5.2

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Levei alguns minutos para me recompor, levantando-me e seguindo para o interior da casa. O corredor ainda estava deserto quando voltei para o quarto, e me sentei na poltrona próxima à cama, observando o homem que dormia pesadamente sobre o colchão.
Quem era ele?

Estava na hora de descobrir. Chega de temer, chega de fraquejar. Eu precisava saber.
Assim que ele acordasse, eu o confrontaria. Não conseguiria passar mais um minuto sequer perto dele sem externar tudo o que estava enjaulado em minha cabeça.
E então eu esperei. Foi menos difícil cochilar algumas vezes agora que eu tinha tomado uma decisão, mas eu acordava sempre que ele se remexia na cama, esperando encontrá-lo de olhos abertos a cada vez.
Enfim, isso aconteceu.
– Bom dia.

Abri os olhos, piscando algumas vezes até focalizá-lo, e meu coração parou por um instante. Não me permiti voltar atrás.
– Bom dia.
– Por que não está deitada? – ele perguntou, sentando-se sobre a cama e ostentando leves olheiras sob seus olhos atentos – Aconteceu alguma coisa?
– Eu estou bem – afirmei, me sentindo culpada por tê-lo deixado preocupado com meu suposto mal estar – Só tive uma noite difícil.
Uma leve confusão tomou conta de seu rosto.
– Difícil? O que eu perdi?
Respirei fundo, sem perder a determinação, e comecei uma conversa que poderia acabar muito mal.
– Eu sei que o Ben é seu filho.
Um longo silêncio caiu sobre nós, tornando nosso contato visual quase insuportável combinado à tensão que nos envolvia. Ele soltou um riso nervoso, me olhando como se eu tivesse três cabeças.
– O que você está dizendo?
– Eu já sei de tudo, não adianta negar – insisti, firme em minhas palavras – Eu sei que você sabe, eu sei que todos sabem... Eu sei.

Seus olhos se arregalaram levemente, e depois se fecharam com força, desviando-se dos meus ao se abrirem outra vez. Sua testa se franziu como se estivesse sentindo dor, e gradativamente, ele voltou a me olhar.

Tentei engolir o choro, mas antes que meus esforços pudessem fazer efeito, meus olhos já estavam marejados. Eu já estava plenamente convencida de que era real, mas a parte de mim que vivia num mundo utópico onde nada jamais doeria ainda esperava que ele pudesse tirar aquela certeza de mim. Perceber em seus olhos derrotados que isso não aconteceria fez com que minhas resistências fraquejassem.
– Agora eu entendo o seu comportamento estranho de ontem à noite – ele soprou, sem conseguir sustentar meu olhar – Você descobriu a única coisa que não podia saber sobre mim.
– Como você foi capaz? – falei, mal esperando que ele terminasse de falar, deixando todos os pensamentos que me torturavam há várias horas escaparem por minha boca sem filtro – Como você consegue dormir à noite sabendo que seu filho pode estar precisando de você? Ou então, que ele nem sabe que você é o pai dele?
Luiz não se mexeu, apenas me ouviu, sem mover um músculo. Ele sabia que tudo que eu dizia era a mais pura verdade, e impulsionada por minha raiva, continuei despejando minha indignação nele.
– Você já parou pra pensar que ele sente sua falta? Que durante esses poucos anos de vida, ele se pergunta por que você o deixou? Você sequer passa algum tempo com ele quando visita seus pais? Você sequer fala com ele? Você sequer sabe que ele existe?
– Eu não estava pronto pra ser pai! Aquilo foi um acidente, nós não devíamos ter deixado acontecer! – ele exclamou, levando uma mão ao rosto e em seguida puxando seus cabelos para trás em sinal de nervosismo – Eu não estou preparado pra isso... Não posso encarar uma situação dessas, você não entende?
– Não, Luiz, eu não entendo – respondi, sentindo as primeiras lágrimas rolarem por meu rosto conforme ficava de pé, incapaz de controlar minha agitação – Eu não entendo como você está preparado para transar com a sua prima e não está preparado para criar o filho que fez com ela!
– Aquele filho arruinaria minha vida! – ele exclamou, com os olhos úmidos – Eu era jovem, estava apenas começando a minha vida fora da faculdade, não podia me prender a um filho, ainda mais da minha própria prima! Seria o fim de qualquer chance de ser feliz pra mim! Seria um peso, uma responsabilidade eterna que eu não queria!

Fiquei em silêncio, sem acreditar nas palavras que saíam de sua boca. Observei-o escorregar para fora da cama pelo outro lado, andando de um lado para o outro, tão decepcionada como nunca estive.

BIOLOGY - SEASON 2Where stories live. Discover now