Capítulo Doze

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Victor Decker:

Um sorriso irônico dançou nos lábios de Puck enquanto ele observava a cena de Grimalkin sem emitir uma palavra. Seus olhos brilhavam com diversão enquanto aguardavam minha reação.

— Posso levá-los até quem construiu esse cetro, mas não garanto que ele irá ajudar tão facilmente — Grim proferiu após um breve e silencioso intervalo.

— Parece que é a nossa melhor opção — Pauline respondeu com serenidade. — Devemos descansar antes de embarcar nessa busca. Foi um dia cheio de acontecimentos.

Antes que eu pudesse argumentar sobre a urgência da situação, um estranho ruído de asas capturou minha atenção. A princípio, pensei que fosse uma ilusão, algo ecoando dentro de minha mente, mas então, enquanto meu olhar se desviava para além do ombro de Puck, espiando o espelho no corredor, percebi algo se movendo. Era uma mariposa, com asas negras como veludo e um corpo azul luminescente. Meu avô emergiu da cozinha com uma expressão de alarme, gritando com o inseto para que se afastasse, jurando que não levariam mais ninguém de sua família, como haviam feito no passado. Ele me envolveu em um abraço firme e, ao mesmo tempo, jogou algo em direção à mariposa, que se afastou rapidamente. Minha mãe entrou correndo e, ao presenciar a cena, proibiu meu avô de se aproximar de mim ou de meus irmãos novamente.

Aquela foi também a última vez que vi meu avô com vida, pois ele partiu para a solidão, longe de todos.

A mariposa permaneceu imóvel diante do espelho por um breve momento antes de voar em direção ao banheiro no final do corredor.

— Não pode ser... — murmurei, a voz trêmula. Não podia ser a mesma mariposa da minha infância. Era impossível. O que meu avô sabia sobre as criaturas feéricas?

— Não o quê? — Bruno perguntou, alheio à mariposa, enquanto todos os olhos se voltavam para mim. — Você não está cansado? Passou muito tempo entre as fadas, e uma boa noite de sono em uma cama humana pode lhe fazer bem.

Meu coração batia tão forte que quase abafava as vozes ao meu redor.

— Não estou reclamando. Acho que deveríamos ir para a cama o mais rápido possível. Vou ao banheiro escovar os dentes — declarei, tentando disfarçar minha inquietação. — Tem uma escova que pode me emprestar?

— Deve ter uma no armário do banheiro. Pode pegar — Pauline respondeu, concordando com minha decisão.

Virei-me e entrei no banheiro, trancando a porta atrás de mim. No entanto, quando me virei para encarar o espelho, minha respiração congelou. Minha mão instintivamente trouxe uma espada que surgiu misteriosamente em minha palma.

No reflexo do espelho, vi a silhueta de um homem emergindo atrás de mim. A imagem era nítida, com olhos de tinta e lábios escuros e simétricos.

— Jovem mestre Decker — a voz do rapaz disse, com um sotaque britânico que eu já havia ouvido na cidade ou nos discursos de Caroline, Bruno e Pauline. — Venha para o meu mundo. Precisamos de sua ajuda.

— Quem é você? O que quer? — perguntei, mantendo meus olhos fixos no reflexo, segurando a espada em posição defensiva.

— Victor Decker, eu o chamei e vim ao seu encontro porque temos um problema em comum. Você está em busca de uma parte do cetro das estações, não é? — o rapaz continuou.

Relaxei um pouco, transformando a espada de volta em seu formato de anel e cruzando os braços.

— O que você sabe sobre isso? — inquiri.

— Eu sei onde ele está. Posso ajudá-lo a recuperá-lo.

— Claro, pode. — zombei. — E tudo o que tenho que fazer é segui-lo, só para ser levado para uma armadilha. Desculpe, mas não sou tão ingênuo assim.

Anjo das sombras | Livro 3: O País Das MaravilhasWhere stories live. Discover now