𝐟𝐨𝐮𝐫

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- Por que você deixa esse lugar tão escuro? - Harry questionou enquanto jogava xadrez com seu hospedeiro -

Tomlinson analisou as peças e planejou uma jogada mentalmente, por um curto período ignorou o questionamento.

- Por que você pergunta tanto? - Louis indagou fitando o pesquisador -

O cacheado franziu o cenho como se tivesse sido insultado e aquilo fosse uma invenção do mais velho.

- Ah, você não se esgota de tanto inventar injúrias sobre mim?

- Injúrias? Você passa o dia todo me perguntando coisas aleatoriamente, como se fosse uma criança descobrindo os segredos do Universo!

- Me desculpe por isso, mas eu nasci com essa alma curiosa que anseia esclarecer todas as incertezas do mundo.

- Eu acredito que sim, seus pais devem ter sofrido muito quando você era pequeno. Se questiona tanto na fase adulta, imagine quando estava descobrindo tudo pela primeira vez.

Harry focou no tabuleiro antes de suspirar fundo e decretar xeque-mate.

- Meus pais morreram quando eu era muito pequeno, então, posso afirmar que eles não tiveram muito tempo para responder minhas perguntas. Não que eu tivesse tantas naquela época.

O silêncio se fez presente no salão, apenas o som do vento nas janelas era percebido. Tomlinson não sabia muito bem como deveria reagir a tal confissão, não tinha muita experiência com sentimentos humanos.

- Mas, você não respondeu minha pergunta. - Falou ao encarar o imortal -

- E nem vou.

- Não vai? Bem, agora que compartilhei com você, a parte dramática da minha infância, devia ao menos me compensar com uma resposta tão trivial. A minha dúvida não é tão pessoal assim, ou é?

- Não, não é. Eu apenas gosto das coisas assim, qual o problema?

- É que, bem... É bastante escuro, né? Não custaria nada abrir um pouco as janelas e deixar o Sol entrar... - Styles comentou inocentemente -

- Você é bem persistente, mas não deixei claro que gosto das coisas assim? Não sei se notou, mas não há muita vida e beleza lá fora que possa ser apreciada.

- Talvez houvesse mais beleza se você desse uma chance para todas as outras coisas que existem além dessas paredes frias e cortinas escuras.

- Posso afirmar por experiência própria que não existe nada além dessas paredes que seja agradável, definitivamente nada. - O vampiro disse ríspido -

Tomlinson sentiu seu sangue ferver, se Harry soubesse o que ele sabia, jamais estaria dizendo que a vida além daquelas paredes seria boa.
Irritado, o imortal se levantou de forma abrupta da cadeira e andou até a janela principal do cômodo.

- Por que você é assim? Por que tem tanto ódio do mundo? - O humano questionou confuso ao encarar as costas do outro -

Louis passou suas mãos com delicadeza pelo tecido enorme da cortina cor de vinho, aquelas perguntas eram tão afiadas, mesmo vindo de um ser ingênuo.
Questionamentos que pareciam facas cortando a pele pálida dele e fazendo o sangue herdado por milênios ser derramado como algo insignificante. Muito sangue já havia sido derramado. Por muito tempo.

O de olhos azuis puxou a cortina e revelou a visão do lado de fora da mansão, não era algo vivo, mas não estava completamente morto. Algumas árvores velhas demais, o céu nublado de uma maneira triste e plantas daninhas crescendo violentamente ao redor daquele casarão acabado em trevas. A morte se arrastava melancolicamente por ali.

- Explicar meus motivos para odiar a vida existente além daqui, é muito difícil quando a pessoa para quem explico não sabe como é viver na minha pele. É como querer explicar para um peixe que ele não pode viver fora da água, ele não entenderia e ainda assim, iria querer sair da água.

Styles desviou seu olhar para o chão, não tinha entendido muito bem qual era o intuído da comparação entre ele e o peixe. Entenderia ao contrário do peixe, pelo menos achava que sim.

- Nós nunca vamos sair desse impasse se não me contar seus motivos. Pelo tempo que estou aqui, pensei que tínhamos criado um vínculo. - Harry respondeu ao olhar novamente para ele -

- Meus motivos são muito difíceis de serem entendidos, acredite. Não quero mais falar sobre isso. - Tomlinson decretou antes de virar as costas para a janela e olhar de novo para o rosto do pesquisador -

Quem Louis estava tentando enganar? Nem se ele explicasse em câmera lenta, o humano jamais entenderia seus motivos. Aquele mortal não havia passado pelo mesmo, não tinha sofrido a mesma dor, não tinha visto o mesmo sangue ser derramado por aquelas terras. Ele jamais seria capaz de compreender.

Por parte, Styles compreendia o motivo do vampiro agir daquele modo protetivo, estava sempre tão sozinho ali que acabou ficando com medo da vida existente do lado de fora da sua bolha isolada.

- Eu sei que pode ser difícil confiar em alguém. - Falou ao levantar da sua cadeira - Mas você precisa entender que nem tudo existente no mundo é ruim, há coisas boas, assim como existem as coisas ruins. Porém, a decisão de qual dessas coisas vai ser relevante é sua. Seu dia não precisa ser triste só por que o céu está nublado. - Disse andando com calma até o imortal - O Sol que você precisa está bem aqui. - Finalizou ao apontar para o lado esquerdo do peito dele -

A pele quente do pesquisador entrou em contato com o tecido da camisa que cobria o peito do imortal, fazendo o mais velho olhar para aquela região.

- Você confia em mim? - Tomlinson questionou ao encarar as orbes verdes -

Uma corrente percorreu o corpo do cacheado, uma sensação reconfortante, um sentimento sereno.

- Se não confiasse em você, teria ido embora na primeira noite. Mas eu não fui, estou aqui, certo? Eu confio em você.

Não devia, não devia. Jamais devia confiar em alguém como eu. Louis pensou imediatamente.
Se ele realmente tivesse confiança do hóspede, talvez fosse mais fácil fazer o que realmente deveria fazer. Provavelmente Harry fosse mais frágil com a guarda baixa e confiando cegamente no vampiro.

Mas de onde o imortal ia arranjar coragem para fazer o que haviam designado como tarefa para ele? Planejar aquilo por anos, era uma coisa. Ter que por em prática, era outra circunstância.
O tempo que estava passando com o hóspede também não encorajava a ir para a etapa final. Tudo ficava mais complicado depois que ele via a maneira que Harry sorria singelamente e falava sobre a vida fora dali.

bloodthirsty love |CONCLUÍDA|Onde as histórias ganham vida. Descobre agora