Capítulo Dezenove - 1°parte

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Victor Decker:

Caí em cima de Puck, e ele acabou tropeçando e caindo de cara na lama.

- Puck... Me desculpe. - afastei-me e estendi a mão para ajudá-lo a se levantar. - Você está bem?

- Acho que estou começando a odiar essa viagem pelo espelho. - Ele disse, limpando a lama do rosto.

No horizonte, avistei um chalé com a forma de um coelho, erguendo-se em uma colina, um oásis de vegetação exuberante em meio a um deserto. À distância, dunas de areia se estendiam como um tabuleiro de xadrez, com quadrados pretos e brancos, semelhantes aos que frequentemente surgiam em meus pesadelos. Uma brisa suave soprava, pássaros gorjeavam em uma amoreira acima de nós, e os raios de sol aqueciam meus ombros.

Tirei a cabeça de Chessie do bolso da minha calça e vi seus olhos brilharem de alegria quando apontei para o chalé.

- Então, vamos em frente. - Puck disse, e percebi que as sombras ao nosso redor pareciam tensas. Ele me puxou para trás de uma das árvores. - O que você está fazendo? Não é hora para isso.

- Fique quieto. - murmurei.

Um pequeno Camundongo, vestindo roupas roxas e empunhando um alfinete como espada, apareceu diante de nós, movendo-se com agilidade sobre suas patas traseiras. Puck achou a cena engraçada, mas eu apertei seu braço e coloquei minha mão sobre seus lábios para evitar que fizesse barulho.

O Camundongo deu um passo para trás e começou a nos seguir, o que me fez perceber que ele não era a causa da agitação nas sombras.

- Não é ele que está agitando as sombras. - sussurrei. - Há algo por perto nos observando. Precisamos ser o mais silenciosos possível.

Puck estendeu a mão e desembainhou suas adagas, sinalizando para que eu fizesse o mesmo. Mordi o lábio e concentrei minha magia em uma esfera, mirando o Camundongo.

Ele se assustou quando a esfera mágica o envolveu, mas sua tentativa de escapar foi lenta. Seu pequeno focinho se mexia freneticamente enquanto ele usava seu alfinete/espada para tentar se libertar da prisão mágica.

- Quem se atreve a me capturar? - sua voz fina ressoou, e me aproximei para ouvir melhor. Quando ele me encarou, seus olhos se arregalaram. - Você é igual ao rapaz que rabiscou me contou.

- Não vamos machucá-lo. - Falei, baixando a mão de Puck que segurava uma das adagas. - Nada de violência.

O Camundongo me olhou desconfiado.

- Como posso ter certeza de que está dizendo a verdade? Daqui vejo que você é humano. - O Camundongo disse. - Os humanos têm a capacidade de mentir.

- As palavras dele são sinceras. - Puck interveio. - Victor nunca mentiria para enganar alguém. Juro pelo meu nome verdadeiro.

Meu coração deu um salto. Quando um feérico jurava pelo seu nome verdadeiro, isso se tornava uma verdade inegável, mas também uma promessa que poderia ser cobrada deles no futuro.

- Sei que você também está cansado desta guerra em seu mundo. Ajude-nos a pôr fim a tudo isso. - Falei, pegando um pequeno saco de pó roxo que Morfeu havia me dado. - Isso libertará seus amigos.

O Camundongo examinou o pó roxo com cautela, mas finalmente concordou em ajudar. Dissipei a magia que o aprisionava e entreguei o saco de pó a ele.

- O que precisamos que você faça é distrair os outros guardas que estão nas proximidades. - expliquei, e ele assentiu.

Antes de nos virarmos em direção ao chalé, Puck olhou para mim com uma expressão confusa.

- Desde quando seu cabelo muda de cor, ou até seus olhos? - perguntou, intrigado. Mas eu simplesmente me virei em direção ao chalé, ouvindo o barulho distante da confusão causada pelo pequeno Camundongo.

Anjo das sombras | Livro 3: O País Das MaravilhasWhere stories live. Discover now