You Get Me So High

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Tive um dia tão merda que peguei meu skate e fui atrás da estrada que me levasse o mais longe possível daquela cidade. Apenas o vento e as nuvens como companheiros de viagem, e a câmera como uma presença fantasma.

Longe. Longe o bastante pra saber que apenas chegaria de volta à cidade de madrugada.

Atrasado.

Não que eu achasse que Dongyul fosse se importar muito.

No máximo ia reclamar do meu humor bosta; então tentei só provar o ar de fora daquela cidade idiota. Sentir o gosto do vento frio que farfalhava a grama alta. Fumar um pedaço do céu.

Essas coisas.

Parei quando pude olhar pra trás e ver apenas campos e árvores. Nada na linha do horizonte que fosse casa ou prédio. A única coisa boa daquele lugar era não ser grande demais.

Me sentei no meio da estrada com o skate do lado. As nuvens de cereja diziam que a descida final do Sol já tinha começado. Até mesmo o vento, com uma mão sobre meu ombro, parou de sussurrar qual era o próximo destino e assistiu.

Dongyul gostaria daquele lugar.

Se apoiaria em uma árvore com um cigarro na mão e diria algo como "Se eu pintasse nuvens assim, ninguém acreditaria nelas".

Talvez citasse alguma frase de uma de suas bandinhas.

Eu apenas pronunciei algo sem som. Uma palavra.

Uma das que tinha tatuadas na nuca.

Ardia. O momento, a palavra.

Mas liberdade era uma boa dor.

Enfim, o vento me chamou na direção da cidade, sem precisar de nomes. Era bom pra quando eu não lembrava quem era. Pra quando lembrava também.

Não contestei – o vento costumava ter razão. Tava um frio do cacete e eu já nem sentia mais os dedos, os mesmos que eu tinha fodido mais cedo em um acesso de raiva. No meio do caminho já tinham tantas estrelas no céu que dava pra comparar com quantos cigarros Dongyul fumava por dia.

E eu podia acabar me fodendo muito mais que umas mãos esfoladas, mas deslizei no skate enquanto olhava pra cima.

Era o que ele gostava de dizer, que me deixou chegar perto porque eu olhava pras estrelas da forma como elas mereciam. Dongyul gostava disso, dizer coisas idiotas que impregnavam na minha cabeça assim como o cheiro de cigarro prendia nas roupas.

Ele dizia "você é um sonhador". Eu não concordava. Qualquer coisa que eu ousasse sonhar era tão desesperadamente impossível que eu me resumia a olhar pro céu. Apenas olhar.

Talvez o céu pudesse sonhar por mim.

Seria o suficiente se eu pudesse ver o sonho se formando nas nuvens, acompanhando com o skate e a câmera. Respirando algo, qualquer coisa, que me fizesse pelo menos sentir que estava longe daquela cidade.

Um dia eu estaria livre, um dia a única dor seria a da liberdade; ou pelo menos era o que eu continuava repetindo pra mim mesmo e pras ruas vazias da madrugada. A alma ainda se espreguiçava feito um gato por causa do céu poente, então as rodas do skate decidiram sozinhas por quais ruas queriam chegar até a casa de Dongyul.

Quase me vi indo na direção do meu quarto, pra me jogar na cama e fingir que não existia. Estava escalando a parede em direção ao telhado de Dy antes que terminasse de pensar, grunhindo para os nós dos dedos abertos que voltaram a sangrar. As paredes pintadas de universo do meu quarto até que davam pro gasto.

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