— Você fez o quê? — Itachi quase gritou, muito provavelmente perplexo com a minha falta de capacidade de fazer sinapses. É, cara, a cada minuto que se passa a minha moral fica mais baixa.

— Você não vai me fazer repetir, vai?

— Mas tu 'é burro ou o quê?

—  Sui! — Meu irmão ralhou, e Shisui se limitou a revirar os olhos, tentando prestar atenção na estrada.

— Ah, qual é, Itachi, parece que esse pirralho nem neurônios tem.

— Quem você pensa que 'tá chamando de pirralho, hein? — Eu reclamei, porque, francamente, ele nem é tão mais velho assim.

— Isso não é hora pra brigas. — Disse Itachi, tentando acalmar os ânimos de todos, embora ele próprio parecesse um tanto nervoso. — Por que você fez isso?

— Eu 'tô me sentindo extremamente julgado.

— E é 'pra se sentir mesmo, seu imbecil.

— Shisui!

— 'Tá, 'tá, parei. — Ele fez uma curva com mais agressividade do que era necessário. — Okay, desculpa, eu me descontrolei. É que, poxa, o Sasuke 'tava finalmente virando gente e aí ele solta essa?

— Eu fiquei com medo, 'tá legal? De me acharem a porra de um fracote do caralho, que não consegue seguir em frente e fica remoendo o passado que nem um fracassado de merda. Pronto, falei, 'tão felizes?

O carro teria ficado em completo silêncio se Misery Business não estivesse tocando. Logo em seguida eu me senti super mal por ter explodido e xingado aos quatro cantos do planeta, porque nada daquilo era culpa de Shisui e Itachi — apesar de Shisui ter sim forçado um pouco a barra, vai. Ele não precisava ter dito que eu não sei fazer sinapse.

A culpa, na real, era toda e completamente minha. Eu que não aguentei o trampo, eu que fiz eles saírem de Konoha, eu que cortei contato com todo mundo, eu que respondi as mensagens preocupadas de um jeito frio e escroto, e eu que pedi para voltar. Já dizia Isaac Newton: toda ação tem uma reação. E, como eu mencionei anteriormente, o karma tinha decidido me cobrar de uma ver por todas. O preço era alto, não vou mentir, mas eu tinha que pagar. Não dá para ficar fugindo para sempre — bem que eu gostaria.

— Seus amigos nunca seriam babacas a esse nível, Sas. — Meu irmão disse, tentando me dar uma espécie de consolo perante aquela trágica situação. — Claro, você devia ter conversado com eles, 'pra início de tudo, mas não era uma conversa fácil de se ter, né? Tudo que aconteceu te afetou demais, e você não é fraco por isso. — Ele se espreguiçou e franziu os lábios. — Mas, é, você provavelmente 'tá bem ferrado.

— Obrigado pelas palavras doces. Mas e aí, o que eu faço?

— Se eu fosse você — Shisui voltou a se pronunciar. —, eu ia falar primeiro com o Naruto. No fundo, ele é o único 'pra quem você deve explicações. Não é como se você tivesse lá outros amigos.

— Delicado como um elefante.

— Como se você fosse. — Disse, revirando os olhos.

— Eu falei com o Neji, então o Naruto provavelmente já 'tá ligado do rolê todo.

— A gente pode te deixar naquele parque que tem atrás do fundamental. — Foi Itachi quem disse. — Ele deve 'tá lá, não?

— Pode ser. — Me limitei a responder. — Vocês explicam 'pro Madara, 'pra ele não ficar bravo comigo?

— Ele vai te dar uma bronca de um jeito ou de outro. — Meu primo deu de ombros. — Ah, cara, eu tinha esquecido de como o Madara era assustador. Não 'tô pronto 'pra isso.

— Pelo menos tem o Obito, né? — Eu tentei ser otimista, porque meu tio não era lá a pessoa mais fácil de se lidar no mundo.

— Excelente, um psicopata em potencial e um lunático. Que maravilha. Só tem desequilibrado nessa droga de família.

— Como você fosse lá muito equilibrado.

— Cala a boca, Sasuke.

E eu calei. Não valia a pena discutir com Shisui, principalmente porque Itachi acabava perdendo sua santa paciência e sempre sobrava para mim aguentar os cascudos do maldito. Então nós nos mantivemos quietinhos pelo resto do trajeto, afinal meu irmão parecia mais do que disposto a partir para a violência caso continuássemos com nossa infantilidade.

Estávamos finalmente nos aproximando de Konoha, e eu sentia como se uma cobra estivesse deslizando por dentro de mim e esmagando cada um dos meus órgãos, bem lentamente. Eu estava sendo dilacerado pela minha própria ansiedade de uma maneira tão devagar que me encontrava a um passo de ter um surto; se demorássemos ainda mais, era capaz de eu chegar sem unhas. A perspectiva de encontrar Naruto e, pior, de ele me odiar, era deveras assustadora. Porque, okay, mesmo que eu não admitisse em voz alta — e eu me recuso a admitir isso em voz alta, nem tentem —, ele era e ainda é muito importante para mim, sabe? E perder a minha única amizade não seria muito legal, sinceramente.

Eu estava tão distraído e afundado na minha autopiedade que nem percebi quando adentramos a cidade, e só me dei conta de que nós realmente tínhamos chegado quando Shisui estacionou há duas quadras do colégio em que eu havia estudado por quase toda a minha vida. É, cara, é agora ou nunca, mesmo que as minhas pernas tenham virado gelatina. Ah, maravilha. Vamos adicionar essa à lista de "Sasuke é um babaquinha ansioso que não sabe lidar com seus problemas". Será que essa lista um dia vai acabar? Eu não aguento mais.

— Boa sorte, Sas. — Itachi me deu um sorriso pseudo encorajador, e digo pseudo porque era mais do que perceptível que ele próprio estava nervoso. Tremendo na base, na linguagem vulgar.

— Vê se não apanha, pirralho.

— Valeu, eu acho.

E assim eu fui, e cada passo que eu dava parecia durar uma eternidade, até que finalmente cheguei no bendito — ou maldito, depende do ponto de vista — parque. E, exatamente com tinha previsto, Naruto Uzumaki estava lá, de costas para mim e sentado no balanço. Depois de rezar para todas as entidades que conhecia, prendi a respiração e me aproximei com cuidado, tocando seu ombro.

— Oi, Naruto. Senti sua falta.

— Olá, Sasuke.

Um lance não verbalizadoWhere stories live. Discover now