Capítulo 4: Enfim, livre.

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  Finalmente saí daquele manicômio burguês e consegui respirar ar puro. Era uma sensação diferente, parecia que o ar estava menos pesado, porém ainda havia algo obscuro, voando de forma invisível. Isso para mim estava bizarro demais, na verdade, desde quando coloquei meus coturnos nesta escola tudo se tornou bizarro.

Cheguei na famosa Lanchonete do Pinguim, onde minha irmã mais velha trabalha

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Cheguei na famosa Lanchonete do Pinguim, onde minha irmã mais velha trabalha. O senhor Arnold é apaixonado pelos anos 50 e fez de sua outra paixão, (donuts), um combo de nostalgia.

  O piso quadriculado em preto e branco brilhava; no jukebox tocava Chuck Berry; os quadros pendurados nas paredes brancas; mostravam com orgulho as propagandas e celebridades que viveram nessa época. Havia algumas fotos desses famosos com o senhor Arnold; ainda criança.
Os bancos de couro avermelhados com pés de alumínios, estavam vazios. Eles não eram os únicos. Os assentos curvos que ficam próximo a janela, também estavam ausentes. Isso era bom para mim. Não gosto de lugar cheio. 

  Sentei-me de frente para o balcão em conjunto com a bancada e pedi o de sempre: “Frappuccino”.

   — Como foi hoje? — Perguntou Rebecca vestida como uma "Waitress Girl Diner".  — Está viva?
  — Aconteceu muita coisa! — Respondi sentindo que carregava um fardo enorme nas costas.  — As pessoas daquele lugar não tem nada de chique além das roupas de grife.
  — Bom, o seu “frappuccino” não vai esfriar, então, você já pode começar a me contar tudo.

  — Rebecca, eles tem atitudes de pessoas malucas! Eu descobri hoje que eles só saem da cidade dopados. — Falei aumentando o tom de voz sem que percebesse. O homem mal-encarado sentado ao meu lado me olhou com dúvida, mas não ousou se intrometer. Rebecca também parecia estar assustada.  — Será que o papai não pode me tirar de lá?

  Peguei o jogo americano que estava posto em minha frente, na tentativa de desvincular a minha mente em um jogo de sete erros.

  — Te tirar? Ele irá colocar Mike na próxima semana.
   A caneta caiu da minha mão e o último erro desapareceu dos meus olhos.  Papai não poderia colocar Mike naquele hospício. Ele iria ficar maluco!  E as pessoas poderiam fazer coisas horríveis.
  — Por que você está tão assustada com aquele lugar? As pessoas são tão ruins assim? — Insistiu Rebecca em descobrir algo bom daquele manicômio.

  — São horríveis! Se não fosse a Fanny me ajudando hoje, acho que seria devorada por aquelas garotas.
  — Quem é Fanny? E quem são essas garotas que quase te devoraram?

  — Stephanie Wilson, e não se preocupe com elas, meus problemas são outros.

  — Você é "amiga" de um Wilson, "parabéns"! — Disse Rebecca com um tom irônico. Percebi o quanto ela ficou incomodada com esse sobrenome e preferi não continuar alimentando sua ira (pelo menos, por enquanto tenho certeza que “tem caroço nesse angu”!). — Acho que você está fazendo uma tempestade em copo d'água, Ana. Olha só a sua sorte de fazer amizade logo no primeiro dia de aula. Isso não acontece todos os dias.

  Rebecca poderia até ter razão. Eu conheci duas meninas muito simpáticas e que se diferenciam dos outros, mas elas não possuem a mesma luz que os Stuart tem. Pensei em comentar sobre o que houve na biblioteca, mas só de ter falado sobre Fanny o clima ficou tenso, imagine se eu digo que conheci os Stuart! "Acho que Rebecca cairia de costas" pensei.

Meu “frappuccino” chegou e junto com ele minha felicidade. Consegui esquecer meus problemas deste dia e me recarregar do que estava por vir amanhã.  Eu amo o jeito que Rebecca consegue fazer tudo mil vezes melhor!

  Surpreendentemente a música que tocava parou e o locutor começou a falar sem parar. Parecia que estava em um trava-língua. Rebecca aumentou o som e todos os clientes pararam o que estavam fazendo para ouvir. Aqui na cidade é muito raro a rádio local falar alguma coisa, são sempre músicas e piadas sem graça.

  — A rádio Tulipa, interrompe a sua programação para dar um aviso muito importante á todos os moradores desta cidade. – Disse o locutor.

   "Rádio Tulipa? Isso é nome de rádio ou é mais uma piada sem graça?" disse descrente a mim mesma.

  Ninguém piscava. Era maluco de dizer, mas com o silêncio grandioso, seria possível ouvir até mesmo os batimentos de todos que estavam na lanchonete.

   — Agora pouco uma mulher encontrou um corpo em estado crítico próximo ao rio do Bosque da Princesa. — O homem ao meu lado largou seu donuts perplexo. “Um corpo encontrado em um dos locais mais sagrados da cidade? Isso iria dar o que falar!” considerei. — A polícia já foi acionada. Voltaremos daqui a pouco com mais informações.

  Rebecca e eu nos fitamos logo que a programação voltou ao normal. O cozinheiro, que saiu apavorado do seu refúgio, voltava aos poucos para realidade, juntamente com o homem severo.

  — Esse é o primeiro caso do papai como xerife.
  — É, e como o esperado, papai vai solucionar. — Falei otimista. — Essa cidade é pequena. Seja lá quem foi, é de fora. Logo irão pegá-lo.
  — Seu otimismo nunca é abalado. — Rebecca dá um gargalhada contagiosa, esbanjando um sorriso deslumbrante.

  "Realmente meu otimismo era inabalável. Mas meu realismo é o xeque-mate!" conclui.

  Saí da lanchonete contente, mas nas ruas as pessoas estavam com medo. A avenida, que sempre fica movimentada de carros e bicicletas, estava vazia. Isso era real? A cidade parou por causa de uma morte.

Pela primeira vez, coloquei a rádio local para ouvir no meu carro, e para minha surpresa não falavam nada. Apenas tocava suas músicas sem graça de sempre. Seria um alarme falso?

Liguei o carro e dirigi calmamente pela avenida praticamente vazia. Parei ao lado da padaria “Sonhos de Liana”, quando o sinal ficou vermelho. Observava incrédula as pouquíssimas pessoas que circulavam. Percebi que  havia um cartaz grande posto a poucos segundos por uma mulher. Tinha um rosto e um nome em negrito. Saí da avenida imediatamente e encostei o carro de frente para a padaria.

Era um cartaz de desaparecido.

Olhei para a foto que estava colada no cartaz e espantei-me. Meus olhos se arregalaram e encheram-se de lágrimas. A pessoa desaparecida era Hernani. O menino que estudou comigo desde a segunda série e era o meu melhor amigo. Ele estava desaparecido já tinha 15 dias, e junto com ele, mais três pessoas, que também eram da minha antiga escola. Eu conhecia todos eles. Não entendi o porquê de nunca ter visto esse cartaz nas ruas e por qual motivo o meu pai nunca se pronunciou.
Eu precisava de respostas, e a única pessoa que poderia responder seria o xerife da cidade, ou seja, meu pai.

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Liana Where stories live. Discover now