rejeitado?

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-Sanji, eu... gosto de você - minha voz tremula soou em meus ouvidos e tentei controlar meu nervosismo prendendo minha repiração até que o loiro me respondesse.
-Ah... eu também gosto de você, Zoro - respondeu-me o loiro mexendo em sua franja - por isso somos amigos, né?
-Não é bem desse gostar que eu estou dizendo...
Um silêncio enorme pairou sobre a gente e a demora da resposta me deixou ansioso e com os olhos cheios de lágrimas, meu coração se apertou em meu peito e pude senti-lo se partir lentamente conforme os minutos passavam.
-Não precisa me responder agora... Eu... Eu vou indo - virei as costas o mais rápido que pude e corri até ficar sem folego, Sanji não me seguira, não conseguia mais ver o loiro ao virar-me para trás.
Coloquei minhas mãos em meus joelhos para tomar ar antes de voltar a andar para minha casa quando senti as gotas quentes caindo sobre as costas das minhas mãos, meu coração doia tanto, nunca imaginei que uma rejeição doeria tanto, eu estava partido em mil pedaços, minha mente estava agitada e só conseguia pensar nele, naqueles olhos azuis como o céu, naqueles cabelos cor de trigo que eram tão macios e brilhantes, em seu sorriso encantador...
Eu sou um idiota, não deveria ter me declarado agora nem nunca, era tão óbvio que eu seria rejeitado, Zoro burro, era claro que Sanji não gostava de mim, ele era caidinho pelas garotas que estavam ao nosso redor, como pude ser tão imbecil? Em que mundo eu achei que o Sanji, que sempre paquerava todas as garotas que haviam na escola, iria me escolher ao invés de qualquer garota do colégio?
Sequei minhas lágrimas e andei decidido para casa, iria aceitar a rejeição e seguir em frente ou eu não me chamaria Roronoa Zoro, iria guardar aquele sentimento que tinha pelo Sanji e fingir que nada disso aconteceu, podemos continuar sendo amigos como sempre fomos, assistir filmes, jogar videogame e tudo o mais que sempre fizemos, claro que posso fazer isso, eu sou o grande Roronoa Zoro, o melhor lutador e espadachim do colégio West Blue e quem sabe do país inteiro.
Quem eu estou querendo enganar? Eu sou tão patético que nem ao menos consigo mentir para mim mesmo e acreditar. Virei a esquina e dei de cara com uma rua que eu não conhecia, droga, eu me perdi de novo, sem o Sanji me acompanhando para casa eu sempre acabo me perdendo... nem isso eu consigo fazer direito.
Tentei refazer meus passos até encontrar algum lugar conhecido e assim poder voltar para casa. Andei o resto da tarde toda, deveria ser umas 19 horas quando cheguei a praça em que conheci Sanji pela primeira vez, quando tínhamos 6 anos, vi a pequena caixa de areia e o escorregador de madeira velha no qual brincávamos a tarde toda até o pai de Sanji aparecer para buscá-lo depois do trabalho.
Sentei-me em um dos bancos da praça e olhei para as estrelas lá no céu, a noite estava linda e as estrelas brilhavam lá no alto, eu sempre quis tocá-las, elas eram tão bonitas, tão reluzentes quanto os olhos de Sanji ao ouvir que sua comida estava muito boa de seu pai que era chefe do restaurante Baratie.
Comecei a sentir meu rosto ficar molhado e procurei nuvens de chuva, mas o céu estava límpido, foi então que percebi que as gotas que caiam em minhas bochechas eram minhas lágrimas desobedientes que insistiam em cair de meus olhos mesmo que eu tentasse controlá-las.
-Ei garoto, você tá bem? - ouvi uma voz feminina me chamando ao longe e virei meu rosto para a direção da voz, tomei um susto ao perceber a menina de cabelos rosas sentada do meu lado, os olhos enormes me encarando, parecia que ela estava tentando ver minha alma através dos meus olhos - por que você tá chorando? Tomou um pé na bunda foi?
-O que? Eu.. Eu não... Quem é você? -perguntei esfregando meu rosto na manga da minha blusa para secar as lágrimas de meus olhos.
-Sabia que é falta de educação não responder a pergunta que te fazem? - a garota cruzou os braços e fez um biquinho mostrando seu desagrado pela minha resposta - eu sou Perona e você?
-Eu sou Zoro - falei já com o rosto seco e olhando para a garota de enormes olhos escuros e longos cabelos rosa preso em duas maria-chiquinhas.
-Então, vai me contar por que está chorando, Zorinho?
-Não é nada demais -falei virando o rosto que começara a formigar ao lembrar da cena vergonhosa da rejeição silenciosa de poucas horas atrás.
-Levou um fora da namorada, é? Para estar triste e sozinho no meio de uma praça.
-Não... Não foi bem uma namorada.
-Um namorado então? Não imaginei que você gostasse de garotos.
-E... Ele não era meu namorado... Éramos amigos... Ou somos? Ah, eu estraguei tudo - falei colocando minhas mãos em meus rosto tentando esconder minha vergonha entre meus dedos, cada vez mais esse dia ficava maia humilhante.
-Então, você se declarou para esse amigo? - balancei a cabeça de forma positiva - e ele te rejeitou?
-Bom, ele não me rejeitou com palavras... Ele só ficou em silêncio e eu... Fugi.
-Que bundão, você parecia mais corajoso de longe - a garota riu e colocou sua mão em meu ombro - bom, se eu fosse esse seu amigo certamente não iria te rejeitar, você parece um partidão - olhei para a garota ao meu lado e ela sorria enquanto levantava as duas sobrancelhas algumas vezes e depois contorceu todo o rosto para dar uma espécie de piscadela.
Não pude deixar de rir daquela imagem cômica e logo senti minha barriga doer de tanto dar risada, a garota sorria para mim contente e bagunçou meus cabelos esverdeados.
-Você fica bem melhor assim sorrindo - ela comentou e se levantou - você estuda no West Blue não é? - concordei balançando a cabeça positivamente - sabia que já tinha visto seus cabelos esverdeados em algum lugar, eu também estudo lá, sou do segundo ano.
-Eu sou do primeiro ano - falei olhando para a garota que saltitava animada como se tivesse ganhado um presente que sempre quis.
-Podemos ser amigos, Zorinho, me dê o seu celular, vou salvar meu número nele, assim você pode me mandar mensagem quando estiver para baixo - entreguei meu celular para ela e rapidamente a vi digitar seu número e devolver para mim.
Achei engraçado ao ler o nome que ela salvara seu contato, "Peroninha linda <3".
-Obrigado...
-Não há de quê... Bem, eu preciso voltar para casa agora, já está ficando tarde, onde você mora?
-Eu moro na rua Merry Going e você?
-Não brinca, eu moro na travessa da Merry Going, somos quase vizinhos! Podemos ir para casa juntos então - a garota deu pulinhos animados e bateu palmas como se tivesse feito a melhor descoberta do mundo.
-Claro, podemos voltar juntos - me levantei e me senti aliviado por ter conhecido Perona, eu não saberia voltar para casa dali sem antes ter me perdido umas dez vezes.
Senti o braço fino da garota se envolver em meu braço e me puxar levemente para fora da praça, Perona era uma garota muito extrovertida e sua risada era bem... Inusitada? Ela me contava sobre sua vida inteira, ela contou que se mudara com o pai há alguns meses por isso não tinha nenhum amigo ainda e como chegara no meio do ano letivo os grupos já estavam formados e ela se sentia uma intrusa ali no colégio.
-Fico feliz de ter te conhecido, Zorinho, e ainda mais por sermos quase vizinhos! Que coincidência incrível! Meu primeiro amigo e que mora perto de mim! - Perona abraçava meu braço e cantarolava alguma canção que eu nunca tinha ouvido - minha mãe cantava essa música para mim quando eu era menor, ela sempre me fazia dormir com ela - disse a garota em um leve tom de nostalgia misturada com tristeza - tenho saudades dela, fiquei arrasada no dia em que ela se foi.
-Eu sinto muito pela sua mãe, Perona - disse desvencilhando meu braço do dela e a abraçando pelos ombros em uma tentativa de consolá-la.
-muito obrigada, Zorinho - ela sorriu um sorriso triste e passou seus braços pela minha cintura - e você? Com quem você mora?
-Ah eu moro com a minha irmã Kuina e o tio Koushirou - respondi sem querer entrar muito em detalhes sobre a minha vida.
-Que legal, você tem uma irmã! Deve ser muito divertido ter uma irmã - comentou Perona ficando em minha frente com os olhos gigantes e animados me olhando enquanto dava passos para trás - como ela é? Vocês se dão bem?
-Na maioria do tempo sim, praticamos kendo juntos, o tio Koushirou é dono de uma academia de kendo, passamos muito tempo juntos, apesar dela sempre me vencer, mas um dia vou ser melhor do que ela - falei convicto olhando para frente e Perona balançou a cabeça positivamente - o tio Koushirou disse que quando ficarmos mais velhos e ele se aposentar podemos cuidar da academia no lugar dele, então vou dar o meu melhor para que ele se orgulhe de mim.
Perona sorriu largamente e voltou a andar do meu lado enquanto segurava em meu braço.
-Tenho certeza que ele tem muito orgulho de você, Zorinho.
-Obrigado, Pero... digo, Perona - corrigi-me rapidamente e senti minhas bochechas queimarem por tratar uma pessoa que acabara de conhecer por um apelido que acabara de inventar.
-Pode me chamar de Pero se quiser, acho fofo - Perona riu com sua risada engraçada me fazendo rir também - bom, chegamos na sua rua, eu moro nessa rua aqui olha - ela apontou para a rua a esquerda - caso queira aparecer, é a única casa com um jardim com fantasmas e abóboras de halloween.
-Obrigado por me acompanhar, Pero, você é muito gentil, pensei que passaria o resto do dia chorando, você realmente sabe animar alguém - falei abraçando-a com toda a gentileza que pude ter - eu... realmente precisava de alguém naquele momento, obrigado, de verdade.
-Não há de quê, Zorinho, somos amigos agora, não é? Amigos são para isso - Perona se afastou depois de alguns segundos de abraço e beijou minha bochecha rapidamente - nos vemos no colégio segunda, bye bye.
Vi Perona se afastar lentamente e segui em direção a minha casa, agora não havia como eu me perder, conseguia ver a casa amarelada com portões de madeira enormes do tio Koushirou de onde estava, não havia como se perder em uma linha reta.
Entrei em casa e vi Kuina deitada no sofá, a TV ligada em um canal de notícias e as luzes totalmente apagadas. Aproximei-me dela e percebi que ela dormia tranquilamente, como sabia que seu sono era leve não a levei para o quarto, fui buscar uma coberta e a cobri com todo o cuidado, desliguei a TV e dei um beijo em sua testa coberta por seus cabelos de um preto azulado.
-Boa noite, Kuina - sussurrei e me retirei para meu quarto, deitei em minha cama e peguei meu celular que estava em minha escrivaninha, deveria começar a andar com ele para caso me perdesse colocar no GPS.
Olhei para as minhas conversas no whatsapp e vi o nome e a foto dele, abri a nossa conversa antiga e a reli, nossas piadas e nossas briguinhas bobas que agora me deixavam triste e meu coração apertado. Pensei em mandar alguma mensagem, mas por fim desisti, não deveria me humilhar mais ainda naquele dia. Digitei o nome de Perona nos contatos e lhe mandei uma mensagem de boa noite ao qual ela respondeu rapidamente com uma mensagem de boa noite e um coração preto.
Ter conhecido Perona fez o meu dia triste e decadente menos depressivo.

como iria te esquecer?Where stories live. Discover now