— Analise as probabilidades duas vezes antes de tentar alguma coisa — murmurou Erastus, como se lesse a mente de Isis. — Podemos sair daqui de um jeito agradável, em que ninguém terminará ferido ou pior. A escolha é sua, minha garota. — O resto da transformação se desfez, e ele aproveitou o momento para retirar um objeto brilhante de dentro do sobretudo.

A jovem reconheceu as algemas de suas lembranças revisitadas; o protótipo desenhado por Underhill nos pergaminhos da casa senhorial.

— Ficaria muito satisfeito em testar Delilah em um dos seus novos amigos — continuou ele, sorrindo. — Talvez Snape dê o ar da graça e se voluntarie para uma amostra gratuita.

Tudo no bruxo gritava destempero, obscurecendo os traços de elegância e moderação que eram característicos da fachada requintada que construíra. Isis respirou fundo e se afastou para retirar o sobretudo preto, jogando-o por cima do corrimão e deixando-o cair no térreo.

— Esse tipo de algema não o agrada muito. Severus é um homem sofisticado.

Underhill a segurou pela nuca, puxando-a em direção à escadaria que os levaria ao andar dos sinos. As pernas da bruxa já não suportavam mais o próprio peso, muito menos a quantidade de degraus que se elevava rumo ao topo. Então, pegando-os de surpresa, o ruído ensurdecedor dos sinos se iniciou — indicando o fim do jantar — e, por um descuido, Isis tropeçou, indo de encontro ao degrau. O gemido de dor deixou sua boca antes que pudesse impedi-lo, ao bater, com força, o antebraço ferido na superfície de madeira.

Para a sua infelicidade, e contentamento de Underhill, a queda livrou-os do raio vermelho que cortou o ambiente empoeirado e quase acertou o bruxo em cheio no rosto. Pelo vão entre os degraus, Isis avistou Severus e Aurora próximos à entrada do saguão. Contudo, não houve tempo para se sentir aliviada, pois logo fora carregada escada acima; a gola da camisola se esgarçando com a brutalidade do puxão.

Underhill revidou o ataque sofrido e não demorou para a Torre do Relógio se iluminar com os matizes dos feitiços que dispersavam o cheiro de ozônio na atmosfera caótica. Isis tentou se livrar do aperto e correr para longe, mas se afastar, apesar de o foco não recair exclusivamente sobre ela, mostrou-se uma tarefa mais difícil que o esperado. À medida que Snape subia, a situação piorava. O chão estremecia quando os feixes de luz ricocheteavam nos sinos de ouro e cobre, causando um reverberar estrondoso.

Não podia haver uma situação pior para não estar no controle dos próprios poderes. Isis assistia ao duelo de mãos atadas, tentando correr para longe de Erastus enquanto torcia para Snape acertá-lo e terminar de uma vez por todas com aquele pesadelo. Os dois se atacavam incessantemente, enquanto Aurora havia sumido de vista.

Quando uma azaração raspou no braço de Erastus, abrindo um corte fundo, este cambaleou, trincando os dentes de raiva, e abrigou-se atrás dos sinos. Apesar da parca iluminação, Isis avistou os pedaços das vassouras que o antigo tutor levara para que fugissem de Hogwarts; uma atitude desesperada, sem dúvida. Enquanto os encarava, ouviu o atrito de metal contra metal vindo da corrente que sustentava um dos sinos de ouro.

Os elos se romperam em meio ao silêncio apreensivo dos três, e a campana atravessou os assoalhos como se estes nem existissem; lascas afiadas voando para todos os lados.

Snape escapou por pouco, jogando-se para trás enquanto o sino cortava o ar e se espatifava no saguão. Isis tentou se manter estável, segurando-se no corrimão mais próximo, porém o chão parecia prestes a ceder, o que não impediu Erastus de aproveitar a distração para tentar levá-la através do corredor, rumo ao castelo.

— Isso não vai dar certo! — gritou ela, fazendo força contrária quando Underhill a agarrou pelo punho. — Achou mesmo que conseguiria entrar em Hogwarts sozinho e sair daqui com seu "espólio de guerra"? — Isis riu, irritando-o a fim de ganhar tempo para Severus. — Ah, Erastus, essa sua obsessão por mim empobrece a sua personalidade.

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