IV. Barba Azul

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Íris arqueou uma sobrancelha, e ele estendeu a mão. Estava tremendo. Ela não o fez, mas também estava nervosa. Então a moça se levantou e pediu que fossem até seu quarto. Ao entrarem, não acenderam as luzes mas deixaram que a lâmpada do corredor causasse um efeito de penumbra. Marcos sentou-se no colchão macio com Íris de frente para ele. Ela empurrou seu peito até que ele deitasse por completo. A moça se inclinou e, com as mãos apoiadas em cada lado do corpo do rapaz, Íris beijou de leve seus lábios, seu queixo e seu pescoço, deixando um rastro úmido por onde passava. Ele fechou os olhos e se rendeu ao momento. Não era fácil estar tão vulnerável, mas ele confiava na moça e queria experimentar novas sensações. Íris guiou a mão de Marcos até seu baixo ventre e perguntou se poderia fazer o mesmo com ele. O rapaz assentiu e deixou ser descoberto.

O toque lascivo era diferente de um mero esbarrão, provocava arrepios singulares e um calor que percorria seu corpo dos pés à cabeça. Monteiro correu as mãos grandes pela pele macia de Íris. Ele suspirou, rente ao ouvido dela que segurou os cabelos da nuca do rapaz. A voz – surpresa, mas ao mesmo tempo máscula - evocou nela a vontade de seguir em frente. Íris achou a ingenuidade dele até charmosa e deixou que Marcos conhecesse cada vez mais seu lado instintivo.

A pressão sanguínea deles subia tanto que era capaz de extrapolar a estratosfera. Logo a cama se tornou pequena demais para a dança sensual que ambos conduziam. O agradável aroma de xampu e sabonete deu lugar ao afrodisíaco cheiro de suor que escorria das peles. Marcos sentou-se na cama com Íris em seu colo. As poucas roupas restantes se espalharam pelo chão. Por um momento, todo o mundo ao redor sumiu e apenas Marcos e Íris estavam presentes no universo, deixando que masculinidade e feminilidade se conhecessem e se completassem. O êxtase tomou conta de suas mentes e quando tomaram conta de si, estavam deitados um de frente para o outro. Ele a puxou contra seu peito e ela o abraçou. Estavam exaustos por isso dormiram ali mesmo, recém-descobertos de uma maneira diferente.

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Ela chegou à padaria às 06:30, e Marcos ainda não dera as caras. Ela escolheu uma mesa na cafeteria ao lado e decidiu aguardar mais vinte minutos. Se ele não chegasse, comeria sozinha e dirigiria para a clínica. Mas, para seu deleite, viu-o na entrada do local, acenando e andando até onde ela estava. Ele puxou uma cadeira e pediu perdão pelo atraso. Íris disse não ter se importado – mentira, óbvio – e pediu um sanduíche natural e uma salada e frutas à garçonete. Em contrapartida, Marcos pediu um prato de cuscuz com carne do sol.

— Eu tentando ser saudável e você me vem com essa?

— Eu não começo meu dia sem cuscuz. — disse ele — E sem café com leite e achocolatado.

— Esquisitão!

— Cafona!

Eles riram dos apelidos e comeram. Em verdade, tinham se divertido muito ultimamente, mesmo na ausência de Peter, Harumi e Eddie. Aquele era o sexto encontro deles sem o restante do grupo e tudo estava indo bem, mais do que esperavam. Marcos convenceu Íris a tomar um gole de sua bebida que a fez torcer o nariz. Como ele conseguia comer algo tão pesado logo pela manhã?

O lugar foi enchendo de pessoas e Marcos mordeu o lábio inferior. Mesmo que ele não tenha dito nada, Íris sabia que ele possuía um limite e não queria burlar essa regra. Pediram a conta e saíram. Ela insistiu em levá-lo até o trabalho e conversaram sobre seus respectivos empregos durante o percurso. Quando chegaram, Marcos desatou o cinto mas antes de sair ela perguntou:

— Não está esquecendo de nada?

Ele sorriu e a beijou. Seus lábios ainda estavam com gosto de café, mas Íris não se importou, na verdade ela amou. Marcos entrou na boutique dando pequenos pulos ao andar, e a moça riu da reação dele. Tomou o caminho da clínica com certa leveza, aproveitando o sentimento que achava não ser mais capaz de experimentar. Já na clínica não conseguiu conter o largo sorriso que estampava no rosto e, durante um intervalo, fofocou com os amigos sobre Marcos.

MuralhasWhere stories live. Discover now