she used to be such a childish little thing

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O sol às vezes me parece muito distante, eu realizo, ainda que ele brilhe e acenda o meu corpo inteiro como uma fogueira quando eu sento em frente à janela rachada do meu quarto e me lembro que preciso encontrar novas maneiras de tentar enganar o meu pai.

Eu encosto os olhos na borda dos meus desejos mais nojentos e eternos, esperando ser capaz de fazer meus poemas se tornarem tão valiosos quanto o colar de um milhão de dólares do casamento dos meus pais. Espio atrás da porta como uma criança birrenta, batendo os pés no chão e estufando as bochechas com as páginas do meu diário, muito triste e ingênua por saber que uma dúzia de frases imundas nunca conseguiria competir com os brilhantes dourados no pescoço da minha mãe.

Pela primeira vez, a árvore do natal passado permanece escondida e empoeirada atrás do meu armário. Nós não a montamos mais depois que General foi embora de casa, mas ela costumava ter uma estrela no topo, e os pisca-piscas amarelos ao redor das folhas artificiais permaneciam ligados o mês inteiro. Eu sempre escolhia as mesmas bolas brancas e douradas, porque eram as cores que reluziam nos talheres e taças de champanhe, aqueles que apenas saíam do armário no dia 25.

Os tintilares agudos dos brincos, sapatos e pulseiras me faziam imaginar que no natal todas as estrelas se reuniriam ao redor da minha casa para assistir aos jantares, espremidas junto aos anjos e colidindo umas com as outras. Porque tinha uma porção de pequenas fantasias, não achei que o sol pudesse algum dia brilhar tão lindo como aquela árvore, e para mim, ele parecia minúsculo e insignificante comparado ao sorriso da minha mãe.

As coisas pareciam ir bem até 2018, porque eu ainda colecionava lunetas por trás dos olhos e me sentia muito viva e leve, como se pudesse flutuar até o topo dos edifícios mais altos da cidade. Em julho, porém, meu globo de neve se espatifou no chão junto às minhas asas, e ainda que eu tenha chorado aos estilhaços porque não havia dinheiro para comprar outro, precisei escrever uma cartinha e dizer boas festas! aos meus familiares como se não tivesse contorcido meu corpo inteiro no concreto.

Menino é bicho sem alma, mesmo. Não tem querer. Deixa pra lá que logo passa, foi o que eles disseram.

Eu aprendi que, ainda que não possa embalar luz solar e grãos de areia pra presente, preciso sorrir e dizer boas festas! ao meu irmão.

Ainda que eu queira atirar meu corpo pela janela, preciso olhar nos olhos bucólicos da minha mãe e tentar dizer eu te amo pro meu pai.

Eu vou enfiar um peru insosso na goela, vou chorar a noite toda esparramada junto à árvore, as bolas e os presentes, tentando alcançar estrelas pelas janelas, e tudo bem.

Menino é bicho sem alma. E eu nunca gostei dessa época do ano mesmo.

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FELIZ VESPERA DE NATAL!!!!!!💖🎄❄💖🦋💖💖

UNDER THE BRIGHT TREEWhere stories live. Discover now