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– Você tem mesmo que ir?

Luiz riu contra meus lábios pelo que pareceu a milésima e ao mesmo tempo primeira vez nos últimos cinco minutos, enquanto ensaiávamos uma despedida no hall de entrada de minha casa. Estava anoitecendo e minha mãe chegaria a qualquer instante, o que significava que ele tinha que ir embora. Eu contaria a ela que havíamos nos acertado, mas não queria que ela descobrisse ao vê-lo em casa. Além do mais, ele havia insistido em voltar para a casa dos pais naquele domingo, para resolver como seria sua vida dali em diante. A hipótese de passar duas semanas na cidade e duas na casa dos pais parecia relativamente viável, embora meu coração resmungasse só de imaginar aquela mesma despedida se repetindo quinzenalmente.

– Eu volto logo, prometo – ele sussurrou entre um selinho e outro, acariciando minha cintura daquele jeito que subentendia um até breve.

– Acho bom mesmo... Se não, vou atrás de você.

– Hm, você indo atrás de mim soa bastante tentador...

Ri de sua idiotice, dando um tapa de brincadeira em seu ombro.

– Ai de você se não aparecer, Luiz Henrique!

Ele fez cócegas dos lados de minha barriga, e eu me contorci em seu abraço, sem conseguir me recordar da última vez em que havia me sentido tão feliz, ainda que estivéssemos nos despedindo. Mal havia me recuperado da crise de riso que ele provocara quando sua boca se aproximou de meu ouvido, e mais uma vez minhas pernas ameaçaram ceder ao peso de meu corpo.

– Estarei de volta antes que as marquinhas que deixei sumam por completo.

Subitamente sem fôlego, respirei fundo, apertando o tecido de sua camiseta em minhas mãos. Ele soltou um risinho rouco e mordeu meu lóbulo antes de se afastar, com um olhar sujo que definitivamente ficaria gravado em minha memória até o seu retorno.

– Boa viagem – suspirei, ao retomar parte da consciência – Dirija com cuidado.

– Te ligo quando chegar.

Assenti, abraçando-o pelo pescoço ao nos beijarmos uma última vez, e quando abri a porta para que ele passasse, já estava morrendo de saudade. Ao observá-lo entrar no carro e acelerar, acenando com um sorriso pesaroso, me peguei pensando: se já estava doendo agora, que estávamos bem e ele ficaria longe por apenas alguns dias, como sobrevivi todo aquele tempo sem qualquer certeza de que nos veríamos de novo?

Uma semana se passou, durante a qual nos falávamos a todo momento por telefone ou Skype. Até minha mãe conversou com ele, ao entrar em meu quarto e me pegar tagarelando diante do computador. Pelo visto, ele teria que passar outra semana por lá, já que Ben parecia ter pegado uma forte gripe e precisava de um carinho extra. Ele apareceu numa de nossas conversas virtuais, com o nariz vermelho e as pálpebras pesadas, típicos sintomas do vírus, e me deu um aceno simpático, seguido de um espirro; Luiz correu para apanhar a caixa de lenços mais próxima e auxiliar o pequeno.

– Ugh, não aguento mais espirrar – ele balbuciou, um tanto grogue, e não hesitou em se aninhar no colo do pai, cochilando após alguns minutos. Enquanto Luiz se ausentou para colocá-lo na cama, eu tratei de espantar a história que Matheus me contara de minha mente, temendo deixar algo indesejado transparecer quando ele retornasse.

Por falar em Matheus, não recebi mais ligações ou visitas desde que o ignorei no sábado. O que era bom, pois tudo o que eu queria dele era distância, mas ao mesmo tempo, me preocupava. Estaria ele armando alguma coisa? Ou teria apenas desistido? Para quem parecia tão determinado a levar seu plano adiante, aquele sumiço repentino parecia suspeito demais. De qualquer maneira, me encolhi em minha bolha de negação e preferi me iludir com a segunda hipótese, ainda que a primeira ainda me perturbasse quando eu me permitia considerá-la.

Parte de mim queria, precisava descobrir se o que ele havia me dito era mesmo verdade... E eu até já havia pensado em como comprovar sua versão dos fatos. O problema era a outra parte de mim, que temia que tudo desandasse se eu ousasse admitir, ainda que por um segundo, que ele estava sendo sincero, e, portanto, continuava inerte, apenas adiando o momento em que eu teria que tomar uma atitude a respeito daquela bomba-relógio.

Resumindo: foi uma semana quase feliz, a não ser pelos breves momentos de terror que minha própria mente paranoica criava.

Mais uma semana se passou, e enfim Luiz retornaria. Contudo, ele apenas estaria de volta no sábado, e eu tinha um aniversário para ir na sexta-feira. Dianna, uma colega de faculdade, havia me convidado para uma pequena comemoração numa casa noturna, e permitiu que eu levasse acompanhantes. Marilia, que estava um tanto chateada com Ewan desde seu retorno da casa dos pais dele, aceitou na hora, mesmo sem conhecer a aniversariante, alegando que precisava de uma boa desculpa para encher a cara e curtir um pouco a vida. Luiz me incentivou a ir, alegando que eu precisava de um escape antes da semana de provas, e me advertiu quanto à parte de encher a cara, com mais veemência do que eu esperaria – e então me lembrei de quando apaguei em seu carro, para só acordar na manhã seguinte, de calcinha e sutiã, em sua casa... De repente, sua preocupação fez bastante sentido. Prometi me comportar, e ele me fez prometer outra vez.

– É sério, eu não vou ficar bêbada! – repeti pela décima segunda vez, rindo ao telefone enquanto me arrumava para a festa na casa de Marilia.

– Ninguém vai ficar bêbado essa noite, Luiz – ela reforçou, com um falso tom de seriedade, e sua risada nem um pouco convencida emanou do alto-falante do celular.

– Pra ser bem sincero, acho que você já está bêbada – ele retrucou, e ambas rimos também.

Se eu soubesse o que estava por vir, teria desistido de sair naquele exato momento e passado o resto da noite em meu quarto, rindo com Luiz pelo telefone até o sono chegar e levar consigo tudo o que poderia ter dado errado naquela noite.

BIOLOGY - SEASON 2Where stories live. Discover now