Capítulo VI

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Anastásia

Ao contrário do que muitos pensam, não fui estrupada. Eu estava apaixonada pelo Jack e me deixei levar. Eu fui tola, confesso. E hoje estou sofrendo as consequências. Minha amiga me alertou tanto sobre a pessoa que o Jack era e eu não me importei, só me sentia feliz com ele e era isso que importava pra mim. Hoje eu vejo o quanto fui cega.

Eu continuava sentada em minha cama agora chorando copiosamente ao mesmo tempo em que olhava a minha filha dormindo como um anjo do meu lado, enquanto eu revivia as péssimas lembranças da minha curta vida, e me odiando, pois agora a vida das pessoas que mais amava estava em risco, e eu estava a ponto de colocar na roda a vida de mais uma.

Durante esse tempo que estou vivendo com meus amigos pensei bastante e decidi que iria contar ao Christian. Ele me passava uma segurança incomum e eu não estava aguentando carregar esse fardo sozinha, sinto que posso confiar nele.

Dormi bem mal, acordei com dor de cabeça, não esperava menos. E pra completar a velha ansiedade me rodeava.
Acordei mais cedo que todos, até mais cedo que a Maysa que acordava pra mamar. Fiz um café bem gostoso e esperei meus amigos acordar pra tomar  café antes de sair para o trabalho. Enquanto eu me servia me questionava novamente sobre contar tudo ao Christian, sim, já estava querendo dar pra trás, mas dessa vez não faria.

Desci com Maysa pra cozinha e logo depois meus dois dorminhocos apareceram com o rosto amassado (eles são muito fofos juntos).

— Bom dia Ana! — falaram juntos.

— Bom dia, meus lindos! — falei sorrindo, porém eu me sentia exausta por não ter dormido nada.

— Você está com uma cara péssima Aninha, parece que não teve uma noite muito boa, o que aconteceu pequena? — ele sempre sabe tudo, meu melhor amigo sabe quando tem algo errado, sempre!

— Não dormi muito bem Elli, saudades dos meus pais, só isso. — eu precisava omitir o verdadeiro motivo, eu sabia que se contasse pra ele, em algum momento ele contaria pra Kate, não que ele não fosse de confiança, mas ela é sua esposa e sempre sabe quando ele tenta esconder algo, por tanto, não!

— Entendo Ana, sabe, às vezes tenho vontade de bater na porta deles e tentar fazê-los enxergar o erro que cometeram. Mas depois eu penso que eles têm que descobrir sozinho, então eu desisto.
Espero que não percebam tarde demais.

— Relaxa, mas, por favor, não vá até eles. Acho que nunca irão voltar a trás com a palavra e tudo que me disseram um dia, isso vai parar de doer, espero.

Parar de doer? Claro que não iria parar de doer nunca, meus pais me largaram no momento que eu mais precisei, e pior eles nem imaginam a situação em que me encontro. Meus amigos também me deixaram, só restaram Elli e Kate que eu conheci depois, mas que se tornou uma grande amiga pra mim também. E agora eu tenho o Christian que eu não sei nem explicar o que ele é pra mim, um anjo da guarda talvez? Ele era simplesmente tudo. Suspirei.

Depois  de almoçar coloquei minha pequenina pra dormir, ela estava tão grande, tão bonita. Resolvi perguntar se o Christian estaria livre pra conversar comigo mais tarde em algum lugar, eu pensei em deixar Kate olhando a  Maysa enquanto eu conversava com o Chris, mas sei que ela tinha algo marcado. É uma sexta e ela sempre sai nas sextas.

Quando desbloqueei meu celular havia uma mensagem de um numero desconhecido. Achei estranho e quando abri e li o conteudo deixei o telefone cair no chão e então meu corpo todo tremia. Como ele descobriu meu novo número?

Meu Deus!

"Estou de olho em voce Anastásia, seus pais vieram aqui, voce contou?! Olha garota não me provoque, pode não gostar das consequencias."

Era ele, era o Jack. Meu Deus, como meus pais descobriram que ele era o meu "namorado", foi bem a minha ex-amiga que deu com a lingua nos dentes. Não sabe ela o mal que está me fazendo. Eu não sabia o que fazer. Fiz a primeira coisa que me veio na mente.

- Christian? - minha voz estava mais trêmula que tudo e com certeza ele percebeu.

- Ana, aconteceu algo? Parece nervosa.

- Voce pode ir a algum lugar comigo? Preciso te contar uma coisa, por favor!

- Voce quer que eu vá ai agora? Eu posso conseguir uma liberação mais cedo, sei lá. - percebi que estava nervoso também.

- Não se preocupe, eu espero voce largar, mas, por favor, vem rapido. - Eu estava preste a cair no choro, choro esse que eu segurava desde o momento em que li a mensagem e nem percebi.

Corri pro quarto e abracei meu bebê e ai sim as lágrimas vieram, senti ela se mover em meus braços e piscar seus olhos claros me encarando confusa.

— Mamãe te ama mais que tudo minha pequena. – sussurrei perto do seu rosto e depositei alguns beijos enquanto a embalava protetoramente.

O tempo demorou a passar, eu sentia que havia se passado um dia inteiro e não algumas horas. Christian mandou mensagem avisando que estava vindo. Quando ele chegou era por volta de quase 18:00 horas da noite. Maysa já tinha dormido de novo e meus amigos não tinham chegado ainda. Não sei o que fazer com minha filha, pelo jeito teria que levá-la junto, se ao menos ela dormisse todo o tempo e colaborasse com a mamãe aqui.

Quando abri a porta me joguei em seus braços, eu não sabia explicar, só me sentia segura e protegida ao seu lado. Ele me abraçou de volta e disse: "Vai ficar tudo bem, seja o que for Ana."

— Obrigada por ter vindo, eu quero contar sobre "aquilo" pra você. Eu recebi uma mensagem hoje, eu... Não sei o que fazer, só confio em você pra contar isso, sei que não dirá a ninguém. Então não quero que seja aqui, e a Kate não chegou ainda com o Elliot pra olhar a Maysa, devem ter ido curtir a sexta. – eu falava tudo isso engolindo a imensa vontade de chorar, tudo em mim tremia.

— Não tem problema, levamos a lindinha do tio. Inclusive estou com saudades, fique calma, você está tremendo. Pegue tudo e vamos lá. – eu deveria saber que ele dá um jeito em tudo.

Sai dos seus braços, por sinal muito quente e acolhedor, peguei a May e pedi pra ele carregar porque eu definitivamente estava só o pó. No meio do caminho senti Christian pegar a minha mão e fazer um leve carinho ali. Sorri timidamente e deitei a cabeça na janela do carro olhando a paisagem e pensando.

Eu pedi que ele me levasse onde ele achasse melhor, eu sabia que ele escolheria o melhor lugar.
Demorou um pouco, senti que era bem afastado, logo chegamos em uma casa não muito tradicional, ficava meio reservada no fim da cidade e parecia ser toda de madeira. Colocamos a Maysa no canto e sentamos um olhando pro outro.

Eu não sabia por onde começar, tudo que eu queria fazer era chorar ali, mas eu precisava ser forte, por mim e por todos que eu amo.

— Minha linda, se você não estiver pronta pra falar disso, você sabe, eu sempre respeitei seu tempo.

— Eu sei Christian, mas eu preciso contar, não consigo mais guardar isso, não de você. – ele sentou do meu lado e me abraçou e então eu comecei a contar, tudo.

Continua...

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