Capítulo Doze

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Fernando parou em frente à porta do apartamento de Luana, mas não conseguiu se obrigar a erguer a mão e tocar a campainha. Respirou fundo, praguejou pelo suor que escorria por suas costas e conferiu o relógio. Quinze horas e dezessete minutos.

Será que visitá-la na metade da tarde de um sábado era o ideal? Talvez fosse melhor dar meia volta e só aparecer lá pelas dezenove, em um horário mais... adulto.

Depois de acabar com o fígado junto a Murilo na noite anterior, havia acordado em sua cama com uma ressaca filha da mãe. O empreiteiro, aliás, dormiu em seu sofá, que era minúsculo para sua estrutura física larga e alta. Mas mesmo com todo o desconforto e bebedeira, o homem parecia fresco como um pão recém saído do forno. E, para dar ainda mais inveja, fez uma série de posições de Yoga para "despertar e alongar o corpo".

Fernando achou que aquilo era mais uma espécie de tortura, mas cada um com seu cada qual.

De qualquer forma, ficou feliz por não ter passado seu aniversário sozinho, assim como agradeceu a companhia que não lhe permitiu ligar para Luana em todas as vezes que teve vontade naquela madrugada. Os dois tomaram café em silêncio e quando se sentiram mais humanos, conversaram sobre a estratégia que Fernando deveria utilizar.

Era por isso que agora ele se encontrava ali, após uma sexta-feira de bebedeira, sentindo-se um caco.

Fez cara feia para as rosas que segurava. Talvez devesse ter trazido chocolates. Aliás, deveria ter feito os chocolates, pois assim demonstraria mais esforço por parte dele... Agora era tarde demais.

Deu dois passos atrás e se virou para o elevador, prestes a ir embora.

Talvez eu deva voltar para casa, fazer os chocolates e vir outro dia.

— Mas que froga, você é um homem ou uma lagartixa? — perguntou a si mesmo em voz alta e se aproximou da porta novamente.

Antes que mudasse de ideia outra vez, pressionou a campainha de forma bem exagerada.

Seu coração batia enlouquecido quando a maçaneta girou e a porta foi aberta. Fernando piscou, tentando se situar ao se deparar com um senhor de idade, e por um segundo pensou ter errado o apartamento. Espiou o número na plaquinha e não era o caso, então fitou os olhos do homem e notou que eram tão azuis quanto os de Luana.

Porém, esses olhos azuis não eram tranquilos e compreensivos como os dela, eram muito desconfiados.

— Quem é você? — a voz tinha um tom de interrogatório.

— E-eu... — Froga, a gagueira resolveu voltar e ele passou a suar mais. Escondeu as flores atrás de si e limpou a garganta antes de tentar novamente: — Sou um amigo da... Da Luana. Ela es-está?

O senhor não relaxou um músculo sequer.

— Não.

Não. Não está ou não, não deixarei você chegar perto da minha menina?, resmungou Fernando consigo mesmo. Quem será esse senhor? O pai? Um tio? Por tudo o que sabia dela, não tinha uma família muito grande.

— Ah, bom... Então eu... Eu volto mais tarde. Que horas acha que ela vai chegar?

O homem semicerrou os olhos.

— Não sei. Por que quer saber? Me mostre um documento de identidade para confirmar que você não é do governo. Eu conheço os meus direitos, OK?

— Jesus... — murmurou Fernando, secando o suor na têmpora.

— O que disse? — O senhor deu um passo para a frente, mas nem a pantufa xadrez que ele calçava desfazia a aparência intimidante. — Aqui, nesta casa, somos ateus. Se você é um desses pregadores de porta em porta, meu rapaz, está perdendo o seu tempo.

Meu Adorável VizinhoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora