Learning to Fall in Love | l.s

By erodat91

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Harry Styles ingressa em seu primeiro ano como professor de artes na escola primária da pequena cidade de Man... More

Avisos
Prólogo
1. Primeiro dia
2. Rosa da noite
3. Professor novo
4. Tintas e cores
5. Caindo em grande estilo
6. Princesa Rapunzel
7. Meias espaciais
8. Fantasmas
10. Mesa para três
11. Tal pai, tal filha
12. Chá de bebê
13. Fontes, beijos e discussões
14. Carpe diem
15. Cuidar e ser cuidado
16. Boletim
17. Raios, ciúmes e vinho
18. Uma noite na Broodway
19. Erros e acertos
20. Fardos entre dois
21. Intimidade
22. Influências externas
23. Sob um milhão de estrelas
24. Colorir nossa pele
25. Feira Literária
26. Uma canção secreta
27. Feliz Aniversário
28. Dose Dupla
29. Quando as luzes (nos) apagam

9. Pequeno grande jardim

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By erodat91

Se gostar da história não esqueça dos votos e comentários. Boa leitura. 💌

...

(Harry)

Lento.

Lento seria a palavra correta para resumir a intensidade de tempo pelo qual o fim de semana arrastou-se, no qual eu fiquei a maior parte sozinho, já que Liam havia passado na casa de uma de suas "saídas ocasionais". A da vez era uma publicitária beirando os trinta com uma cobertura no centro de Londres. E pelas dezenas de fotos que meu amigo me mandou, com toda certeza o fim de semana havia sido melhor que o meu.

Para não dizer que fiquei completamente sozinho, fui acompanhado por Cometa que parecia mais inquieto e agitado que o normal. Seu desejo de passear estava, por algum motivo, mais aflorado do que jamais foi. Uma saída ao amanhecer, uma na parte da tarde e uma de noite não pareciam satisfazer ao animal.

Enquanto Liam se divertia com vinhos e queijos, eu me ocupava planejando aulas e aproveitando o vazio do apartamento para dar um jeitinho nas pequenas obras que o mesmo carecia. E isso incluía pendurar - finalmente - os quadros que compunham meu pequeno quarto, resolver as goteiras insistentes do banheiro e a parede completamente branca e sem graça da sala de estar.

Tudo bem, essa parte acabou ficando em segundo plano, porque apesar do espaço ser limitado, a parede era extensa. E eu realmente queria fazer algo especial nela.

Assim eu me distrai com Cometa e um catálogo de filmes românticos enquanto Liam literalmente vivia um no meio do centro de Londres.

Ponto para Liam.

Não que eu não quisesse estar vivendo uma possível comédia romântica, mas eu estava com tantas coisas na cabeça que eu realmente não devia pensar nisso no momento. Então ocupei todo e qualquer lugar de meu cérebro organizando as aulas para a semana que começara.

E eu estava realmente ansioso para chegar logo na escola e ver como seria, então, acordei cedo e preparei um bom café, sendo acompanhado por Cometa e seus biscoitos matinais de trigo.

— Hey garoto, coma devagar. Assim você vai se engasgar, seu guloso. — falei para meu pequeno - que de pequeno não havia nada de fato - enquanto ele me encarava com suas grande pupilas.

Ele respondeu com um latido do tipo "Me deixe comer meus biscoitos em paz, humano chato." e eu acabei rindo, alcançando uma torrada e passando geleia na mesma.

— Você está mal humorado hoje, huh? O que é isso? Vou ter que te arrumar uma namorada para você deixar de ser chato igual ao Liam? — brinquei.

Cometa, parecendo entender que eu estava o provocando, se aproximou com sua cara de quem iria fazer alguma besteira e simplesmente pulou em meu colo abocanhando a torrada que eu comia, como se não fosse nada demais.

— Cometa! Porra, era a última. — reclamei com a minha melhor voz autoritária e olhei para aquele que devia ser o melhor amigo do homem com a expressão fechada. — Já falei que você não pode subir no colo das pessoas. E não pode pular. Em ninguém, muito menos no seu dono. Eu te dou tudo, você deve pelo menos me obedecer, amigo. — repreendi com a voz dura. Ele devia parar urgentemente de fazer isso.

Ele pareceu ver que eu falava sério, e sentou abaixando as orelhas e encarando o chão com a expressão de quem caiu da mudança. Eu odiava aquele olhar. Me deixava extremamente culpado.

Mas eu não devia me sentir, não é? Eu estava tentando educá-lo!

— Desculpe por gritar, mas é sério. Você não pode fazer isso, amigo. — amenizei meu tom e estalei os dedos indicando para ele se aproximar, fazendo carinho no topo de sua cabeça. — Você já me fez passar uma bela vergonha quando pulou em cima do pai de uma das minhas alunas. Eu quase tive um ataque do coração de vergonha por sua causa.

Ele latiu e abriu a boca, parecendo zombar de mim.

— Isso mesmo. E eu não sabia onde enfiar a cara quando vi que foi em cima do Louis que você pulou. Você estava bem informado que meu histórico já não estava dos melhores com ele. Esqueceu que eu derrubei tinta na roupa dele e manchei com água sanitária? Fala sério, o terno dele parecia ser novo.

Ele latiu novamente, repousando a cabeça em minha perna para eu continuar o carinho, me observando enquanto eu falava. E eu conhecia bem aquele olhar.

— Não me olhe assim, Cometa. O que está querendo dizer, huh? — perguntei com ele respondendo com um latido e... Ele estava rindo? — Eu já falei! Não sei o que aconteceu. Eu só... Fiquei um pouco nervoso? Era o primeiro pai que eu estava conhecendo, me dê um desconto! Não, não tinha nada a ver com aqueles grandes olhos azuis ou por ele ser um pouco bonito e... Ok, pare de me olhar com essa cara, seu babão. Não vou discutir isso com você. Você adora me julgar. E está levando as coisas para o outro lado. — empurrei seu focinho e terminei meu café, me levantando.

Então peguei meus materiais e dei uma última olhada no espelho. Minha calça de camurça marrom, chelsea boots da mesma coloração e um sobretudo preto com um suéter xadrez por baixo. Uma boa roupa para uma segunda feira.

— Hey garoto, você viu meu óculos? — perguntei a meu companheiro que no mesmo momento caminhou para a sala de estar e cheirou acima da mesa de centro, indicando que estava lá. — Você é o melhor. Não destrua a casa. Logo estarei de volta. — proferi por fim e dei um beijo no topo de sua cabeça, me dirigindo para fora do apartamento.

A segunda feira começou. Oficialmente!

...

O sinal soou estridente e alto ao início da primeira aula, com os alunos do ensino fundamental e educação infantil chegando preguiçosamente. Não havia visto Liam quando havia chegado, já que nossas áreas eram afastadas. Entretanto, esbarrei em Zayn pelos corredores.

— Hey Styles, bom dia! — ele desejou sorridente enquanto segurava suas pastas.

— Bom dia, Zayn! Tudo bem? Como foi o fim de semana?

— Tudo bem, sim. Um pouco parado. Mas acho que o próximo será melhor. Fui convidado a um chá de bebê. — ele sorriu. — Pelo menos será bom para respirar um pouco, as aulas a distância para o mestrado estão me matando.

— Eu imagino! Já estou me enrolando com as aulas daqui, imagina se ainda tivesse o mestrado no meio. — dei risada. — E chá de bebê, yeah?

— Na verdade, é mais um chá revelação. Mas acredito que eles vão juntar para os presentes. Você tem alguma ideia de algum presente bom? — ele perguntou consultando o celular por um momento. — Me falaram que fraldas é indispensável.

— E realmente são. Fraldas, lenços umedecidos e pomadas. Pode dar um pequeno kit e uma roupinha. — instruí já que eu entendia o mínimo sobre chás e bebês. — Tem alguma aposta do sexo da criança?

— Eles já tem um menino, então estou apostando em uma menina. — ele sorriu e olhou o relógio de pulso. — Merda, estou atrasado. Nos vemos na hora do almoço! — ele proferiu se afastando e acenando amigavelmente para mim.

— Até! — falei com um sorriso e caminhei em direção à minha própria turma, ansioso.

A sala ainda estava vazia, então pude arrumar com calma meu material e as cadeiras dos alunos, afastando do lugar usual e fazendo a bagunça que eu tanto gostava. Peguei alguns tapetinhos coloridos, organizando em um círculo no chão da sala para meus pequenos sentarem.

— Ok, agora só falta o resto. — falei sozinho e peguei minha bolsa, tirando uma grande caixa com os componente que eu iria precisar, me posicionando no centro do círculo.

Os pequenos começaram a chegar, olhando a sala um pouco diferente e os tapetes no chão, possivelmente achando estranho.

— Bom dia, crianças! Como estão hoje? Tudo bem? — perguntei sorridente ajeitando meus óculos de grau, ainda com a caixa em mãos.

— Bom dia, Tio Hazz. Que isso? A gente vai ter hora do soninho? — Edward perguntou vendo os tapetes.

— Tomara, eu tô com sono ainda. — Aurora proferiu.

— Eu também! — Naomi concordou.

— A gente não vai pintar hoje? — Lucca disse.

— Sem pintura, por favor. — Oliver disse tristemente.

Ok, aquilo acabou me deixando um pouco mal. Mas se minha aula desse certo, logo ele estaria feliz.

— Pequenos, por favor, eu sei que vocês não devem estar entendendo nada. — dei uma risada. — Mas a aula de hoje será diferente! Podem sentar. — indiquei que estava tudo bem e eles colocaram as pequenas mochilas no local indicado - um espaço no cantinho da sala com o nome de cada um - e se dirigiram aos tapetinhos.

— Hoje teremos aula de literatura, e como a leitura é algo importante, e que vocês devem exercitar, eu trouxe uma pequena surpresa. — falei mostrando a caixa que eu carregava, como se fosse um mágico prestes a revelar seu truque.

— Que isso, Tio? — Oliver que observava curioso perguntou, apontando.

— Isso, pequeno Oli, é um presente para todos vocês.

E assim eu abri a caixa revelando várias flores, de todos os tipos. Haviam rosas, orquídeas, girassóis, botões de ouro, cravos, gérberas, narcisos, hibiscos, lírios, margaridas entre muitas outras espécies da flora. As flores misturavam-se entre si, de vários formatos e cores diferentes, como um pequeno jardim de bolso guardado numa grande caixa.

Eles olharam as flores encantados, atrevo-me a dizer com um pequeno brilho nos olhos, mas eles não pareceram repudiar a ideia.

— Alguém gostaria de ser meu assistente e ajudar a distribuir? — perguntei segurando a risada com os olhos arregalados e brilhantes de meus alunos.

— Eu! — Amélia levantou sua mão, enfeitada de pequenas pulseiras cor de rosa e lilás. Ela também carregava uma pequena tiara dourada, com seus cabelos soltos e as unhas tomadas com um glitter clarinho.

Bom, alguém havia pintado suas unhas no fim de semana.

Era adorável ver como Amélia sempre estava perfeitamente arrumada, parecendo uma digna princesa retirada diretamente de um conto de fadas.

E com glitter, é claro. Uma princesa brilhante.

— Obrigado, princesa. — falei para a pequena que pegou algumas flores e andou pelo círculo distribuindo, imitando minha ação ao fazer o mesmo. — Todos vocês vão escolher uma flor, a mais bonita que acharem. Pode ser a que tiver a sua cor favorita, certo? Ou a que for mais cheirosa.

Eles assentiram e cada um pegou uma espécie de flor, segurando com seus pequenos dedos. Pelo canto dos olhos, pude notar que Amélia havia escolhido um Narciso amarelo e Oliver uma rosa branca.

Enquanto eu guardava a caixa após cada um escolher sua flor, consegui ouvir uma conversa paralela.

— Amy, olha! Eu escolhi uma rosa. — Oliver admitiu baixinho para a amiga, e pelo canto dos olhos, vi que ele a girou e cheirou a mesma de maneira graciosa.

— Que fofinha, Oli! Eu não sei o nome da minha, mas o papai gosta dela e vive comprando pra colocar lá em casa. — ela disse com uma risadinha, se inclinando e cheirando a flor do amigo. — A sua é muuuuuito cheirosa.

— A sua também é muito bonita. O papai já deu uma assim para a mamãe, acho que é girassol. — ele arriscou apontando para a flor de Amélia.

— Na verdade, essa flor é o Narciso. Ele vem do mito de Narciso, da mitologia grega, que era apaixonado pelo próprio reflexo. — eu disse para ambos baixinho, como se fosse um segredo entre nós três.

— E o que aconteceu com ele, Tio? — Oliver perguntou interessado na história mitológica.

— Bom, se eu me recordo, o rapaz, tão apaixonado por si e por seu reflexo na beira do rio, acabou virando uma flor. O Narciso assim virou a flor da vaidade e amor próprio.— eu expliquei e seus rostos se iluminaram em contemplação.

— Uau, eu não sabia disso. — Amélia proferiu. — Vou contar para o papai quando chegar em casa, acho que ele também não sabe.

Eu sorri, imaginando a cena. Uma Amélia animada contando sobre mitologia grega para o pai, que possuía uma flor com uma história tão profunda quanto o rio que Narciso mergulhou em busca do amor e de ter o próprio reflexo na palma da mão.

— Tenho certeza que ele vai gostar de saber. — sorri para ambos e levantei, atraindo a atenção do resto da turma.

Os rostinhos me olharam com atenção, e assim eu comecei de maneira oficial a aula.

— Vocês devem estar se perguntando "Por quê o Tio Hazz me deu uma flor? A aula não era de literatura?" e sim, ela é! E algo frequente nos livros, é a importância das flores. É um componente muito citado, principalmente em gestos românticos e de admiração. Presenteamos flores quando amamos alguém, não é? E a aula de hoje é exatamente sobre a manifestação de sentimentos literários através de gestos, como dar flores. — expliquei enquanto cada um me olhava atento. — Vou recitar um poema especial para mim, e depois vamos iniciar o momento de discussão, sim? Se alguém tiver alguma dúvida, pode levantar a mão. Estamos aqui para ouvir e aprender uns com os outros.

Eles concordaram com um aceno de cabeça em silêncio, me observando sentar de frente para todos em um dos tapetinhos. Assim, recitei o poema marcado em meu livro gasto e antigo.

— Por céus e mares eu andei
Vi um poeta e vi um rei
Na esperança de saber o que é o amor
Ninguém sabia me dizer
E eu já queria até morrer
Quando um velhinho com uma flor assim falou:

O amor é o carinho
É o espinho que não se vê em cada flor
É a vida quando
Chega sangrando
Aberta em pétalas de amor.

Após recitar, quase musicalmente, tirei o olhar do livro e voltei para meus pequenos, que pareciam estar gostando das palavras que eu ali proferia. Vendo isso como algo positivo, continuei.

— Na literatura, estudamos o fenômeno e influência dos livros na vida humana. Ela é vital, e por isso é importante que a gente exercite, certo? Hoje eu quero mostrar que o amor é um tema recorrente nos livros. E por isso eu trouxe uma flor para cada um. Essas flores que vocês carregam representam um pouquinho do amor que existe em cada um de vocês. Se vocês sentem amor, vocês já foram influenciados pela literatura. Pela vida. E pela humanidade. — olhos arregalaram e bocas se abriram ao ouvir minha fala. — Agora, eu tenho uma proposta para vocês. Imaginando que todos somos pequenos escritores, quero que escrevam em seus cadernos um tópico, um tema. Sobre o que vocês escreveriam se pudessem? O atrai a atenção de vocês em uma história? Vale de tudo. Uma história sobre uma princesa e um sapo, sobre um jogador de futebol, dinossauros, ou até sobre ter um professor chato que inventa atividades malucas. — risadas altas ecoaram. Eles pareciam se divertir. — Após isso, quero que cada um apresente a ideia da história. Valendo!

Eles se assustaram com a atividade proposta mas correram para pegar seus cadernos decorados, se espalhando pela sala e fazendo a grande bagunça que eu gostava.

— Tio, você vai escrever sua história também? — Amélia perguntou sentando ao meu lado.

— Eu tenho uma já planejada. Mas não sei se vai dar tempo para apresentar. A atividade é para vocês, pequena. — eu falei e fui respondido com um grande biquinho.

— Eu sei. Mas eu queria ouvir sua história. Podia ser que nem a da rosa da noite. — ela disse distraída enquanto brincava com o lápis.

— Vou pensar em algo assim. Agora se concentre na atividade, huh? — brinquei e balancei seu pé, coberto pelo tênis, ao que ela deu uma risadinha de porquinho.

Auxiliei os alunos que estavam com dificuldades ou até sem inspiração para uma ideia de história, e após um tempo passado, todos já estavam com as ideias prontas, se posicionando para apresentá-las para o resto da turma.

— A minha história é sobre uma menina que vai pra China e salva todo mundo, que nem no filme da Mulan! — Naomi disse.

— Minha história é sobre o rei do oceano, que nem o Aquaman. — Edward contou.

— A minha é sobre um astronauta que vai para a lua. — Lucca proferiu.

— A minha é a melhor. É sobre um guerreiro que salva o reino. Nada de história de princesa. — Alex disse com superioridade.

— A minha é sobre um leprechaun. — Oliver disse com uma risadinha.

As apresentações seguiram até que todos contassem um pouco de suas histórias. E eu ouvia atento e interessado. A maioria pontuava a clássica jornada do herói, com um ato que salva uma população e um reino. Todos ali possuíam, aparentemente, o desejo de serem grandes e fortes. Fortes o suficiente para salvar quem amam, o que era um gesto frequente nos livros de aventura. É impressionante como crianças conseguem atingir um alto nível de criatividade quando estimuladas. E eu estava realmente satisfeito de poder ser a figura que estava estimulando. Tentando puxar o melhor delas.

E claro, nada comparava-se ao grande sorriso que cada uma abria quando era recebida por aplausos após contar sobre sua história.

— Eu fiz uma história sobre uma princesa que salva o príncipe do dragão malvado e- — Amélia disse por fim, sendo a última da turma, porém sendo interrompida logo em seguida.

— Mas o certo é um guerreiro forte e corajoso lutar contra o dragão, e não a princesa. A princesa é salva pelo guerreiro. — Alex explicou convicto.

Amélia então olhou para ele e colocou a mão na cintura, indignada e mantendo uma pose firme.

Se eu estivesse conhecendo bem, essa era sua expressão de "Não venha contestar alguma história porque ela é apenas minha."

— Meu pai disse que princesas são tão fortes e corajosas quanto guerreiros. Então a minha salva o rei do dragão malvado sim. — ela argumentou.

— Mas não tá certo assim. — ele disse e eu intervi antes que aquilo gerasse mais um briga. Alex realmente gostava de perturbar Amélia até a mesma ficar irritada.

— Ok, chega vocês dois. Cada um cria sua história. Alex, pare de criticar da história de sua colega, por favor. — repreendi sério e o pequeno assentiu bufando, mas se calou. — Pode continuar, Amélia.

Ela assentiu sorrindo e corou um pouco ao notar que eu estava prestando atenção na descrição de seu conto, mas continuou mesmo assim.

— O dragão malvado que cuspia fogo prendia o príncipe em um castelo na torre mais alta. Então a princesa chamou seus amigos, os bichinhos mágicos, e eles resgataram o príncipe com a ajuda de um cavaleiro da floresta. E aí todos viveram felizes para sempre no reino. O príncipe, o cavaleiro e a princesa. — ela terminou docemente enquanto fazia as descrições gesticulando de maneira desengonçada, e sorriu tímida brincando com os dedinhos apertados na folha do caderno e seguida.

Definitivamente ela estava tímida com tamanha atenção, mas não pareceu demonstrar isso por sua postura. E quando terminou a trajetória de seu conto, ao invés de olhar para a turma esperando os aplausos e aprovação, seus olhos foram para mim.

Diretamente para mim.

Ela queria justamente os meus aplausos e a minha aprovação.

A atenção de seu professor.

Eu acabei sorrindo e aplaudi junto do resto da turma. Aquela história não parecia algo visto em filmes, então os mesmos não serviram de inspiração. Na verdade, pela forma que ela proferiu suas palavras, seu conto parecia vindo 100% de sua mente.

Original, para ser honesto.

E muito, muito brilhante.

— Eu amei muito todas as histórias, crianças. Todos vocês são muito criativos, escritores de verdade! Sempre que pensarem em alguma história e quiserem compartilhar, podem me avisar que eu irei adorar ouvir. — eu falei com um grande sorriso pela aula ter caminhado do jeito que eu queria. — Vocês podem ficar com suas flores pelo resto do dia, para servir de inspiração nas outras aulas. Ah, e vocês tem uma atividade para casa, certo? Para estimular a leitura, vamos trabalhar nesse bimestre um livro muito especial: O pequeno príncipe! Quando chegarem em casa, peçam para os pais de vocês lerem e acompanharem a leitura de quem tiver dificuldade. Vamos fazer um trabalho muito especial nesse bimestre com ele.

Eles assentiram e eu olhei o horário em meu relógio de pulso, ao mesmo tempo que o sinal tocou indicando a hora do lanche.

— Por ora é isso, estão liberados! — falei por fim e sorri acenando para meus pequenos que correram para pegar suas lancheiras.

Entretanto, Amélia continuou na sala enquanto os amigos deixavam a mesma, vindo até mim.

— Ei, tio Harry. — ela disse baixinho e puxou a barra de minha calça.

— Sim?

— Você não disse sua história. — ela informou com a feição marcada por um pouquinho de raiva, mas ainda sim era adorável.

— Você realmente quer saber, não é? — perguntei com uma risada.

— Sou curiosa. — ela admitiu dando de ombros. — Pode contar pra mim, eu guardo segredo!

— Tudo bem, tudo bem. Mas vamos lá para fora, yeah? O dia está lindo. Você deve aproveitá-lo. — falei e a guiei para fora da sala, indo para o corredor e me dirigindo a larga escada que daria para o pátio no piso inferior.

Amélia então concordou e me seguiu, vendo a grande escadaria.

E sem aviso prévio, ela segurou minha mão para descer a mesma.

Ok, aquilo me pegou um pouco desprevenido. Mas foi um gesto tão inocente e puro que eu realmente tive vontade de gritar o quanto fora adorável.

— Agora conta sua história, Tio. — ela pediu doce enquanto eu a ajudava a descer.

— Bom... Eu não tive muito tempo para pensar, mas... Era uma vez um pequeno pintor. Ele adorava desenhar tudo que visse pela frente. Pintava o céu, o mar, o sol, as flores e os pássaros perto de onde morava. O pintor vivia sozinho em uma pequena cabana na floresta encantada, e quando não estava pintando seus quadros, ele gostava de cantar e dançar. Mas ele não tinha uma companhia para acompanhá-lo.

— Coitadinho. O que aconteceu com ele? — ela perguntou em um sussurro após descermos juntos todos os lances de escada com ela ainda assegurando minha mão, que facilmente perdia-se devido a diferença gigante de tamanho.

— Ninguém sabe. Dizem que ele saiu vagando pela floresta procurando alguém que cantasse e dançasse junto dele. Ele encontrou companhia na própria floresta. Mas eu não sei exatamente o que aconteceu depois que ele foi embora. — expliquei e virei de frente para a pequena que me olhava com olhos atentos.

— Você promete dizer o que aconteceu com ele quando terminar a história? Quando descobrir pra onde ele foi? — ela perguntou e ofereceu o mindinho para mim.

Eu sorri com o gesto, encarando aqueles olhos de avelã com uma doçura e sensibilidade que eu tenho quase certeza já ter visto antes. Era algo tão marcado, mas ao mesmo tempo tão sutil, que seria impossível não acabar me lembrando de outros olhos.

Selei nossos mindinhos, prometendo, um dia, revelar o fim do pequeno pintor da floresta mágica.

— Eu prometo, Amélia.

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