritabilidade;
Falta de concentração;
Crença irrealista em suas habilidades;
Comportamento incomum;
Tendência ao abuso de drogas;
Fala muito rápida;
Falta de sono;
Negação de que algo está errado;
Aumento do desejo sexual;
Comportamento agressivo.

Sintomas de episódio depressivos:

Mau humor, tristeza, ansiedade e pessimismo;
Sentimentos de culpa, inutilidade e desamparo;
Perda de interesse por coisas que se gostava;
Sensação de fadiga constante;
Dificuldade de concentração;
Irritabilidade e agitação;
Sono excessivo ou falta de sono;
Alterações no apetite e peso;
Dor crônica;
Pensamentos de suicídio e morte."

Foi a última coisa que leu num site qualquer, era tudo que ele tinha. Um site idiota na internet era a única coisa que podia o ajudar por hora. Ele não queria isso, ele sabia que não era nada, que eles precisavam de profissionais, de psicólogos sérios e renomados e tratamentos coerentes, mas aquilo era tudo que ele podia fazer no momento, e ele se sentia um idiota inútil.

Tomou o último gole, sozinho e triste, se xingando mentalmente, se culpando como se aquilo estivesse em seu controle. O que ele não sabia é que não estava, e que ainda que tudo tivesse corrido bem, os transtornos de Harry ainda teriam acontecido.

     Louis pensou sobre o que Liam o disse. Não era só de carinho e compreensão que Harry precisava, não era apenas isso e nunca seria. Harry precisava urgentemente de ajuda, e de forma nenhuma isso podia ser romantizado. Ele pensou sobre sua pergunta, era apenas atração momentânea ou ele gostava do outro?

//

Notas finais:

Sei que esse capítulo foi mais difícil, mas eles serão necessários e recorrentes por aqui, espero que isso não afete vocês de uma forma ruim.

Comentem para eu saber se estão gostando.

//

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