CAPÍTULO NOVE

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Açafrão do Prado: "Melhores dias virão."

#MeuJardimInteiro

No início dos anos 2000, foi descoberta a Archaefructus sinensis, a flor que seria a "mãe de todas as plantas".

Essa espécime foi considerada a predecessora de todas as plantas já existentes e datava de 125 milhões de anos de idade. Se minha vózinha reclamava de dor nas costas aos 80, eu imagino o que essa coitadinha dessa florzinha não deveria sentir, deveria ser algo do tipo: "Ai! Que dor no meu caule!".

Mas o mais interessante sobre essa descoberta foi seu impacto. Aquela coisinha pequena, que muitos podem ter visto e pensando que era insignificante, simplesmente revolucionou a botânica e colocou em choque os seus conceitos.

E assim é com a vida também. Você está de boas, tranquilinho, vivendo na paz, com todos os seus chacras alinhados e, de repente... BUM! Você descobre uma Archaefructus sinensis na sua vida.

Geralmente, isso é algo bom. Você passa por um período turbulento, no qual tudo que você conhece como uma verdade irrefutável é colocado em choque, mas, depois, esse novo conhecimento possibilita que você aprenda muito mais do que antes e que as coisas ganhem novos sentidos.

Dizer adeus para Park Jimin foi a minha Archaefructus sinensis. Não era o que eu esperava ter que fazer, mas foi algo necessário e, no fim das contas, foi algo bom, mesmo que, por algum tempo, eu não tenha visto isso dessa forma.

Eu sofri muito nos primeiros dias. Ver Jimin na escola tinha tornado tudo pior. Nós nos limitávamos a acenar brevemente quando nos encontrávamos e, então, cada um seguia seu rumo. Ele nunca mais sentou ao meu lado durante as aulas e Taehyung passou a ocupar seu assento.

Era difícil passar por aquilo, afinal nós éramos amigos há oito anos e, além de tudo, eu era apaixonado pelo garoto do dente tortinho e sorriso que chegava aos olhos.

No entanto, por fim, eu entendi que nossa decisão havia sido pelo melhor.

Jimin, por um lado, queria ser popular, viver rodeado de pessoas, ser reconhecido por seus pais e coisas do gênero, e tudo isso implicava em não ter tempo para mim da forma como ele tinha antes, pois eu não era mais uma prioridade em sua vida.

Eu, por outro lado, não gostava de toda essa interação com tantas pessoas, não queria estar sob holofotes e não queria nada daquilo que Jimin almejava para si.

No começo, foi difícil para eu aceitar isso, senti tristeza, raiva e, depois, mais tristeza. Contudo, eu entendi seu lado e aceitei definitivamente nossa nova realidade.

Foi necessário que nos separássemos. Cada um precisava seguir seu rumo e ir atrás de seus objetivos e sonhos.

Eu sentia muito por Jimin acreditar que ele era um nada, um ninguém por não ter a aprovação dos pais, mas, depois de nossa conversa, se ele achava que aquele era o rumo certo a se seguir, eu não poderia fazer nada. Além disso, eu tinha me dado conta que eu tinha meus próprios problemas para enfrentar.

A timidez e o medo de encarar o mundo lá fora me tiraram muitas oportunidades. A minha falta de iniciativa para questionar as coisas e fazer enfrentamentos tinham tirado o meu poder de decisão sobre as coisas que aconteciam comigo. Sem falar que eu notei que, por muitos anos, eu passei perseguindo os sonhos de Jiminie, nunca pensando em meus próprios desejos.

Depois de algumas semanas, nós entramos em férias e eu tive mais tempo para pensar sobre todas essas questões com mais calma.

Foi sem surpresa que eu tive que fazer as recuperações de física e matemática, mas a grande surpresa foi ficar com uma média final de incríveis sete vírgula um. Vírgula um! Eu fiquei acima da média nas duas matérias pela primeira vez na vida!

HORTUS [myg + pjm]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora