O Grande Cortejo.

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No show de hoje tenho certeza que vão se surpreender, de qualquer forma, caso não curtirem a música ela é uma parte fundamental para o complemento da história, então LEIAM a letra e deixem-me saber o que acharam, quando terminarem de ler.

Dialeto caló presente: Gajin = Não-cigana.

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KARLA CAMILA POV

O show havia chegado a mais um fim, as portas já estavam fechadas. Funcionários ainda se encontravam pelo salão e palco, organizando-se para que pudessem ir embora para suas vidas particulares. Ao sair de minha sala, frustrada ao ler mais alguns avisos de bancos diversos lembrando-me novamente de minha atual situação complicada. Pude avistar algumas de minhas dançarinas sentadas frente ao bar conversando com Josh, Ronn e Angel.

Dentre elas, a temida pelos meus sentidos, rindo com sua tão única risada infantil que dançava em um sonoro som pelo salão, despertando meu estado de alerta e confusão, malaguenha.

Paraliso por alguns segundos, apenas vislumbrando-a em suas roupas casuais pós-show. Calça jeans e a camisa simples que se punha maior em seu corpo esguio, tão diferente do figurino que antes lhe era extravagante, agora eu a tinha em meu horizonte tão singelamente, ela. Sorrindo, e exalando aquela felicidade fresca que a cobria por estar realizada.

Em meio um suspiro, concluí a mim mesma de que não mais poderia retornar ao que eu era antes. Nem mesmo meu lenço seria capaz de cobrir-me a alma, não enquanto estivesse aos arredores da malaguenha... Não quando ela tinha tanto de mim apenas em meu olhar. Era hipnótico, incontrolável, estava fadado.

E seria estranho concluir tal fato, sem ao menos um simples contato... De intimidade dimensionada. Mas eu seria ultrajante ao negá-lo à mim. Meus sentidos nublados vinham me impedindo a anos de decisões baseadas em minhas intuições, levando-me a situações complexas e muitas vezes capazes de me desestruturar.

Como quando conheci Ronn, logo após de meu despejo em um dos apartamentos qual me instalara quando primeiro cheguei à esta cidade, ou meu casamento relâmpago com Vincent, quando fielmente acreditei em nosso claramente incerto romance arromântico. Tempos que estive cega, movida a casualidades e emoções momentâneas e não instintos que me foram concebidos pela minha sagrada ancestralidade.

Mas não agora. Meus sentidos não pareciam mais tão nublados como em anos, pouco a pouco me sentia resgatar meu poderio mais uma vez, apenas quando envolta à ela.

De modo tal, que não fui capaz de prever antes o porque de minha sentimentalidade tão ausente e agora, após a chegada dela, tão aflorada, sinto meu orgulho dilatar ao calor que saía da pele leitosa qual por poucas vezes pude tomar em minhas mãos pecaminosas. Meu corpo ressequido fora finalmente jogado... Atirado as pressas ao refresco de banho morno, trazendo-me de volta ao alcance de minha existência.

E cada simbólico passo que eu dava até aquela mulher conduzia-me a um êxtase e a alma se cobria de um luxo radioso de sensações.

Mas penso que não será possível tê-la de qualquer maneira, nem mesmo tia Aysur me faria acreditar. A vejo tão igual a mim, fisionomicamente e tão oposta a mim. Tão viva e elegantemente livre, em meu palco, camarim ou sentada naquele banco frente ao bar, sob os olhares atentos de Josh. Não parece muito posar para tais olhares, ainda que, não vejo chances para competir, nem virtudes.

Parte de mim se foi e a outra parte foi arrancada, e tenho para mim em convicção tão intrínseca de que nunca poderei reviver tais partes. Apenas mantenho distância de bênçãos que entendo serem destinadas a mim, apenas para que não afundem comigo, quando eu finalmente me deixar ir, pois não acredito muito em mim.

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