XIV - Quimera

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QUANDO MINHA MÃO ESTAVA prestes a puxar a maçaneta da porta do meu quarto e presentear-me com a escuridão do corredor de fora, uma pequena folha de papel passou pelo pequeno vão embaixo da porta, perto de meus pés.

Meu coração pulou ensandecido, e instintivamente, escondi a carta em minhas costas, como se alguém tivesse me pego cometendo um crime grave.

Eu estava totalmente certa do que iria fazer; iria sair do quarto e ir em direção de Thomas, lhe entregar a carta e apoiá-lo em qualquer que fosse sua decisão, mas isso foi há um momento atrás, antes do papel ser jogado por debaixo da minha porta.

— Thomas? — perguntei num fio de voz, encarando a porta.

Sabia que era o mesmo, afinal, normalmente seus bilhetes eram entregues por servos do mesmo para alguma de minhas damas que depois as entregavam pessoalmente, porém, agora, a folha já conhecida, estava sendo jogada em meu quarto no meio da noite.

Houve silêncio diante da minha pergunta, porém, logo o som da voz que me era tão conhecida se fez presente diante o silêncio, cortando-o.

— Sou eu — foi a única coisa que veio como resposta do outro lado da porta, porém, foi mais do que o suficiente para fazer meu plano mudar por inteiro.

— Aguarde um segundo.

Me apressei em direção da escrivaninha em meu quarto, abrindo sua gaveta e guardando a carta ao fundo, no meio de muitas outras.

Thomas a leria, eu a entregaria para ele, mas não agora, não nesse momento.

Corri em direção da porta novamente e me abaixei, pegando por entre os dedos o papel que ali foi inserido, logo após, abri a porta podendo assim vislumbrar Thomas, que ainda encontrava-se com suas roupas de mais cedo, porém, sem o enorme casaco que o adornava e com o laço frouxo de sua lisa blusa de algodão.

O mesmo carregava um pequeno sorriso consigo, como se houvesse sido pego fazendo algo errado — como uma criança.

— Não sabia que vossa alteza ainda encontrava-se acordada — falou enquanto jogava seus cabelos enrolados para trás com os dedos, tímido. — Não consegui me deitar sem pensar na princesa, então resolvi escrever algo — revelou.

Minha garganta apertou e meu peito se encheu de um sentimento desconhecido.

Culpa? Medo?

Quando senti meus olhos esquentarem, a única coisa que consegui fazer foi concordar com a cabeça e desviar meu olhar para o papel em minha mão, abrindo o mesmo e concentrando-me em seu conteúdo.

Aprendi que tudo que precisamos é uma mão para segurar e um coração para nos entender.

Quando voltei meus olhos para o mesmo, finalmente soube que não era medo nem culpa o sentimento que habitava em meu peito.

— Foi tudo o que consegui pensar hoje enquanto segurava sua mão pelo salão. Sente o mesmo, princesa? Sinto que seu coração entende o meu.

Seu rosto corado na penumbra, o crepitar quente da lareira, o silêncio ensurdecedor sendo quebrado apenas por nossas respirações e a quentura em meu peito... no meio disso tudo, meus pés novamente me guiaram em direção a Thomas, agarrando a gola de sua blusa branca e puxando-o em direção aos meus lábios.

Thomas pareceu surpreso por minha ação repentina, porém, um momento depois, levou suas mãos em direção ao meu rosto e me puxou para mais perto de si.

Subi minhas mãos por sua clavícula, passando por seu pescoço e chegando aos seus cabelos macios ao toque, em seguida, o mesmo desceu sua mão direita para a base da minha coluna e me imprensou na porta de madeira aberta do meu quarto.

QuimeraWhere stories live. Discover now