▲De onde vem o Mal? [parte1]▲

13 1 0
                                    

"Não vou comer fezes por vocês (Deuses), não vou beber urina por vocês, não vou ficar de cabeça para baixo por vocês ..." Textos do Sarcófago, Feitiço 173 (III.47-48)



Todas as religiões do mundo praticamente dizem haver a existência de um Mal. Em vez de considerar o mal um mistério, tentarei explicar as razões pela qual os seres humanos sentem a sua aparente presença no Mundo assim como revelar seus princípios, de acordo com a cosmovisão Egípcia, sem esquecer também de desconstruir cosmovisões de algumas outras doutrinas que influenciaram fortemente o pensamento ocidental. Aschamadas religiões do livro (Islamismo, Cristianismo e Judaísmo) veem o "Mal", assim como o próprio "Bem", como agentes personificados e distintos um do outro ("Satanás" vs "Deus"). Já no pensamento egípcio veremos que em Essência (Em Num) tudo se trata de aspectos opostos de uma coisa só, isto é, de um Todo-Uno Inefável. Convém aqui também explicar que a influência da Pérsia foi forte nessas religiões do livro, por isso a presença desse forte dualismo escatológico. Embora o Zoroastrismo possa ter começado bem depois da religião israelita, várias ideias míticas desenvolvidas nelas como "messias" e "Satanás" como um Vilão Cósmico, parecem fazer sua primeira aparição na literatura hebraica coincidindo com o início dessa religião persa. Contudo, a doutrina de Zoroastro assim como aquelas que ela influenciou, carregam uma teodiceia (uma explicação para a origem do mal) bem inconsistente. Por exemplo, no próprio Cristianismo (outro que naturalmente herdou muita influência do Zoroastrismo), onde é dito que Tudo vem de um único Princípio (Deus), por que haveria de a Criação terminar em Dualidade? Isso seria indício de que o próprio diabo "venceu". A insistência nessa lógica infinitária inconsistente acaba gerando debates intermináveis até hoje em círculos teológicos judaico-cristãos, onde nenhuma tentativa de solucionar uma explicação para a presença do mal no mundo é satisfatória (já que suas premissas estão mal fundamentadas). Outra inconsistência seria a de afirmar que a Criação acaba após o Julgamento final, onde os seres julgados como "mal" são colocados numa díade eterna (no inferno) e de forma irredutível. Agora se há um inferno em pleno estado Manifesto "queimando" os seres que agiram no "pecado", isso significa que a Criação ainda não acabou. Além disso, não há como haver dois Infinitos. Por outro lado, o pensamento religioso Egípcio é bem mais coerente ao trabalhar o tema, a começar que o "mal", assim como é interpretado por aquele quem a recebe, não é visto como um agente personificado e destacado, mas sim um agente natural e inerente a própria arquitetura da Criação. Aliás, os próprio Deuses Egípcios são melhor entendidos quando vistos como agentes naturais, como Governadores dos fluxos e refluxos Cósmicos, das Leis naturais que governam o Mundo Manifesto, a Ordem no Caos (Maat), mas também do Caos na Ordem (Apep). É por isso que eles são apresentados sob a forma de animais, uma maneira pictórica utilizada pelos ancestrais egípcios de comunicarem alguma compreensão ou explicação de fatos naturais além de nossa percepção física-sensorial (espiritual). Essa forma de comunicar ideias altamente abstratas fazendo analogias com animais, plantas e rios é também muito comum em alguns círculos xamânicos ainda hoje.


Devido à grande preocupação com o "mal", muitos templos egípcios eram construídos para a realização de diversos rituais que se caracterizavam em fazer oferendas aos Deuses. Além disso, havia nos festivais a reencenação de algumas narrativas míticas com a intenção de afugentar as forças do Caos. Estes rituais eram vistos pela população média como necessários para que os Deuses continuassem a sustentar Maat, responsável por então manter a Ordem Divina Cósmica. Muito desse comportamento do povo egípcio é fruto de um medo desse desconhecido Caos. Mas isso é natural quando você desse a infância é apresentado de uma forma vaga e incompleta dessa cosmovisão, a qual boa parte desse conhecimento eram reservados aos sacerdotes e iniciados. Ao nos aprofundar nessa forma de pensar, tanto iremos melhor investigar e desconstruir a origem e a natureza do "mal", assim como constataremos que essa cosmovisão entra em consonância com o que é dito pela própria ciência tradicional, especialmente pela astrofísica e a própria teoria do caos que afirma que, dentro da aparente aleatoriedade de sistemas complexos caóticos observados no Universo, existem padrões ordenados subjacentes tais como: interconexão, loops de feedback constantes , repetições de eventos, autossimilaridade , fractais e auto-organização (ou seja, Caos na Ordem).

COMO ADORAR OS DEUSES EGÍPCIOS {KEMETISMO}Where stories live. Discover now