" Meu Mar De Confusões " - Zurena

2- "Sócias "

Pov zulema

- Pois somos duas - respondo sem tirar meu olhar das mulheres  que jogavam bola no centro do pátio 

- e o que vai fazer ? - ela pergunta depois de tomar meu cigarro 

- a questão não é o que eu vou fazer , porque já estou fazendo - olho para a loira que mantém seu olhar no jogo 

- e o que esta fazendo ? - ela me olha 

- Uma proposta  a você ...  uma parceria  - desconecto nossos olhares 

- tipo Bonnie e Clyde ? - ela fala me fazendo rir 

- não , tipo sócias - cato o meu cigarro de volta 

- é incrível você me pedir para sermos " sócias " - Ferreiro diz cínica - vou te lembrar que  aqui dentro você tentou me matar algumas vezes 

- e você injetou ar nas minhas veias pra explodir meu coração 

- você me fez abortar 

- sua família matou o meu namorado como se fosse um porquinho - jogo meu cigarro no chão 

- mandou matar meu pai e minha sobrinha 

- você tentou me engasgar no banheiro enquanto eu estava fazendo pipí - falo dando ênfase na ultima parte 

- ótimo , não temos motivos para sermos " sócias " ... nós odiamos 

- faz três anos que você parou de me odiar ... - me viro olhando para a loira e vejo que ela já estava fazendo o mesmo ato . ela novamente volta o olhar para o correr da bola 

- corrigindo , faz três anos que demos uma trégua - ela diz rindo aparentemente de nervoso 

- sei ... temos outra opção também . Não nos vemos  mais e algum dia com sorte nos encontramos em um ónibus , aposentadas , a caminho da praia - falo enquanto acendo outro cigarro 

- vou pensar no teu caso - ela fala antes de catar meu cigarro e sair 

e eu fiquei ali presa em meus pensamentos , presa no tempo , pensando em cada fuga ,em cada momento aqui dentro . Sei que o mundo lá fora não é muito diferente daqui de dentro porém ... eu só quero sentir a liberdade , sentir o vento batendo no meu rosto sem antes bater em um muro , sentir a grama tocar meus pés e poder dormir em silencio  

... 

- Zulema Zahir - uma  voz masculina se faz presente me fazendo abrir os olhos 

- sim ? - respondo colocando minha mão na frente do rosto em uma tentativa falha de diminuir a luz 

- Anda , vai ser liberta agora 

- só fazem a libertação no final da tarde - falo fechando meu olhos novamente 

- já esta no final da tarde .cinco e quinze - afirma após conferir em seu relógio de pulso - levanta - ele ordena . e nesse momento que minha ficha cai . passei anos  tentando fugir, pra ser liberta pela porta da frente . Ridículo eu diria . me levanto bufando e o homem começa a andar , sigo ele , recebendo alguns olhares por parte das presas que queriam me ver morta e a outra parte por aquelas que queriam estar no meu lugar . Ele avisa no radio e então o portão se choca contra a parede de ferro me fazendo estremecer . em passos firmes ele me acompanha ate uma sala que havia uma mesa e meus pertences . pertences do dia que fui pega " sinceramente faria tudo de novo " penso olhando a bandeja . tiro aquele uniforme que vem me acompanhando desde sempre e coloco as roupas , "quanto tempo que eu não visto algo que não seja amarelo " 

- ta pronta ? - o guarda que estava no canto da sala pergunta 

- perfeitamente - respondo 

- pois então me siga - ele diz como se fosse algo óbvio 

- A perdão , não é todo dia que você é solta da prisão , sabe ? - falo indo atrás dele 

- três , quinze . abrindo portão principal - o guarda fala no radio 

passo pelo portão e então me vejo só " daqui pra frente será somente eu " penso olhando para a estrada , uma sensação de vertigem me atinge , é tão estranho esperar tanto por algo e quando esse dia chega você não sabe como se comportar , não sabe se deve se despedir das pessoas a sua volta ou então somente fingir que você desapareceu da face da terra . não tenho mais nada ... fecho meus olhos e  respiro fundo sentindo o ar gelado invadir meus pulmões  

- oi - tomo um susto com a voz de Macerena ao meu lado , abro meus olhos e a encaro brevemente 

- oi ... - respondo olhando os pássaros que sobrevoavam no céu 

- não tenho nada a perder ... - ela fala 

- então , somos sócias ? - pergunto soltando um risinho   

- sócias  - ela estende a mão 

- sócias  - falo depois de apertar a mão da mesma 

- tá , mais pra onde vamos ? - ela ri 

- vamos ir andando e no caminho os pensamentos fluem , certo ? 

-pode ser , qualquer coisa deve ser melhor que dormir nessa roteira - ela responde me fazendo rir 

...