A Outra Vida De Allen - A Len...

By YasminLAlmeida

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Certo dia alguns rebeldes - participantes de uma guerra diferenciada - estão atacando o lugar onde Allen vive... More

Prólogo
Capitulo 1 - Segunda Parte
Capitulo 2 - Primeira Parte
Capitulo 2 - segunda parte
Capítulo 3

Capitulo 1 - Primeira parte

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By YasminLAlmeida

  Acordei em um sofá, coberta por um lençol velho, em meio a uma sala de pintura clara. Uma TV velha passava um programa noticiário, mas a tela parecia destorcida. Apertei o lençol ainda mais em volta de mim, enquanto apertava os olhos.

-Tudo bem agora – alguém disse. Uma voz que eu já conhecia.

Matt tinha pouco mais de 1,80; olhos castanhos claros; uma covinha gigante que se formava em sua bochecha toda vez que ele sorria; a pele mais clara que o normal e um nariz um pouco rebitado. Seu cabelo entre liso e cacheado combinava com os olhos e caia em tons claros e escuros até os ombros. Ele era a única pessoa que eu me lembrava de conhecer que conseguia erguer apenas uma das sobrancelhas.

-Onde está minha mãe? – perguntei, esperando que ele tivesse descoberto.

Ele se sentou na ponta do sofá onde meus pés não alcançavam e descansou a cabeça no encosto.

-Não sei, mas eu não posso te dar esperanças – ele deu um sorriso triste. Sua covinha não apareceu tanto quanto sempre aparecia.

Franzi a testa e me sentei, ainda apertando o lençol.

-Você não acha que ela esteja com vida, não é?

-Eu não vou te dizer nada sem saber o certo, Allen, mas não posso dizer que acredito que ela esteja bem – ele baixou os olhos. – Sinto muito.

Mas eu não conseguia acreditar que ela não estava bem, ela tinha que estar... Alguém a tinha pego, ou ela tinha fugido achando que teria me deixado segura, mas ela estava viva. Eu tinha que acreditar nisso. Apertei os olhos segurando uma lagrima que quase escorreu.

-Quem é ela? – perguntei baixinho, mais para eu do que para ele. Eu havia falado um pouco com a mulher na noite anterior, mas ela não tinha respondido muita coisa.

-Ela? – perguntou Matt, com uma sobrancelha levantada.

-Sônia.

-Minha vó – ele sorriu, parecia ter sido automático ao em vez de proposital.

-Então ainda tem pessoas da sua família aqui – sorri.

Ele deu de ombros e pareceu se prender em algum pensamento.

-Só minha vó e meu tio, mas ele está a vários quilômetros daqui – ele brincou com os dedos da mão. - O restante da minha família está em outras cidades, ou já se foram... O importante é que ainda resta alguém com vida. Inclusive fico feliz que esteja bem.

-O mesmo de você – deixei meus pés tocarem o chão avermelhado - um vermelho tão sujo e escuro que parecia outro tipo de cor -, eles esfriaram assim que deixaram a coberta, porem os deixei lá. – É bom saber que ao menos alguém que eu conheça esteja vivo.

Ele assentiu, mas não disse nada.

-Alias, por que sua vó arriscou a vida para me salvar? Quase não sai da casa... – senti um arrependimento assim que as palavras saíram, parecia que eu não estava agradecida. – Quer dizer... Minha mãe mandou que eu ficasse no quarto.

-Porque eu pedi que fosse – respondeu ele, sem nenhuma diferença na voz.

-Por quê? Ela poderia estar morta.

-Quando invadiram minha casa quando eu tinha dez anos você mandou seu pai lá para tentar me ajudar a sair, inclusive não o vimos mais depois disso. Sinto muito – ele baixou o rosto até não dar para ver seus olhos. – Eu não poderia deixar você morrer.

-Mas ela é sua vó, e minha mãe...

-Tinha esperanças de que ela viesse com você. Quanto a minha vó, eu sabia que ia ficar bem, ela já tinha passado por coisas semelhantes antes.

-Mas a fazer passar por isso novamente parece erra...

-Sinto muito! – ele interrompeu. – Sinto muito, ok? Lamento não querer que você morra, desculpa se eu fiquei ao menos feliz de você aparecer aqui com vida.

Baixei a cabeça, pregando os olhos no piso. Isso fez com que eu me sentisse mal, por mais que soubesse que a vó dele também deveria ter se sentido assim quando arriscou a vida dela para salvar a minha. Eu deveria agradecer depois, o máximo que pudesse.

-Desculpe – falei, levantando o olhar na esperança de encontrar o dele, o que não foi em vão. Ele sempre olhava nos olhos das pessoas, a não ser quando não queria que elas soubessem algo dele, ai ele evitava qualquer encontro.

Ele sorriu, mas o sorriso era tão sem vida que me fez ficar um pouco assustada.

-Então, eu vou dormir um pouco, caso precise de algo... Bem, só tem um quarto... – ele apontou para uma porta de madeira antiga, andou até lá e a fechou atrás de si.

Me levantei rapidamente quando notei que estava sozinha. Queria ir lá para fora, sentir o ar em mim, ver como é que estava a rua, mas por mais que meu desejo fosse forte eu tinha certeza de que não iria ter nada na rua além de destruição. Sônia havia me explicado melhor o que estava acontecendo; não era uma verdadeira guerra, eram algumas pessoas revoltadas que se uniam para atacar as casas mais pobres. São os sem corações do mundo. Tantas pessoas que ao em vez de bombas precisam de paz, e ninguém entende isso. O que eles queriam? Minha família já não tinha nada; restava somente eu e minha mãe. Eu tinha minha vida nada invejável ali; a não ser por aqueles que buscam algo a mais do que dinheiro, mas eu não sabia se ainda existiam pessoas que queriam algo mais do que isso no mundo; não sabia quantas pessoas honestas ainda existiam. Eu não tinha quase nada e eles tiraram o que me restou, duas vezes. Meu pai, depois minha mãe. ''Se você não tem dinheiro deveria estar fazendo algo útil para quem tem'', era o que estava escrito em algumas placas. Mas que tipo de guerra era essa? Placas escritas: A Guerra Da Sabedoria, mas de sabedoria não tinha nada; lutavam contra a própria sabedoria, e de tanto achar que eram espertos acabavam burros.

-Vejo que já acordou, querida – Sônia entrou, se sentando no sofá. Eu ainda estava em pé em frente a ele, sem saber uma direção correta de onde ir. Sentei junto com ela. – Não vai querer ir lá fora, não somente pelo cenário, mas porque ainda não acabou; mas fique tranquila, eles têm medo de atravessar o rio.

Sorri, por boa vontade. Ali estava alguém diferente dos que estavam em guerra, ela tinha salvado minha vida e em vez de pedir algo em troca se sentou comigo, tentando me trazer algum conforto.

-Obrigada – falei com sinceridade. – Eu não sei como agradecer, nem sei se posso agradecer, mas obrigada.

-Deixar alguém morrer sabendo que eu poderia ter salvo ia doer muito mais. Ter você aqui é um presente. Se não fosse por sua coragem e até mesmo rebeldia você não teria saído do quarto, ai talvez eu não estivesse aqui, e se estivesse tudo o que eu fiz teria sido à toa. Eu também te agradeço, menina.

Eu queria abraça-la, era como se fosse minha vó também, como se fosse à esperança no meio do nada; mas não a abracei, sorri novamente, esperando que meu sorriso fosse o suficiente para ela.

-Não temos comida, digo... Nada além de algumas coisinhas, mas o que tem pra hoje é uma torrada. Vou parti-la ao meio para você e Matt, tudo bem? Espero que seja o suficiente para matar ao menos um pouco da fome.

-E a senhora? – perguntei.

-Eu não estou com fome – ela sorriu. Poderia dizer o que fosse, mas seu corpo era quase um esqueleto; seus ossos estavam à mostra em vários lugares. Ela não parecia totalmente acabada, mas não tinha a melhor aparência do mundo.

Antes que eu pudesse responder ela foi em direção a um balcão de madeira, como a cor do restante da casa; estava quase caindo. Ela o ergueu para cima e entrou em um tipo de cozinha desarrumada.

Olhei para o quarto onde Matt estava, não tinha barulho algum vindo de lá.

Sônia voltou um tempinho depois, com uma torrada que parecia ter manteiga passada por cima, quebrou-a ao meio e me deu um pedaço.

-Se quiser inteira ainda tem outra, mas se comer essa não sei se terá algo para depois.

-Está ótimo assim – sorri.

Então ela me deixou na sala e foi até o quarto; quando voltou estava sem o pedaço de torrada, mas parecia feliz.

Quebrei a minha ao meio - ela estava um pouco mais dura do que o normal –, e estiquei para ela a outra parte.

-Eu não estou com fome – falei, fazendo o possível para parecer sincera. – Vou comer essa parte só para comer algo, mas eu vi coisas demais ontem e isso ainda me tira a fome.

Ela se sentou no sofá, sorriu e pegou a torrada. Comeu mais rápido do que eu. Ela deveria estar com muita fome, há quanto tempo que não comia?

-Vamos para a cidade segunda-feira – ela disse assim que terminou a torrada.

Isso não era uma coisa boa para ouvir, a cidade estava cheia de pessoas que faziam parte da guerra; só estaríamos seguros lá se tivéssemos pelo menos uma casa.

-Mas...

-Matt quer contar uma coisa a você, mas ele quer contar sozinho – ela deu de ombros. – Você vai entender.

Sorri, assentindo. Dentro de mim varias coisas se passavam, mas eu não queria demonstrar, não queria que ela achasse que não me sentia segura, porem a verdade é que eu estava com medo, aquilo ali já era novo para mim, mas a cidade... Eu nunca tinha realmente ido até lá, não para morar. As pessoas daquele lugar não davam muita bola para gente como nós, eu me sentia um pouco esquecida.

-Eu vou regar as plantas da beira do rio – Sônia se levantou. – Volto depois. Elas não podem ficar sem água, são as únicas que restaram; estão escondidas para não as roubarem.

Assim que disse isso ela se virou e saiu da casa.

Isso estava me deixando com medo. Ela sair? E se não voltasse? Quantas pessoas ainda estavam ali fora? Tudo bem que ela tinha estado fora na maior parte do tempo, mas ainda assim era preocupante.



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