Capítulo Seis

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Quando o relógio marcou dezoito e trinta, Luana desistiu. Mais do que furiosa, saiu pisando duro pelo pátio de Fernando e por todo o caminho até a garagem do consultório. Ao pegar o carro, decidiu que precisava de um bom banho para relaxar e esquecer que...

Nem pense naquele mequetrefe agora, mulher. Nem pense! — Até sua consciência estava revoltada.

Luana se ajeitou no banco e aliviou um pouco o pé no acelerador. Quando lhe vinham pensamentos homicidas, era hora de se controlar.

— O Fernando deve ter seus motivos — murmurou, contendo o tom de voz.

Motivos? Rá! Ele é um desgraçado, safado p* no C...

— Epa, epa, epa. Calma lá. O Nando ainda está trabalhando na cafeteria perto do escritório da Morgana, talvez ande fazendo hora extra.

Nem vem. Ninguém faz tantas horas extras assim. Aliás, ele sempre fugiu, fracote. Tem medo de enfrentar uma mulher de verdade.

Luana dirigia no automático enquanto discutia com sua consciência.

— Ele é tímido, só isso.

Tímido uma pinóia. Ele é um cagão mesmo. E tem mais: a vontade é de falar para a Elisa se virar. Ela que quis essa maldita reforma bem quando está grávida, então que lute!

— A Elisa não tem nada a ver com isso. E é minha amiga, precisa de apoio. Logo os bebês estarão aí e ela não conseguirá pensar em outra coisa.

Ela e o Fernando são tudo da mesma laia. Malditos Carvalho. Sério, tem horas que queria torcer o pescoço daquele ruivo.

— Olha o preconceito com pessoas de mesmo sobrenome! E violência não leva a nada.

Mas daria uma satisfação imensa. Fernando de uma figa. Eu só queria saber porquê é tão malditamente difícil tirar cinco minutos de seu precioso tempo para dizer: "estou adorando a reforma, a Elisa estava certa". Aff. Até parece que você quer que ele faça uma cirurgia no pâncreas.

— Vou ligar para a Elisa, dizer que a minha agenda e a agenda do irmão dela não batem, e que posso continuar verificando as coisas com o Murilo, como uma boa pessoa adulta e resolvida faria.

Ou então poderia ligar e mandar dizer para o Fernando enfiar a raquete de padel naquele lugar. Daria o mesmo resultado, só que com mais satisfação.

— Não adianta o enfrentamento. É preciso uma conversa e...

Conversar com quem? Só se for com a areia da construção, né? Porque, que eu saiba, são necessárias duas pessoas para conversar e já que o Fernando se enfia num buraco sumidouro toda vez que você está perto, não tem conversa. O negócio é partir para a pancadaria!

Luana estacionou o carro no seu box no edifício em que morava e apertou os olhos com os punhos, em uma frustração sem fim.

— Chega! Por mais raiva que eu sinta, não dá para descontar em agressões físicas. O que preciso é de um banho, depois de um lanche e, então, ligarei para Elisa para esclarecer as coisas. Se o Fernando quiser se esconder, que se esconda. Se quiser agir como um piá de cinco anos de idade, que haja. Sou adulta e madura o suficiente para resolver tudo sem ódio no coração.

Pegando a bolsa e trancando o carro, Luana entrou no edifício e chamou o elevador. Enquanto subia, não percebeu os olhares do casal dentro do cubículo metálico, que assistia de camarote a todos os seus resmungos e palavrões. Chegou ao seu andar e passou por Dona Gê, mas continuava ocupada em discussão com sua consciência, que ganhava em disparado. Por sorte, a senhorinha motoqueira já se acostumara aos momentos de "introspecção" de sua vizinha.

Meu Adorável VizinhoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora