— Kingsley devia colocar alguém no meu lugar, pelo menos no início. Seria como uma espécie de estágio. Eu acompanharia a outra diretora e...

Isis foi interrompida por uma coruja-das-torres, que entrou pela janela e pousou no console da lareira, seguida por outras duas. A bruxa deu a volta na mesa e pegou uns petiscos na gaveta, garantindo que não sairia bicada ao recolher a correspondência. Algumas penas ficaram para trás quando as aves alçaram voo e as deixaram sozinhas de novo.

— Se importa se eu... — Ela indicou as cartas, surpresa com o remetente de uma delas.

— Vá em frente. — Isis agradeceu, sentando-se atrás da mesa.

A primeira foi de Rhea, para dividir a notícia de que Cybele resolvera retornar a Hogwarts e terminar os estudos, incluindo um convite para jantar na casa dela, para comemorarem a decisão da garota. O segundo foi um cartão-postal; um templo maia se erguia em meio às árvores de uma floresta tropical. As copas se moviam com o vento enquanto pássaros cruzavam de uma ponta a outra no papel.

A legenda na base dizia "Castelobruxo: escola de magia brasileira". Além disso, nada mais escrito. Isis levou o cartão ao nariz e inspirou fundo, sorrindo.

— Onde ele está agora? — perguntou Aurora, segurando o riso ao ver a expressão abobalhada da amiga.

— Hum — ela pigarreou, colocando o cartão-postal na gaveta, junto a muitos outros —, Brasil. Ele sempre teve interesse na flora de lá, para utilização nas poções.

Snape e Isis comunicavam-se com frequência a despeito do distanciamento voluntário. Trocavam cartas ou cartões-postais dos locais por onde andavam embora a ideia não tivesse sido combinada entre ambos; um gesto inconsciente, uma maneira despretensiosa de partilharem as vezes em que enxergavam o outro nas pequenas ações do dia a dia, ou no vislumbre das majestosas pirâmides de Gizé. O bastante para transmitir a mensagem dos miosótis: não me esqueças.

Então chegou no último item da correspondência e levou um tempo encarando a caligrafia de McGonagall; a maneira como se referira a Isis: Dir.ª Isis Blakeley-Dubhach. As duas conversaram diversas vezes, através de cartas, após o julgamento. O medo de assumir uma posição notória como a de diretora fora partilhado com Minerva, que enfrentara algo semelhante ao incumbir-se de Hogwarts. O que chamou a atenção da bruxa, contudo, fora o selo de Hogwarts lacrando o envelope. Não era uma mensagem pessoal.

— Não estou um pouco velha para receber uma carta de Hogwarts? — Ela encarou Aurora de soslaio.

— Não desse tipo. — Isis semicerrou o olhar. — Eu disse que você não estaria sozinha. Agora abra logo o envelope.

Isis respirou fundo, imaginando se Minerva finalmente enviara a conta das despesas com a Torre do Relógio. A leitura inicial foi dinâmica, pulando frases inteiras para encontrar o assunto que importava. A primeira reação foi arregalar os olhos. Leu outra vez, franzindo o cenho. Só na quinta teve a capacidade de erguer o rosto na direção de Aurora, que sorriu de volta.

— Isso é sério?

— Lembra-se do que falei sobre Minerva, quando nos reencontramos no Caldeirão Furado? Então sabe que é.

— É... — Isis deixou a carta sobre a mesa e apoio o queixo na mão, esfregando-o. — Parece que McGonagall encontrou um jeito de me fazer pagar pelo maldito relógio.

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Avistar Hogwarts sempre causava sentimentos diferentes em Isis, e aquela vez não fugiu à regra. Não houve nostalgia. Nervosismo sim, porém em menor nível que a sensação de acolhimento. Nem mesmo em seu primeiro ano, quando tudo era novidade, experimentara tamanha hospitalidade ao encarar as torres pontiagudas se erguerem rumo céu, prontas para perfurá-lo se necessário.

Solace ϟ PotterversoWhere stories live. Discover now