Capítulo 2: Onde está Romeu?

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  Fanny e eu retornamos totalmente indispostas. Estar novamente naquele ambiente me fazia mal e poderia piorar com a presença de Charlotte, que deve ter voltado de seu inferno particular para me alfinetar novamente. Nem mesmo a aula de história poderia me deixar melhor.

Ela passou por mim com seus cabelos louros encaracolados dançantes e se sentou na última cadeira na fileira da janela. Colocou seus fones no ouvido e abriu um livro de capa marrom. Não havia nada escrito, mas ela parecia estar muito interessada.

Uau! Quem diria que Charlotte iria um dia ler um livro! As patricinhas do colégio não são como antes...

  Mas eu mal sabia que iria ficar mais surpresa ainda quando eles chegaram: Pareciam modelos na passarela. O trio de ruivos altos e elegantes passou ao meu lado levando junto o meu coração que não parava de bater forte nem por um segundo.

— Fanny, o que foi isso? — Perguntei extremamente curiosa. — Ela estava mais perplexa que eu. Primeira vez que a vi sem dizer nada por mais de 30 segundos.

  — E-eu também não sei. — Disse ela gaguejando e apertando seus olhos. — Quero dizer, lembro-me deles aqui ano passado. Acho que recordo de todos.  —Fanny voltava à realidade aos poucos.

"Bom, isso não é novidade para ninguém, já que conhece todo mundo da escola", pensei.

— Mas então pra que ter essa entrada triunfal?

— Não sei, talvez por que eles queiram jogar um charme. Eles são os Stuart. Podem fazer qualquer coisa.

  Família Stuart: Para mim sempre foi uma lenda a sua existência. Eles estão presentes em várias capas de revistas, programas de TV, etc. Em Hollywood, o seu patriarca, Isaac Stuart, é considerado o melhor ator e ganhador de vários Oscars. Eu só não entendo o por que deles estarem nesta cidade invisível.

Olhei para trás e vi que o belo trio havia se sentando nas últimas carteiras. Charlotte permanecia calada e nem havia percebido os modelos passarem. Bom, diferente dela eu percebi e os encarei durante os 50 minutos de aula. Quase perdi meu pescoço por causa disso!

  O trio não parecia estar tão interessado no assunto como o restante da sala. Seus rostos angelicais demonstravam total desinteresse e pouca paciência.

  — Desse jeito você vai deixar eles assustados. — Cochichou Fanny.

  — Não consigo deixar de olhar para eles. São como pinturas pintadas por anjos. — Respondi olhando novamente para o menino ruivo que lia um livro de Shakespeare.

— Está interessada em qual deles? Acho que as meninas são héteros.
— O que? Não! Só estou observando. — Mas é claro que se o rapaz estivesse solteiro e pedisse pra ficar comigo eu não recusaria de forma alguma.

  — Isso está parecendo coisa de psicopata.
Fanny tinha razão, meu pescoço já doía de tanto que olhava para trás. O sinal tocou me ajudando nas minhas dores (única vez que esse sinal faz algo bom durante o dia todo).

  O trio saiu da sala calmamente e a menina de tranças longas jogou um bilhete em cima da minha mesa. Levei um susto na mesma hora! Abri o bilhete ansiosa e com cuidado. Fanny falava com a professora sobre alguma coisa do trabalho. Minha mão tremia e minha barriga roncava de ansiedade.

  "O amor procura o amor como o estudante que para a escola corre: num instante. Mas, ao se afastar dele, o amor parece que se transforma".

   Não era exatamente um bilhete e sim um trecho do livro mais famoso de Shakespeare: Romeu e Julieta. O que ela queria dizer com isso? Seria algum tipo de pista para um encontro às cegas? Provavelmente, ela tenha percebido o quanto meu pescoço se inclinava para o fundo.

Liana Where stories live. Discover now