Lucas me deixa na porta de casa com um beijo no rosto. Subo até meu quarto e tiro a regata com dificuldade, pois minha pele já arde devido à queimadura de sol. Visto uma camiseta qualquer e prendo os cabelos em um rabo de cavalo malfeito. Na minha mente martela: ele é apenas um jardineiro.
Um profissional. Não há nada com o que se preocupar. Tento acreditar em mim mesma.
Desço até a cozinha, abro a geladeira e tateio em busca de uma garrafa.Sirvo um copo com limonada, deixando transbordar um pouco, e me sento no sofá da sala.
Espero. E espero mais um pouco. Quem foi o gênio que inventou a espera?
A casa toda está em silêncio e, pela primeira vez, isso não me incomoda. A ausência de qualquer som é tão colossal que, quando dou um gole na limonada, posso escutar o líquido descendo pela garganta. Penso em ligar a tevê apenas para ter o som como companhia, mas, enquanto decido, a campainha toca.
Fecho os olhos e me levanto, largando o copo na mesa de centro em frente ao sofá.
Ok, Camila. Aqui começa a sua vida de garota independente.
Caminho até a porta, respirando fundo antes de abrir.
— Boa tarde — cumprimenta a voz masculina.
Mamãe tinha avisado que se tratava de um rapaz, porém eu ainda esperava que talvez pudesse aparecer uma senhora de uns 70 anos, usando chapéu e com uma cesta de vime nas mãos, com algumas mudas dentro. Eu sei... me iludir é o meu hobby predileto.
— Boa tarde — falo, olhando para o chão na tentativa de esconder logo de cara a minha dificuldade em reconhecer seu rosto. — O jardim fica lá nos fundos, é só seguir por este corredor e abrir a última porta.
— Muito obrigado.
Escuto o cara dar um passo para frente, cruzando a porta.
— É uma bonita casa...
— Obrigada, eu acho. Quer dizer... A minha mãe diria “obrigada”.
Levanto o olhar na direção dele, mas viro o rosto logo em seguida, olhando para o lado oposto. Dentro de mim, uma dúzia de calafrios percorre cada canto do meu corpo.
— Você precisa de alguma coisa? — pergunto.
Observo-o negando com a cabeça. Não consigo definir o formato do seu rosto, muito menos se aquele borrão embaixo é uma barba rala ou não.
Percebo que o cabelo é volumoso e tento desenhar na minha mente as ondas que aqueles fios formam.
— Será que você pode me acompanhar? — ele pergunta, fazendo eriçar os pelos de meu braço nu. — Apenas para trancar a porta do quintal.
— Como?
Não entendo de imediato.
— Você me tranca lá e eu fico trabalhando. Quando terminar, bato na porta e você abre — explica. — Não quero que pense que vou roubar alguma coisa da residência, muito menos me aproveitar da situação.
Posso sentir minhas bochechas ficarem vermelhas.
— Como você...?
O pouco da minha visão parece notar um sorriso nos lábios dele.
— Acho que a minha profissão exige que eu seja um pouco detalhista. E sensível, talvez... — ele fala meio sussurrando.
De certo modo, me sinto mais relaxada.
— Está tudo bem. Dizem que os jardineiros são fiéis, não? — Solto uma risadinha e ele me acompanha.
— Se você insiste...