Capítulo Cinco

249 55 18
                                    

A sexta-feira chegou com ainda mais calor e nada de chuva para aliviar o abafamento, nem de qualquer resposta de Fernando. Ao menos ela tinha dormido muito bem, acompanhada de Fábio e Argos na cama maravilhosa de Andressa.

Luana foi para o consultório cedo. Seu ritual antes de iniciar as consultas era ligar a fonte que havia na entrada, os dois ar-condicionados, o notebook em sua mesa e logo abrir todas as persianas. Após isso, acendia alguns incensos e preparava um chá. Descobriu que o horóscopo não era favorável naquele dia, nem no jornal, nem nos outros três sites em que consultou. Até mesmo a mensagem de texto que recebia diariamente trazia uma previsão negativa.

A primeira notícia que comprovava a sua sorte naquele dia foi que sua secretária não poderia vir. Estrela havia piorado da gripe e iria ao médico. Um tanto desconfiada com o que viria a seguir, Luana atendeu dois pacientes pela manhã e ambos lhe presentearam com uma bela dor de cabeça. Almoçou a lasanha de berinjela com molho branco que havia deixado congelada ali na pequena geladeira da cozinha e conseguiu sujar a roupa na primeira garfada. Resmungando em frustração, lavou a parte manchada da peça e a estendeu em frente ao ar, acomodando-se no sofá da sala de sutiã até ela secar um pouco antes das próximas quatro consultas que ainda teria.

Mas embora o dia rui... Ou melhor, o dia não muito bom e a agenda cheia não lhe dessem tempo de pensar em mais nada, volta e meia Luana espiava o smartphone, cozinhando a indignação daquela mensagem lida e não respondida.

Que demônios esse piá faz que não me dá um retorno?, era o pensamento mais recorrente, seguido de uma multidão de palavrões que jamais pronunciaria em voz alta.

Sua consciência deu o ar da graça: ele está online, mas deve ter coisas mais importantes para fazer, como conversar com a namoradinha secreta...

Luana se endireitou no sofá, indignada com aquela ideia, e quase enviou uma mensagem perguntando se Fernando não se daria ao trabalho de responder. Só não o fez porque já tinha deixado claro que o silêncio por parte dele seria o mesmo que estarem combinados quanto ao encontro. Ainda assim, que mal havia em mandar pelo menos um daqueles emoticons com um sinal de positivo?

Assim que os ponteiros do relógio marcaram uma e cinquenta, levantou-se e vestiu a blusa um pouco úmida mesmo para voltar a trabalhar. Sentia-se mais calma após escutar meia hora de músicas para relaxamento. Os três pacientes seguintes não foram um problema, no entanto, Luana não teve a mesma sorte com o das quatro e quinze, que havia falhado de novo à sua consulta semanal. Fazia duas semanas que ele estava desaparecido e ela não queria pensar que era porque lhe devia há quatro meses. O homem não atendia a nenhum dos telefones que lhe deu como contato, então ela começava a perder as esperanças de receber pelo seu trabalho e de encontrar o dito cujo.

Quando foi no banheiro, pegou-se resmungando em frente ao espelho do lavabo. Froga, começava a perder a paciência. Respirou fundo, molhou os pulsos e o pescoço com a água fria da torneira e falou para o reflexo:

— Respira, Luana. Sacode a poeira e dá a volta por cima.

Não há sacudida que ajude a suportar a ansiedade, sua consciência retrucou.

— Por isso estou respirando fundo.

Voltou à sala decidida a mudar seu ânimo. Só que não foi bem assim. As horas não passavam, por mais que executasse mínimas tarefas a fim de ajudar o tempo a avançar. Tudo parecia lento e irritante, e só de olhar o sol forte pela janela atrás de sua mesa, ficava aborrecida ao se lembrar do calor excessivo dos últimos dias.

— Nem uma gota de chuva para ajudar... Está tão sumida quanto aquele ruivo.

Precisando se distrair, tentou se entreter com pesquisas sobre outras opções de banho para sucesso profissional. Até ajudou, o que a fez pensar que as coisas melhorariam, apesar dos horóscopos, e que seu lanche da tarde seria tranquilo. Ledo engano. Quando estava prestes a abocanhar seu sanduíche natural, uma enorme pomba bateu contra sua janela e lhe deu um susto tão grande que acabou mordendo a bochecha. Para piorar a situação, quebrou seu espelhinho quando o pegou para ver o estrago que seus dentes fizeram.

Meu Adorável VizinhoWhere stories live. Discover now