Meu nervosismo já era transparente, qualquer pessoa sentiria a minha indiferença nesse momento e nada poderia ser feito para mudar o que estava acabando de acontecer. Não conseguia evitar que ele fosse na minha casa e que muito menos falasse tudo para mamãe. Céus, Lee Jeno só poderia estar ficando completamente louco e ainda por cima, me levava com ele para essa loucura. Por que raios eu fui aceitar sua proposta? Eu estava ficando muito louca para ter aceitado essa burrada toda.
— Está nervosa, docinho? — ironizou fraco e eu bati em sua barriga em seguida sem medo algum.
— Como eu te odeio, Jeno. — puxei o garoto para dentro de minha casa enquanto ouvia sua risada maléfica do outro lado. — Sem gracinha, não quero que mamãe pense em outra coisa da gente.
— Mas estamos namorando ________. Vai esconder isso de sua mãe até quando?
— Namorando? — A voz alta partiu de dentro da cozinha e logo as pisadas se aproximaram. Mordi os meus lábios, mas não com muita força, porém, ainda não preparada o que iria acabar de acontecer. Janete provavelmente iria infartar com as notícias de namoro, assim como mamãe agora. Isso, se ela já não estiver sabendo já que o assunto principal do colégio era o meu namorado com Jeno. Mas meu foco agora não era esse e sim mãe que estava parada bem na nossa frente e com isso, soltei a mão do garoto que sorriu fraco.. eu vou quebrar a cara dele. — Lee Jeno? — mamãe sorriu de lado enquanto encarava o garoto na minha frente. — A quanto tempo eu não te vejo, meu filho. Tudo bem com você? Estou te achando mais magro do que antes. — a mais velha se aproximou dele e o abraçou bem apertado em forma de matar a saudade que antes sentia.
— Eu estou bem sim, e a senhora como vai? Realmente faz bastante tempo que não nos vemos. — Jeno sorriu e eu fiquei paralisada com o seu rostinho de descarado, que garoto mais sonso.
— Não suma mais. Estava preocupada com você, achando que alguma coisa tinha acontecido. — ambos riram. — Sua mãe também nunca mais andou aqui em casa, talvez esteja muito ocupada nesses anos. Soube que ela abriu sua própria empresa de roupas.
— Minha mãe não tem mais tempo para nada depois da inauguração da sua loja, mas de vez em quando ela consegue uma folga e resolve ficar em casa. Mas e a senhora, como vai?
— Eu estou bem, não aquelas coisas, mas estou indo. — Meu olhar com o de Jeno se cruzaram nesse momento e ele suspirou fundo. — Agora eu quero saber que história é essa de namoro?
— Não é nada mãe. Jeno só estava brincando, não é? — O olhei e então o garoto riu e assentiu em seguida, mas engana-se quem achava que toda essa história faria minha mãe acreditar, logo ela que era desconfiada de tudo.
— Sei, 'tou de olho em vocês dois. Então vão lá, vou fazer uma comida especial para você, Jeno. — o menino sorriu de lado.
— Até daqui a pouco. — Jeno disse e então o puxei em direção dos degraus da escada, subindo até meu quarto, abri a porta rapidamente e fiz uma passagem para ele. — Seu quarto mudou bastante. Ainda me lembro da ultima vez que vim aqui.
— Da última vez que entrou aqui eu tinha apenas quatorze anos, é claro que agora iria mudar e muito. — eu dei de ombros e ele revirou seus olhos.
— Mas pelo visto, sua ignorância ainda não mudou, né. — Jeno começou a admirar um pouco meu quarto.
— Agora me fala, o que você quer falar comigo que é tão importante assim? Não podia, sei lá, esperar no colégio até amanhã? Tinha que vir aqui em casa mesmo?
— Aí, deixa de ser chata, até parece que tinha outra coisa melhor para fazer. — não neguei e então ele levantou uma das suas sobrancelhas para me encarar. — Mas enfim, por onde deveria começar falando? — ele levou uma das suas mãos até o queixo e ficou pensando.
— Do começo seria uma ótima escolha. — tentei ser mais óbvia e então ele se sentou em uma cadeira perto da cama. Fiz o mesmo, mas só que em uma pequena poltrona.
— Primeiro de tudo; Lavínia está morrendo de ciúmes de você, não para mais de dizer que vai te matar. — ele riu fraco e eu fiz o mesmo. — Segundo; a gente precisa se beijar também. Namoro não é só se assumir para os outros, temos que mostrar que realmente somos um casal e que temos sentimentos.
— Mas a gente não é um casal de verdade. — ele revirou seus olhos. — ‘Tá, ok, a gente pode se beijar. Mas vai ser apenas às vezes.
— Tudo bem, assim vai ser ótimo. Podemos nos beijar apenas quando Lavínia estiver por perto, o que acha?
— Pode ser, ela nunca está por perto mesmo. E vai ser bom assim, apenas para ela vê.
— Então… podemos começar agora?
— Oi? Começar agora? Você por acaso está vendo Lavínia bem aqui? — ele bateu de leve na minha cabeça.
— Estou falando para começarmos a ensaiar um beijo. Não vai ser a mesma coisa na frente das pessoas
— Mas por que você quer ensaiar um beijo? Não tem muito o que aprender. E eu já sei beijar, não precisa me ensaiar.
— Vamos apenas testar um beijo e pronto. — revirei meus olhos. Não adiantava ficar falando que não, ele ia continuar insistindo nisso.
— Apenas um, Lee Jeno. — ele assentiu e então começou a aproximar seu rosto do meu e eu acabei fazendo a mesma coisa. Quando vi ele perto demais e com os seus olhos fechados, fiz a mesma coisa, ainda com um certo receio. Senti nossos lábios se colando em um beijo, bom e ao mesmo tempo ruim. Eu não sabia explicar, era um beijo falso, muito falso, como se ele e muito menos eu quisesse. E eu realmente não queria, mas insistia em fazer isso. Já não aguentando o beijo, empurrei lentamente para longe e o encarei logo em seguida. Senti uma imensa vontade de cuspir, mas tentei controlar a respiração.
— Deu para perceber que o beijo é falso. Porém, eles vão achar que é de verdade.
— Bom, pelo menos isso não é mau. Assim sabemos que ninguém aqui está afim um do outro. — eu disse e ele confirmou em seguida.
— Acho que já estamos preparados para oficialmente começar esse relacionamento falso.
— É.. estamos. — realmente ficou um clima estranho, mas isso mudou até ouvir os berros de minha mãe, logo no andar de baixo.
— Jeno venha aqui, vamos tomar um pouco de café. A tarde está muito bonita.
— Acha que minha mãe deve saber? — ele negou.
— Não, acho melhor não. Ela vai achar tudo uma loucura. — eu assenti. — É melhor a gente descer para tomar o café, não acha?
— Sim, vamos tomar o café. — Em seguida, tanto eu quanto Jeno já estávamos no andar de baixo. Mas até agora estava um clima estranho, muito estranho entre a gente. Não foi ele quem disse que não gostava de mim e muito menos que não devíamos nos envolver? Por que agora esse clima? Eu hein, vai entender Lee Jeno. O menino mudou da água para o vinho e eu nem entendia o motivo disso ter acontecido.
Quarta-feira, 13 de Fevereiro (The King's Academy)
Às 08h30min AM
— Preciso entrar na aula. — Jeno virou-se na minha direção e com um sorriso bastante falso, ele passou para seu lado oposto. Obviamente olhando sua ex namorada quase que tentando me matar apenas com o olhar. Apenas respirei fundo e voltei a olhar o garoto que agora, voltou a me olhar também.
— Tudo bem, eu te vejo depois. — Jeno apenas assentiu e aproximou-se de mim. E então a gente se beijou. Mas era aquelas coisas né, um beijo sem sentimentos e falso, e para ele também. Mas entre os olhares das outras pessoas… elas achavam tudo muito real, até demais eu diria. Não era elas quem estavam beijando Lee Jeno e se caso fossem, veria que realmente era um beijo falso. — Beijos falsos são muito ruins. — comentei depois de ter respirado fundo e olhado.
— Se quiser, posso fazer um beijo verdadeiro na próxima vez. — Jeno piscou e caminhou de costas para dentro de sua sala. — Até mais tarde meu docinho.
— Até mais Lee Jeno. — ri fraco e dei as costas em seguida. É, até que essa farsa toda de namoro estava dando um pouquinho certo. Todos, até mesmo sua ex-namorada, estavam acreditando em tudo que acontecia. E eu até que não achava isso estranho, afinal, era para isso que estávamos em um relacionamento falso. Segui até o meu armário escolar e o abri em seguida a fim de procurar tanto pelos meus livros, como pela minha mochila. Eu havia deixado ela aqui dentro ontem e não foi difícil de achá-la, troquei todos os livros que deveria ser usado hoje e percebi que ficou muito pesado. Foi então que fechei a porta do armário e tomei um pequeno susto quando vi uma pessoa encostada perto. Era Mark e ele sorria, mas eu apenas o olhava ainda com receio pelo susto que tive.
— Bom dia. — ele disse e eu sorri de lado, o menino abriu o seu armário e eu percebi que era bem próximo ao meu, na verdade, de lado ao meu.
— Bom dia Mark. Vejo que acordou de bom humor hoje. — ele e eu rimos fraco. — Você está indo para a aula também? Hoje teremos aula juntos não é?
— Sim, hoje é dia de geometria e isso é ótimo, não acha? — Eu assenti e esperei por ele para trocar seus livros.
— Não sabia também que seu armário era ao lado do meu, nunca te vi aqui quando trocava os livros.
— Digamos que eu sempre troco meus livros atrasados, então quando chego no armário poucas pessoas estão aqui.
— Você costuma ser o cara que chega atrasado no colégio? — Mark assentiu. — Agora eu entendo o porquê de ser melhor amigo do Jeno. — rimos juntos.
— Não é por causa disso também. — ele fechou seu armário e colocou sua mochila atrás das costas. — Somos do mesmo time de basquete por isso se tornamos amigos. — ele fez um gesto com sua cabeça para podermos seguir até a sala de aula e eu fiz isso. — E também, eu tenho descendência coreana, e Jeno é coreano, então…
— Que legal, achei que sua descendência era chinesa. — ri e ele revirou seus olhos. — Queria poder achar uma pessoa brasileira aqui, mas é muito difícil afinal estamos nos Estados Unidos não é.
— E, também foi muito difícil achar um coreano. Achei apenas Jeno, e ainda foi porque ele veio estudar aqui. — assim que entramos na sala de aula, o professor ainda não tinha chegado. — Você senta na frente, não é?
— É sim. Mas se quiser, eu posso sentar com você lá atrás. Não vai fazer mal algum. — Mark sorriu e em seguida caminhou até os fundos da sala de aula, eu apenas o segui e sentei ao seu lado.
— Faz muito tempo que você mora aqui?
— Sim e não. Me mudei com os meus pais quando ainda era uma criança. Tinha em torno de cinco a seis anos. — observei que a professora acabava de entrar na sala de aula e dando o seu bom dia como sempre fazia.
— Não nasci aqui, na verdade, sou do Canadá. Mas eu e minha família se mudaram para os Estados Unidos não tem muito tempo. — dessa vez ele comentou baixinho e eu apenas assenti. — Se eu estiver te atrapalhando na aula, pode falar que eu paro, tudo bem?
— Mark, eu não estou afim de copiar matérias hoje. Então, vamos conversar um pouco, uh? Não precisa ficar tão preocupado assim, não é como se eu fosse ficar com raiva de você.
— Só queria saber mesmo, você é uma garota estudiosa, achei que eu falando contigo te incomodaria.
— Jamais. Falar com alguém nunca vai me incomodar, ainda mais sendo você. — admirei por um minuto o seu sorriso e realmente era a coisa mais linda do mundo, assim como ele é bonito.
— Ei, você gosta de cantar? — não sei porque mas eu havia estranhado a sua pergunta. — Costumo fazer rappers quando tenho tempo sobrando.
— Cantar? Eu já fiz aulas de canto uma vez, mas não sou tão boa assim. — ele sorriu em forma de ter entendido. — Você sabe fazer rap? Não acredito nisso, isso é tão difícil de fazer.
— Não muito, é até fácil quando a pessoa quer aprender. Posso te ensinar um dia se quiser.
— Acho que dispenso essa ajuda, eu não sou boa cantando, imagina fazendo rap e rimas, sou péssima. — rimos baixinho. — Quero te ver fazendo rap um dia ok?
— Sabe que no colégio tem um show de talentos, não é? — eu assenti. — Então, eu vou me inscrever esse ano, apenas por brincadeira mesmo. E também, porque Jeno pediu para fazer isso, ele disse que quer me ver ganhando antes de sair do colégio.
— Eu também quero, então, pode fazer a sua inscrição que eu vou está na torcida por você. — Mark abaixou sua cabeça, parecia ter ficado um pouco envergonhado. Que fofinho.
— Você é uma ótima amiga, sabia? Somos amigos, não é?
— Claro que somos. Eu estarei aqui contigo todos os dias e também vou te apoiar em tudo que fizer.
— Ainda bem que Jeno te apresentou, você é um anjo. — agora, eu quem tinha ficado envergonhada.
Anjo? Eu? Mark era realmente um menino de ouro.