Amor Maluco

By alicejfsilva

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Apesar de crescer com a fama, Malu sempre procurou levar uma vida tranquila, morando em Hills City, uma peque... More

Aviso
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
Capítulo 48
Capítulo 49
Capítulo 50
Capítulo 51
Capítulo 52
Parte 2 - Capítulo 53
Capítulo 54
Capítulo 55
Capítulo 56
Capítulo 57
Capítulo 58
Capítulo 59
Capítulo 60
Capítulo 61
Capítulo 62
Capítulo 63
Capítulo 64
Capítulo 65
Capítulo 66
Capítulo 67
Capítulo 68
Capítulo 69
Capítulo 70
Capítulo 71
Capítulo 72
Capítulo 73
Capítulo 74
Capítulo 75
Capítulo 76
Capítulo 77
Capítulo 78
Capítulo 79
Capítulo 80
Capítulo 81
Capítulo 82
Capítulo 83
Capítulo 84
Capítulo 85
Capítulo 86
Capítulo 87
Capítulo 88
Capítulo 89
Capítulo 90
Bônus Mike
Capítulo 91
Capítulo 92
Capitulo 93
Capítulo 94
Parte 3 - Capítulo 95
Capítulo 96
Capítulo 97
Capítulo 98
Capítulo 99
Capítulo 100
Capítulo 101
Capítulo 102
Capítulo 103
Capítulo 104
Capítulo 105
Capítulo 106
Capítulo 107
Capítulo 108
Capítulo 109
Capítulo 110
Capítulo 111
Capítulo 112
Capítulo 113
Capítulo 114
Capítulo 115
Capítulo 116
Capítulo 117
Capítulo 118
Capítulo 119
Capítulo 120
Capítulo 121
Capítulo 122
Capítulo 123
Capítulo 124
Capítulo 125
Capítulo 126
Capítulo 127
Capítulo 128
Capítulo 130
Epílogo
Agradecimentos

Capítulo 129

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By alicejfsilva

Solto minha mala na entrada de casa, parando para observar o ambiente e dar de cara com tudo exatamente da mesma forma que estava quando sai. A luz da sala está apagada, mas daqui consigo ouvir vozes vindo de uma conversa animada na cozinha.

Respiro fundo, senti saudade daqui depois de ter ficado quase um mês longe. De volta ao lugar simples e aconchegante no qual cresci, longe de todo aquele luxo que pude conhecer da nova realidade de Malu. Não que tenha sido ruim, longe disso.

Solto a maçaneta da porta assim que a fecho, o barulho é suficiente para fazer com que o assunto se encerre no outro cômodo. Meu coração dói devido às circunstâncias, mas sorrio ao saber que irei ver minha mãe.

Acendo a luz, agora consigo escutar o som de passos se aproximando e a voz da minha mãe questionando quem chegou.
Ergo meus ombros com um pequeno sorriso ao ver mamãe surgir de trás da parede, parecendo paralisar em surpresa com a minha presença.

- Não vai me dar um abraço, senhorinha? - Abro meus braços para recebê-la com carinho, Haydee Collins se apressa para me alcançar, acho que nunca fiquei tanto tempo longe.

- Ah, meu querido... - Me aperta.

Por cima de sua cabeça consigo ver Carter encostado no batente da porta sorrindo ao nos observar, ele me cumprimenta com um aceno de cabeça. É bom ver que ele ficou com ela todos esses dias, um dos motivos que me fez aceitar viajar foi saber que mamãe não estaria sozinha com ele ao seu lado.

- O que estavam aprontando? - Pergunto ao me afastar um pouco dela e ver que está usando um avental parcialmente sujo de farinha, que também está presente nos cabelos de Carter.

Volto minha cabeça na direção dele novamente, mas percebo uma outra pessoa surgindo ao lado dele. Se trata de uma garota baixinha e magricela.

- Olá - cumprimento com um sorriso. - Quem é ela?

Ela parece tímida e um pouco sem graça por estar sendo o centro das atenções. Seus cabelos castanhos escorregam quando se vira para me observar com curiosidade. Ela é uma adolescente, mas não arrisco um palpite exato de sua idade.

- Esta aqui é a filha mais velha de Carter, Sam.

- Oi. - Acena para mim com a cabeça levemente direcionada para o chão. - Suponho que seja o Mike?

- Sim, sou o Mike. É um prazer te conhecer, Sam. - Inclino um pouco a cabeça para tentar ver seu rosto melhor. - Quantos anos você tem?

- Dezessete.

- São duas meninas, certo? - Encaro Carter. - A outra tem qual idade?

- Oito.

- Minha irmã e eu achamos que não íamos te conhecer nunca.

Fico um pouco surpresa com a idade da caçula, considerando a de Carter. Se não me engano, ele é poucos anos mais jovem que minha mãe. Se bem que ela ficou grávida muito cedo.

- É mesmo? Bom, agora só falta ela. Por que não veio também?

- Ela está com nossa mãe neste final de semana. Tinha outra ideia sobre você, Sophie vai te adorar. - Suponho que esteja se referindo à irmã.

- Fico feliz, seremos meio que irmãos agora - brinco.

Esperava qualquer coisa quando chegasse, menos isso. Sam parece ser uma adolescente tranquila e parece se dar bem com minha mãe.

- Vem, Sam, vamos tirar os biscoitos do forno. - Carter vai com a filha de volta para a cozinha, suponho para que mamãe e eu possamos conversar.

Afundo minhas mãos nos bolsos da calça, demorando ao máximo para encarar Haydee.

- Pensei que viria apenas no final de semana, querido - diz.

Forço um sorriso e apenas nego com um gesto de cabeça, a puxando para outro abraço.

- Senti sua falta. - Beijo seus cabelos. - Fico feliz que tenha tido ótimas companhias.

- Sam é mesmo adorável.

- Ela mora com o Carter?

- Ainda não, ele está lutando pela guarda das meninas - explica. - Mas quero saber de você agora: como foi lá?

- Ah, mãe... foi incrível, não tem noção. A cidade é maravilhosa, Malu estava comigo e tivemos ótimos momentos juntos. Simplesmente não tenho como colocar em palavras o quanto me fez bem viver com ela, sabe? Como se fossemos...

- Recém-casados?

- Algo assim. - Fixo meus olhos no chão.

- Eu vi, passou em vários programas de fofoca inúmeras fotos lindas de vocês dois pela cidade. Você se saiu muito bem em todas elas, acredita?

- Eu realmente não me preocupei com isso.

- E por que antecipou seu retorno? E, aliás, Malu também voltou contigo?

Balanço a cabeça, me sentando no sofá e deixando um espaço para ela me acompanhar.

- Eu te conheço. Aconteceu alguma coisa - não é uma pergunta, ela simplesmente sabe.

Deixo minhas costas se chocarem contra o estofado do sofá, encarando o teto em busca de forças para conseguir contar à minha mãe o que realmente aconteceu. Não me orgulho de como fugi da situação e sei que ela vai pensar da mesma forma, Haydee não me ensinou a agir como um covarde. Por mais que eu tenha voltado porque realmente penso ter sido o melhor para nós, principalmente para ela, não excluo o fato de que estava me matando ficar perto dela daquela forma. Odeio ver Malu tão pra baixo e simplesmente não tinha ideia de como lidar com tudo, ainda mais sendo eu o culpado.

- Ela me pediu em casamento - declaro.

- Querido, isso é incrível! Meu Deus, não acredito que este momento finalmente chegou.

Pressiono a ponte do meu nariz com o polegar, não sei o que dizer.

- Nem eu acreditei... - resmungo. Fui pego completamente de surpresa, minha reação foi péssima. Talvez se tivéssemos conversado sobre isso antes, tudo teria sido diferente.

Haydee está sorrindo de uma forma tão sincera e radiante, aparenta estar muito feliz em saber que Malu e eu finalmente nos acertamos. Quem me dera. O pior é ainda ter que contar para ela a merda que fiz.

- E aí, me conta! Malu que fez o pedido? Essa menina é uma graça, você deve ter ficado tão feliz. Já decidiram uma data? Espero que não seja no mesmo dia que Carter e eu marcamos o nosso.

Me sinto enrijecer completamente pego de surpresa, só pode ser alguma brincadeira. Olho para Haydee com seriedade, buscando alguma expressão em seu rosto que indique que ela está apenas fazendo uma piadinha boba para me fazer sorrir.

- Espera, o quê?! - Ajeito minha postura, não acho que tenha entendido errado. - Como assim, mãe?

- Bom... - Cobre sua boca, me sinto cada vez mais impaciente. - Não queria contar desta forma, filho. - Dá risada e estende sua mão para me mostrar o anel de noivado reluzente em seu anelar. - Carter pediu a minha mão no último domingo!

Separo meus lábios, tentando escolher as palavras que vou dizer a seguir.

- Isso significa que... - rio sem vontade, não pode ser sério.

- Vamos nos casar no próximo mês, não queremos nada tão grande, não temos mais idade e nem paciência para isso.

Minha mãe e Carter vão se casar em algumas semanas? Porra, como assim? Eu tinha tanta certeza que iriam demorar até anos para entrarem no assunto casamento, não é do feitio de Haydee apressar as coisas e decidir algo assim de forma tão inusitada e em cima da hora. Mamãe precisa sempre de um planejamento antes, avalia todos os lados, pesa prós e contras, mede tempo e cada mínimo detalhe. Como é possível que essa mesma mulher tenha aceitado se casar com tão pouco tempo de relacionamento e ainda menos de preparação? O que só prova que é uma piada da vida.

- Mas... tão rápido? - Minha mente projeta a imagem do momento em que recusei o pedido de Malu com todos argumentos que dei, mas o principal deles parece ter acabado de ser resolvido.

- Ah, meu filho, Carter e eu temos certeza do nosso amor. Por que enrolarmos mais? Não temos todo o tempo do mundo. Eu amo ele, ele me ama, o que mais é preciso? Nós dois temos uma vida estável, somos adultos e meu filho já é um homem crescido. E estava preocupada contigo, mas agora que sei que também vai se casar com Malu, que sei que estou te deixando em boas mãos, não existe mais com o que me preocupar. Tudo bem pra você? Eu aceitei porque sabia que não estaria te deixando sozinho, ainda mais depois que te vi tão feliz nas fotos e vídeos que foram divulgados de vocês dois.

Encaro a parede com incredulidade, não acredito nisso. Meu estômago embrulha, ameaçando jogar fora as bolachas que comi no avião. Haydee está acabando de me dizer que vai se casar, certamente ir morar com Carter e, possivelmente, Sam e Sophie. O maior motivo que me fez recusar o pedido foi crer que ela e ele não se casariam tão cedo, estava com medo de deixá-la sozinha depois de tudo o que já passou e não consegui pensar em nenhuma solução para reverter; agora ela simplesmente chega e me diz isso? Só pode ser uma piada do destino que resolveu tudo como se não fosse problema algum.

Passo minhas mãos em meu rosto.

- Qual o problema? Não gostou da notícia? Pensei que ficaria feliz.

Busco seus olhos confusos, em tantos anos acho que nunca tinha visto minha mãe tão animada e feliz. Outro tapa no meio do meu rosto depois de ter deixado Malu por achar que Haydee ficaria solitária e se sentiria largada.

- Claro que gostei, estou tão feliz pela senhora, de verdade. Só que...

- Tem algo que não está me contando.

Entrelaço meus dedos na parte de trás do meu pescoço, sustentando minha cabeça que parece prestes a explodir. Eu literalmente feri os sentimentos de Malu por algo que já estava sendo solucionado. Nunca fui capaz de medir meu amor entre as duas, mas Haydee já sofreu tanto com o abandono de Mason que pensei que sofreria ainda mais caso eu fosse embora e acabei não pensando em como Malu se sentiria com isso. Eu sei que ela entende, mas não quer dizer que não doa, é uma resposta automática que nosso próprio cérebro projeta.

Tento pensar em alguma forma mais suave de contar para mamãe o que eu fiz, não tem jeito.

- Mãe, eu não aceitei o pedido de casamento da Malu.

Haydee se levanta em um pulo, adquirindo uma postura ameaçadora que costumava assumir quando ia me dar alguma bronca.

- Por que não?! Por acaso isso não é a coisa que mais desejava? Mike, pelo amor de Deus, o que você falou para aquela garota?

- Mãe, eu... - Mordo minha língua para não falar um palavrão. - Não estava com cabeça para pensar numa solução em meio aos problemas que estão acontecendo.

- Solução pra quê?

- Para a empresa, minhas emoções, a morte de Lourdes, herança e... pra não te deixar aqui sozinha.

- Filho... - Se senta ao meu lado. - eu já não havia conversado contigo sobre isso? Meu anjo, para de privar sua felicidade pelos outros. Eu já vivi a minha vida e estou recebendo uma segunda chance no amor agora. Mike, querido, não cometa os mesmos erros que eu. E, com relação a empresa, você já não resolveu isso com aquele seu irmão?

- Não é dele a empresa, Tommy se recusa a aceitar ficar por muito tempo porque pensa que nossa avó não o achava digno de ser o dono, não tenho certeza. Mas preciso encontrar alguém definitivo ou... simplesmente não sei. Não sei o que fazer com a herança, com o que estou sentindo e toda esta história com Lourdes.

- Não quero banalizar seus problemas, filho, mas não é tão complicado quanto está pensando. O que fazer com a herança? Meu amor, vai gastar, vai conhecer suas novas propriedades, vai ajudar quem precisa, vai viver sua juventude de verdade e longe desta cidade que é pequena demais para você; você merece tudo o que te foi dado.

"Com relação sua avó: sinto muito por dizer, mas essa perda vai estar sempre contigo e apenas o tempo vai fazer isso doer menos, apenas tente seguir e, me corrija se estiver errada, estar com Malu não te ajudou em nada durante esses dias, não te fez feliz verdadeiramente? Seus sentimentos podem estar uma bagunça com tantas coisas ruins, mas o que você sente por ela não foi e nem pode ser mudado. Então...?"

Recebo suas palavras como um soco no estômago.

- Parece tão bobo quando colocado dessa forma.

- Eu sei, querido. Mas, acredite, se você for esperar para se casar apenas quando estiver livre de problemas, sinto te decepcionar, mas vai morrer solteiro.

Me sinto quase envergonhado, definitivamente merecia ouvir tantas verdades.

- Como ela reagiu?

- Ficou tão magoada, mas me garantiu que estava tudo bem entre a gente. Mas acho que estraguei tudo hoje.

- Por quê?

- Fui embora sem fazer nada para fazê-la se sentir melhor, apenas deixei tudo em aberto e dei no pé. Ela fez parecer que não se importava, que eu podia fazer o que quisesse.

- Mike Stewart Collins, me diga que você não fez isso! Por que homens são tão idiotas? Mike, aquela garota entregou o coração dela pra ti e no dia seguinte você a largou sem pensar duas vezes?

- Ela mal conseguia olhar na minha cara sem parecer que estava recebendo uma facada. Não queria continuar machucando ela com minha presença. Estava um clima horrível entre a gente, mãe.

- Você deveria ter comunicado ela.

- Quando falei que iria voltar, Malu disse pra eu fazer o que quisesse, então pensei que estava tudo bem.

- Mike, isso na nossa linguagem quer dizer um grande e enorme "não faça".

Já estava me sentindo culpado antes, agora então me sinto um lixo.

Apoio meus cotovelos nos joelhos e escondo o rosto entre as mãos. Cacete, tomei uma sequência de decisões estúpidas e impensadas.

- Você precisa falar com ela e dar um jeito nisso tudo. Eu não te ensinei a fugir dos seus problemas, Mike. Está mesmo disposto a perder a mulher que ama? Filho, em algum momento ela vai se cansar disso e vai ser tarde demais pra você. Não quero que sofra por amor como aconteceu comigo. Acredite, quanto mais os anos passam mais inconformável fica. A escolha é sua. Pensa no que você quer, esqueça Hills, me esqueça e foque no seu maior anseio. Mike, você ir formar sua família em outro estado não significa que está me abandonado, faz parte da vida e eu tenho muita sorte de ter um filho tão bom. Se você e Malu não darem certo, eu sou incapaz de me casar e te deixar aqui sozinho. Querido, se você não for eu também não vou.

- Você não pode fazer isso, se sacrificar por minha causa.

- É exatamente o que você fez. Não se sacrifique, não sacrifique a Malu por minha causa.

- Acho que é tarde agora.

Não pensei na consequência dos meus atos, apenas pensei que seria o melhor para Malu. Não queria continuar lhe dando expectativas. Mas acho que não devo procurá-la enquanto não estiver uma decisão completa, foi como ela mesma disse: não posso continuar nesse vai e vem.

A campainha toca, interrompendo a discussão com minha mãe e qualquer linha de raciocínio que estava tendo.

- Pensa no que te falei, filho. Estou feliz de te ver aqui, de qualquer forma.

Me levanto para atender a porta, sendo surpreendido ao ver que se trata de Johnny. Ele não abre um único sorriso, apenas me encara de forma indecifrável. É o suficiente para eu saber que ele e Malu devem ter conversado.

- É bom te ver, Mike - apenas diz, parece sincero. - Mas definitivamente não te entendo, nem você e nem minha irmã, sério, vocês são os seres mais complicados do mundo e eu desisto de tentar compreender.

- Eu estou errado.

- Não acho que tenha sido um erro ter recusado o pedido, foi sua decisão, mas pareceu tão artificial e eu não tô dizendo que seus motivos não foram o suficiente, só que você parece ter sido tão... tanto faz com o pedido, pelo que Malu narrou, e simplesmente decidiu ir embora. Consegue imaginar como minha irmã se sentiu? Ela estava planejando aquilo há dias. Sim, eu sabia. Só escutei um lado da história, mas sabe como sou e antes de tomar qualquer partido quero saber sua versão.

Olho para dentro de casa, Haydee deve ter voltado para a cozinha. Mesmo assim eu fecho a porta e fico do lado de fora com John, na varanda.

- Eu sei - digo, amparando meus cotovelos no parapeito. - Queria ter pensado isso antes de pisar no aeroporto. Apenas parecia o melhor. Acho que a versão de Malu é a minha, não tem muito o que contar, então ela te disse como está se sentindo?

- Imaginei que fosse dizer algo assim, sou seu melhor amigo e te conheço. Ainda dá tempo de reverter o placar. Ela não disse nada, apenas sei que está mal, como você está agora com esta cara de dor de barriga.

Dou uma risada sem humor, é bom estar com meu melhor amigo.

- Não quero tomar mais nenhuma decisão impulsiva, sei que se ela me ver agora é capaz de me engolir vivo.

Johnny ri, se acomodando ao meu lado.

- Tem razão.

Aperto minhas mãos, definitivamente estou fodido. Correr pra falar com ela agora apenas pioraria a situação, não posso ir sem planejamento.

- E Melanie? - Quebro o silêncio.

- Alexsandra chegou quando eu estava saindo, sei que as três devem estar em uma vídeo chamada neste momento acabando contigo.

- Ah, que ótimo...

- Olha quem tá chegando também. - Johnny aponta com o queixo para o Jeep de Travis estacionando em frente minha casa.

- E aí, seu cuzão! - Me cumprimenta em voz alta enquanto sai do carro.

- Fala sério, quem chamou esse cara? - Brinco, aceitando seu abraço.

- Johnny me chamou. Olha só pra você, todo bonitão e bronzeado - provoca. - Cadê a chata da Malu? Quero ver aquela garota.

- Ela está em Manchester ainda, esqueceu que ela tem uma festa pra dar no próximo final de semana? - Johnny diz.

- É verdade... Espera aí, o que merda você tá fazendo aqui, então? Geral vai colar lá pro aniversário dela.

- Problemas, meu primo, o paraíso acabou mal.

- Ih, o que foi agora? Sério, qual o problema de vocês dois? O casal que está junto desde sempre é o único que não consegue ficar junto. - Ignoro sua frase esquisita. - Mano, até o Carlos e a Alex conseguiram, Elsa e Liam, parceiro, e vocês dois nessa frescura. O que aconteceu? Pelo o que vi nas notícias estavam no maior love.

Olho para Johnny, definitivamente não estou interessado em repetir essa história outra vez. Vou explodir de culpa daqui a pouco.

- Malu o pediu em casamento, Mike recusou, ela entendeu, Mike voltou para Hills e eles estão dando uma pausa no relacionamento.

- Whoa, whoa. Mas que merda, Collins...?

- Sei que fui um idiota, não preciso que todos me digam o que já sei, obrigado.

- Você cagou no pau, bom que sabe. O que vai fazer agora?

- Sinceramente? Não tenho a menor ideia.

- Ah, cara, eu não entendo mesmo. Deveria quebrar seu nariz de novo por ter partido o coração da minha parceira outra vez.

- Eu mereço, de qualquer forma.

Os dois me encaram com certo pesar, tinha sentido falta de conversar com eles. Fazia tempo que não fazíamos isso, nós três apenas jogando conversa fora.

- Anda, ficar aí se autodepreciando também não ajuda. O que acha de um rolê? - Travis sugere.

- Desculpa, cara, não tô no clima. Não preguei os olhos durante a noite e tenho muito o que pensar, de preferência logo.

- Tá certo, sinto muito. Não sei seus motivos, então não quero ficar te julgando, te conhecendo apenas sei que deve haver uma boa justificativa.

- Agradeço a vocês dois pelo apoio. A coisa está pior do que imaginam para mim, mas não quero falar sobre isso agora.

- Sem problemas. - Johnny se afasta do parapeito. - Vamos te deixar pensar em algo. Se precisar, estaremos na casa do Trav.

- Estaremos? - Travis pergunta.

- É, estaremos. As garotas devem estar todas na minha casa agora.

- Verdade, deixei a Maya lá antes de vir.

- Mando mensagem qualquer coisa, valeu.

Observo os dois descerem e se dirigirem até seus carros, estão discutindo sobre irem em um único automóvel.

Volto para dentro de casa, realmente só quero ficar no meu quarto hoje e repensar minhas atitudes, além de pensar em uma solução. Estúpido.

Caio deitado em minha cama, sem cabeça para desfazer malas agora. Cubro meu rosto com o travesseiro, querendo gritar de aflição. Burro, burro, burro.

O que eu faço, o que faço? Não sei porque me deixei levar pelos meus pensamentos incoerentes de uma madrugada em claro, completamente influenciado pelas emoções dos acontecimentos anteriores. Não consigo tirar da cabeça a expressão de decepção estampada no rosto de Malu.

- Porra. - Jogo o travesseiro longe, fazendo ele bater na parede e cair no chão.

Me sento, olhando para o quadro com minha foto e da Malu me atormentando mais ainda.

- Que merda eu fiz?

Pego o porta-retrato, tocando o rosto feliz de Malu. Faz tanto tempo, sinto falta desta época sossegada, mesmo que não fossemos nada além de melhores amigos. Essa foto foi tirada em um evento de gala dos seus pais, portanto estamos usando trajes formais. Os cabelos de Malu estavam em sua bonita cor natural, preto azulado, e bem cumpridos. Ela fica linda de qualquer forma, mas confesso que fico curioso tentando imaginar ela novamente com seus cabelos negros.

Devolvo o objeto ao seu lugar. Por algum motivo abro a gaveta da mesinha e me arrependo no segundo em que vejo sua carta aparecer. Seguro ela, mas não tenho coragem para abrir e muito menos ler, só vai nublar ainda mais meus pensamentos depreciativos. Estico meu braço para devolver o envelope a gaveta, mas é quando reparo na caixinha mediana de veludo, a carta estava por cima e por isso não tinha visto de imediato. O anel de noivado que dona Lourdes me passou - segundo a tradição da família, que inclusive eu não faço a menor ideia se ela já sabia ou não que eu era seu neto -, eu deveria colocar ele no dedo de Malu, mas agora nem sei mais se isso vai ser possível depois de tanta burrice que cometi.

Seguro a caixa da joia, sentindo sua textura macia e bem cuidada. Irei dar ele ao Travis, caso a situação com Malu não tenha jeito. Maya iria adorar recebê-lo e tenho certeza que este casal não causa tantos conflitos.

Abro e observo a pedra brilhante em destaque, me lembrando das alianças que Malu escolheu. Eram tão bonitas e tenho certeza que representavam a cor de nossos olhos. Sou tão idiota.

Encaixo o anel na ponta do meu dedo mendinho, o imaginando na mão de Malu após ela ter aceitado o pedido, diferente de como eu fiz. Agora consigo imaginar ela pensando da mesma forma que estou fazendo, planejando cada detalhe e ansiosa para ouvir um sim que não recebeu.

Olho para a caixinha vazia, estranhando uma ponta de papel escapando debaixo da esponja que sustenta o anel. Curioso, removo a almofadinha. Quase deixo o objeto cair ao ver uma folha de caderno dobrada ali dentro, como eu não notei antes? O que é isso?

Com certo receio, puxo o papel dobrado em diversas partes. Fico com apenas ele em mãos, ficando ainda mais intrigado ao ver meu nome rabiscado nele, a letra é pequena e bem feia, mas mais legível que a minha de médico.

Desdobro cada parte com pressa, querendo saber o conteúdo que ela guarda e porque estava tão escondida, acabo descobrindo que são duas folhas e não uma. Dona Lourdes, o que mais a senhora aprontou? Pensei que as surpresas haviam acabado depois da leitura do testamento. Pelo visto estava enganado mais uma vez.

Querido Mike,

Não sei quando vai encontrar esta carta, o plano é que seja depois da minha partida, apenas sei que pensei em diferentes formas de começar ela até chegar nesta. Então, supondo que eu já tenha batido as botas, acho que é a hora de esclarecer muitas coisas.

Antes de mais nada, penso que devo me desculpar por não ter te dito a verdade. Mike, espero que me desculpe por não ter me manifestado depois que eu soube de tudo. Caramba, o médico bonitão é mesmo o meu neto, dá pra acreditar?! Se bem que esta beleza deveria ter vindo de algum lugar, sabia que me era familiar.

Meu doce, bonito, amável, lindo, atencioso e belíssimo neto: eu amo você, quero que nunca se esqueça disso, mesmo antes de eu saber a verdade, você é capaz de despertar esse sentimento nas pessoas. Não esperava menos. Mas sei que deve haver uma pergunta que não quer calar: como eu soube? Bom, primeiramente você não é tão discreto, e naquele dia em que você apareceu no meu quarto junto com Mason nasceu a dúvida, ele havia me dito que iria me apresentar meu neto e de repente você chega todo horrorizado. Passei a prestar mais atenção aos detalhes e sinais. E, sejamos francos, você tem a cara de um verdadeiro Stewart. Eu tinha sempre a impressão de estar diante do meu filho mais jovem. Fui descobrindo sozinha, até ser tão evidente que não podia mais negar, eu apenas sabia que era você. Mas, depois de tantas conversas contigo, eu sabia que você jamais aceitaria qualquer coisa que eu lhe deixasse. Então eu mantive em segredo, mas, acredite, te tratei como meu neto do início ao fim, então não perdeu absolutamente nada.

Não quero que se sinta culpado por não ter me contado, eu entendo seus motivos e apenas o fato de saber que meu neto se tornou um homem tão incrível, e bonito, foi o suficiente para me transformar numa velha realizada. Mesmo depois de todas as dificuldades que passou, ainda assim é dono de um caráter que quase nenhum outro Stewart foi capaz de ter nem em sonho. Eu não poderia ficar mais feliz.

Não estou aqui para te fazer mudar de ideia com relação ao seu pai, nós meio que já tivemos essa conversa, afinal de contas. Você realmente não precisa dele.

Sei que deve ter ficado em choque com tudo que acabei largando em cima de você, mas pense que é uma forma de estar sempre por perto e também um acerto de contas. Morgan e Mason tiraram muito mais de você e de sua mãe, nenhum dinheiro no mundo seria capaz de compensar todo o mal que causaram. Não pense que Tommy é como o pai de vocês, ele é apenas uma criança complicada e amargurada e ninguém melhor do que você para lhe ensinar a superar, aquele menino tem potencial. Pedi ao meu advogado para ler no testamento que a empresa era sua, mas no documento original que ele te passou, se prestar atenção, vai ver que ela pertence a vocês dois. Mike Stewart Collins e Tommy Forbes.

Decidi colocar esta carta junto do anel por um motivo: sei que vai encontrar ela em um momento decisivo da sua vida e se está com a caixinha em mãos é porque planeja finalmente se casar com Malu. Então não perca mais tempo, meu anjo, não acompanhei a história de vocês do começo ao final, mas sei que passaram por muita coisa e merecem este final feliz. O amor de vocês sobreviveu em meio a tanto caos, por favor não perca isso por medo. O casamento não precisa ser uma insegurança, se trata da união do amor de duas pessoas que se amam por toda uma vida. Sei que deve ser um período difícil pra ti, principalmente por minha causa, mas este matrimônio é a sua salvação, meu querido. Depois de tantas perdas, em meio todo o seu sofrimento, chegou o momento de receber o maior ganho da sua vida até hoje. Um casamento, além de todas as coisas boas, também serve para as situações difíceis, se torna uma base. Malu vai te ajudar a recomeçar. Deixe o passado para trás. Recomece com o amor da sua vida em outra cidade, não tem nada melhor no mundo do que se reerguer ao lado da pessoa amada. Por que essa união não deve acontecer em um momento difícil? Seria a cura que os dois precisam, tendo um ao outro agora. De qualquer forma, acho que nem precisava te dizer essas coisas, você ama tanto aquela garota que nem deve ter dúvidas sobre se casar com ela.

Eu te amo com todo o meu coração e tenho muito orgulho do homem que é. Quero que seja feliz e não se prenda à minha partida, eu fui realizada da melhor maneira possível. Se livre de toda e qualquer culpa e vá ser feliz, porque é merecedor disso. E você tinha toda a razão quando dizia ser completo sem precisar de um pai, mas faça o possível para se livrar de todo este ódio porque simplesmente não faz bem a você.

Te desejo toda a felicidade do mundo, meu doce, bonito e adorável menino. Não vou choramingar pelo tempo perdido, mas sim agradecer por ter conseguido te conhecer.

Com todo o amor,

sua avó Lourdes.

Encaro as folhas diante dos meus olhos, sem acreditar no que acabei de ler. Em algum momento eu comecei a chorar, mas não tem importância. Essa foi a despedida de Lourdes para mim, ela não deixou nada inacabado. Ela é... inacreditável.

Quase consigo sentir que ela está aqui comigo, mas, mais do que isso, finalmente consigo sentir que fui liberado de qualquer sentimento ruim que estava sentindo. Ela estava feliz por saber que eu era seu neto e não ficou triste por eu ter escondido, apenas me entendeu e permaneceu ao meu lado. Mesmo que por pouco tempo, eu pude saber o que é ter o amor de uma avó, não trocaria por nada no mundo esse pequeno período. Amor não se mede por tempo e sim pela veracidade do sentimento.

Lourdes foi uma senhora muito sábia e estava coberta de razão. Vou levar sempre comigo todas as lembranças e aprendizados que tive ao seu lado. Estou em paz. Precisava de palavras assim para clarear meus pensamentos nublados.

Se eu tivesse encontrado essa carta antes muita coisa poderia ter sido diferente. Eu não teria machucado Malu e poderia estar com ela agora. Porra, precisei voltar para enxergar a realidade.

Agora sei exatamente o que fazer.

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