Capítulo 75 - Convidada

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Lena

As palavras da mãe caíram sobre ela como uma navalha. Machucando-a. Ferindo-a.

Todos sabem que, em certo momento, na vida, escutarão tais palavras maldosas de alguém. Seja de uma colega invejosa ou uma menina malvada. Mas Lena, por azar, escutou isto de todas as pessoas possíveis. Inclusive da própria mãe.

"Você não é inteligente, muito menos bonita", aquela frase a atormentou por alguns dias. E nesses dias, Adam sabia que algo de estranho acontecia, e perguntava diariamente o que estava rolando. Mas Lena, ao ver que a sua tristeza denunciava-a, colocava o melhor sorriso no rosto e fingia que era pura impressão do namorado.

Na penúltima semana de aula, quando o baile se aproximava, Adam e Lena decidiram sair para caminhar na Trilha dos Amantes. Um dos pontos turísticos mais lindos de Birmingham que, felizmente, não fora afetado pelo tornado. Um local rodeado por árvores cerejeiras e uma estradinha ornamentada por pedras.

De mãos dadas, eles apenas andavam. Quietos. Sem trocar uma palavra. Adam sabia que Lena estava triste. Não sabia se fora algo que tinha feito a ela, ou se fora outra pessoa em West Toros High que a atormentava. Não sabia o que fazer. Então apenas decidiu deixá-la sofrer quieta. Fornecendo-a o espaço necessário.

Bom, ele tentou. Mas já se passavam dias, e se existiam duas coisas que Adam não conseguia fazer, estas eram ficar mudo por muito tempo e, fingir que tudo estava bem — quando na verdade não estava.

— Sabia que o local onde estamos andando foi um presente da Coréia do Sul aos habitantes de Birmingham? — Indagou Adam. A mão esquerda entrelaçada com a mão direita de Lena. Os braços de ambos balançando para frente e para trás. — Quer dizer... Um presente de um coreano específico a uma Birminghana específica.

— Todos sabem disto, Adam. — Falou Lena, revirando os olhos. Dando um risinho que mostrava a obviedade da pergunta. — É algo ensinado a nós no jardim de infância. — Relembrou ela. — O lindo romance vivenciado pelo senador da Coréia do Sul, Bon-hwa Dong-sun, com a Miss Birmingham, Jacqueline Butterflien. — Narrou ela, encarando o sol que tentava atravessar os galhos das lindas árvores. — Eles se casaram e, de presente, ele mandou construir, com a permissão do prefeito na época, a Trilha dos Amantes. Para que todos pudessem encontrar o amor.

— E quando eles tiveram de se mudar para a Coréia do Sul, devido ao trabalho de Bon-hwa, Jacqueline ficou tão triste por ter de deixar a bela Trilha para traz, que ele prometera construir outra fidedigna aonde haveriam de morar... — Continuou Adam, prosseguindo com a história. Chutando uma pedrinha na sua frente. — Pois bem, ele construiria... Isso se o avião não tivesse caído, estragado os seus planos políticos e amorosos, e também, claro, se ambos não tivessem morrido no acidente.

A trilha estava tão quieta, que ambos quiseram ficar ali para sempre. Longe da vida urbana de Birmingham.

— Aonde quer chegar com isto? — Indagou Lena a Adam, retomando o assunto.

— Ah, sei lá. — Disse Adam, baixinho. — Às vezes penso em nós e neles.

— E em como a nossa história quase terminou em morte? — Perguntou Lena, recordando o fato de quase terem sido mortos pelo tornado e a tempestade. Relembrando que o avião particular de Bon e Jacqueline caíra num dia chuvoso.

— Não. Isto não. — Respondeu Adam, tranquilizando-a. Apertando com carinho a mão de Lena. Tentando distanciá-la das memórias do tornado. — Eu me refiro à história verdadeira de Jacqueline e Bon-hwa. — Explicou ele. — Não aquela que ouvimos no jardim de infância. Mas aquela que ouvimos dos mais velhos e sábios de Birmingham. A história verdadeira e completa. — Comentou, parando de andar e puxando-a para perto de si. Abraçando-a. — Sobre ninguém ter apoiado o romance dos dois. Sobre alguns políticos, amigos de Dong-sun, terem tentado persuadi-lo a nunca assumir Jacqueline...

— E sobre os familiares de Jacqueline terem tentado fazer com que ela nunca se casasse com Bon-hwa. — Completou Lena. — Por racismo.

— Mundos e realidades diferentes tentando não colidir. Percebe a similaridade? — Indagou Adam. Os olhos verde-esmeralda encarando-a. Ternamente. — Conosco é mesma coisa. Eu tenho os meus colegas de time, e você a sua mãe. Pessoas tentando nos separar.

Lena admirou-se com os pensamentos de Adam. Por ele apreciar histórias como as de Jacqueline Butterflien e Bon-hwa Dong-sun.

— Eu vejo que você está estranha comigo há dias. — Continuou Adam. Agora acariciando a bochecha de Lena. — Eu não consigo mais ouvi-la dizer que tudo corre bem, enquanto o seu rosto reflete o contrário. — Lena fechou os olhos. Aproveitando o carinho que os dedos do namorado depositavam em seu rosto. — O que está acontecendo, Lena?

— É a minha mãe... — Respondeu ela, ainda com os olhos fechados. — Ela disse... Ela... — E de repente, ao abri-los, gaguejando nas palavras, algumas gotas caíram. Escorregando por suas pálpebras e bochechas. — Ela disse que sou feia para você.

Adam não podia acreditar no que estava ouvindo.

— Você não é feia. — Respondeu ele, imediatamente. — Você é linda, Lena Gellar.

— Ela disse que um dia, talvez não agora, mas um dia, você perceberá isso. Perceberá que consegue arrumar uma garota melhor...

— Não existe garota melhor que você. Nunca existirá. Não para mim. — Interrompeu-a Adam. Colocando um ponto final no sofrimento de Lena em ter de repetir as duras palavras da mãe.

Adam distanciou-se rapidamente de Lena. Foi perto de uma das árvores cerejeiras, e arrancou a mais bela flor roxa de um dos vários galhos. Depois, de volta para perto da namorada em prantos, tirou o colar que usava, abriu o feixe e apanhou o pingente que abrilhantava a joia — guardando-o no bolso. E perguntou:

— Quer ir ao baile comigo, Lena? — Indagou ele, de joelhos. Pegando a mão direita de Lena.

Com maestria, Adam fez um furo em uma das pedalas da flor. Possibilitando com que ela escorregasse pela correntinha do colar. E desta forma, pudesse transformá-la em uma flor de pulso. Algo muito comum nos bailes de formatura norte-americanos.

— Pensei que já fossemos juntos. — Disse Lena, enxugando as lágrimas com a mão esquerda. Olhando para Adam irresistivelmente ajoelhado. Segurando sua mão direita.

— Sim. Mas, vocês, garotas, não gostam disto? De serem convidadas? — Indagou ele, em resposta.

— Sim, gostamos. — Respondeu Lena a primeira pergunta. — E sim, — Continuou ela, referindo-se finalmente ao convite. — eu quero muito ir ao baile com você.

Adam enrolou a correntinha no pulso de Lena, prendendo o outrora colar, agora com uma flor, à pele da garota. Através do feixe. E levantou-se, e a agarrou no colo – tirando os pés de Lena do chão. Comemorando.

— Prometo que, no dia do baile, comprarei uma flor de pulso melhor. — Disse ele. Como se Lena ligasse para tais futilidades.

E agora, já de volta ao chão, Lena descansava a cabeça no ombro de Adam. Em um abraço.

— Birmingham é uma cidade muito... sacana. — Disse Adam, voltando ao assunto de antes. — Eles nunca apoiaram Bon e Jacqueline. — Resmungou ele, em um cochicho. — Mas quando morreram, do nada, todos aqui decidiram contar a história dos dois. Romantizar tudo. Para afagarem a consciência pesada.

— É muito triste. — Concordou Lena, ainda abraçada a Adam.

— Acho que ninguém entendeu muito bem a Trilha. — Falou Adam. — Além de querer agradar a Jacqueline, Bon construiu a Trilha para provocar todos de Birmingham que foram contra o romance deles. Que se intrometeram no romance deles. — Afastando-se um pouco de Lena, para que pudesse ver o rosto da amada, ele continuou: — Um lugar onde todos os mal-amados pudessem aprender a... amar. — Disse, com um sorriso complacente no rosto. Adorando toda a ironia e inteligência de Bon. — E ele construiria outra trilha na Coréia do Sul... Para provocar os políticos. Que também foram contra o relacionamento deles. Isso se não fosse o problema técnico no avião.

E então Lena, aproximou-se de Adam novamente e o beijou. Ele correspondendo.

— Vamos dar à eles..., à todos de Birmingham, algo para que também se lembrem do nosso amor. Que se lembrem de nós dois. — Comentou Adam. Lena sentindo o seu viciante hálito de eucalipto.

— Quer dizer a nossa ida ao baile? A nerd e o popular juntos?

— Isso. A nossa ida ao baile

A  Série Stay With Me: In Love (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora