CAPÍTULO 02. O primeiro dia do resto da minha vida (Finn)

2.2K 409 1.1K
                                    

O plano era, pelo menos na minha cabeça, passar o mês de dezembro em Oslo, sem aulas e compromissos, apenas conhecendo lugares bonitos, visitando museus, desenhando e ficando um tempinho com o meu pai, mas, principalmente, sem aula! É claro que eu sabia que o meu pai não pararia de trabalhar só porque eu estava lá, achei, porém que nós teríamos um tempo juntos e no mínimo ele estaria na mesma cidade do que eu.

Eu estava muito errado, meus planos de viagem tinham se modificado. Agora eu precisava enfrentar uma escola nova, fazer tarefas e acordar de manhã no frio. O inverno em Oslo era muito mais severo do que em Londres, e eu percebi que não tinha trazido as roupas certas na quinta de manhã quando eu fui a aula pela primeira vez na cidade desde a infância.

Eu cheguei na cidade terça e convenci meu pai que estava cansado demais para ir a aula quarta, entretanto, não conseguia mais arrumar desculpas para ficar na cama de manhã e quinta-feira tive que enfrentar a escola.

Até que não estava preocupado com a nova escola em si, eu era extrovertido e gostava de conversar com todo mundo, o problema era que não sabia falar norueguês, aprendi na quarta-feira à noite a falar bom dia – porque eu achei facílimo e educado –, pão e água – para não morrer de fome e sede–, mas foi só isso.

Estava com medo de chegar conversando com o pessoal da sala em inglês e eles não gostarem. Para falar a verdade eu não achava certo me apoiar nessa língua e esperar que todos a falassem, sabia a importância cultural das línguas. Deveria ter me preparado melhor para passar o Natal com o meu pai.

Quinta-feira ele me deixou na porta do colégio mais próximo da sua casa, e me explicou como eu iria voltar, qual era o ônibus certo e tudo mais. E então, foi embora. Meu pai esqueceu de se certificar se eu estava matriculado no colégio, porque eu não estava. Acho que a cabeça dele só era preciso me trazer até aqui e o resto se solucionaria sozinho – para ele tudo se resolveu sem que tivesse que fazer nada mesmo.

Eu tentei conversar com uma velhinha muito simpática que não falava uma palavra em inglês, e com muita dificuldade expliquei a ela que eu iria ficar na escola por apenas um mês e meu pai não tinha feito a minha matrícula. Depois de muita mímica e auxílio da internet nós conseguimos entrar em um acordo de que eu deveria assinar alguns papéis e poderia assistir às aulas.

Depois de várias aulas que não fizeram sentido algum para mim, pois eu conseguia entender poucas ou nenhumas palavras, estava na hora do intervalo. Precisava arrumar algum amigo logo, eu nunca tinha passado tanto tempo sem conversar com ninguém, estava me sentindo meio sozinho dentro da minha cabeça. Eu tinha, então, dois objetivos, conseguir um amigue e algo para comer, mas não estava otimista com nenhum dos dois.

Entretanto, assim que entrei na cantina eu percebi um menino lindo, loiro e com os mais bonitos olhos verdes que eu já vi. Ele estava sentado em uma mesa com outros colegas, todos rindo e discutindo sobre algo de forma animada, a única coisa que eu consegui focar foi naqueles olhos.

Talvez eu não devesse ter ficado parado por tanto tempo só o assistindo, mas eu não era capaz de parar. E quando ele olhou de volta para mim senti como se estivéssemos nos reencontrando depois de um longo tempo separados. Ele segurou o olhar por apenas segundos até desviá-los ficando envergonhado com as bochechas vermelhas.

Eu precisava aprender norueguês para conversar com esse menino maravilhoso e perguntar para ele se talvez teria interesse em uma pessoa como eu. É claro que eu estava me adiantando, eu nem sabia, ao menos, se ele era afim de meninos, mas desejei muito forte que fosse.

Quando voltei a realidade pedi pão para a moça da cantina e procurei um lugar para sentar. Assim que estava com a minha bandeja eu achei uma mesa próxima de onde esse menino e seus amigos estavam sentados. Talvez tenha sido um sinal dos deuses para que eu pudesse espionar e tentar decifrar o que ele estava falando?

De mãos dadas em Tøyen (história gay) AMOSTRAWhere stories live. Discover now