8 - somos ou não garotas rebeldes?

6.1K 990 470
                                    

PAPAI E EU comemos no carro, estacionado novamente em uma vaga ao lado do calçadão da praia

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

PAPAI E EU comemos no carro, estacionado novamente em uma vaga ao lado do calçadão da praia. O número de pessoas na areia diminuiu bastante desde a hora em que saí, e eu devoro o meu cachorro-quente enquanto encaro o palco vazio. As meninas já devem ter ido embora há muito tempo.

— Não vai me perguntar o que eu tava fazendo na praia?

— Hm. — Papai engole o pedaço do cachorro-quente, dando um gole no seu refrigerante e o apoiando de volta no painel do carro. — Você não vai me perguntar o que eu tô fazendo na cidade numa terça-feira?

Sorrio, comprimindo os olhos para ele. Papai sorri de volta, o que me faz relaxar um pouco. Acho que tá tudo bem entre nós dois, apesar de eu ter sido pega no flagra e não saber ainda quais serão as consequências. A única coisa que sei é que, se meu pai decidir abrir a boca e contar a verdade para a mamãe, eu posso dar adeus a todos os meus planos futuros de ajudar a Garotas Rebeldes em Combustão. E se ela decidir ir atrás de informações sobre minha posição na banda estudantil... Eu estarei ferrada até o último fio de cabelo.

— Avisou a sua mãe que está comigo? — Assinto, dando uma mordida grande no cachorro-quente. — Onde ela acha que você estava?

— Escola. Num ensaio da banda.

Papai assente, terminando o seu lanche. Ainda estou tensa e sinto que, se ele olhar nos meus olhos, vai conseguir descobrir todas as coisas de errado que fiz nos últimos meses, talvez até nos últimos anos. E eu não posso deixar que isso aconteça. Mesmo que papai pareça estar surpreendentemente bem comigo fora de casa uma hora dessas, eu não sei até que ponto ele conseguiria perdoar as minhas mentiras.

— Eu não vou entregar você para a mamãe — ele avisa, ajeitando os óculos e esfregando os olhos. Parece cansado. — Mas preciso que me prometa que não vai mais sair escondida.

— Tá bem — respondo, torcendo para que ele não perceba que eu não disse a palavra prometo em momento algum. — E me desculpa, é que eu queria muito vir a esse show.

Ele sorri, relaxando no banco e soltando um suspiro demorado.

— Acho que todo mundo precisa cometer um ato rebelde de vez em quando.

Nossa, pai, você não faz ideia.

Ele espera com o carro desligado até eu terminar o meu cachorro-quente, e assistimos juntos o movimento diminuir na praia. Já são quase onze horas quando mamãe liga para ele, que atende com uma expressão preocupada. Acho que Dona Ângela mete medo em todos lá em casa. É o seu charme.

— É melhor irmos — ele avisa assim que encerra a chamada, ligando o carro e finalmente avançando pela Avenida Litoral.

— Pai... — murmuro, sendo invadida por uma coragem momentânea. Ele reagiu tão bem ao meu ato de rebeldia que, não sei, me faz perguntar se eu não deveria contar tudo para ele. Sobre a Ardentia, sobre meus planos para o futuro, sobre meu caderno de roteiros escondido. Juro que abro a boca para revelar todas as verdades, mas no último segundo eu volto atrás: —... O que o senhor tá fazendo em Alto-Mar numa terça-feira?

Garotas Rebeldes em CombustãoOnde histórias criam vida. Descubra agora