Round 1

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Eu babava e admirava ela. Digo, sabe quando você aprecia e pensa "gostosa"? Era isso. O inferior redondo e macio. Dava vontade de lambê-lo e beber o molho da luxúria, que escorria pelas bordas. E a parte de cima? Nossa! Poderia deitar minha cara nela e dormir como a Bela Adormecida. Como ela era gostosa! Suculenta! Queria amassar a boca, e passar os lábios demorados. Sabia que seria uma eternidade para tirá-los.

— Garotos? Ouçam-me? — Ouvi esse chiado de fundo. Não consegui diferenciá-lo entre uma pergunta, e minhas fantasias. Nem eu, tão pouco o Baiano, que salivava ao meu lado.

— Que gosxtosa... — Havia ignorado a interrogação. Mas as mãos limpas e delicadas de um burguês acabaram desencantando a cena. Tanto meu quanto do baiano. Nossas cabeças, apoiadas nos braços, deslizaram como rolimã numa ladeira. Trazendo-nos a realidade. As seguramos para evitar batê-las contra o balcão.

O sulista que tinha cabelos loiros, e queixo tão partido que permitia passar um cartão de débito e extrair a fatura, era o dono dela. Ela nos esnobou.

— Vocês dois. — A atendente riu da nossa cara. — Ficam bobos demais por conta desse X-Tudo.

— Não é qualquer X-Tudo não Darlene — O Baiano começou o discurso. — São quatro fatias de bacon três pedaços de carne muito molho cheddar um tomate lombo de porco cebola roxa!

— E o molho esxpecial! — Conclui. O cheiro da chapa penetrava as narinas. E martelava nossas cabeças e estômagos. — O China! Nunca vai nos oferecer um X-Tudo Ultra Oriental Kung fu? — Sim. Era o nome do sanduíche.

— Quando vocês me derem um lobo-guará! — China gritou da cozinha. Viramos piadas para os burgueses que comiam a mesa.

Exceto a garota de cabelo arco-íris. Ela penetrou o profundo de minha íris negra, e voltou-se para os colegas. O grupo me fazia recordar do passado. As mãos dos rapazes, cobertas com ataduras, deviam ser as minhas. Assim como as luvas de boxe penduradas no pescoço. Como um troféu. Não praticava há um ano, tão pouco pisava numa academia. Nossa distância não se fazia apenas em metros. Mas em classe e liberdade.

— Ai — Baiano cutucou meu braço — A tevê negão. — apontou para o comercial que passava.

"Hoje é o último dia para as inscrições do campeonato de boxe amador!" O anunciante gritava. "Não percam a oportunidade de lutarem num dos maiores torneios de boxe. E concorrerem a..." A vogal se estendia em exagero na boca, como se não soubesse mais fechá-la. "Um! Lobo! Guará!"

Havia assistido o comercial várias vezes. Ele passava, como hábito, no mesmo horário. Eu e o Baiano parávamos as entregas no almoço do nosso expediente. Mas foi a primeira vez que o Baiano prestou atenção. Ele era desatento. Quando enxergou a oportunidade os olhos brilharam como duas pérolas negras. De início me encarou, em seguida olhou para o prêmio do comercial. Repetiu o movimento bobo dez vezes.

O Baiano se esqueceu do motivo de estar encantado com o comercial. E precisava disso para se lembrar. Eu tinha certeza.

Até que se lembrou.

— Você foi Pugilista nego! — ele apoiou os braços nos meus ombros. — Podemos comer O X-Tudo Ultra Oriental Kung-fu se você ganhar o campeonato!

— Eu não irei voltar a lutar, Baiano.

— É Baiano! Ele se aposentou! — O burguês que mastigava o último pedaço do X-Tudo passou ao lado — Para que lutar? Passar uma vergonha dessas, não é? Maninho. — ele tapeou forte minhas costas. A espinha chegou a 50 graus. Mais quente que o verão carioca. — Vamos embora China!

Eles saíram do Na Chapa — ótimo nome para um restaurante, inclusive. —. O sulista chutou uma das motos estacionadas. Os rapazes fugiram junto a ele. Exceto um. Tão corpulento quanto um tigre. E a garota de cabelo arco-íris que o acompanhava lentamente. A moto era minha. Tinha apenas cinco meses comigo, mas ela durou trinta anos. Mais velha que meu irmão mais velho.

— Não pode deixar assim não Matheus — Baiano levantou do assento para ajeitar a minha moto.

— Você devia participar Matheus. — Darlene se apoiou no balcão para conversar.

Inclusive, tão pouco expliquei a vocês sobre nós. Caso tenham imaginado algo, esqueçam! Darlene, filha do China, tinha descendência oriental. Olhos puxados, e cabelos pretos. A bochecha redonda dava vontade de apertar. — Ninguém era maluco de tentar isso, pois o China é ciumento. Até hoje ele desconhece que namoramos um tempo.

O baiano tem um cabelo Black enorme. Juro por Deus, um casal quero-quero fez ninho ali num acampamento nosso. Ele é tão calmo que tenho certeza ser a reencarnação de Buda. Também é magrelo que dói. Sempre que brigam com ele — e acredite, há quem tente — sou eu que resolvo.

E, bem... Um dia quis inovar meu cabelo, e até hoje me chamam de "sabotagem". Caso não conheça, pesquise. Antigamente fui pugilista, mas agora, aos dezessete anos, preciso encarar a realidade.

Pobre não vive de sonhos, vive de trabalho.

— Não luto jaz um ano, Darlene, e nem quero. Vou ser esxculachado. — Me levantei do banco e sai do estabelecimento. O expediente de motoboy não acabou, e havia entregas.

— Ai Negão quer ir à praia depois?

— Baiano. — sussurrei medroso. — O China pode nos ouvir — peguei a moto e o capacete. — Vamosx.

O Nocaute do X-TudoWhere stories live. Discover now