XV - Em minhas próprias mãos, sinto-me segura

431 54 38
                                    

— BASTA UMA PALAVRA SUA, vossa alteza, e posso fazer parecer um acidente. Um assalto à carruagem de nobres em meio a viagens não é algo muito difícil de se acontecer. Eles sofrem um assalto e então, somem para não serem nunca mais encontrados.

É difícil dizer exatamente o misto de sentimentos dentro de mim agora. Eu via tudo em vermelho, na mais pura raiva, chamas ardiam em meu peito enquanto pensava no quanto as coisas haviam seguido um rumo totalmente diferente do planejado. Amargor em escarlate.

— Não me olhe assim, esse servo suja suas luvas e mãos por sua alteza, não há necessidade desse olhar de culpa.

Culpa, sim, era o que eu sentia. Talvez não devesse ter entregado a carta a Thomas, assim, as coisas talvez pudessem ter sido diferentes.

— Não se culpe, Anne.

Levantei meus olhos da porcelana em minhas mãos, pela primeira vez olhando para os olhos azuis de Kitty.

— Estou confusa, Kitty.

Depois que a carta havia sido entregue, muitas coisas aconteceram.

Agora, Izabele tem uma moradia próxima aos campos de Westminster, junto com seu irmão. Thomas a visita todos os dias, incontáveis vezes. Nós tivemos apenas uma breve conversa sobre o assunto, onde ele me pediu perdão incontáveis vezes.

Ele dorme ao meu lado, conversamos e discutimos sobre coisas importantes, mas depois da carta, ele não me tocou mais.

Já havia se passado um mês desde então.

— Poderíamos sair para caminhar novamente ao redor do lago, chame suas damas também.

Kitty estendeu sua estadia na Inglaterra, Thomas não refutou, todos tinham pena de mim. Kitty me fazia sentir estar no meio do poço, ao invés de já ter descido ele por inteiro.

— Não vou mandar que mate ela, e pare de tentar mudar de assunto tão rápido — falei e Kitty respondeu com um sorriso envergonhado. — E se ela estiver mesmo grávida? Não posso fazer isso.

Thomas parecia acreditar piamente nas palavras de Izabele, assim como nas do irmão dela. Eles estavam lá em cima, nos céus, rindo e festejando às custas do rei da Inglaterra.

— Thomas é tão ingênuo que me dá pena — soltei em forma de desabafo. — A coroa já está em minha cabeça, não é? Não preciso que ele me ame.

Suspirei, sentindo o pires tremer em minhas mãos.

— Amar não é algo para a realeza, ele é realmente um tolo. Vossa alteza, apenas precisamos fazer com que eles saibam o seu devido lugar, não os deixe tomar o que é seu por direito.

Kitty tinha razão, me apaixonar não faria de mim mais forte dentro da corte. O bebê de Izabele seria um bastardo, mas no momento ele é o único, as chances de que ela roube meu lugar eram tão altas que chegavam a ser desesperadoras para mim.

Eu tinha tudo em minhas mãos, como pude deixá-los me passarem para trás de tal forma?!

Eu havia me apaixonado e ficado cega demais por Thomas, eu o queria bem e isso acabou sendo minha ruína por hora.

— Sou sua majestade, Kitty. E não se preocupe quanto a isso, não precisaremos matar ninguém, sou esperta o suficiente para saber voltar ao meu lugar. Sem mortes.

Ele sorriu grande em minha direção.

— Não sou um cidadão britânico, Anne. Sou de Cavendish, francês até os ossos. Você é a rainha deles, não a minha — explicou enquanto retirava o pires vazio de minhas mãos, colocando-o em cima da mesa. — Mas ainda é minha princesa, ninguém nunca pode tirar seu título de princesa da França, Anne.

QuimeraWhere stories live. Discover now