Um - St. Marcus Institute

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Melissa levava consigo um diploma recém-conquistado, que ainda cheirava a papel novo, uma carta de recomendação no bolso do pesado casaco de lã, algumas barras de chocolate e o amor pela psiquiatria. Ainda se recordava do olhar de pânico da mãe quando contou que seu primeiro emprego era um cargo de psiquiatra do St. Marcus Institute. O local não possuía boa fama, era óbvio, e a senhora Parker parecia não ser capaz de conceber a imagem de sua querida filha trancafiada em um lugar como tal. Às vezes ela pecava por um protecionismo exagerado que Melissa não conseguia entender. O pai, por sua vez, lançou-a o característico meio sorriso de "bom trabalho", ignorando o surto da mulher e agradecendo aos céus pelo corte no número de bocas a alimentar.

Melissa olhou no relógio, presente de despedida do pai - um lembrete para que não perdesse a hora – constatando que estava no horário programado. Sorriu sozinha, como um falso alento que tentava acalmar seus nervos. Poderia fingir para quem quisesse: para os pais, os dois irmãos mais novos, mas certamente não poderia fingir para si mesma. Estava com... Medo.

De fato, Melissa era uma moça que poderia se dizer em constante estado de receio. Apesar da infância tranquila, a família perfeita de comercial de margarina – pais presentes, irmãos atenciosos -, havia certa obscuridade que ainda custava a compreender. Esperava encontrar respostas para sua própria eu naquele lugar, uma tentativa quase desesperada de encontrar seu lugar ideal no mundo.

Até mesmo o lar de um bando de maníacos desprendidos da realidade.

Os pacientes que tratara na especialização jamais poderiam ser comparados aos criminosos frios e cruéis que encontraria no St. Marcus. O que eram alguns quadros de depressão se comparados a psicopatias capazes de levar um ser humano a cometer crimes cuja crueldade ultrapassava todos os limites da sanidade?

Melissa, a inexperiente e assustada psiquiatra, ainda não tinha certeza de seu preparo emocional. Talvez não tivesse adquirido a frieza necessária para passar todos os minutos de seu dia em um local dominado por sentimentos tão pesados e negativos. No entanto, não poderia se dar ao luxo de recusar um trabalho quando vinha de tão bom grado. O salário, pelo menos, era razoavelmente alto, livre de comida e acomodação, disse a moça no telefone. Aprenderia a lidar com toda aquela nova estranha realidade, não havia qualquer outra solução. O desafio, acima de tudo, a encantava, apesar de todos seus estúpidos temores.

Queria se libertar. Queria se descobrir. Queria ser a garota corajosa capaz de superar quaisquer traumas. E ela tinha alguns que ainda não havia adquirido a habilidade necessária para superar.

Um solavanco anunciou indelicadamente que o ônibus havia parado e tirou Melissa de seus devaneios. O motorista anunciou entediado que estavam em Winchelsea. Melissa foi a única a se levantar, esticando os músculos tensos pelo tempo sem exercício. O motorista atarracado e de feições estranhas, que sustentava suspeitas olheiras de quem não dormia há dias, ajudou-a com as três malas guardadas no bagageiro. Seus demais pertences seriam mandados ainda naquela semana pela mãe, via correio.

Foi somente quando o ônibus sumiu de vista que Melissa percebeu que não teria mais volta, que já estava presa ali por, pelo menos, três dias – tempo que levava para passar o próximo ônibus. 

Após um longo suspiro, respirando pela primeira vez o ar da pacata Winchelsea, olhou em volta, analisando a cidade que dali em diante chamaria de lar. Sentiu como se tivesse voltado oitocentos anos no tempo, mergulhando de cabeça e sem aviso prévio na Idade Média. Todas as construções ao seu redor possuíam traços elegantes e medievais, intercalados com toques de modernidade proporcionados por alguns carros estacionados aqui e ali. Era simples, porém de muito bom gosto.

O restaurante na frente do qual saltara estava lotado naquele momento. Melissa pensou se talvez aquele não fosse o único num raio de alguns consideráveis quilômetros... O New In, como anunciava o elegante letreiro, tinha sede em uma linda e imponente, também dotada de traços antigos, casa branca. Passava um ar aconchegante e caseiro. A comida parecia boa, se julgada pelo cheiro delicioso que atravessava a rua e vinha tentar suas narinas e seu estômago. Era plena hora do almoço. Melissa olhou no relógio, constatando que precisava estar no St. Marcus em quinze minutos. E nem fazia ideia de como chegar até lá, principalmente com aquelas três pesadas malas.

Psicose (Livro I)Opowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz