Capítulo 14: Uma leve dosagem de coragem.

44 5 22
                                    


   Fui despertada por chutes fortes em minha cabeça. O remédio que mamãe receitava não fazia efeito, talvez até ele sentisse sua falta.

  O sinal que agonizava meus ouvidos e fazia meu corpo tremer, indicava o primeiro dia dos clubes. Os alunos se retiravam aos poucos do refeitório e cada um ia para seus determinados clubes, de longe avistei uma garota que se parecia com Verônica, ela procurava alguém no meio daquela multidão, que com quase toda certeza esse procurado era eu.

  Seria muito mais fácil dizer "não". Mas dividir o mesmo ambiente que Verônica me deixava inquieta, ela possuía algo tão intrigante que chegava a dar medo.

  Para evitar toda essa sensação, minha cabeça que estava ótima essa semana em criar mentiras, agora, precisava pensar em algo rápido.

  Então me atirei no meio dos outros alunos, conseguindo me camuflar nas meninas roqueiras. Passamos ao lado da suposta garota, mas ela parecia estar tão concentrada no lado sul do refeitório que nem percebeu nossa presença, afinal, nem mesmo elas haviam pressentido o meu corpo entre elas.

  Continuei ao seu lado agradecendo mentalmente cada uma até terminarmos de passar pelo imenso corredor de armários azuis e amarelos. Pararmos em frente a uma sala que estava escrito “Clube Poison”.

   Entendi que aquele era o momento de me desvincular de minhas heroínas temporárias e procurar um novo refúgio.

  Saí olhando para trás à todo momento e sem que percebesse bati o meu rosto na porta do banheiro feminino.

  "Bom, o banheiro é sempre um bom refúgio quando se está no colégio". Conclui feliz.

  Não pensei duas vezes e entrei.

  Era um banheiro diferente dos outros seis que existiam no colégio. Tinha um azulejo branco e suas paredes são violetas, também possuía três cabines e cada uma com vasos sanitários decorados com rosas violetas em suas tampas.

  A pia era extensa como todas as outras e o espelho extremamente extravagante, com lamparinas na borda alternadas entre brancas e amarelas que só realçavam minhas espinhas-filhas.

  Por sorte estava vazio e pude respirar aliviada. Olhei-me no espelho e percebi que minha testa estava começando a ficar avermelhada.

  Eu poderia ficar ali parada, mas era necessário algo mais "seguro", então entrei dentro da cabine. Isso é tão infantil, algo que uma garotinha de 12 anos faria.

  “Na verdade uma garota de 12 anos consegue ser mais corajosa que você”. Respondeu minha consciência.

  Minha cabeça voltou a doer e agora poderia sentir cada neurônio se rompendo. De repente uma força que eu não sabia que possuía surgiu e em fração de segundos dei um murro na parede,  apertando os olhos com força, muita força que mal conseguia ouvir o barulho externo.

  Tudo girava e a imagem do chafariz no jardim apareceu milagrosamente. A voz suave que vinha das águas que estavam mais cristalinas do que nunca, falou comigo:

  “Vos scitis quod facere.

  Nunca havia ouvido uma voz tão suave como aquela, mesmo não sabendo nenhuma outra língua — o que me faz refletir sobre os cursos de língua estrangeira que minha mãe pagou e eu não fui nenhum dia — soava como latim ou norueguês.

  Abri a porta confiante. A garota que havia batido estava surpresa e falou alguma coisa que não consegui ouvir.

  Sem perceber eu saí do banheiro e estava chegando ao ginásio onde já se podia ouvir o barulho de música e os passos dos tênis das animadoras.

You've reached the end of published parts.

⏰ Last updated: May 17, 2021 ⏰

Add this story to your Library to get notified about new parts!

Liana Where stories live. Discover now